HQs: da internet para os livros


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Por Gabriela Colicigno - El País – Observatório da Imprensa

O mundo das histórias em quadrinhos viu na internet uma ferramenta
para se reerguer. Com as redes sociais e a facilidade de criar um blog,
muitos desenhistas e roteiristas investiram em tirinhas para a internet,
para se tornarem conhecidos e divulgar seu trabalho. “Antes, tirinha
era coisa de jornal, dominada pela mídia impressa. Com a internet, novos
autores ganharam espaço”, coloca Carlos Ruas, autor dos quadrinhos doUm Sábado Qualquer, que retrata os deuses de várias mitologias de uma forma divertida.




Para Maurício Muniz, editor da Mundo Nerd, das linhas de quadrinhos
da Gal Editora e da Editora Peirópolis, “a internet tanto ajuda o autor a
ficar conhecido com um custo mínimo, quanto ajuda a divulgar o
trabalho”. E é assim que muitos autores que depois vão para o mundo dos
impressos começam: com tirinhas publicadas na internet. Esse é o caso de
Ruas, Pedro Balboni (Joãos e Joanas, que traz a conversa entre duas joaninhas) e de Paulo Kielwagen (Blue e os gatos,
tirinhas sobre a vida de um grupo de gatos). “Comecei a fazer tirinhas
sobre o cotidiano dos meus gatos, porque era um tema fácil e que rendia
bastante”, explica Kielwagen. O ilustrador e roteirista já havia
publicado alguns livros de quadrinhos antes, mas nenhum sozinho. Depois
de um ano de tirinhas, resolveu lançar o primeiro livro, canecas e
camisetas. “As pessoas gostam do seu personagem e querem comprar coisas
dele”, explica. Suas tirinhas contam as histórias de vários gatos,
protagonizando cenas do cotidiano de forma engraçada, inclusive de sua
vida real, como o nascimento de sua filha e a relação dos gatos com a
criança.




Já Pedro Balboni tem uma história diferente: ele também começou na
internet, mas conta que não sabe desenhar. “Eu só sou roteirista. Para
resolver isso, criei duas joaninhas que sempre são iguais e escrevo os
diálogos”, diz ele. Esses diálogos entre as joaninhas abordam vários
temas, desde pensamentos filosóficos à discussões cômicas sobre a vida.
Na hora de lançar uma compilação das tirinhas em forma de livro, Balboni
chamou vários outros quadrinistas brasileiros para redesenhar suas
histórias, e assim nasceu o livroFulanos e Fulanas, publicado
de forma independente. As histórias são as mesmas publicadas na
internet, mas com os traços de outros desenhistas, que dão às joaninhas
novas personalidades. O autor já conta com cinco livros publicados desde
2009, e diz que o que ganhou com os primeiros serviu para financiar o
lançamento dos outros.




A maneira mais simples de publicar tirinhas atualmente, segundo os
desenhistas, é de modo independente. “Ainda há muita desconfiança por
parte das editoras tradicionais”, afirma Ruas. Ele, que lançou já vários
livros por meio destas, explica que o mercado ainda é relutante em
publicar no impresso algo que está disponível gratuitamente na internet.
“Mas não funciona assim. Quem gosta, vai comprar o livro também, tive
bastante retorno e mostrei que é possível ganhar dinheiro com isso”.
Além dos livros, ele vende almofadas, cadernos e bichos de pelúcia de
seus personagens.




Segundo Muniz, as editoras, aos poucos, estão notando o crescimento
do mercado de quadrinhos nacionais. “Há bastante gente querendo
publicar, então elas precisam ser seletivas”, conta. Com certa
relutância dos meios mais tradicionais, os autores independentes têm
buscado outros meios de lançar seu trabalho em papel. Um dos mais
importantes é o Catarse, um site de crownfounding,
em que eles anunciam um projeto e as outras pessoas podem investir se
gostarem. Muitas vezes, investindo um certo valor, elas recebem um
exemplar do livro de quadrinhos. Isso permite que os mais variados
projetos tomem forma. O segundo livro de Paulo Kielwagen, por exemplo,
foi lançado assim, depois de ele ter financiado o primeiro por conta
própria. Com tiragem de 1.000 exemplares, ele atingiu o financiamento de
17.915 reais, quase 3.000 a mais d que a meta. Essa é uma saída para
quem tem a ideia de lançar um livro, mas não tem dinheiro para começar.




Em 2013, segundo relatório do próprio Catarse, dos 71 projetos de
quadrinhos lançados no site, 41 deles obtiveram investimento suficiente
para sair do plano das ideias, sendo o quarto segmento com maior taxa de
sucesso do site. Atualmente existem 21 projetos de quadrinhos em
andamento e outras dezenas com metas atingidas. A exemplo de comparação,
há dois anos o número total de projetos beirava os 20.




De qualquer forma, todos os autores são otimistas: há bastante espaço
no mercado brasileiro para quem estiver disposto a criar. “A produção
puxa o mercado”, afirma Balboni. Ele, assim como os outros, também
concordam que há mais espaço para divulgar os quadrinhos fora da
internet, nos diversos eventos voltados para esse nicho que ocorrem no
Brasil, como a GibiCon, em Curitiba, a Brasil Comic Con e a Comic Con
Experience, ambas em São Paulo. Sem contar os eventos menores, que
reúnem fãs de quadrinhos como o Festival Guia dos Quadrinhos, que
aconteceu em São Paulo no mês passado. De acordo com Carlos Ruas, quem
quiser entrar nesse mercado deve “começar a desenhar, criar um blog e
estar em todas as redes sociais. E procurar fazer um bom trabalho”.





fonte: HQs: da internet para os livros | revistapontocom

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