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Crise nas livrarias: Insistindo no erro até encontrar o fracasso

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Haroldo Ceravolo Sereza*, 02/03/2017 A Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo | ©Divulgação Vamos dar uma volta antes de falar da crise das livrarias? Acho que vale a pena. Essa história é de quando eu trabalhava n’O Estado de S. Paulo, no começo dos anos 2000. Poucos anos antes a direção do Jornal da Tarde implementou um modelo de fazer jornalístico que exigia a figura do “personagem”. No jargão jornalístico, “personagem” é uma pessoa comum que “encarna” a notícia. Por exemplo, se há um crescimento no número de pessoas que estudam japonês na cidade, o “personagem” a ser apresentado é um típico paulistano da Mooca, preferencialmente com sotaque italiano, que gosta de ler mangás originais. Ele vai explicar porque acha importante ler mangá. A notícia ideal nesse modelo não é “cresce o número de escolas de japonês” em São Paulo, mas “Antonio Carcamano está aprendendo japonês para ler mangás”. Se a inflação está crescendo por causa dos hortifrútis, a “pe

A História reescrita e a censura da ficção

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Se há uma obra de ficção que indiscutivelmente impactou-me como leitora e escritora de ficção foi o grandioso épico “E O Vento Levou”, de Margaret Mitchell, que li ano passado. A escrita magistral brinda-nos com personagens descritos brilhantemente tanto no aspecto físico como emocional e extremamente bem construídos, bem como falas inesquecíveis vindas muitas vezes de personagens secundários (Beatrice Tarleton, a criadora de cavalos, por exemplo) e um bem construído background histórico da Guerra de Secessão (1861-1865) sob a ótica dos estados Confederados (sul dos EUA). E é exatamente devido ao momento histórico retratado tanto pelo livro como pelo filme nele baseado que os militantes da praga politicamente correta têm cada dia mais fomentado a celeuma que se ergue contra esse grande clássico da literatura americana. No artigo “ ‘Gone With the Wind’ should go away with the Confederate flag ”, Lou Lomenick sugere que “E o Vento Levou” deveria ser banido por se tratar

Nenhum escritor é, apenas, uma máquina de produzir palavras

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m escritor é, apenas, uma má Georges Simenon, criador do famoso Comissário Maigret: exemplo de disciplina  Rodrigo Gurgel Cada autor descobre, com a experiência, a forma de escrever mais adequada à sua personalidade. É preciso, antes de tudo, não lutar contra as próprias idiossincrasias. E encontrar, sem desprezá-las, a disciplina que resultará numa produção constante, diária. Poucos escritores, entretanto, alcançam um comportamento metódico semelhante ao de Georges Simenon, o famoso criador do Comissário Maigret. Primeiro, ele escolhia, em sua imaginação, uma atmosfera: uma paisagem, um bairro da infância, certa estação do ano em determinada cidade… Ali, inseria um tema, uma das preocupações que trazia consigo — nada específico, mas que se apresentasse como um problema. Tendo acrescentado o tema à paisagem, vinham os personagens, imaginados ou baseados em pessoas reais. Esses três elementos se unem, então, e começam a se transformar no roma

Roteiro para um artista pop

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  American pop artist Keith Haring.   by Leo Fase 1 – O artista mora num conjugado e divide um ateliê/estudio/escritorio com outros cinco. Nesse momento a arte é tudo, inclusive porque não sobra dinheiro para mais nada. Tem que pedir ajuda aos pais e aos amigos para pagar o aluguel do conjugado, e, principalmente, a conta do boteco. O que importa é criar. “O mundo precisa da minha arte”, sonha o artista. Fase 2 – O artista produz muito mas não vende nada. Reclama das editoras, das gravadoras, dos marchands. O sistema é inimigo da arte, brada no conjugado, para júbilo dos companheiros. “Abaixo Romero Britto, Paulo Coelho e os sertanejos!”. Para mudar o sistema o artista organiza o movimento, forma coletivos, lança manifestos. Vira o rei do alternativo, do underground, do off-Broadway. “A arte é subversiva” acredita o artista Fase 3 – O artista aparece nos radares e é captado pelas antenas. Seu nome é citado em t

A Arte Contemporânea é uma farsa: Avelina Lésper

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by Incubadora de Artistas   Co m a finalidad e de dar a con he cer s e us argumentos sobre os porquês  da arte contemporâne a s er u ma “ arte falsa “, a crítica de arte Avelina Lésper apresentou a confer ê ncia “El Arte Contemporáneo- El dogma incuestionable” n a Escuela Nacional de Artes Plásticas (ENAP) ,  sendo ovacionada pelos estudantes na ocasião.   A arte falsa e o vazio criativo “ A carência de rigor (nas obras) permitiu que o vazio de criação, o acaso e a falta de inteligência passassem a ser os valores desta arte falsa, entrando qualquer coisa para ser exposta nos museus “ A crítica e xplic a que os objetos e valores estéticos que se a presenta m como arte  s ão aceites e m completa su bmissão aos princ í pios de u m a autoridad e impositora . Isto  faz com que , a cada d i a , forme m-se sociedades menos inteligentes e  aproximando-nos da barbárie. O Ready Made Lésper a bord a também  o tema d o Ready Made , express

Tudo que penso sobre o seriado Chapa Quente e resolvi comentar

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Por Matheus Graciano • “Falem bem ou falem mal, falem de mim”. A frase que está na boca de muita gente é um daqueles ditados populares que me fizeram olhar com mais carinho para o seriado “Chapa Quente”. Como diria o outro, “nunca antes na história” de São Gonçalo tivemos tanta exposição. Tudo bem, não é da melhor forma que sonhamos, mas está lá, a cidade exposta para algumas milhões de pessoas em todo o Brasil. Há exatos dois anos atrás, publiquei um texto chamado “O Cinturão Fluminense” . Nele, o comentário principal era sobre esse grande “cinturão” que as cidades metropolitanas e bairros da zona norte, oeste e subúrbio do Rio fazem ao redor da região que vai do centro carioca até a Barra, basicamente, o centro financeiro e governamental da ex-capital do Brasil. Dentre todas as cidades da região metropolitana, São Gonçalo se destaca no cinturão fluminense. O motivo não é nobre, porém

Halleymania: 30 anos depois

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Por Marcus Ramone Como um brasileiro transformou um corpo celeste no maior fenômeno comercial da história da astronomia e despertou o interesse da Marvel . O publicitário mineiro Marcelo Diniz sofre de bipolaridade. Em seu último livro, Crônicas de um bipolar ( Record , 2010), ele revelou algumas situações inusitadas que protagonizou como consequência do transtorno. Foi assim em 1980, do alto de seus 32 anos, quando trabalhava em um gigante da indústria de cigarros e teve um insight , “de acordo com uma característica da bipolaridade, que é ter a cabeça sempre a mil, procurando novas ideias”, como disse ao Universo HQ . Naquela época, as primeiras reportagens sobre a nova visita do cometa Halley às proximidades da Terra começavam a surgir em jornais e TVs. Mas o assunto ainda não despertava o interesse que viria a ter mais tarde. A Era dos Halley “Eu pens

O uso da gravura de temática religiosa na formação do artista na Academia Imperial das Belas Artes *

Reginaldo da Rocha Leite Este texto tem por objetivo central abordar a relevância da gravura artística de temática religiosa no ensino acadêmico brasileiro, tendo a Academia Imperial das Belas Artes como estudo de caso. É notório o papel fundamental dos livros de gravuras europeias utilizados durante o período colonial, alicerçando a realização de trabalhos pictóricos em tetos de igrejas brasileiras. No entanto, a contribuição da gravura não se restringe ao Brasil-colônia sendo, também, material didático nas aulas ministradas na Academia Imperial. Durante o Oitocentos, no Brasil, a ausência de Museus implicou na busca por uma alternativa palpável para a consulta dos alunos a obras de grandes mestres europeus.  Adquirir pinturas originais ou cópias de telas estrangeiras nem sempre era possível; portanto, a saída para o impasse foi recorrer à gravura de reprodução. Várias coleções de gravuras foram compradas pela Academia Imperial das Belas Artes respeitando determinados crit