Prefeito Joaquim Lavoura


Alexandre Martins

Joaquim de Almeida Lavoura nasceu no bairro Caju, no Rio de Janeiro, em 4 de abril de 1913, filho de José Marques de Almeida e de Maria Cândida de Almeida.
Aos sete anos ficou órfão de mãe e seu pai decidiu se mudar com toda família para São Gonçalo, no bairro Gradim. Apenas com a Quarta Série do Ensino Fundamental, cursados em uma escola estadual, sempre ajudou economicamente sua família. De início como pescador, depois como catador de lenha e ainda como trabalhador em uma fábrica de conserva de peixes.
Lavoura optou por alterar seu sobrenome aos 21 anos de idade. “Foi uma particularidade porque o nome dele era Joaquim Marques de Almeida, mas requereu ao juiz a mudança para Joaquim da Almeida Lavoura, adquirindo o nome da avó paterna”, segundo o jornalista Rujany Martins.
Na idade adulta, passou a trabalhar no comércio, no bairro Porto Velho. Foi aí que ingressou na política, apoiado por um grupo de estudantes. Com seu carisma, conseguiu alcançar muitas pessoas e se tornou uma liderança de bairro logo cedo. Através da defesa forte e segura dos pescadores do Gradim e da população humilde do Quarto Distrito da cidade (Neves) estreou na Câmara de Vereadores, em 1947 (mandato 1947-1950) e novamente no mandato 1951-1954.
Em 1950, Joaquim Lavoura começou a preparar as bases para a realização do seu maior sonho, que era ser prefeito.
Mesmo não contando com o apoio das elites que estavam no comando, Lavoura mais uma vez surpreendeu, concorrendo à prefeitura em 1954 pelo PTN (Partido Trabalhista Nacional) e sendo eleito (mandato 1955-1959). Fez uma campanha onde se apresentava em cima de um trator rodeado de trabalhadores portando pás e picaretas. Seu slogan era: ‘Com trabalho há progresso’. Já no primeiro governo promoveu uma verdadeira revolução administrativa no município, marcando de vez seu nome na história da cidade. “Foi a partir dele que o município começou a crescer. Ele abriu escolas, hospitais e iniciou o sentimento de cidade com futuro”, destacou o jornalista Pereira da Silva, integrante da Comissão.
Lavoura, ao se eleger prefeito, retirou as linhas de bondes, alargou as passagens e promoveu os calçamentos do Porto Velho e Sete Pontes, vias principais de ligação de São Gonçalo com o município vizinho de Niterói. Era comum encontrá-lo, na direção de tratores e escavadeiras e utilizando pás.
Passou a controlar a frota de veículos da municipalidade. Comprou máquinas pesadas, retroescavadeiras, máquinas patrol e viaturas de transporte. Comprou e instalou a Usina de Asfalto e a Fábrica de Artefatos de Cimentos (manilhas e meio-fios). Construiu estradas e pontes, visando o escoamento das produções agrícola, pecuária, comercial e industrial.
Modernizou o Hospital Luiz Palmier e construiu o Pronto Socorro Infantil "Darcy Vargas". Instalou e equipou centros cirúrgicos e os laboratórios, adquirindo modernas ambulâncias.
Seus seguidores1, chamados “Grupo Lavoura”, fizeram também grandes atuações na cidade, como na Educação, construindo o Colégio Municipal Presidente Castelo Branco (em 31 de março de 1970, na gestão do prefeito Osmar Leitão Rosa); o Colégio Municipal Ernani Faria (Lavoura/Zeyr Porto), e o Centro Cultural Joaquim Lavoura (Governo Hairson Monteiro).
Sendo novamente prefeito em 1962 (mandato 1963-1967), foi Superintendente do Serviço de Transportes-RJ, em 1967, nomeado pelo então governador Geremias de Mattos Fontes.
Chegou até a Assembléia Legislativa do Estado, sendo deputado estadual em 1970 (mandato 1971-1973).
Joaquim de Almeida Lavoura ocupou posição central no cenário político gonçalense de 1955 a 1975. Consolidou-se como principal liderança política municipal da segunda metade do século XX. Sua bem sucedida trajetória engendrou um processo de mitificação do nome Lavoura e de sua prática política, o “Lavourismo”.
O nome Lavoura permite a compreensão de um universo político complexo na São Gonçalo da segunda metade do século XX, que vem sendo apresentado nos depoimentos dos seus antigos colaboradores. Neste contexto, esta liderança deve ser entendida como o político profissional, que constrói sua prática política e imagem pública com grande habilidade. Deste modo, em muitos aspectos, a compreensão do que o município de São Gonçalo é hoje remete às transformações engendradas neste período e, logicamente, remetem a Joaquim Lavoura.
O seu terceiro mandato de prefeito veio em 1973, durando até sua morte em 1975, assumindo em seu lugar o vice-prefeito Zeyr de Souza Porto. “Ele não admitia área de conforto à base de sustentação governista. Sempre conseguia maioria na Câmara Municipal, porém, com pouca diferença e sem pulverizar a oposição. Isso para, justamente, fazer os parlamentares de apoio se articularem mais” segundo o ex-prefeito de São Gonçalo (1967-71) Osmar Leitão Rosa.
O estilo político de Joaquim Lavoura o consolidou como uma liderança no Estado. “Houve uma eleição que dois deputados federais e cinco estaduais do grupo dele foram conduzidos à vitória. Até hoje, não me lembro de algo parecido”, segundo Josias Ávila, ex-deputado estadual.
Conheci Lavoura em 1963, quando trabalhava em um jornal carioca e me mandaram entrevistá-lo. Eu o encontrei em cima de uma reto-escavadeira no bairro Patronato, retirando lama das ruas. Surgiu uma boa amizade e depois terminei por fazer o cerimonial de sua morte, quando milhares de pessoas o acompanharam a pé, até a sua derradeira morada, no Cemitério de São Gonçalo, em seu mausoléu.
Uma boa lembrança que tenho de Lavoura, é a de quando tomávamos cafezinho na madrugada, em um bar na esquina da entrada do bairro Covanca. Depois, ele mandava seu motorista levar-me em casa”. - relata o jornalista Assueres Barbosa

Vítima de complicações pulmonares, faleceu no dia 12 de novembro de 1975, aos 62 anos. Mais de 10 000 pessoas assistiram ao seu funeral no Cemitério de São Gonçalo, onde está seu mausoléu.
O deputado José Luiz Nanci discursou2 na ALERJ sobre Lavoura:
Boa tarde senhor presidente, deputados e deputadas
Ocupo hoje esta tribuna para falar do ex-prefeito de São Gonçalo Joaquim de Almeida Lavoura, que se estivesse vivo completaria 100 anos no próximo dia 4 de abril. Homem de origem simples, ele fixou raízes em meu querido município e se destacou nas atividades políticas e humanitárias.
Para celebrar e marcar o centenário de nascimento de Joaquim Lavoura, foi criada uma Comissão Especial, presidida pelo professor Frederico Carvalho. A Presidência de Honra (In Memoriam) da Comissão foi atribuída ao também ex-prefeito Hairson Monteiro, que também já foi deputado nesta Casa.
A Comissão elaborou uma vasta programação para comemorar o Centenário de Joaquim Lavoura. Em boa hora, o prefeito Neilton Mulin baixou um decreto declarando 2013 como o Ano do Centenário de Nascimento do Prefeito Joaquim Lavoura. Uma justa homenagem. A Câmara Municipal também está participando desses festejos.
Da mesma forma, diversas entidades da sociedade estão apoiando a iniciativa, como o Rotary Clube e o Lions Clube, a Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências, entre muitas outras.
Trago esses eventos ao conhecimento de todos porque Joaquim de Almeida Lavoura também integrou esta Casa, de 1971 a 1973, e merece ser cultuado pela sua história.
Morreu em 1975, pobre, sem acumular riquezas, se mostrando um grande homem, ícone de honestidade e trabalho. Até hoje, seu nome é lembrado e suas ações são engrandecidas.
Obrigado a todos!”

O político do cigarro de palha e do chapéu, mostrando seu poderio político, elegeu membros do Grupo Lavoura, como Geremias de Mattos Fontes (prefeito em 1958/1962) e Osmar Leitão Rosa (prefeito em 1966/!970). Isso sem falar em deputados federais, estaduais e vereadores.
Joaquim Lavoura foi citado pela revista norte-americana Times, como um dos melhores administradores de cidades no Mundo.3





1- Seguindo a trajetória de do prefeito Joaquim Lavoura, podem ser citados nomes de políticos com brilhantes carreiras em São Gonçalo, o chamado “Grupo Joaquim Lavoura”, como: Geremias de Mattos Fontes - vereador, prefeito, deputado federal e governador do Estado do Rio; Osmar Leitão Rosa - vereador, prefeito e deputado federal; Hairson Monteiro dos Santos - vereador, prefeito e deputado estadual; Zeyr de Souza Porto - vereador, prefeito e deputado estadual; Josias Ávila Júnior - deputado estadual; Ayrton Rachid - vereador e deputado estadual; Antonio Maia - vice-prefeito
2- quinta-feira, 28 de março de 2013
3- revista “Veja” - 19/11/ 1975, n.° 376, pág; 113

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