Tudo que penso sobre o seriado Chapa Quente e resolvi comentar
Há exatos dois anos atrás, publiquei um texto chamado “O Cinturão Fluminense”. Nele, o comentário principal era sobre esse grande “cinturão” que as cidades metropolitanas e bairros da zona norte, oeste e subúrbio do Rio fazem ao redor da região que vai do centro carioca até a Barra, basicamente, o centro financeiro e governamental da ex-capital do Brasil.
Dentre todas as cidades da região metropolitana, São Gonçalo se destaca no cinturão fluminense. O motivo não é nobre, porém explica muito: somos uma cidade decadente. Sim, decadente. Num passado longínquo, entre os anos 30 e 50, a cidade cresceu muito com suas atividades industriais, que deu origem ao nome “Manchester Fluminense”, praticamente triplicando a população de 1940 a 1960. Éramos vizinhos da capital do estado, Niterói, sem falar da capital federal, a cidade do Rio. Com a mudança para Brasília, muita coisa se foi, inclusive o dinheiro. E aquela cidadezinha industrial, com problemas crescentes, continuou a receber gente sem desenvolver sua estrutura. O resultado é o que temos hoje.
Aí, você me pergunta: o que o seriado “Chapa Quente” tem a ver com tudo isso?
Um belo dia, o célebre Agostinho Carrara disse em rede nacional: “eu sou de Alcântara”. O seriado “A Grande Família”, que ficou no ar de 2001 a 2014, inaugurou a face gonçalense na TV. Muita das vezes, Agostinho era o centro da trama, fazendo com que muita gente viesse me perguntar se Alcântara era outra cidade… bem, definitivamente, Alcântara ganhou seu espaço em algumas mentes. Pelo visto, a sacada da equipe do redator Cláudio Paiva foi um teste para o atual Chapa Quente, também assinado por ele.Agostinho Carrara (Pedro Cardoso) no dia em que foi à Alcântara da vida real. Fonte: GShow. |
As imagens que temos sobre nós mesmos são muito diferentes. A decadência recente de São Gonçalo ainda vive na memória de muitos. Algumas pessoas ainda se lembram, por exemplo, das transmissões televisivas do baile de carnaval que acontecia no Tamoio. Por outro lado, a geração mais nova, em especial aqueles que já vivem em lugares que cresceram recentemente, com problemas estruturais, vêem a cidade de outra forma. Comparativamente, Duque de Caxias e Nova Iguaçu, mesmo com tantos problemas na baixada fluminense, saíram do zero, experimentando o crescimento apenas, por mais lento que ele seja.
A crítica dos gonçalenses à estética do Chapa Quente, se justifica pela versão que a produção da TV Globo resolveu retratar. Definitivamente, pegaram um dos piores lados da cidade. Porém, fica a minha dúvida: qual é a São Gonçalo mais verdadeira? A antiga, que vai de Neves ao Centro, o grande Alcântara, os arredores de Itaúna, bairros que beiram a BR-101, Ipiíba, Arsenal e pista da Rodovia Amaral Peixoto ou Jardim Catarina? São muitas cidades! Você conseguiria me responder qual é a cidade real?
Lúcio Mauro Filho, Leandro Hassum e Ingrid Guimarães estrelam a série Chapa Quente. Fonte: Divulgação TV Globo |
Independente da sua opinião, Chapa Quente vai ajudar a colocar São Gonçalo no mapa. Se nos incomodamos com a visão da TV, cabe a nós melhorarmos a cidade. Somos a 16ª maior cidade do Brasil e a referência de um caldeirão de diferenças sociais. Somos a cidade média reflexo dos problemas cotidianos e, se quisermos, podemos ser um bom exemplo também. A TV já reconheceu nossa importância. Só falta a gente entender isso.
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