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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 39



“Sempre fazendo planos para o futuro... Sempre sendo surpreendida pelo presente.”
Paulo Coelho
(Do livro "Onze Minutos" . Paulo Coelho)

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Paulo Coelho - Frase

Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 39



"Toda bênção que não é aceita transforma-se numa maldição."
Paulo Coelho

O vazio existencial do novo


Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 39



O vazio existencial do novo

Os pictogramas chineses,
esdruxulamente só sãos,
pululam na minha mente, assim,
cuja ânsia pelo novo vê:
só o que é esdrúxulo, novidade,
que logo deixa de ser, porque
velho, carcomido, antigo...

O novo, o velho, tudo isto é igual.
Nada original sobrevive
ao seu imenso repositório
imagético: nossa mente
tudo vê, tudo guarda, consome,
tudo absorve e regurgita;
o vazio existencial do novo...

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Paulo Coelho em entrevista à BBC News

Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 39



Paulo Coelho em entrevista à BBC News:
"Tudo em torno de Paulo Coelho é superlativo. Do banheiro para visitas decorado com um quadro assinado por Andy Warhol, ao elevador de vidro que vai da sala de estar ao enorme terraço sob os Alpes suíços. Dos mais de 325 milhões de livros vendidos e um bilhão de leitores em 150 países, ao recorde de escritor vivo mais traduzido do mundo e quase 50 milhões de seguidores em redes sociais. Da tortura a que foi submetido durante três meses, em 1974, à forma contundente como critica o governo brasileiro, em 2019."
"O esfacelamento daquilo que o nosso país representava."
"Um delírio."
"Um Brasil totalmente polarizado" que está "caminhando para o mesmo clima de terror" da ditadura.
Em seu apartamento, em Genebra, o escritor falou sobre que pensa sobre Jair Bolsonaro, e disse à BBC News Brasil estar cumprindo um "compromisso histórico".
"O compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando", diz, enquanto a esposa Christina Oiticica, que acompanha a entrevista, assente com um leve gesto de aprovação.
Em livros como Hippie, o mais recente (2018), ou O Aleph, de 2010, Paulo Coelho alerta que o passado pode destruir o presente. Mas, nesta entrevista, ele decide lembrar com detalhes dos meses em que foi espancado, teve os genitais presos a eletrodos e foi trancafiado nu, com um capuz, em uma sala gelada e escura por agentes da ditadura.
"Se o passado se repete no presente, já não é mais passado, é presente."
Em mais de uma hora de conversa, o escritor também fala sobre o momento em que rompeu com o PT ("estou fora"), a desilusão com o comunismo ("tudo cinza e triste"), a experiência no caminho de Santiago de Compostela ("a jornada é o que conta, e isso vale para política e religião") e a relação com os críticos ("sobrevivi a todos").
Também dá sua opinião sobre figuras contemporâneas como os ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública), o papa Francisco, o guru bolsonarista Olavo de Carvalho, o YouTuber Felipe Neto e o pintor Romero Brito.
Também fala sobre Jesus: "mais politicamente incorreto, impossível".
Leia os principais trechos da entrevista:
BBC News Brasil - Você é essa figura global. Estamos em Genebra, você está no Guinness Book como o autor vivo mais traduzido no mundo e conversa com gente de toda parte. O que as pessoas têm perguntado sobre o Brasil ultimamente?
Paulo Coelho - As pessoas ficam muito constrangidas em perguntar sobre o Brasil. Elas não perguntam. Eu tenho que dar uma entrada para as pessoas perguntarem. Eles vêm e dizem: "Ah, pois é, você viu que ele ofendeu a primeira-dama francesa". Aí eu tenho que falar alguma coisa. Mas eu procuro evitar a conversa Brasil porque eu não posso no momento falar bem do meu país, e falar mal é muito chato.
BBC News Brasil - Você tem, por outro lado, se colocado pelo Twitter. Como você vê este momento no Brasil?
Paulo Coelho - Eu tenho 72 anos e nunca vi nada igual. Eu já vivi ditadura, democracia, muitas fases do Brasil, mas nunca vi o que está acontecendo agora. É um delírio. Necessitava (Howard Phillips) Lovecraft, um escritor de ficção científica, para descrever o Brasil. Fico muito triste com o que está acontecendo.
Uma coisa é certa: não se morre de tédio com a política brasileira, porque todo dia tem-se uma coisa nova. Por outro lado, francamente, o que é isso? Que é isso? O que o presidente brasileiro está fazendo para colocar o Brasil em tanta saia justa?
BBC News Brasil - Você fala de alguma situação específica?
Paulo Coelho - Tudo, tudo, tudo. Vai desde o aquecimento global às queimadas na Amazônia. Parece que o Brasil virou um Estado de negação. As pessoas negam a realidade. "Ah, vou me fechar aqui e não quero ver o que está acontecendo." Isso é muito triste. Veja, você tem um chanceler, Ernesto Araújo, que é um cara completamente despreparado. Não tem maturidade, não tem experiência, não tem nada que justifique a posição que ocupa. E o cara diz qualquer coisa. "Ah, eu fui à Itália, estava frio, então não tem aquecimento global". Meu amigo, um dos sintomas do aquecimento global é o frio (nota da redação: o processo de mudança climática inclui temperaturas mais extremas isoladamente e uma média maior de aquecimento no longo prazo. Clique aqui para ler mais).
Você tem um presidente que, no fundo, eu nem sei se está muito contente de ter sido eleito. É muito confortável estar na oposição. O Brasil está assistindo horrorizado ao esfacelamento daquilo que nosso país representava. Ou seja: Uma luz em um mundo que vivia em trevas.
BBC News Brasil - Você fez críticas ao presidente, ao chanceler. Você se preocupa de alguma maneira que essas críticas desagradem a parte dos seus leitores?
Paulo Coelho - Mas óbvio. Não, não. Preocupar é uma palavra muito forte. A essa altura, eu tenho um compromisso histórico e o compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não sei. Eu não fico contabilizando isso. No Brasil. Mas, fora do Brasil, eu não acredito. Acho que todo mundo está olhando o Brasil neste momento com muita suspeita.
"Eu estava nu o tempo todo. Só com capuz. Tortura é uma violência total", diz Paulo Coelho à BBC News Brasil — Foto: BBC NEWS BRASIL"Eu estava nu o tempo todo. Só com capuz. Tortura é uma violência total", diz Paulo Coelho à BBC News Brasil — Foto: BBC NEWS BRASIL
"Eu estava nu o tempo todo. Só com capuz. Tortura é uma violência total", diz Paulo Coelho à BBC News Brasil — Foto: BBC NEWS BRASIL
BBC News Brasil - Um assunto delicado, mas trazido por você mesmo recentemente frente a declarações do presidente Bolsonaro. Pode contar o que aconteceu no dia 28 de maio de 1974 - e nos dias que se seguiram?
Paulo Coelho - Bom, durante o governo militar eu era um louco. Nada mais aceitável do que ser um louco com 26 anos. Você tem que passar por um período de loucura para não ficar fazendo loucura depois. Então era tudo: sexo, drogas, rock'n roll. Era o "hipismo". E os militares achavam, como acham hoje em dia, porque o Brasil vive um momento também muito conservador, que tinham que entender tudo. Aí eles não entendiam as minhas músicas. Eles achavam: "bom, se está fazendo sucesso, se está todo mundo cantando, alguma coisa está errada". Quem são esses caras aí? Raul Seixas e Paulo Coelho. Alguma coisa está errada porque a gente não entende o que eles estão falando. Então, chamaram o Raul para depor. O Raul era o cantor. Como diz o Elton John, "Don't Shoot Me, I'm Only the Piano Player" (Não atire em mim, eu sou apenas o pianista). Mas a eminência parda, o cara perigoso, o ideólogo era o letrista. Então eles me prenderam. Agora, tem que justificar uma prisão. Não acharam nada.
Quando eu estava preso oficialmente, fichado, com impressão digital, meus pais conseguiram mandar um advogado. Aí eu falei para o meu advogado "olha, não aconteceu nada, está tudo bem". Aí, me soltaram no mesmo dia e me sequestraram em frente ao aterro do Flamengo. Me arrancaram do táxi, me jogaram na grama, me botaram a arma. Eu olhei para aquele hotel e disse "Putz, eu tenho 26 anos, vou morrer olhando o hotel Glória? Isso não é justo. Eu não estou pronto para morrer." Mas aí há um bloqueio, há um mecanismo de defesa que você simplesmente entrega ao seu destino. Acho que fiquei uns 20 ou 30 minutos (pensando) "Ah, tá. Já que eu vou morrer, eu vou morrer".
Aí, em um dado momento, quando cheguei ao centro de tortura, que só fui descobrir muito tempo depois que era na rua Barão de Mesquita, voltou o instinto de sobrevivência. Mas até lá eu estava entregue. Aí eu fui torturado, apanhei, essas coisas todas.
BBC News Brasil - Qual era a sua situação nesse momento?
Paulo Coelho - Eu estava de capuz, em uma cela. Não via ninguém. Apanhando, óbvio. Mas apanhar não é uma coisa séria. Mas quando eu olhei, debaixo do capuz, os caras tinham posto a máquina de choque. Eu já tinha levado choque feito doido, mas choque de doido não dói. (Nota da redação: Aos 20 anos, Paulo Coelho foi internado pela primeira vez pelos pais em um manicômio). Agora, aquele choque ali era para machucar, tá? Eu olhei assim e me assustei muito. Aí eu disse: "ah, deixa que eu me torturo". Lembrei da casa de saúde. Aí comecei a me lanhar. Enfiei as unhas no corpo e comecei a me arrebentar. E começou a sair sangue.
Os caras disseram: "é maluco". Aí a tortura diminuiu, aí no dia seguinte voltou. Eles queriam saber como estava a guerrilha na Bahia. Porra, meu amigo. Eu confesso! Como está a guerrilha? Eu assino aqui. O que você quer é que aquilo pare. Agora, a pior tortura não é aquela que te agride fisicamente. A pior tortura é a psicológica.
Então, eles me botaram numa coisa chamada geladeira. É uma caixa, de 3x3, estou chutando, a porta hermeticamente fechada. Um ar condicionado. Você está nu. Eu estava nu o tempo todo. Só com capuz. Tortura é uma coisa que é uma violência total. Essa geladeira, é uma coisa que eles não me tocavam. Me fechavam lá dentro, botavam aquele ar condicionado tremendamente frio, e era tudo escuro, pintado de preto. Você não tem mais nenhuma sensação.
BBC News Brasil - Noção de tempo?
Paulo Coelho - Noção de tempo, distância, nada, você só tem um frio congelante. Ali eu pirei. Acho que o pior momento da tortura foi o tempo que eu passei na geladeira. Porque eu disse "estou enlouquecendo, estou enlouquecendo". Até então eu era um maluco beleza. Um cara que fez minhas loucuras, da minha juventude. Mas ali eu estava virando louco mesmo. Estava perdendo a minha capacidade de pensar. Não sabia se era reversível ou não.
Aí foi isso. Quando eu saí da prisão, saí como entrei. Sem explicação. Nunca fui processado, nunca fui ao Tribunal Militar. Nada. Fui preso em maio, fiquei preso até junho. Você perde a noção de data.
Mas aquele medo fica. Aquele terror fica.
BBC News Brasil - Li histórias de que ser preso acabava virando um estigma, porque as pessoas ficam com medo de se aproximar, ou se associar.
Paulo Coelho - Todo mundo. O meu próprio parceiro na época, o Raul, não deu mais notícias. Não atendeu meus telefonemas. Os meus amigos sumiram. Porque ser visto com um preso... E isso existe até hoje. Se esse cara foi preso... Alguma coisa tem de errado, então é melhor não ser visto com ele, podem estar fotografando...
O Brasil vivia um clima de terror. Para o qual está se encaminhando eu acho agora. O Brasil está totalmente polarizado e eu acho que as coisas infelizmente estão caminhando para o mesmo clima de terror. Você já não diz o que pensa. Nem na família. Não é porque vão te prender, torturar ou bater. É porque as pessoas perderam completamente a capacidade de diálogo. Ou você é a favor, ou é contra. Não existe conversa. E a mesma coisa naquela época.
BBC News Brasil - No seu livro Hippie, você diz que a gente precisa fazer as pazes com o passado para não destruir o presente. Em O Aleph, você diz que o passado é um bom lugar a se visitar, mas não um bom lugar para se viver. Em 2013, você tuitou - visite a sua alma, não visite o seu passado. Por que agora é importante trazer esse passado agora?
Paulo Coelho - Porque é um presente. Não é um passado. Eu, por exemplo, se fosse visitar meu passado, não escrevia mais. Escrevi durante tanto tempo, escrevi tantos livros, graças a Deus, sucesso no mundo inteiro. Estou com 325 milhões de livros vendidos até junho. Isso significa, tomando uma média de três leitores por livro, quase um bilhão de pessoas lendo os meus livros. Então, se vou visitar isso, eu não escrevo mais. Primeiro, fico paralisado pelo medo desses leitores, do que eles querem ou deixam de querer. Pô, o meu prazer é escrever. É isso que eu gosto e é isso que justifica a minha existência.
Caramba, eu poderia estar vivendo só de música e de memórias. Aquele cara chato que chega no bar "Ah, eu fiz uma música. Gita. (Paulo Coelho cantarola) "Eu sou, a luz das estrelas..." E o cara: "Ah, já sei qual é, já ouvi". Viver no passado é um perigo, é mortal.
Agora, se o passado se repete no presente, já não é mais passado, é presente.
Paulo Coelho
BBC News Brasil - Ainda sobre esse passado que reaparece: a censura é outro tema que voltou à tona com o episódio da Bienal. E você citou no Twitter seu livro 11 Minutos, que fala sobre sadomasoquismo, prostituição, e estava ali exposto sem ser recolhido.
Paulo Coelho - É, eu sugeri que censurassem meu livro porque é um livro sobre prostituição. Curiosamente, e o meu segundo livro mais vendido.
Os caras não têm muita noção de nada. Eles vão pelos trending topics do Twitter para ver o que está acontecendo. Eu disse ao meu editor lá no Brasil: "Põe aí bem visível, quero ver se eles vão pegar. Se pegarem, eu vou criar um problema mundial'. Não pegaram.
Acredite se quiser: mesmo durante a ditadura, com todas essas músicas, eu sendo considerado um subversivo potencial, porque eles não tinham nada para provar contra mim, eu só tive uma música censurada. Que se chamava Óculos Escuros. Eu troquei o título e botei um que não tem nada a ver que diz Como Vovó já Dizia, mandei para a censura e passou. Não existia a menor lógica na repressão.
BBC News Brasil - O Felipe Neto fez aquela ação de comprar todos os livros e distribuí-los. Você chegou a elogiar inclusive.
Paulo Coelho - Não só elogiei, senti uma certa inveja positiva. Disse: porra, o cara teve essa ideia e eu não tive. Eu disse, porra, eu queria ter tido essa ideia. Mas aí ele começou a ser ameaçado. E eu resolvi me posicionar para que a pessoa seja defendida. Na época da repressão, digo no governo militar, quando as pessoas eram presas, elas eram agarradas na rua, sei lá, em qualquer lugar, e elas tinham que gritar o nome para que todo mundo soubesse que a pessoa estava sendo presa. Porque uma vez que as pessoas sabem, isso já é um escudo de proteção. A mesma coisa valia para o Felipe Neto. Não vamos deixar que as coisas sejam assim, não. Além do mais, o Twitter é uma falsa caixa de repercussão porque existem as milícias virtuais e você nunca sabe o que é real. Eu posto uma coisa e eu não leio comentário, porque a maioria é robô.
Paulo Coelho
"Quem manda sou eu, vou deixar bem claro. Eu dou liberdade para os ministros todos, mas quem manda sou eu", afirmou o presidente nesta sexta (16).
Entendeu bem, Moro?
BBC News Brasil - Ainda sobre o Twitter, você postou uma frase do Bolsonaro dizendo várias vezes que é ele quem manda. "Sou eu quem manda, sou eu quem manda".
Paulo Coelho - É, era para o Moro! (Risos)
BBC News Brasil - Exato. Você pergunta se Moro entendeu bem. Qual era o recado?
Paulo Coelho - O Bolsonaro é quem manda! O Bolsonaro tem isso, ele é um capitão, tem educação militar e tem esse senso de hierarquia. Você, se fizer alguma coisa errada, quem manda sou eu. Você vê que há um conflito entre Moro e Bolsonaro desde que Moro entrou para ser ministro da Justiça, contra o conselho de várias pessoas. Mas quem manda é Bolsonaro.
BBC News Brasil - E qual é o seu conselho ao Moro?
Paulo Coelho - Eu não tenho conselho ao Moro. O Moro não faz parte do meu universo. Moro é uma pessoa que eu não entendo muito bem, sabe? Eu vi agora os desmandos da "Vaza Jato". Esse sim que é um cara corajoso. O...
BBC News Brasil - Glenn Greenwald?
Paulo Coelho - Esse cara é um ícone para mim. Ele está lá, está falando tudo aquilo e desmascarando uma coisa que você diz "Ah, vamos fazer isso porque está certo". Voltando a Maquiavel: "Ah, os fins justificam os meios". Não justificam.
Vamos usar um exemplo concreto. Santiago de Compostela, eu fiz em 1986. Eu demorei 56 dias, a média é 30. Eu ficava o tempo todo no começo querendo chegar a Santiago de Compostela. Quando cheguei, foi um anticlímax. Acabou. E agora?
A jornada é o que conta. É o que é importante, né? E isso vale para política, para religião, vale para tudo. É o processo que vai te deixar em paz com a vida ou de mal com a vida, e não aonde você vai chegar. Porque nós vamos chegar todos a um mesmo lugar chamado morte.
Paulo Coelho
“Antigamente dizíamos: as paredes têm ouvidos “
“Hoje dizemos: os ouvidos tem paredes”
(M.A., amiga minha)
BBC News Brasil - Outro dia você disse que "antigamente as paredes tinham ouvidos e que agora os ouvidos têm paredes". Você estava falando sobre polarização, fake news... É isso?
Paulo Coelho - Acho que hoje em dia se criou um universo completamente artificial e existe uma mudança irreversível. Não adianta dizer que a comunidade social está criando isso ou aquilo. Mas hoje em dia você consegue se aproximar da sua tribo, seja ela de luz ou de trevas, e entende que não está sozinho. Quando você entende isso, aquilo te cria uma barreira em torno. E acabou. Você tem lá seus 10 amigos que compartilham da ideia de que a Terra é plana, que os ETs estão lá na Área 51 dos EUA e pronto.
BBC News Brasil - A gente está emburrecendo por isso?
Paulo Coelho - Eu não sei se a gente está emburrecendo, eu não sei se a gente sempre foi burro, eu não sei se eu sempre acreditei em coisas que queria acreditar. Óbvio, não vou acreditar que a Terra é plana. Mas eu acredito em extraterrestres. E muita gente não acredita. Eu acredito em Deus. E tem gente que pensa que Deus não existe. Então, você é você e a maneira como vê o mundo.
Eu, como todas as pessoas da minha geração, namorei o comunismo. Eu queria visitar os países comunistas. E já era muito difícil. Conseguimos, eu atravessei o muro de Berlim, e o cara me perguntou "Quanto dinheiro você tem?". Digo: "Tenho em torno de 4 mil dólares", vamos dizer. Aí o cara diz "Não, exatamente, os trocados". Eu disse, tá bom. Sentei com minha mulher e começamos a contar as moedas. E passavam outras pessoas que moravam da DDR, na Alemanha Oriental. E aí eu comecei a ver a humilhação que eram as pessoas que chegavam.
Fomos para a DDR, para a República Tcheca, Romênia, Hungria. E era tudo cinza. Tudo triste. As pessoas eram infelizes. Eu disse, porra, é isso que eu estou defendendo? Nem defendendo, eu não era um cara atuante. Era um simpatizante. Eu disse "Não, isso não está com nada". É muita repressão e... estou fora.
BBC News Brasil - Em 2016, em abril, você disse em um texto: "Fui petista, fiz campanha, me decepcionei, resisti o quanto pude às constantes desilusões, incompetência, etc. Mas chegou um dia em que eu disse basta". E aí, há pouco tempo, você disse que pode amar o seu país, mas você deve...
Paulo Coelho - Você pode amar o seu país e desprezar o seu governo. Eu flertei com o PT. Mais do que flertei. Eu fiz campanha, eu fui apoiar nas Olimpíadas, apoiei a Copa do Mundo. E aí eu comecei a ver que era uma coisa que não estava levando a lugar nenhum. Não digo que os resultados dos governos Lula não foram bons, mas da Dilma já não foi. Já é uma coisa meio falsa.
Não sei. Aí eu disse: "Ah, não, estou fora do PT."
BBC News Brasil - Você tem essa frase de você deve amar seu país, mas desprezar seu governo. Você é um cara desiludido com a política?
Paulo Coelho - Boa pergunta. Eu não sei te responder. Eu acho que o mundo vem do seu momento auge, a Acrópole, Atenas, de onde vem a palavra "política", onde as pessoas realmente discutiam. Aí depois se criou uma casta e depois essa casta se julgou no dever de ditar o que a gente pensa. "Ah, mas seria Anarquia!". Eu não acredito.
Acho que se todo homem tivesse o poder de interferir no seu país e no seu governo nós teríamos um Congresso, um Executivo, um Judiciário, que é um poder muito importante, mas nós teríamos uma voz popular muito importante. Então eu acho que infelizmente nós caminhamos para a consolidação dessa casta política. Acho que a política tem que passar por uma reforma muito grande.
BBC News Brasil - Essa discussão sobre a desilusão com os políticos, a descrença com o político tradicional é algo que está em voga e, por exemplo, teria ajudado a eleger figuras como Donald Trump, nos EUA, ou, no Brasil, o João Doria, que vem do mercado, ou no Rio de Janeiro o Wilson Witzel, que é um juiz. Como vê esse fenômeno?
Paulo Coelho - Aí é que está. Quando não se oferece alternativas concretas, você parte para coisas que terminam dando no Bolsonaro. O cara acredita que o nazismo é de esquerda, meu amigo. "O nazismo é de esquerda..." Os judeus ficaram chateadíssimos com esse comentário.
BBC News Brasil - Você falou hoje sobre uma tristeza sobre o Brasil de hoje, uma série de preocupações que você tem. Queria saber o que ainda te dá orgulho no Brasil.
Paulo Coelho - O povo. O povo. O povo. Eu espero que esse povo não seja contagiado com o que está acontecendo. Embora, no momento, você veja que as pessoas estão ficando muito radicais. Muito. O evangélico já não tolera o católico, o cara de esquerda não tolera o de direita, o de direita odeia todo mundo. Você vê nas biografias do Twitter. "Fulano de tal ferrenho anticomunista". De onde esse cara tirou que é anticomunista? O que ele acha? Que o Brasil vai ser de repente invadido por hordas de soviéticos que estavam ocultos na Amazônia, depois que queimarem sai aquele bando de soviéticos para atacar o Brasil, todos com aquela estrelinha vermelha? Comunismo não existe mais. Nunca existiu, existia um regime soviético horroroso.
Aí eu digo, que é isso, porque as pessoas falam isso? Ah, porque as pessoas precisam de uma bandeira para defender. O cara vai lá e tem a bandeira anticomunista. Podiam inventar uma coisa melhor, mais moderna. "Antipoluição". Mas o cara é anticomunista porque sofreu ali uma lavagem mental. Esse anticomunismo é muito recente, é da eleição do Bolsonaro para cá. Todo mundo da direita virou anticomunista.
Na Academia Brasileira de Letras eu fui eleito na vaga de um ícone da direita, que era o Roberto Campos, que eu atacava enquanto estudante. E o Roberto Campos tem uma frase muito boa. Ele diz que "A violência da flecha dignifica o alvo". Então, quando é atacado com muita violência, de alguma maneira aquele ataque te dignifica. Ou te mata ou te faz viver, mas ao menos você é dignificado. Não há nada pior do que ignorar.
BBC News Brasil - O termo guru já foi muito usado para descrever você e é algo que você rechaça. Hoje esse termo voltou à tona e vem sendo muito usado para descrever outro escritor, o Olavo de Carvalho. Queria saber se você já o leu e o que acha dele?
Paulo Coelho - Não, não li e não tenho opinião. Não é uma coisa que entra no meu universo.
BBC News Brasil - E porque a ideia de guru incomoda?
Paulo Coelho - A mim? Porque guru é um cara que mostra o caminho. Eu sempre fui a favor de que cada um de nós saiba o caminho que deva seguir. A vida nos dá todas as ferramentas, faz a gente encontrar as pessoas certas, no momento certo, o problema é reconhecer.
BBC News Brasil - Sobre religião e espiritualidade. Você é um cara que se reconciliou com o catolicismo, depois de experimentar outras filosofias e religiões. Hoje, estima-se que na próxima década o Brasil deve se tornar um país de maioria evangélica, protestante.
Paulo Coelho - Eu acredito que sim.
BBC News Brasil - Queria saber como vê esse fenômeno.
Paulo Coelho - Bom, cada um tem direito de escolher, não é? Eu acho que religião é uma coisa de foro íntimo. Sou católico, tenho uma grande admiração pelo protestantismo. Eu acho que cada um tem sua escolha, sobretudo nessa área. Essa coisa "Ah, paga dízimo". E daí, meu amigo? A pessoa paga dízimo, o cara que lê meu livro paga direito autoral, alguém paga a BBC...
O problema é a radicalização. O cara invadir uma bienal em nome dos costumes. Cristo era um cara mais politicamente incorreto, impossível. Vivia cercado de mulher. Bebia. O primeiro milagre dele, nas bodas de Caná, ele transforma água em vinho, não vinho em água. Se cercava dos piores elementos, do cobrador de impostos, Matheus, dos pescadores. Amaldiçoava a elite da época. Por exemplo: ele passa por uma figueira, ele olha, a figueira não dá figo para ele porque não é época. Ele amaldiçoa a figueira! Então é um cara que eu adoro, porque é uma pessoa feito todos nós.
Agora, a leitura da Bíblia são outros quinhentos. As pessoas leem o que elas querem. E isso está gerando um fanatismo. E o Brasil infelizmente pode caminhar para um conservadorismo cultural.
BBC News Brasil - A gente está perto do Sínodo da Amazônia, essa grande reunião de bispos no Vaticano, e o Brasil vai acabar sendo assunto por lá. Lembro que você não gostava de Bento 16. Queria saber sua impressão sobre o Papa Francisco.
Paulo Coelho - Muito boa. Muito boa. Eu estou pensando se vou ou não ao Vaticano agora, porque vai ser canonizada agora uma santa que me deu de comer chamada irmã Dulce. A primeira santa brasileira. Eu estava mendigando na Bahia, eu tinha fugido de casa, e ela me deu de comer. Hoje em dia, graças a Deus, a gente ajuda aos hospitais dela, a gente tem uma fundação que ajuda algumas coisas, entre as quais algumas unidades dos hospitais da irmã Dulce.
Penso se vou ou não, estou nessa fase de preguiça, para encontrar o papa. Porque eu já recebi sinais de que ele gostaria de encontrar comigo também.
BBC News Brasil - Você o vê fazendo um trabalho interessante?
Paulo Coelho - Vejo um trabalho muito interessante. Que as pessoas atacam, mas as pessoas atacam tudo. Atacar é livre. Fazer o trabalho que é difícil.
BBC News Brasil - Você é o único escritor que eu já vi na vida defendendo a pirataria dos próprios livros. Por quê?
Paulo Coelho - Claro.
BBC News Brasil - Por quê?
Paulo Coelho - Eu defendo a pirataria porque tem gente que não tem dinheiro ou acesso à livraria. Agora mesmo a gente mandou containers de livros para a África. Na África, não existem muitas livrarias, mas existe o celular e as pessoas podem baixar. Então, baixa pirata.
E depois, ao contrário do que as pessoas pensam, o mundo não é ganancioso. As pessoas respeitam quando você é generoso. Eu respeito quando são generosos comigo. Então, não vivo na defensiva. Nem com direitos autorais, nem com relação a nada. Acredito na maldade e na bondade humana.
BBC News Brasil - Como acha que você vai ser descrito no futuro nos livros de história e literatura? Que lugar você acha que vai ocupar lá para frente na nossa literatura?
Paulo Coelho - Não tenho a menor ideia e não é uma coisa que me preocupa.
Eu me lembro que no começo diziam que eu ia durar 3 anos, que era moda. Eu estou ocupado com o aqui e o agora. Uma coisa seja dita: eu, Paulo Coelho, sobrevivi a todos os meus críticos. Eles simplesmente sumiram, desapareceram. Mas eu continuei e continuei porque não tentei agradá-los. Eu nunca tentei agradar ao crítico. Eu sempre fui absolutamente consciente do que eu queria fazer e continuei fazendo e sobrevivi aos críticos.
BBC News Brasil - Lembrei de uma frase sua: você inclusive compara os críticos aos eunucos. Qual é a frase do harém?
Paulo Coelho - Crítico é que nem eunuco de harém. Vê fazer, sabe a melhor maneira de fazer, mas não pode fazer porque não tem material necessário. Então, o crítico é o cara que, coitado, não deu para nada e vai ser crítico.
A história está cheia de exemplos de gente que foi pisada. Isso vai desde Richard Wagner, o compositor, até o que se faz com o Romero Brito hoje em dia no Brasil. O Romero Brito é um fenômeno mundial e também não liga para crítica.
Se o meu trabalho vai ficar ou não vai ficar, eu espero que fique, óbvio. A literatura está passando por várias mudanças, então vamos ver.
BBC News Brasil - Você é um cara que chora? Qual foi a última vez?
Paulo Coelho - Eu choro muito. Não me lembro a ultima vez, deve ter sido ontem, eu vi um documentário e chorei. Eu acho a lágrima um dom. Um dom. Ela expressa. Eu não choro de raiva, nunca, mas choro de emoção.
Eu nunca posso ter como garantido o que aconteceu comigo. Então tem que estar sempre reverenciando esse milagre. E reverenciar esse milagre é fazer alguma coisa seja por mim, seja por meu semelhante.
Quando eu doei meus livros, era na língua dos colonizadores. O francês e o inglês. Você começar a ver seus livros surgindo em línguas locais, suaíli, iorubá... Que prêmio maior existe para o escritor? Que seu trabalho viaje, que sua alma seja compreendida. No fundo, se escreve para isso.
BBC News Brasil - Você também se emociona com música? Pensando no Paulo Coelho roqueiro, parceiro do Raul, compunha para Elis, Rita Lee... A música ainda emociona ou o rock morreu?
Paulo Coelho - A música é sempre geracional. Eu escuto o que escutava quando tinha 26 anos. Eu não evoluí. Nem eu e nem ninguém. Você fica naquela fase e pronto, e ouve aquilo várias vezes. Eu escuto o que escutava, desde Led Zeppelin a Chitãozinho e Xororó, ou Raul Seixas, ou Roberto Carlos. Antigos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Paulo Caldas


Paulo Caldas

Até que ponto o real é real mesmo ou é apenas um espelho de sonho no qual a verdade é um ponto de vista?  A ambiguidade dos nossos anseios nos trazem inquietações filosóficas e espirituais porque são dúplices e tríplices ou as inquietações filosóficas e espirituais nos trazem anseios ambíguos porque são dúplices e tríplices?  Paulo Caldas, exímio artesão das artes plásticas, propõe uma “flecha mensagem” que nos atinge no peito, no coração...
Como em René Magritte, para quem as ambiguidades de um quadro seu “vêm da sua natureza profundamente introspectiva e são a resposta de um pensativo observador para a vida superficial ao redor de si”, nas palavras de Edmond Swinglehurst, Paulo Caldas pensa o mundo filosófica e espiritualmente, tanto quanto ideológica e socialmente.  Suas influências, segundo suas próprias palavras, vêm mais do que leu e do que ouviu do que propriamente do que viu.  As leituras de Richard Bach (Fernão Capelo Gaivota, Longe é um lugar que não existe), Khalil Gibran (O Profeta), Hermann Hesse (Sidarta, O Lobo da Estepe), Jiddu Krishnamurti (Sobre a liberdade), Lobsang Rampa (A Terceira Visão) e Manoel de Barros (O livro das ignorãças) alimentaram e alimentam sua arte surrealista ao lado de Pink Floyd, Vangelis, Tom Jobim e Chico Buarque, na música.
Profundo conhecedor do desenho e das suas possibilidades, o artista leva o observador de suas obras às indagações e conjecturas sérias a respeito da sua existência com jogos extremamente elaborados de figura e fundo. Também se utiliza de formas que se transformam e se metamorfoseiam numa verdadeira dança imagética onde as cores têm o papel fundamental de atrair o espectador.
A viagem que M. C. Escher – um irmão e mestre para Caldas – realizou à Granada, na qual foi fortemente impactado pelos azulejos mouros, de onde surgiram nele as inspirações para os padrões geométricos, transfigurados ao serem repetidos, formando novos desenhos, Paulo Caldas explorou nos recônditos da sua própria psique, da sua alma.  Suas pinturas são verdadeiras viagens fantásticas que estruturam realidades oníricas em concomitância com imaginações concretas, feitas no real palpável do pictórico e do gráfico.
Do modo de Iberê Camargo, o artista segue a linha do “não nasci para fazer berloques, enfeitar o mundo... eu pinto por que a vida dói.” Paulo conhece como poucos a arte de instigar e provocar, sendo um virtuoso desenhista que constrói pontes entre a imaginação e a realidade sem fazer falsas concessões aos modismos de qualquer natureza midiática.
Salvador Dalí, em sua grande voracidade surrealista, inspirou também fortemente Paulo Caldas, que soube extrair da arte delirante, alucinada, deliciosamente cativante e magnífica do catalão, seu substrato para uma criação autônoma e original que nada deve a nenhum dos pintores surrealistas de todos os tempos.
A situação atual do país o inquieta muito e o pintor deixa uma mensagem para todos os brasileiros e brasileiras: “Ser bom é mais barato.  Quando somos bons, economizamos energia positiva para o nosso país.  Vejam o que está sendo desperdiçado em decorrência da ação dos maus que infestam nosso Brasil.”
Mauricio Duarte

Referências:
A Arte dos Surrealistas . Edmund Swinglehurst . Ediouro . Rio de Janeiro . 1997
M. C. Escher . Artista gráfico holandês . https://www.ebiografia.com/m_c_escher/ . visitado em 16-10-2017
M. C. Escher . O artista das construções impossíveis .
M. C. Escher . Wikipédia . https://pt.wikipeida.org/wiki/Mauritis_Cornelis_Escher / visitado em 16-10-2017

Contatos com o artista:
Telefone: 82 999552464
E-mail: cordao-nordeste@hotmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/paulo.caldas.125
Endereço: Rua Marco Aurélio, 146 - Jd. Petrópolis II - Tabuleiro dos Martins, Maceió . AL


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segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Marcos Paulo Alfa


Marcos Paulo Alfa


Qual o limite da identidade?  A identidade pós-pós-moderna – pós-tudo – que nos arranca dos nossos lugares comuns e nos leva para encararmos nossa própria identidade – ou pseudo-identidade – em camadas e todas falsas – diriam alguns... Marcos Paulo Alfa tem a medida exata disto e tira partido deste fato em seu trabalho de graffiti nos muros da cidade bruta, bruta cidade...
As suas criaturas do graffiti podem ser aparentemente “fofas” e “engraçadas”, “pop” e “ideológicas”, “expressivas” e “frágeis”... Porém, em sua maioria, senão na totalidade, permanecem inclassificáveis.  Desde o elefante azul ciclópico de um olho só – ou são dois olhos? – que parece uma figurinha de desenho animado ou de HQ infantil; nada tem de infantil, e altamente gráfico; até o ursinho de pelúcia skatista e grafiteiro com requintes de 3D em luzes e sombras, misturado ao alto tratamento gráfico elétrico.   Passando pelo garoto azul com a TV na cabeça aberta, com o canal que para a sua programação na bandeira do Brasil – gigante eternamente adormecido – e que mais parece um zumbi... com um inconsciente totalmente colonizado e dependente das ondas midiáticas...  E pelo garoto geek azul de olho azul e óculos brancos e forma de gota, reduzido a esse mínimo de forma em gota espermatozóica com expressão deslumbrada e nervosa...  Sua influência nessa arte dos muros são a “galera antiga de Niterói e São Gonçalo”, “todos do graffiti.”
Alfa também é poeta e tem, entre suas leituras favoritas, Castro Alves.  Mas não para aí.  O seu conceito transgressor se estende ao vídeo, tanto como autor e editor quanto no cenário da atuação... A sua inserção artística transpassa o circuito de grafiteiros, artistas plásticos, poetas e atinge os meandros da criação e prática das artes visuais, realizando trabalhos ainda como designer gráfico e ilustrador.
Alfa é uma artista que impressiona pela jovialidade do estilo; desnudando realidades e desarmando olhares, criando suas críticas sociais sem concessões a A, B ou C, indo fundo com o dedo na ferida... Os valores invertidos da pichação não vêm para agradar, mas para incomodar e o graffiti, por sua vez, se apropria desta contradição para transformar o encantamento e a desconstrução em território do que é a arte, para além da “poluição” e “sujeira”, “mensagem cifrada” e “vandalismo”...
Qual será o limite da identidade contemporânea?  Este e outros questionamentos são embates centrais de Marcos em critérios mutantes na política, no social, no econômico, na cultura e no urbano, de um modo geral, sendo subversivo ao extremo... sempre...

Mauricio Duarte

Contatos com o artista:
Whatsapp: 968874064



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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Paulo Coelho e As Valkirias


Paulo Coelho e As Valkirias


A obra de Paulo Coelho é um sucesso editorial, é um fenômeno editorial. Mas não é só isso. Sua obra é marcada por um estilo próprio que, mesmo quando contestado ou criticado, transpassa como água límpida e cristalina, tão simples como o sol de verão, banhando com seus raios quem aproveita o bem estar ao ar livre.
Sendo um dos 20 escritores mais lidos do mundo, juntamente com Gabriel García Márquez ou Umberto Eco, Paulo Coelho apresenta em sua literatura o que pode ser considerada por muitos, trivial. Porém numa leitura mais detalhada, é percebido que o seu charme new age que vem de encontro da sede de transcendência e de metafísica – e de lucidez – só poderia utilizar-se de uma linguagem simples, sintética e objetiva para efetivar esse tipo de abordagem estilística. A forma é o conteúdo e o conteúdo é a forma. Por que dizer esotérico e dizer hermético, é dizer difícil e complexo. Só pode ser soletrado pelo leitor médio contemporâneo junto com simplicidade e fluidez.
A saída fácil que alguns afirmam sobre a obra do autor, não se sustenta. Escrever sobre sentimentos humanos com um caldo de cultura new age e de espiritualidade profunda não é tarefa fácil. É para quem conhece e dialoga com os meandros da escrita em consonância com o sonho da conspiração mística e com a literatura atual ao mesmo tempo. É para quem sabe da importância de pesquisadores do esotérico e da contracultura como Alan Watts, Osho, Krishnamurti, Fritoj Capra, dentre outros pensadores e iluminados que revolucionaram nossa forma de sentir a vida no século XX e consequentemente nossas existências no atual século XXI.
Vejamos os seguintes trechos de As Valkírias de Paulo Coelho:
“[...]Toda tarde, antes que Vahalla viesse chamar Paulo para passear no deserto, ele e Chris praticavam a canalização, e conversavam com seus anjos. Embora o canal ainda não estivesse completamente aberto, sentiam a presença da proteção constante, do amor e da paz. Ouviam frases sem sentido, tinham algumas intuições, e muitas vezes a única sensação era de alegria – nada mais. Entretanto, sabiam que conversavam com anjos, e que os anjos estavam contentes[...].” (As Valkírias, pág 83)
“[...]Um dia chegará em que os que batem na porta verão ela se abrir; os que pedem, receberão; os que choram, serão consolados[...].” (As Valkírias, págs 236-237)
Segundo Gabriel Perissé, mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH – USP, “Paulo Coelho é amado em virtude do seu gnosticismo sincrético, seu esoterismo exotérico, seu catolicismo reencarnacionista, sua sensibilidade agudíssima para as demandas espirituais e psíquicas do nosso tempo, sua sabedoria tão despretensiosa [...]”
Numa frase atribuída ao escritor quando se referia a Jorge Luis Borges, o autor afirma em texto publicado pelo Jornal do Brasil em 27/07/1996, “o negócio é não complicar.”
Em suma, privilegiando o mistério, o sonho e o oculto, o autor surgiu como um paradigma, como um exemplo para quem busca respostas mais “elevadas” num contexto social desequilibrado, ao mesmo tempo individualista e massificante, tecnologicamente avançado e espiritualmente abandonado, pluralista, mas tacanho.
A simplicidade é a chave da literatura de Paulo Coelho, que preza tanto pela boa escrita quanto pela mensagem, pela essência do que está sendo dito, característica que é encontrada em raríssimas obras literárias hoje em dia.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

(Este texto foi originalmente publicado no Programa Meu Patrono Visto por Mim da Academia Virtual de Letras António Aleixo em 2016)

Referências:

Paulo Coelho - Fenômeno Editorial - site -https://www.hottopos.com/mirand4/suplem4/paulo.htm Gabriel Perissé - Mestre em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP e Fundador da ONG Projeto Literário Mosaico

As Valkirias - livro - Paulo Coelho - Editora Rocco - Rio de Janeiro - 1995


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terça-feira, 4 de setembro de 2018

Brida, O Monte Cinco e Paulo Coelho



Brida, O Monte Cinco e Paulo Coelho

Paulo Coelho tem mais de 35 milhões de livros vendidos, sendo um dos escritores mais lidos do mundo, além de ser também um dos que mais tem influência mundial. O escritor nasceu em 1947 na cidade do Rio de Janeiro, trabalhou como diretor e ator teatral e também desenvolveu trabalhos como compositor musical e jornalista.
Criou letras de canções para grandes artistas da música brasileira como Elis Regina e Rita Lee.  Também teve importantes colaborações com Raul Seixas, participando de sucessos como “Eu nasci há dez mil anos atrás”, “Gita” e “Al Capone”, por exemplo.
Em 1982 editou seu primeiro livro, Arquivos do Inferno e em 1985, O Manual Prático do Vampirismo, ambos sem maiores repercussões, sendo que o último foi retirado das livrarias por ser “de má qualidade”, segundo suas próprias palavras.
Um ano depois realizou O Caminho de Santiago, experiência que descreveria no Diário de um mago. Em 1988 publica O Alquimista, o livro brasileiro mais vendido de todos os tempos.  Posteriormente escreveu Brida (1990), As Valkírias (1992), Às margens do Rio Piedra eu sentei e chorei (1994), Maktub (1994), O Monte Cinco (1996), Manual do Guerreiro da Luz (1997), Veronika decide morrer (1998), O demônio e a Sra. Pym (2000), Onze minutos (2003), O Zahir (2005), dentre outros.
O autor foi traduzido em 62 línguas e foi publicado em mais de 150 países.
           
Resumo da obra Brida de Paulo Coelho
Brida é um romance baseado numa história real que narra a aventura da jovem irlandesa Brida O´Fern.  Com a idade de 21 anos conhece um mago e pede que ele lhe ajude a converter-se em bruxa.  Para isso, a moça passará por inúmeros obstáculos que mudarão sua concepção de vida.  A neófita inicia uma busca pelo sentido da sua vida, utilizando como veículo o uso da magia, ansiando por um melhor conhecimento sobre seus medos, anseios e inquietudes, reestruturando-se numa nova existência.
O gênero do tema de Brida é espiritualidade, já que é uma obra inspirada na magia e nos caminhos que Deus implantou no mundo para que só os valentes que queiram em verdade conhecer qual é a razão de sua existência e seu objetivo nela se arrisquem a descobrir.

Resumo da obra O Monte Cinco de Paulo Coelho
                Livro inspirado em relato bíblico ( 1Reis 18: 8-24).
                O Monte Cinco conta a história do profeta Elias a quem Deus ordena que abandone Israel.  Em um mundo regido por superstições, conflitos religiosos e tradições arraigadas, o jovem profeta enfrentará uma avalanche de acontecimentos que o conduzirão a um encontro definitivo com o Pai Eterno. 
História de esperança para o homem contemporâneo, o livro coloca questões como por exemplo: Até que ponto podemos determinar nosso destino?  Encontrar a resposta, a nossa própria resposta a essa e a outras perguntas é o mote do romance.

                Referências de pesquisa:

Brida, Paulo Coelho . Joan Cruz . República Dominicana .  https://www.resumosetrabalhos.com.br/brida-paulo-coelho_2.html

Este texto foi publicado originalmente no Programa Meu Patrono Visto por Mim da Academia Virtual de Letras António Aleixo.


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sábado, 14 de julho de 2018

A espiã por Paulo Coelho


A espiã por Paulo Coelho


                O livro A Espiã, livro de Paulo Coelho, é o tema do meu texto Meu Patrono Visto Por Mim.  Sendo a primeira incursão de Paulo Coelho no romance “meta-histórico”, entre a ficção e a não-ficção, utilizando-se de personagens históricos e fatos reais, mas com livre voo da imaginação criadora, o livro é muito envolvente e tem a marca da novidade.  Para mim, a novidade foi dupla, porque encontrei uma promoção da Amazon Audio Books, onde se cadastrando, pude ouvir o livro gratuitamente.  Dupla novidade realmente, nunca tinha ouvido um livro nessa mídia.
                A história gira em torno da vida e do mistério da atriz e dançarina Marguaretha Geertruida Zelle, mais conhecida como Mata Hari, a mulher que ousou ser uma mulher desinibida e livre numa época em que o comportamento feminino deveria ser recatado e estar a um passo atrás dos homens.
                A narração, feita pela própria Mata Hari, é extremamente fluída e dá um tom entre o relato lamentoso e o relato saudoso.  A lamentação é pela condenação ao pelotão de fuzilamento francês por traição ou espionagem e o saudosismo ou a saudade é pelos grandes momentos no mundo do sucesso parisiense como dançarina nas maiores casas de show.
                Apesar do sucesso e da fama de Mata Hari na Belle Époque francesa, o livro não deixa de denunciar as superficialidades e as tragédias da vida das elites e do falso glamour das celebridades fúteis e ricos sem noção da própria estupidez e crueldade.  A crueldade, aliás, atravessa toda a narrativa, do começo ao fim.  Estuprada pelo diretor da escola na Holanda, sua terra natal, a protagonista casa-se com um oficial militar e parte para a Indonésia, onde sofre experiências sexuais horrendas com o marido.  O “batismo de fogo” de Mata Hari tinha sido o suicídio de uma mulher desiludida com o amor e tomada pela profunda infelicidade de um mundo de aparências que desfere um disparo de pistola no coração, bem próxima de Mata Hari, numa festa na Indonésia.  A partir daquele momento passou a ser a mulher que manipulava e usava os homens e não o contrário.
                Mata Hari na França, sempre foi invejada e reconhecida como artista de dança oriental, no seu auge, mas nunca respeitada.  A injustiça que se abateu sobre ela se dera por intrincados acontecimentos e “atividades suspeitas” que só foram consideradas suspeitas porque havia um contexto de guerra e um Tribunal de Guerra com a Lei de Segurança Nacional na França da 1ª. Guerra Mundial.
Tinha sido contatada pelo Cônsul Cramer da contraespionagem alemã e contratada para dançar em Berlim para a aristocracia, quando sua carreira já não tinha a mesma fama em Paris.  Foi como encontrar o homem certo no lugar errado.
As acusações foram injustas realmente?  Até hoje não se sabe, embora fique bastante claro que houve muito exagero, no mínimo, com relação às suas “atividades de espionagem.” Fiquemos com as palavras da própria personagem: “Sou uma mulher que nasceu na época errada e nada poderá corrigir isso. Não sei se serei lembrada no futuro, mas, caso isso ocorra, espero que me vejam não como uma vítima, mas como alguém que deu passos corajosos e pagou sem medo o preço que precisava pagar.” 
O livro, no seu todo, demonstra a grande força do autor que brilha ao adentrar um extremo psicologismo e defesa da causa feminina e no universo pessoal da sua precursora Mata Hari, que entrara em outra dimensão, num transe místico em mistura de yoga e meditação ao assistir a dança sagrada e exótica na Indonésia.
No nosso tempo, Madona, a cantora pop, foi considerada a mulher do ano em 2016 e teve que fazer um discurso enorme de “justificação” – a rigor ela não tem que justificar nada – de seus atos, atitudes e pensamentos.  Estaríamos tão distantes assim da época de Mata Hari?

Este texto foi publicado originalmente na AVL (Academia Virtual de Letras António Aleixo) como participante do programa Meu Patrono Visto por Mim, haja vista que o autor, Mauricio Duarte, é membro efetivo da AVL, na Cadeira 18 e tem como Patrono o referido escritor, Paulo Coelho.


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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Paulo Caldas

Paulo Caldas



Até que ponto o real é real mesmo ou é apenas um espelho de sonho no qual a verdade é um ponto de vista?  A ambiguidade dos nossos anseios nos trazem inquietações filosóficas e espirituais porque são dúplices e tríplices ou as inquietações filosóficas e espirituais nos trazem anseios ambíguos porque são dúplices e tríplices?  Paulo Caldas, exímio artesão das artes plásticas, propõe uma “flecha mensagem” que nos atinge no peito, no coração...
Como em René Magritte, para quem as ambiguidades de um quadro seu “vêm da sua natureza profundamente introspectiva e são a resposta de um pensativo observador para a vida superficial ao redor de si”, nas palavras de Edmond Swinglehurst, Paulo Caldas pensa o mundo filosófica e espiritualmente, tanto quanto ideológica e socialmente.  Suas influências, segundo suas próprias palavras, vêm mais do que leu e do que ouviu do que propriamente do que viu.  As leituras de Richard Bach (Fernão Capelo Gaivota, Longe é um lugar que não existe), Khalil Gibran (O Profeta), Hermann Hesse (Sidarta, O Lobo da Estepe), Jiddu Krishnamurti (Sobre a liberdade), Lobsang Rampa (A Terceira Visão) e Manoel de Barros (O livro das ignorãças) alimentaram e alimentam sua arte surrealista ao lado de Pink Floyd, Vangelis, Tom Jobim e Chico Buarque, na música.
Profundo conhecedor do desenho e das suas possibilidades, o artista leva o observador de suas obras às indagações e conjecturas sérias a respeito da sua existência com jogos extremamente elaborados de figura e fundo. Também se utiliza de formas que se transformam e se metamorfoseiam numa verdadeira dança imagética onde as cores têm o papel fundamental de atrair o espectador.
A viagem que M. C. Escher – um irmão e mestre para Caldas – realizou à Granada, na qual foi fortemente impactado pelos azulejos mouros, de onde surgiram nele as inspirações para os padrões geométricos, transfigurados ao serem repetidos, formando novos desenhos, Paulo Caldas explorou nos recônditos da sua própria psique, da sua alma.  Suas pinturas são verdadeiras viagens fantásticas que estruturam realidades oníricas em concomitância com imaginações concretas, feitas no real palpável do pictórico e do gráfico.
Do modo de Iberê Camargo, o artista segue a linha do “não nasci para fazer berloques, enfeitar o mundo... eu pinto por que a vida dói.” Paulo conhece como poucos a arte de instigar e provocar, sendo um virtuoso desenhista que constrói pontes entre a imaginação e a realidade sem fazer falsas concessões aos modismos de qualquer natureza midiática.
Salvador Dalí, em sua grande voracidade surrealista, inspirou também fortemente Paulo Caldas, que soube extrair da arte delirante, alucinada, deliciosamente cativante e magnífica do catalão, seu substrato para uma criação autônoma e original que nada deve a nenhum dos pintores surrealistas de todos os tempos.
A situação atual do país o inquieta muito e o pintor deixa uma mensagem para todos os brasileiros e brasileiras: “Ser bom é mais barato.  Quando somos bons, economizamos energia positiva para o nosso país.  Vejam o que está sendo desperdiçado em decorrência da ação dos maus que infestam nosso Brasil.”

Mauricio Duarte

Referências:
A Arte dos Surrealistas . Edmund Swinglehurst . Ediouro . Rio de Janeiro . 1997
M. C. Escher . Artista gráfico holandês . http://www.ebiografia.com/m_c_escher/ . visitado em 16-10-2017
M. C. Escher . O artista das construções impossíveis .
M. C. Escher . Wikipédia . https://pt.wikipeida.org/wiki/Mauritis_Cornelis_Escher / visitado em 16-10-2017

Contatos com o artista:
Telefone: 82 999552464
E-mail: cordao-nordeste@hotmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/paulo.caldas.125

Endereço: Rua Marco Aurélio, 146 - Jd. Petrópolis II - Tabuleiro dos Martins, Maceió . AL

sábado, 22 de julho de 2017

Meu Patrono visto por mim - Paulo Coelho - Manual do Guerreiro da Luz

Academia Virtual de Letras
Patrono: Paulo Coelho
Acadêmico: Mauricio Duarte
Cadeira: 18



Meu Patrono visto por mim

Aqui passo a analisar o livro Manual do Guerreiro da Luz de Paulo Coelho.  O livro aborda temas universais que permeiam a vida de todas as pessoas – conquistas, derrotas, escolhas, destino, paixão, esperança, amizade, entre outros.  A publicação é uma compilação de pequenas histórias ou considerações já publicados antes em “Maktub”, coluna que fez parte do jornal Folha de São Paulo, e de outros jornais, entre os anos de 1993 e 1996.
Um livro de “lições de vida” não é original nem tão pouco fora do comum...  Muitos escritores dedicaram seu tempo numa brochura deste tipo.  O que há de diferente nesse Manual do Guerreiro da Luz é que Paulo Coelho se debruça sobre algo constante em sua trajetória literária – e não só espiritual ou religiosa – desde, ao menos, o prólogo de As Valkirias (livro autobiográfico).  Refiro-me a citação do seu mestre J. quando diz: “ Porque a gente sempre destrói aquilo que ama.” Uma afirmação que encerra uma contradição tremenda, mas verdadeira.  Os sonhos vão à ruína quando se tornam possíveis...  Achamos que não merecemos aquela conquista, aquela vitória, e acabamos a destruindo.
Longe de ser um adágio de magia ou de religião, a assertiva contém um pensamento filosófico existencialista ou de espiritualidade profunda e, de acordo com Paulo Coelho, provém do seguinte poema; dado a ele por J., escrito num guardanapo de papel:
“A gente sempre destrói aquilo que mais ama
em campo aberto, ou numa emboscada;
alguns com a delicadeza do carinho
outros com a dureza da palavra;
os covardes destroem com um beijo,
os valentes, destroem com a espada.”
Seja como for, Paulo Coelho mantém o foco durante todo o livro em contradições que aparentemente são isto mesmo, contraditórias; mas que para o interessado nas coisas do espírito, tem todo sentido.  Como diz um dos seus excertos: “O diabo mora nos detalhes”, de acordo com um antigo provérbio da Tradição.
E mesmo sendo árduo e longo, o trabalho com o interior sempre vale a pena.  “Um Guerreiro da Luz sabe que tem muito para se sentir agradecido.” Essa gratidão “não se limita ao mundo espiritual, ele nunca esquece seus amigos”.  “Ele não precisa ser lembrado da ajuda dada a ele por outros, ele é o primeiro a lembrar e ficar certo de que compartilha com eles todos os benefícios que recebe.”
Dessa forma, percebemos que este Manual do Guerreiro da Luz não é um livro de autoajuda como muitos já escritos.  Talvez seja um livro de “autotranscendência”, porque nele podemos encontrar tanto histórias que nos levam a uma reflexão quanto pensamentos que nos tornam alertas para uma realidade maior, diferente das superficialidades com que a mídia, ou a própria sociedade, nos acostumaram ao longo da vida.  Um livro para não ter medo da vitória, para não ter medo de ser feliz... Literalmente...


Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)