"Não há vagas”
"Não há vagas”
“O preço do feijão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
não cabe no poema. O preço
do arroz
não cabe no poema.
Não cabem no poema o gás
a luz o telefone
a sonegação
do leite
da carne
do açúcar
do pão
"O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em arquivos.
Como não cabe no poema
o operário
que esmerila seu dia de aço
e carvão
nas oficinas escuras
“- porque o poema, senhores,
está fechado:
“não há vagas”
“Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
está fechado:
“não há vagas”
“Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
“O poema, senhores,
não fede
nem cheira”
não fede
nem cheira”
Ferreira Gullar
Visite a página da escritora, poetisa e palestrante Bartira Mendes . RESPIRANDO POESIA . https://www.facebook.com/bartiramendesrespirandopoesia/
Imagem: Peça de arte de Mauricio Duarte . Terras renegadas . guache e caneta marcador s/ papel telado 240 g/m2 . 18,5 x 27,5 cm . 2016 . Disponível para venda
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