terça-feira, 14 de abril de 2015

Prédios históricos do 3º BI serão preservados





Na semana passada, o Território
Gonçalense informou com muita tristeza que o Governo do Estado havia começado a demolição dos
prédios centenários do antigo 3º Batalhão de Infantaria (BI) do Exército para
dar lugar à construção dos 1.240 apartamentos destinados aos desabrigados das chuvas do
Morro do Bumba (ver
aqui).

Hoje (14), felizmente, tomamos
conhecimento que os prédios centenários serão preservados. Segundo a Secretaria
Estadual de Obras, os prédios serão restaurados e não demolidos. As edificações
que estão sendo demolidas são as que não têm valor histórico.

Espero que mantenham a palavra,
que realmente preservem uma parte da memória daquele espaço. Sugiro que
utilizem os prédios para atividades culturais e educacionais.




Prédios históricos do 3º BI serão preservados | Território Gonçalense

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A Arte Contemporânea é uma farsa





Com a finalidade de dar a conhecer seus argumentos sobre os porquês da arte contemporânea ser umaarte falsa“, a crítica de arte Avelina Lésper apresentou a conferência “El Arte Contemporáneo- El dogma incuestionable” na Escuela Nacional de Artes Plásticas (ENAP)sendo ovacionada pelos estudantes na ocasião.

 A arte falsa e o vazio criativo
A
carência de rigor (nas obras) permitiu que o vazio de criação, o acaso e
a falta de inteligência passassem a ser os valores desta arte falsa,
entrando qualquer coisa para ser exposta nos museus
A crítica explica que os objetos e valores estéticos que se apresentam como arte são aceites em completa submissão aos princípios de uma autoridade impositora. Isto faz com que, a cada dia, formem-se sociedades menos inteligentes aproximando-nos da barbárie. 

O Ready Made
Lésper aborda também o tema do Ready Made, expressando perante esta corrente “artística” uma regressão ao mais elementar e irracional do pensamento humano, um retorno ao pensamento mágico que nega a realidade. A arte foi reduzida a uma crença fantasiosa e sua presença em umero significado. “Necesitamos de arte e não de crenças”.

Génio artístico
Da mesma maneira, a crítica afirma que a figura do “génio”, artista com obras insubstituíveis, já não tem possibilidade de manifestar-se na atualidade. “Hoje em dia, com a superpopulação de artistas, estes deixam de ser prescindíveis qualquer obra substitui-se por outra qualquer, uma vez que cada uma delas carece de singularidade“.

O status de artista
A substituição constante de artistas dá-se pela fraca qualidade de seus trabalhos, “tudo aquilo que o artista realiza está predestinado a ser arte, excremento, objetos e fotografias pessoais, imitações, mensagens de internet, brinquedos, etc. Atualmente, fazer arte é um exercício ególatra; as performances, os vídeos, as instalações estão feitas de maneira tão óbvia que subjuga a simplicidade criativa, além de serem peças que, em sua grande maioria, apelam ao mínimo esforço cuja acessibilidade criativa revela tratar-se de uma realidade que poderia ter sido alcançada por qualquer um“.
Neste sentido, Lésper afirma queao conceder o status de artista a qualquer um, todo o mérito é-lhe dissolvido e ocorre uma banalização. “Cada vez que alguém sem qualquer mérito e sem trabalho realmente excepcional expõe, a arte deprecia-se em sua presença e concepção. Quanto mais artistas existirem, piores são as obrasA quantidade não reflete a qualidade“.

 Que cada trabalho fale pelo artista
O artista do ready made  atinge a todas as dimensões, mas as atinge com pouco profissionalismo; sfaz vídeo, não alcança os padrões requeridos pelo cinema ou pela publicidade; sfaz obras eletrónicasmanda-as fazer, sem ser capaz de alcançar os padrões de um técnico mediano; senvolve-se com sons, não chega à experiência proporcionada por um DJ; assume que, por tratar-se de uma obra de arte contemporânea, não tem porquê alcançar um mínimo rigor de qualidade em sua realização.
Os artistas fazem coisas extraordinárias e demonstram em cada trabalho sua condição de criadoresNem Damien Hirst, nem Gabriel Orozco, nem Teresa Margolles, nem a imensa e crescente lista de artistas o são de fato. E isto não o digo eu, dizem suas obras por eles“.

 Para os Estudantes
Como conselho aos estudantes, Avelina diz que deixem que suas obras falem por eles, não um curador, um sistema ou um dogma.Sua obra dirá se são ou não artistas e, se produzem esta falsa arte, repito, não são artistas”.

O público ignorante
Lésper assegura que, nos dias que correm,
a arte deixou de ser inclusiva, pelo que voltou-se contra seus próprios
princípios dogmáticos e, caso não agrade ao espectador, acusa-o de “
ignorante, estúpido e diz-lhe com grande arrogância que, se não agrada é por que não a percebe“.
O espectador, para evitar ser chamado ignorante, não pode dizer aquilo que pensa, uma vez que, para esta arte, todo público que não submete-se a ela é imbecil, ignorante e nunca estará a altura da peça exposta ou do artista por trás dela.Desta maneira, o espectador deixa de presenciar obras que demonstrem inteligência”.

Finalizando
Finalmente, Lésper sinaliza que a arte contemporáneé endogámica, elitista; com vocação segregacionista, é realizada para sua própria estrutura burocrática, favorecendo apenas às instituições e seus patrocinadores. “A obsessão pedagógica, a necesidade de explicar cada obra, cada exposição gera a sobreprodução de textos que nada mais é do que uma encenação implícita de critérios, uma negação à experiência estética livre, uma sobreintelectualização da obra para sobrevalorizá-la e impedir que a sua percepção seja exercida com naturalidade“.
A criação é livre, no entanto a contemplação não é. “Estamos diante da ditadura do mais medíocre”

fonte: Vanguardia



A Arte Contemporânea é uma farsa: Avelina Lésper | Incubadora de Artistas

Valorize-se Escritor!


Certa vez eu fui ao dentista e durante a minha espera, apareceu uma senhora com o seu filho adolescente precisando de um serviço emergencial (a clínica onde ele é atendido já estava fechada). Ela informou uma parte do aparelho do rapaz havia se quebrado, deixando solto uma parte do cabo de metal, correndo grande risco de ferir a bochecha dele. A mãe alegou que somente precisaria  cortar o pedaço do metal, porém o dentista disse que teria que remover o cabo inteiro e colocar outro (provisório) até o jovem ser atendido pelo dentista original para apertar o aparelho devidamente. O serviço teria o valor de uma consulta e a mãe (esperando apenas por uma gambiarra grátis ou com um valor simbólico) logo desistiu do orçamento, indo embora com o menino.
Isso me fez pensar em muitas ocasiões em que outros profissionais são desvalorizados e se deixam desvalorizar com esses tipos de clientes. Os desenhistas convidados para "fazer um desenho rápido", um taxista "pra levar daqui até ali", um designer "pra dar um jeitinho no site", um advogado "pra dar uma olhadinha no processo", entre outras coisas.

Não tenha medo de perder um cliente. Continue profissional e confiante que o seu reconhecimento chegará.
Leo Vieira

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® Leo Vieira- Direitos Reservados

quarta-feira, 1 de abril de 2015

As artes em 1963 no Greenwich Village

As artes em 1963 no Greenwich Village

Freqüentemente pergunta-se o que é arte, desde que o impressionismo surgiu e detonou uma centena de transformações, remodelações e reformulações artísticas tais como as da arte moderna e pós-moderna.  Nessas constantes reconstruções que arte sofreu e sofre, até hoje, uma coisa é, mais ou menos, clara: a cada nova reinvenção, os artistas que encabeçam a linha de frente, a avant-garde dos movimentos ou é, em grande medida, incompreendida ou é, apenas, parcialmente aceita.
Não foi diferente com os artistas nos anos 1960 no Greenwich Village, em Nova York, EUA.  Esses artistas forjaram o berço da pós-modernidade artística, como a entendemos hoje.  Os movimentos artísticos do início do século 20 desdobraram-se em muitas vertentes, sendo uma delas a arte underground e beatnik dos anos 1950.  Porém, o que se via em 1963 era diferente. Se os beats  contestavam o consumismo e o otimismo do pós-guerra americano, a falta de pensamento crítico e o anticomunismo; a geração de 1960 em diante, viveu uma época onde a confiança “em que tudo é possível” foi constante.
Sobretudo no Greenwich Village dessa época, respirava-se esse ar de uma nova cultura. Cultura popular como arte folk urbana.  A vanguarda daqueles tempos não fazia distinção aguda entre essas duas coisas.  E os muitos editores, livrarias, teatros, clubes de jazz e cafés onde desembocavam artistas que viviam em Greenwich Village nos anos 1960 fizeram daquele local um centro de entretenimento para uma platéia de Nova York e fora dela.  Sendo também, uma mina de ouro para os especuladores imobiliários.
Mas mais do que isso, a trajetória desses artistas alavancou o cenário artístico americano, produzindo novas manifestações artísticas.  Na arte pop, por exemplo, foram utilizados conhecimentos da artes gráficas por artistas como Rosenquist, Lichtenstein e Warhol, oriundos dos setores de moda e propaganda. As pinturas da arte pop estavam sendo vendidas por milhares de dólares nas galerias e museus de Manhattan, no uptown.
Os próprios gêneros de arte estavam mudando, com a propria art pop, os happenigs, os fluxus, o teatro de café e o cinema underground.  A distinção entre arte folk, arte popular, kitsch ou alta arte estava dissolvendo-se.  E artistas como Robert Watts, em seu Evento casual, faziam história com ou sem platéia:
Dirija seu carro para o posto de gasolina
Encha o pneu dianteiro direito
Continue a encher até o pneu estourar
Troque o pneu*
Dirija para casa

*Se o carro for de um modelo mais novo, dirija para casa sobre o pneu estourado.
A vanguarda da década de 1960 não foi inteiramente empenhada na rejeição do passado ou do status quo.  A visão desses artistas era relativista, igualitária e de colagem.  Esses artistas assumiram a tentativa de refazer a cultura americana e produziram um grande acervo de obras com uma diversidade inigualável na utilização de idéias experimentais que muito influenciaram as décadas posteriores e ainda influenciam o nosso tempo.

segunda-feira, 30 de março de 2015

Parcerias que Devem Ser Evitadas


Isso é um assunto que com certeza já aconteceu e ainda acontece com a maioria dos profissionais da arte e das letras. Da mesma forma, também merece uma resenha: As propostas de trabalho sem retorno financeiro.
Volta e meia sou convidado para fazer pesquisa, desenvolver textos, organizar
projetos e até esboçar trâmites empresariais sem nenhum tipo de contrato ou
comissionamento. Em alguns deles, eu procuro recusar gentilmente e em outros eu nem mesmo me preocupo em responder.
Há algum tempo, fui convidado por um colega produtor teatral para pesquisar e
escrever um livro que seria baseado em uma peça dele. Ele havia dado muita
recomendação sobre como queria a obra; com aprofundamento com dados jornalísticos, narrativa mais verossímil, entre outras coisas. Recebi o material e fui deixando ele falar enquanto analisava tudo e nada dele falar em pagamento. O colega do teatro estava entusiasmado, mas não me deixava nada animado na questão salarial, até que ele soltou: "se houver lucro nas vendas, a gente divide".
Perguntei se a gente teria algum tipo de contrato e ele recusou. Sem contrato, nem garantia de recebimento. Apenas eu receberia algo se o livro (que eu escreveria sozinho, baseado na peça dele) obtivesse lucro.
Neste caso, expliquei o tempo que seria por mim dedicado e investido neste trabalho; afinal, uma boa parceria é a que proporciona um bom resultado para os dois lados. Ressaltei que se o livro (pesquisado, desenvolvido e escrito por mim) não obtivesse nenhum lucro, o trabalho seria realizado apenas para o bem dele, porém eu ficaria lesado porque não receberia nada.

Em outra ocasião, fui convidado para atuar em uma produção cinematográfica onde o recebimento seria hipotético. Eu topei pelo fato do trabalho ter sido rápido e também por ser amigo do produtor. Até aí tudo bem, mas depois eu fui convocado também para escalar o restante do elenco e convencer aos demais atores que teriam que trabalhar sem receber. Não teria contrato porque segundo o produtor, não haveria nenhuma garantia de retorno financeiro. Notei também que o ritmo da produção andava lenta exatamente por isso, com alguns profissionais envolvidos abandonando a obra.
Expliquei que contrato é um meio de preservação por ambas as partes, evitando possíveis processos de exigências autorais e financeiras posteriores.
São esses tipos de desgastes que podemos ter quando não raciocinamos como profissionais. Não dá pra ficar a vida inteira trabalhando somente pela

"camaradagem".
Leo Vieira

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segunda-feira, 23 de março de 2015

Artigo: Liderança equivocada

Por Heitor Pitombo
Artigo publicado originalmente na revista Mundo dos Super-Heróis 65 (março/2015) e reproduzido com autorização do autor e da publicação.
Em 30 de janeiro, enquanto se comemorava o Dia do Quadrinho Nacional, foi lançada no Rio de Janeiro a autointitulada Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos (ABRA-HQ). A cerimônia teve direito a hino nacional (ver vídeo abaixo), entrega de medalhas e tudo o mais. Na ocasião, foram anunciados os nomes de 20 artistas que nomeiam as cadeiras da instituição – incluindo o mestre norte-americano Alex Raymond -, assim como os de 20 “imortais” que as ocupam. Entre eles, alguns colecionadores.
Se não bastasse o fato desses nomes não terem passado por nenhuma votação entre a classe de quadrinhistas brasileiros, a presidente e porta-voz da Academia, a atriz e roteirista Agata Desmond, vem usando habilmente a mídia não especializada para divulgar propostas inócuas e espalhar inverdades sobre o mercado brasileiro, como disse numa entrevista para a Rádio Nacional-RJ: “As histórias em quadrinhos no Brasil tiveram seu auge no tempo da Rio Gráfica, da Ebal, da Vecchi e da Bloch, que foi o último império a cair. Agora, não tem mais editora, ninguém faz nada, os artistas estão desempregados”.
Sim, até os anos 1980, houve muitas redações que mantinham grandes equipes produzindo quadrinhos nacionais para as bancas. Mas a crise que tem abalado o mercado de revistas e jornais nas últimas décadas também se estendeu para as HQs – ainda que o estúdio de Mauricio de Sousa continue firme e forte até hoje. Por outro lado, nunca se produziu tantos quadrinhos no país como nos últimos dez anos. Se o segmento perdeu espaço nas bancas, ganhou um recanto nas livrarias.
Mecanismos como o Catarse, os editais do ProAC e o crescimento dos eventos de quadrinhos Brasil afora têm permitido a circulação e a visibilidade dessa produção – que, aliás, ostenta uma qualidade excepcional. Mestres reverenciados pela Academia, como Edmundo Rodrigues (1935–2012), nunca tiveram seus trabalhos lançados com o requinte gráfico que muitos iniciantes conseguem bancar via crowdfunding.
A família de Edmundo, por sinal, designou Agata para ser curadora de sua obra, e esta não mede esforços para frisar que a ideia da ABRA-HQ foi inspirada em uma vontade do mestre de que seu trabalho fosse preservado, e para colocar o nome do finado desenhista em destaque quando fala de seu projeto para a mídia. Curioso que, em seus últimos anos de vida, Edmundo até demonstrava disposição para falar sobre sua carreira, mas sua família rechaçou diversas tentativas que alguns jornalistas fizeram para entrevistá-lo, muitas delas com o intuito de registrar seu legado para a posteridade.
Outra coisa estarrecedora é como grandes veículos (jornais, rádios e até TVs) reverberaram a notícia da fundação da ABRA-HQ sem fazer nenhuma reflexão e dando vacilos de apuração. Muitos colegas chegaram a escrever absurdos, como fez a jornalista de O Globo On Line, Clarissa Pains, ao dizer numa reportagem publicada em 18 de fevereiro que o Tico-Tico era “uma tira nacional da década de 1940”. Até mesmo a repórter da Globo News, Elisabete Pacheco, numa matéria que foi ao ar em 30 de janeiro, entoou a seguinte pérola: “Hoje os desenhistas só publicam quadrinhos no Brasil graças a vaquinhas feitas na internet” (assistaaqui).
Apesar de possuir em sua cúpula membros ativos que defendem que autores como Angeli, Laerte, Glauco e os gêmeos Moon e Bá não têm espaço na Academia – e que sustentam absurdos como o fato do mutante Charles Xavier, dos X-Men, ter sido inspirado no nosso Chico Xavier –, há gente bem intencionada por trás da iniciativa. Todos acreditam estar unidos em um projeto para melhorar as condições de quem produz quadrinhos.
Mas a maioria esmagadora da classe vem se manifestando pela internet e tem repudiado uma entidade que, nesses moldes, não tem condições de liderar e unir a classe em todo o país. O mais correto teria sido lançar a ideia do projeto e discuti-lo exaustivamente com todos os segmentos para só depois formalizá-lo com uma liderança democraticamente constituída. Do jeito que está, a ABRA-HQ está se aproveitando de seu espaço na mídia para passar uma imagem equivocada do mercado. E esse modelo de liderança, para muitos, é intolerável.
Se fica uma lição desse episódio, é que os artistas nacionais precisam acordar e se organizar em torno de uma entidade forte e representativa, que lute pelo que realmente interessa a esse segmento tão vilipendiado.
Heitor Pitombo é jornalista e defende que academias de quadrinhos tenham suas cadeiras ocupadas apenas por artistas.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Halleymania: 30 anos depois


Por Marcus Ramone

Como um brasileiro transformou um corpo celeste no maior fenômeno comercial da história da astronomia e despertou o interesse da Marvel.


Marcelo DinizO publicitário mineiro Marcelo Diniz sofre de bipolaridade. Em seu último livro, Crônicas de um bipolar (Record, 2010), ele revelou algumas situações inusitadas que protagonizou como consequência do transtorno.
Foi assim em 1980, do alto de seus 32 anos, quando trabalhava em um gigante da indústria de cigarros e teve um insight, “de acordo com uma característica da bipolaridade, que é ter a cabeça sempre a mil, procurando novas ideias”, como disse ao Universo HQ.
Naquela época, as primeiras reportagens sobre a nova visita do cometa Halley às proximidades da Terra começavam a surgir em jornais e TVs. Mas o assunto ainda não despertava o interesse que viria a ter mais tarde.
A Era dos Halley
“Eu pensava em lançar uma Butique Hollywood, vendendo roupas e artigos promocionais com a marca dos cigarros Hollywood. Era um projeto de diversificação e licenciamento. Estava com a teoria bem clara na cabeça, quando li numa revista que o cometa Halley voltaria em 1986 e inspiraria músicas e suvenires e que crianças seriam batizadas com o seu nome”, relata Diniz.
Bastou isso para o publicitário partir em busca da realização da ousada empreitada de capitalizar com o viajante cósmico. “Pensei: quem tiver essa marca estará rico. E fui atrás de um advogado para saber se era possível. Não só era, como estava livre para registro no Brasil. E, nos Estados Unidos, só não estava livre para isqueiros e perfumes, em dois produtos que existiam desde 1910″, revela.
Ainda em 1980, Diniz juntou o dinheiro que tinha, pediu mais emprestado e arregimentou o sócio Luiz Felipe Tavares para criar a Marcelo Diniz Estratégias de Marketing Ltda. e fazer todos os registros possíveis da marca Halley no País.
Dois anos depois, fez o mesmo nos Estados Unidos, na França e na Alemanha.
Cometa Halley
Convocando o argumentista Luiz Antonio Aguiar e o ilustrador Lielzo Azambuja, Diniz criou o esteio do projeto: a Família Halley, de quem dependia integralmente a continuidade da empreitada.
Os personagens ganharam nome, visual e conceito que, via de regra, acompanhavam a marca, formando os pilares sobre os quais se montou o projeto e que se completavam com a mensagem de harmonia pregada pela família espacial.
Viajantes cósmicos, os Halley eram os únicos sobreviventes do planeta Hydron, devastado por uma colisão com um mundo desabitado e do qual sobrara apenas a calota polar, que se transformara no cometa Halley.
Depois de encontrar o planeta Terra e se afeiçoar aos seus habitantes, a família resolveu adotar o nome com o qual os terráqueos batizaram o pedaço desgarrado de Hydron.
Assim nasceram Big Halley, Halley, Halleyxpert, Halleyfante, Halleygante, Halleyluiah, Halleyxandra, Halleyzinha, Halleyzótica e Halleygria, uma trupe cujos nomes de pronúncia fácil ganharam o apelo imediato que garantiu à franquia o sucesso almejado.
Em 1985, um ano antes do que se esperava ser a chegada triunfal do cometa, a Família Halley começou sua trajetória pela mídia, por meio de um contrato com a TV Globo que levou os personagens aos programas Balão Mágico – no qual o Halleyfante, uma espécie de paquiderme robô, virou atração fixa -, Fantástico, Globo Repórter e Minuto Halley (“foguetinhos” diários na programação) e ao musical A Era dos Halley, que contou com a participação de diversos nomes da MPB e do rock brasileiros e foi lançado em LP.
Começava ali a halleymania.
Febre consumista
Materiais escolares, tênis, óculos, chicles de bola, iogurtes, brinquedos, artigos de vestuário e diversos outros produtos, incluindo uma linha de joias finas da H.Stern, todos estampando o nome ou a imagem da Família Halley, começaram a invadir o mercado em 1985.
Ao todo, foram 53 contratos de licenciamento para mais de dois mil produtos, resultando em um faturamento imediato de cerca de dez milhões de dólares – na época, uma cifra ainda mais espantosa do que é hoje.
No mesmo ano, a Família Halley estreou nas tiras de quadrinhos, publicadas diariamente no jornal O Globo. Meses depois, em outubro, chegou aos gibis na série bimestral A Era dos Halley, que na primeira edição oferecia de brinde um bottom.
A Era dos Halley # 2A Era dos Halley # 3
A revista trazia, em cada edição, duas histórias em quadrinhos – escritas por Luiz Antonio Aguiar, Ives do Monte Lima e Salete Brentan, com desenhos de Napoleão Figueiredo e Roberto Kussumoto -, além de passatempos relacionados ao Halley, textos sobre astronomia e tecnologia espacial e a seção Jornal do Cometa, com as últimas novidades sobre o astro da década.
Foi publicada até junho de 1986, quando o cometa Halley já rumava para outras galáxias.
E não ficou só nisso. Um longa-metragem com atores chegou a ser pré-produzido, mas não vingou.
A exposição e o sucesso da marca Halley não passaram despercebidos em outros países. No dia 8 de maio de 1986, a edição do jornal norte-americano New Scientist destacou o furor causado pelo cometa no Brasil, potencializado pela criação de Marcelo Diniz, agora celebrado como um empresário de visão telescópica – com o perdão do trocadilho necessário.
Nesse período, a Warner Licensing Corporation já havia assinado com a Marcelo Diniz Estratégias de Marketing uma carta de intenções para licenciar a marca Halley pelo mundo.
E a Marvel Entertainment, dona dos direitos sobre os super-heróis Homem-Aranha, X-Men, Hulk e outros, assinou um contrato de opção para produzir desenhos animados da Família Halley. “Mas poderia pedir, se quisesse, a extensão para longas-metragens live-action ou mesmo quadrinhos”, afirma Diniz.
Ele confessa que, se isso acontecesse, seria uma conquista pessoal. “Eu adoraria. Desde criança, lia tudo que era Disney, Bolinha e Luluzinha e, à medida que fui crescendo, os super-heróis. Mas o meu preferido era o Fantasma. Ainda gosto de quadrinhos, mas, hoje em dia, prefiro cinema”, conta.
Diniz também acredita que a Marvel teria um papel importante na longevidade da Família Halley.
“O planejamento de marketing previa que o filme, as histórias em quadrinhos e os desenhos animados dessem vida longa ao projeto, muito tempo após a passagem do cometa. Os norte-americanos condicionaram os investimentos em produção ao sucesso do evento. Como o Halley não foi visto no hemisfério norte, eles desistiram”, afirma. “As produções daquela época, sem os efeitos especiais necessários, não eram suficientes para manter vendas de produtos inspirados em um evento que frustrou o público. Se tivéssemos os desenhos animados da Marvel, talvez ainda desse para continuar.”
No final das contas, o cometa havia sido anjo e demônio para Diniz.
Fiasco no céu
O astrônomo Edmond Halley (1656 – 1742) emprestou seu nome ao cometa mais famoso deste lado da Via Láctea.
Depois de descobrir que os cometas avistados em 1531, 1607 e 1682 eram um só, ele previu que a órbita completada em torno do Sol a cada 76 anos o traria de volta em 1758. O cientista morreu antes de ver sua previsão concretizada.
A visita de 1910, em que a cauda do Halley tocou a atmosfera terrestre e apresentou um espetáculo inesquecível para quem teve o privilégio de assistir, provocou em 1986 uma grande expectativa, que se mostrou frustrada.
Naquele ano, o Brasil ainda saboreava a recente retomada da democracia institucional, depois de mais de duas décadas sob as rédeas do regime militar.
O pacote econômico batizado de Plano Cruzado fora lançado com a firme missão de criar uma moeda nacional forte e, principalmente, acabar com o monstro da inflação, que minava o poder de compra dos brasileiros.
A Era dos Halley # 4A Era dos Halley # 6
No esporte, o povo se unia na torcida para a seleção de futebol, comandada pelo técnico Telê Santana, conquistar seu quarto título da Copa do Mundo.
E o cometa Halley, a sensação daquele momento, atingia o periélio – ponto mais próximo do Sol -, para a alegria dos que continuavam acreditando ser possível observá-lo em sua plenitude, a olho nu.
Mas foram necessários somente poucos meses para tudo desmoronar e outra realidade bater à porta.
O índice de popularidade do presidente da República despencou vertiginosamente, o plano econômico fracassou e a Seleção Brasileira foi eliminada do Mundial realizado no México.
A pá de cal veio do espaço: o cometa Halley foi embora, sem nunca ter vindo, marcando o fim de um fenômeno comercial e de marketing jamais visto no planeta – antes ou depois – na história da astronomia.
Pouca gente o viu, de fato. E somente com a ajuda de uma boa luneta – nem de longe as que eram vendidas feito água em lojas e nos camelôs – e de um mapa celeste fácil de decifrar, foi possível testemunhar a aparição do cometa, que se mostrou um reles chumaço de algodão no meio de estrelas muito mais brilhantes no céu.
Marcelo Diniz não contava com isso. Não há como saber com certeza, mas dificilmente a passagem do Halley seria tão lembrada no Brasil, décadas depois, se o publicitário não houvesse deflagrado a halleymania que marcou os anos 1980 no País.
No entanto, poderia ter sido melhor. “Não ‘fiquei de mal’ do Halley, apenas frustrado por não ter completado o projeto da minha vida. Mas acho que já superei isso”, confessa Diniz.
Atualmente trabalhando como assessor da Associação Brasileira de Agências de Publicidade e planejador da Associação Brasileira de Propaganda, Diniz tem sido sondado por alguns interessados em reviver a Família Halley. O Cartoon Network faz parte dessa lista.
Mas a volta dos personagens ainda parece uma realização distante. “Todos que analisaram os desenhos nos últimos anos disseram que eles teriam que ser refeitos, modernizados. O potencial é bom, temos dezenas de roteiros prontos, mas eu teria que investir em novos desenhos, produção e outros elementos. Não tenho mais interesse em partir para um empreendimento desses com risco próprio”, diz o criador da Família Halley.
Há poucos anos, ele presenteou os leitores do UHQ ao liberar, com exclusividade para o site, imagens nunca antes divulgadas e que agora podem ser vistas novamente, na galeria no final deste texto.
“São pranchas da primeira história dos Halley, conforme apresentamos à Warner e à Marvel, com conceito visual e estilo de desenho diferentes do publicado pela Editora Abril. Mostramos duas HQs que encantaram os norte-americanos. Jamais foram publicadas”, explica Diniz.
Marcus Ramone era halleytor dos gibis da Família Halley e até hoje guarda a coleção como uma halleymbrança do cometa que alega ter visto.

segunda-feira, 16 de março de 2015

O marketing literário


O ofício do escritor é uma missão. Algo que você pratica durante a vida toda. Você não brinca de escrever e nem mesmo deve passar essa impressão. Uma coisa muito incômoda é quando você diz que é escritor e o outro dá um sorrisinho e pergunta: "Ah ta; mas você trabalha com o quê"? Infelizmente isso acontece.
O escritor vive escrevendo, mas nem tudo se resume a apenas livros. Você escreve artigos, atualiza blogs, colabora em colunas, responde a e-mails, participa com comentários, entre outras coisas. Tudo isso de certa forma, contribui para uma biografia, mesmo que informalmente. O escritor deve viver e praticar o marketing.
Isso acontece porque também um escritor é descoberto e reconhecido através de sua obra cultural literária. Vai chegar o momento em que alguém importante e formador de opinião reconhecerá e ficará admirado com o seu trabalho; e o que acontecerá? Ele pesquisará tudo o que você já escreveu, seja na linha virtual como na editorial.

Nessa questão, nunca a carreira virtual foi tão importante para a propagação e ascensão do autor.
Isso também é muito importante na hora de postar algo polêmico. Seja gentil e não tente oprimir opiniões alheias e controversas. Vivemos em um país democrático que também defende a liberdade de expressão. Todos têm o seu direito de opinar sobre algo, mas também deve-se saber que certas ideologias podem soar como um tanto opressoras e preconceituosas. Seja ético e saiba respeitar. Cuidado para não ser
polêmico virtualmente.
Outra alternativa virtual importante é contratar uma assessoria jornalística. Existem esses serviços até mesmo de forma accessível. Há contratos e pacotes, inclusive. O autor escolhe o tipo de trabalho publicitário, que inclui alguns exemplares de livros. O jornalista e/ou publicitário irá selecionar os colunistas e blogueiros e
cobrar as resenhas e divulgações. Em breve, sua obra ou projeto literário estará devidamente e consideravelmente reconhecido.

Leo Vieira
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sexta-feira, 13 de março de 2015

Ferreira Gullar falando de arte


Ferreira Gullar, um dos mais importantes críticos de arte da atualidade, além de poeta, concedeu esta entrevista abaixo em 2007 ao Jornal de Brasília, que transcrevo, pela sua atualidade e importantes observações sobre o mundo das artes plásticas hoje.


É importante lembrar que Ferreira Gullar e Hélio Oiticica, artista plástico brasileiro, participaram juntos da criação do Neoconcretismo, no final dos anos 50. Em 1959, Gullar escreveu o Manifesto Neoconcreto, que influenciou decisivamente o desenvolvimento da obra de Oiticica. Em seguida, Gullar formulou sua Teoria do Não-objeto, a partir da observação do processo criativo de Lygia Clark. Depois, ele fez autocrítica dessas posições anteriores.

Jornal de Brasília - No que consiste e o que induziu a esta situação de mistificação no território das artes?

Ferreira Gullar - A questão é que as tendências mais radicais da arte contemporânea levaram a uma destruição das linguagens artísticas. Por falta de coragem, não se faz a crítica deste processo, no momento em que as propostas radicais da vanguarda chegaram a um ponto de exaustão, chegaram a um ponto onde não tem mais nada a ver com a arte.

J.B. - Como isto se torna possível?

Gullar - Por um lado existe uma crítica omissa, conivente e conveniente, por outro lado existem instituições que, de alguma maneira, dependem desta situação para sobreviver. Você tem o exemplo de uma exposição de renome internacional como a Bienal de Kassel, que teve como curador um sujeito que declarou que não sabia mais o que era a arte. Ele selecionou os nomes dos artistas. Claro que não é possível definir cientificamente o que é arte. Mas se uma pessoa não sabe o que é arte não tem condições de organizar uma Bienal.
J.B. - Qual o alcance da crítica que dirige a Marcel Duchamp? Até que ponto nega Duchamp? Ele não ampliou o repertório, os materiais e os limites da arte?

Gullar - É preciso colocar as coisas em seu devido lugar. Eu não nego a importância de Marcel Duchamp. Mas ele é apenas um dos que ampliaram o campo da arte para as novas formas como objeto. O caminho de ruptura com as formas tradicionais já havia sido aberto pelos dadaístas. E o próprio caminho que Duchamp
segue é uma conseqüência de papier collé cubista. A utilização da estopa, areia e prego nos quadros cubistas já prenuncia o abandono da tela e a incorporação do objeto como matéria da arte. Duchamp não nasceu do nada. A diferença está entre o que Duchamp fez no tempo dele e no que se quer fazer hoje.

J.B. - Em que sentido?

Gullar -  Quando Duchamp enviou um urinol a um salão estava realizando um gesto de alto inconformismo e denunciando uma série de imposições que envolviam a arte naquele momento. O urinol não é obra de arte. Quando ele fez isto o seu gesto era rebeldia, mas hoje seria puro conformismo. As instituições já assimilaram este gesto. Esta atitude de denúncia e de arte sem linguagem já se exauriu. Em Duchamp esta atitude era significativa de uma postura ética. Mas por outro lado contribui para a destruição da obra de arte. Duchamp sacrificou a sua obra em razão desta atitude ética. A obra de Duchamp é datada.

J.B. - Em entrevista, você afirmou que Lygia Clark e Hélio Oiticica eram excessivamente cerebrais. Mas a busca dos dois não era precisamente do sensorial?

Gullar -  O Hélio era um cara de um indiscutível talento e que levou ao ponto extremo as experiências do neo-concretismo do qual eu era o teórico. E digo mesmo que houve uma influência recíproca dos artistas plásticos sobre a minha poesia e da minha poesia sobre os artistas plásticos. O meu Poema Enterrado influenciou os trabalhos de Hélio. Então eu não estou falando de fora. Nós pegamos a linguagem concreta e altamente intelectualizada e colocamos uma nova substância nela. A Lygia tem uma trajetória de uma enorme coerência, desde o momento em que os quadros delas incorporaram a moldura como espaço de expressão até a série Bichos, inovadora e verdadeira.
Mas, ao invés de aprofundar o desenvolvimento desta linguagem, ela resolveu seguir adiante, destruindo a própria linguagem. Quando coloca sacos de papel na parede ou fios de nylon na boca, reduz a experiência estética a algo meramente sensorial. Acaba com a dimensão reflexiva e espiritual da obra de arte. E consequentemente o homem se torna um bicho.
E agora respondo a sua pergunta: o excesso de intelectualismo levou ao puro sensorial.

J.B. - Mas você faria esta mesma avaliação do trabalho de Hélio Oiticica?

Gullar - O último trabalho que vi do Hélio era uma instalação no Hotel Meridien. Era um espaço com água e pedrinhas. Você tinha de retirar o sapato para sentir a água e as pedra. Olha só aonde leva este cerebralismo: a idéia de recriar a natureza dentro de um hotel. Francamente, se é para sentir a natureza acho melhor ir para Mauá.
E, ao invés de colocar as implicações deste tipo de atitude, a crítica fica louvando. Quem criticar isto é careta ou reacionário. Outro dia eu tive uma discussão com uma amiga minha e ela citou Andy Warhol que dizia que uma atitude podia ser uma obra de arte. Mas quem é Andy Warhol? É o papa? É deus? Ele era um artista interessante que se rendeu ao comercialismo. Como teórico para mim era um babaca.

J.B. - Não haveria, por exemplo, sintonia entre os parangolés de Hélio Oiticica e os mantos de Arthur Bispo do Rosário?

Gullar -  Não tem nada a ver. Os parangolés surgiram a partir do momento em que Hélio Oiticica passou a freqüentar a escola de samba da Mangueira. É algo muito pobre se você comparar com a roupa de uma porta-bandeira, colorida, barroca, popular. É uma arte que remonta ao século 17. Aí o Hélio botava a roupa em um passista e pedia para o cara rodar e falava que isto ele estabelecia uma relação da forma com o espaço e a luz. É pura teoria. Qualquer objeto rodando mantém uma relação com o espaço e a luz.

J.B. - Mas a incorporação que o Bispo faz dos objetos não evoca a procedimentos da arte moderna?

Gullar -  O Bispo é exatamente o contrário da arte moderna. Em seu delírio, ele quer salvar os objetos do mundo. Ele começou a desfiar o próprio uniforme de interno para bordar um manto sagrado. A sua busca é busca do sagrado. Não tem nada a ver com a sofisticação vazia da arte moderna. Só um louco se entrega totalmente a esta missão de salvar os objetos do mundo. É uma loucura que imprime esta força interior aos objetos do Bispo.
A arte moderna é de decadência, de cerebralismo, de sofisticação exaurida. O que a arte precisa é de paixão e não de cerebralismo. No contexto pretensioso desta arte moderna todos se acham gênios.
O Leonardo da Vinci, quando pediram a ele uma escultura, realizou um estudo reunindo todos os escultores que admirava no passado. Hoje o sujeito enrola três tijolos com arame, manda para a Bienal e diz que é arte. Na Bienal de Veneza, eles aceitaram um açougueiro que tinha cortado uns pedaços de tubarão. Agora não é mais necessário aprendizagem artística. Nas bienais nós temos açougueiros, marceneiros, eletricistas, cineastas. Li que Almodóvar expôs na Bienal de Veneza. Eu queria perguntar a ele se para ser cineasta não é preciso aprender a linguagem do cinema.

J.B. - E, agora, que perspectivas vê para a arte diante do mundo?

Gullar -  Acho que o que a arte tem de fazer é parar de falar sobre ela mesma e começar a falar do mundo. Nós temos 40 mil anos de arte falando do mundo e dos problemas do  homem no mundo. A arte de voltar a falar da vida.