quinta-feira, 30 de julho de 2015

Como ser um escritor de ‘literatura séria’




 
 

Antes
de tudo, seja homem, branco, heterossexual, acima dos quarenta,
professor universitário ou jornalista. Caso seja mulher, escreva sobre a
questão da mulher. Caso seja negro, sobre a questão do negro. Caso seja
gay, sobre a questão do gay. Enfim, você entendeu a ideia.

Quando
perguntarem “por que você virou escritor?”, tenha um bom passado.
Passados medíocres são brochantes. Há somente duas opções: (i) você veio
de uma família muito culta, cresceu lendo Balzac, Pessoa e Proust;
expressar suas ideias e aflições foi uma necessidade de toda sua bagagem
cultural ou (ii) você tem origem humilde, pais analfabetos; a
literatura era seu refúgio em uma infância difícil e solitária. Esta
segunda funciona melhor.

Quando perguntarem suas referências,
esqueça nomes como Agatha Christie, Stephen King, Sidney Sheldon e
qualquer outro escritor que tenha feito sucesso ou que esteja na lista
de mais vendidos do momento. Diga o que tem que ser dito: seu trabalho
dialoga com Lispector, tem tons de Cortázar e nuances de Saramago, mas,
no fim das contas, você acredita ter voz própria — então, lance o
desafio: “Espero que a crítica consiga compreender meu trabalho melhor
do que eu”.

Não basta fazer literatura, meu amigo. É preciso
dançar conforme a música, corresponder às expectativas, preencher o
modelo, ser cool,intelectual. Quando perguntarem seu livro de
cabeceira, nem pense em citar qualquer exemplar que seja encontrado com
facilidade nas livrarias. Opte por livros raros, com autores de nomes
impronunciáveis. Decore uns trechos desses escritores e trate de
citá-los em qualquer texto. Tenha um poema na manga. E duas frases de
efeito. É o que diz Vladimir Maiakóvski: “A arte não é um espelho para
refletir o mundo, mas um martelo para forjá-lo”.

É importante que
algum ou todos os aspectos do seu trabalho tenham a ver com sociologia,
filosofia, mitologia ou matemática, e é imprescindível falar sobre isso.
Todos adoram quando você mistura literatura com matemática, mesmo que
ninguém nesse ramo se importe muito com matemática. Sua proposta deve
ser explorar os movimentos e os limites da linguagem. Repita “linguagem”
ao menos quatro vezes em qualquer de suas entrevistas. E repita
“retrato social” ao menos cinco vezes.

Conceitos como “arquitetura
da trama”, “plot-twist” e “ganchos de capítulos” estão absolutamente
vetados. O verdadeiro escritor de literatura séria não se preocupa em
contar boas histórias. Esta arte menor e confortável deve ser deixada
para os novelistas, para os dramaturgos e para os autores de
“literatura” de entretenimento — sabe aqueles que escrevem livros de
vampiros com câncer que curtem sexo sadomasoquista para colorir? Então.

Evite
falar em gêneros literários. Sua literatura não se define. É
desafiadora, incômoda e incompreensível. Publique um livro — curto — a
cada três ou quatro anos. Publicar um livro por ano quebra a magia,
mostra que você não é aquele escritor recluso em sua choupana, vitimado
por intensas reflexões, que joga toneladas de páginas no lixo e sangra
ao escrever cada palavra.

Quando perguntarem sobre os temas de sua
obra, deixe fluir toda a sua complexidade. Os menos capazes o acusarão
de vagueza pelos cantos, mas é só por não conseguirem enxergar o valor
do seu trabalho. Leitores e críticos competentes não terão problemas.

Em
qualquer entrevista, responda com três ou quatro dos conceitos
destacados a seguir: você busca tratar da “realidade do indizível”,
enxerga sua voz numa “zona cinzenta” entre a “reflexão do ser em si
mesmo” e a “representação da experiência humana”. Com sua obra, você
pretende “desnudar os limites da autoanálise” e a “prática formal da
arte”, enquanto explora as “instâncias sociais” e a “barbárie em
fragmentos”. Sua “fruição artística” é “difusa e dolorosa”, com
“pensamentos que dissecam a alma” e enfrentam o “objeto estético”. Por
fim, use aleatoriamente palavras como “hibridez”, “estilo”,
“autoficção”, “ausência”, “dialética” e “fronteiriça”.

Imagem
pessoal é indispensável. Tenha barba. Use óculos. Organize antologias.
Assine orelhas. Ganhe prêmios. Se tiver sido traduzido, ponto extra. Se
for do Sul, ponto extra. Se for judeu, ponto extra. Se for jovem e fizer
sucesso, ponto extra. Se for da periferia, ponto extra. Colunista de
jornal também costuma pegar bem.

A etiqueta exige falsa modéstia.
Mas seja sério. Evite sorrir em fotos. Evite selfies. Evite entrevistas.
Evite autopublicação. Evite elogiar entusiasticamente o livro do colega
— elogie autores mortos, sempre de maneira vaga, digo, complexa: “A
obra traz uma hibridez de estilo que demonstra que a dialética da
ausência é fronteiriça à autoficção”. Evite redes sociais. Evite eventos
populares. Evite vender mais do que dez mil exemplares. Evite leitores.
Apenas evite.







fonte:

Como ser um escritor de ‘literatura séria’ - Jornal O Globo

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Leo Vieira: Montando Biografia

Isso é muito importante para qualquer atividade futura do escritor. Biografia do
autor é como um curriculum, só que ele é mais exibicionista. Isso mesmo; um escritor precisa aparecer.
Não basta apenas o livro do autor. Escritor não tem a vida literária resumida apenas a livros. Escritor também precisa ter blog, precisa ter e manter páginas em redes sociais; precisa também interagir com todos, precisa ter filiações acadêmicas, precisa fazer colaborações sociais e culturais em eventos de sua cidade e fora dela; precisa responder entrevistas, precisa participar de antologias, precisa assinar em colunas literárias, precisa organizar eventos culturais literários, como feiras de livros; entre outras coisas. E claro, precisa ressaltar tudo isso em sua biografia, que deve passar por uma constante atualização.

Não adianta focar o que ainda não está no seu alcance. Explore territórios próximos que os investidores editoriais de longe chegarão até você.

Leo Vieira

Acompanhe a campanha de incentivo à leitura "Leia + Livros", do Leo Terário.
® Leo Vieira- Direitos Reservados 

quinta-feira, 23 de julho de 2015

A burrice reinante na música brasileira realmente popular é mais perigosa do que você imagina




Infelizmente, a constatação é óbvia: nunca vivemos em uma época em que a música popular brasileira realmente popular
apresentasse um grau de burrice tão grande como nos dias atuais. A
impressão generalizada é que há algum tipo de pacto de estupidez entre
gente que se diz “artista” e uma imensa manada de pessoas que
transformaram a palavra “plateia” em sinônimo de agrupamento de
retardados.
A falta de capacidade cognitiva da grande maioria de
brasileiros que consome música no Brasil gera uma total incompreensão
sobre o significado poético de canções que ainda insistem em trazer
letras que necessitem de uma capacidade cerebral superior a de um peixe
para que possam ser apreciadas. Para esta geração, as canções de caras
como Lenine, Ney Matogrosso e Gilberto Gil soam como tratados de Física
Quântica musicados.

Hoje, é cada vez maior a dificuldade de
prender a atenção destes milhões de verdadeiros “bagres”. Isso explica
porque o sertanejo chamado de “universitário” e o funk imbecilizante
se tornaram as novas coqueluches dentro do mercado nacional. E quando
escrevo “mercado”, nem me passa pela cabeça algo que se relacione com
venda de discos, já que hoje também vivemos em tempos em que tudo pode
ser pego “de grátis” na internet. Estes dois estilos musicais
encontraram um público perfeito, desprovido de qualquer sinal de
sensibilidade poética, para quem o importante é “beijar muito na
balada”. Para quem achava que a “axé music” era o fundo do poço,
trataram de cavar mais um pouco para checar a uma camada de “pré-sal da
estupidez”. Hoje somos o país do “tche tche rerê tetê barabará
bereberê”, do “vem novinha sentar no meu colo” e de outras merdas do
gênero.

A total falta de capacidade cerebral deste público foi
tornada explícita recentemente com a tal polêmica a respeito do que o
Zeca Camargo disse e, principalmente, no apoio que a iniciativa dos pais
do falecido Cristiano Araújo – que, sabe-se lá por quê, resolveram
processar o apresentador da Globo – vem recebendo por parte deste mesmo
público retardado que citei anteriormente. Quase ninguém realmente
entendeu o que o Zeca falou.

Neste exato momento, você deve se
perguntar “Regis, por que você está escrevendo isto?” e a minha resposta
é simples: porque estou cada vez mais preocupado em ver que um imenso
rebanho de gente descerebrada está cerceando o direito de pensar de
maneira diferente do senso comum imbecilizado. Porque já saquei que fãs
deixaram de ser apenas idiotas comuns para se tornarem censores imbecis.
Porque já percebi que programas de TV se tornaram um imenso painel de
cretinice para buscar a audiência desta imensa turma de bucéfalos, com a
cumplicidade medrosa de atores, atrizes, cantores, cantoras e músicos
em geral, que se escondem atrás de discursos e elogios mentirosos para
não desagradar a verdadeira horda de mentecaptos que os assistem e
consomem seus produtos.

Sim,
este é um texto de um sujeito velho, ranheta e cada vez mais intolerante
com o estado de coisas no Brasil, que ainda não se cansou de tentar
elevar a voz para condenar o emburrecimento coletivo que assola o nosso
País. Faço isso porque sei que uma Nação repleta de ignorantes é o prato
cheio para a desgraça. Foi assim que surgiu o nazismo e o tal Estado
Islâmico: repita uma mentira dez milhões de vezes para um ignorante e
ela se tornará uma verdade para ele.
Pense nisto… 





(*) Regis Tadeu é crítico musical, jurado do Programa Raul Gil,
colunista/produtor/apresentador do portal do Yahoo,
produtor/apresentador dos programas Rock Brazuca e Agente 93 na Rádio
USP FM e foi Diretor de Redação/Editor das revistas Cover Guitarra,
Cover Baixo e Batera.




A burrice reinante na música brasileira realmente popular é mais perigosa do que você imagina | Na Mira do Regis - Yahoo Notícias

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Leo Vieira: Criar um Jornal

Você já pensou nisso? Um jornal não precisa ser exatamente literário. Ele também pode explorar outros temas culturais e artísticos e ainda assim, ganhar um bom destaque. Para tal realização, você também não precisa exatamente ser um jornalista ou expert.
Você pode criar jornal sobre literatura, sobre pinturas, sobre poesia, sobre
histórias em quadrinhos, sobre religiões, entre outros temas.
O conteúdo precisa ser diversificado, sem sair do rumo do jornal. Voce começa com um editorial (boas-vindas do editor e um pequeno comentário sobre o que espera passar com a edição), depois vai para as colunas, que podem ser com textos didáticos, entrevistas, curiosidades, lançamentos, etc.
Fotos e ilustrações também são importantes, sempre mencionando o autor e procurando não sair da temática.

Faça a distribuição pela sua rede de contatos e procure monitorar o andamento das edições. Caso evolua, comece a pensar na captação e também na possível versão impressa.

Leo Vieira

Acompanhe a campanha de incentivo à leitura "Leia + Livros", do Leo Terário.
® Leo Vieira- Direitos Reservados 

sábado, 18 de julho de 2015

Hino tocando: voltar à bandeira ou só ficar em pé?



Vem se popularizando uma inexistente e
equivocada exigência de que durante a execução do Hino Nacional o
público deve obrigatoriamente voltar o corpo ou o olhar para a direção
em que se encontra a Bandeira Nacional no recinto. Relatos existem de
agitações, atitudes desengonçadas de pessoas que procuram pelo pavilhão
nacional e ficam desconfortáveis, caem ou tropeçam, são cada vez mais
comuns.


Para as solenidades civis, a lei não impõe regras: apenas exige a postura seja "em pé em “posição de respeito” (art 30, Lei 5.700/71 – vide texto em SIMBOLOS NACIONAIS) Clique aqui


Para solenidades militares o regramento aplicável é o do respectivo
Regimento Interno, sempre muito rigoroso mas mesmo assim, salvo melhor
juízo, sem obrigar a tal atitude.


Na esfera civil, quando ocorre a execução do Hino (instrumental ou
vocal) os cerimonialistas recomendam que o público volte para o
regente, orquestra ou cantor. E isso é simples de entender: o Hino
Nacional, tal como a Bandeira, as Armas e o Selo, são todos Símbolos Nacionais sem qualquer hierarquia ou graduação de importância entre eles ( cf. art. 1º da Lei 5.700/71 - Clique aqui ).


Nos casos em que houver execução por mídia gravada (na mensagem referida como "execução mecânica” do hino), através de aparelhagem de som reproduzindo CD, fita cassete ou mp3, a recomendação é para que o público permaneça em pé, voltado para a mesa diretiva ou ponto central do recinto .


Se no local da execução orquestrada ou cantada, ou mesmo reprodução gravada do Hino, simultaneamente
acontecer o hasteamento da Bandeira Nacional, a recomendação é para que
o público se volte em direção ao dispositivo de bandeiras, pois nesse
caso a Bandeira Nacional é que deve ser o centro das atenções (art. 19,
Lei 5.700/71 - Clique aqui ) e o hino é executado ou tocado em sua "continência" ou função do seu hasteamento (art. 25, I; II cc art 14 § 1º, Lei 5.700/71 - acima).


A regra geral, para qualquer caso, é a de que, para cumprir a lei basta postura respeitosa. Nada mais.










POSTURA RESPEITOSA NA EXECUÇÃO DO HINO (Carlos, Xiquexique (BA) - FALE CONOSCO - 17/2/2009)
Clique aqui



Há exigência protocolar em toda Execução do Hino? (Antonio, Joanópolis (SP) - FALE CONOSCO - 16/2/2009)
Clique aqui




POSTURA: Voltar-se para a Bandeira é correto ? (Gilnei Ricardo - Gramado (RS) - FALE CONOSCO - 9/1/2009)
Clique aqui





HINO: Qual a postura correta, mãos, aplausos, etc (Carmen - Belo Horizonte (MG) - FALE CONOSCO - 7/10/2008)
Clique aqui





PODE ou NÃO PODE APLAUDIR O HINO? (Patriotismo.org.br - Artigos - Hino Nacional - 26/12/2008) Clique aqui





fonte: PATRIOTISMO - Organização da Sociedade Civil de Interesse P⬩co

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Mostra Cultural Instituto Êxodo e Prêmio Imperial 2015 em Petrópolis



A Mostra Cultural Instituto Êxodo e Prêmio Imperial 2015 está fantástica. Parabéns às curadoras, Tânia Leal e Lilian Rojas e a todos os participantes. Com muita honra e felicidade eu, Mauricio Duarte, participo como expositor com a obra Organismo.




A exposição se realiza no Centro de Cultura Raul de Leoni na Praça Visconde de Mauá, 305 .
Tel.: (24) 2233-1202











quinta-feira, 16 de julho de 2015

Rodrigo Gurgel / 10 livros que mudaram minha vida


10 livros que mudaram minha vida










Os Sertoes 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgelDe Euclides da Cunha, 1. Os Sertões
foi o primeiro livro que estudei com o olhar de leitor malicioso — não
no sentido de “má índole”, o mais comum entre nós, infelizmente, mas no
sentido de “astúcia”, “sagacidade”. A motivação veio de Paulo Vieira,
meu professor de português no velho Instituto de Educação, em Jundiaí.
Quando comecei “A Terra”, tive uma vertigem: aquilo era incompreensível —
o livro exigia muito mais que um dicionário constantemente aberto ao meu
lado. Foi, aos 17 anos, o primeiro lampejo de que as melhores obras
literárias estão além, muito além do que o leitor inocente vê no seu
contato superficial, passageiro. Ir e voltar pelas páginas, descobrir a
musicalidade que a linguagem pode alcançar, sentir que aquele livro
estava além dos meus conhecimentos — tudo me impulsionava a ir adiante, a
perseverar.




Descobri 2. John Keats
de forma inesperada. Era o primeiro dia de aula na universidade. E a
primeira aula do primeiro dia. Meu professor de Teoria da Comunicação,
Flávio Vespasiano Di Giorgio, tirou o maço de Continental sem filtro do
bolso rasgado da camisa, acendeu um cigarro, sentou sobre a mesa e,
olhando para o vazio, agitando um pouco no ar seus dedos manchados de
nicotina, começou: “A thing of beauty is a joy for ever…”. Quando
terminou, o feitiço estava lançado: manhã após manhã eu tentaria me
vincular à terra, apesar do desespero, dos dias escuros e de todas as
dúvidas que pudessem existir na minha alma. Desde aquele dia, não passa
um semestre sem que eu releia o “Endymion” ou algum outro poema de
Keats. Minha fascinação por ele foi semelhante à do próprio Keats por
Homero: era como se eu tivesse descoberto um novo planeta.


john keats 10 livros que mudarm minha vida rodrigogurgelFoi também Flávio Vespasiano Di Giorgio quem me despertou para Drummond. Em algum momento daquele primeiro semestre, interrompeu, como sempre fazia, seu raciocínio e começou a declamar “Campo de flores”.



Comprei 3. Claro enigma
depois da aula. E descobri “Tarde de maio”, “Remissão” — nada resta do
que escrevemos, “senão contentamento de escrever”. E se busco “o fim sem
a injustiça dos prêmios”, também me pergunto, até hoje, “Que pode uma
criatura senão, entre criaturas, amar?”.




claro enigma 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgelO início de 4. A Morte de Virgílio
capturou-me: “a solidão do mar, ensolarada e todavia prenunciadora de
morte”. Eu não sabia que a visão da armada imperial a cruzar o Adriático
me levaria mais longe do que qualquer outro romance que eu tivesse
lido. Com Broch descobri que a ficção não precisava estar presa aos
temas comezinhos da literatura brasileira, às historinhas pérfidas, a
permanentes universos mesquinhos, restritos à pelada no fim de semana, à
libido insatisfeita, aos subúrbios, a casos de adultério e existências
rasteiras.






lorde jim 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgela morte de virgilio 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgel5. Lorde Jim e 6. A fera na selva confirmaram Broch. A grande literatura está muitos degraus acima de
Capitu, Peri e Ceci, ou eternos retirantes esfaimados sem nenhuma
dúvida interior. Conrad e James me mostraram que a grande batalha
encontra-se no centro do nosso coração — essa é a única história sempre
recontada. Sem o duelo permanente que ocorre na nossa consciência, a
banalidade se instala na ficção — e é vendida aos incautos como o melhor realismo.


Em algum momento da década de 1970 comprei



a fera na selva 10 livros que mudaram a minha vida rodrigo gurgel 7. Raízes da Criação Literária,
de Edmund Wilson. Foi meu primeiro contato com uma crítica literária
consistente, jamais sufocada pela erudição. Ao contrário, a erudição
servia para tornar o texto sedutor, as idéias eram colocadas de forma
clara — e o autor realmente dialogava com os livros. Ter lido um ensaio
como “Filoctetes: a chaga e o arco” vacinou-me, percebi anos mais tarde,
contra o estruturalismo ou a semiótica. Wilson foi o filtro que impediu
minha contaminação completa. Na faculdade, forçado a me empanturrar com
os textos tediosos de Roland Barthes, eu mantinha Wilson como uma
referência lúcida, equilibrada.




a orgia perpetua 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgelraizes da criacao literaria 10 livros que mudaram a minha vida rodrigo gurgelA análise que Mario Vargas Llosa faz de Madame Bovary, em 8. A orgia perpétua,
confirmou o que eu intuíra ao ler Wilson: na análise de um texto, era
possível o detalhamento, digamos, quase científico, mas sem matar
a obra, sem transformá-la num esquema, numa árvore de análise
lingüística, sem endeusar a linguagem, sem desvincular a obra da
realidade. Llosa me ensinou ainda mais: mostrou-me que o hermetismo das
vanguardas, seu suposto espírito revolucionário, era um engodo. E por um
simples motivo: o bom escritor carrega a ira de Flaubert — a ira que o
salvou do “esteticismo hermético”. Essa ira, muitas vezes contra a
própria humanidade, “infundiu em seus livros o vírus negativo que é o
segredo da sua acessibilidade: para que um romance provoque dano é
imprescindível que seja lido e entendido”.


Se Edmund Wilson me vacinou contra os estruturalistas, Olavo de Carvalho
me vacinou contra o marxismo e a intelectualidade materialista,
hedonista e cética que pontifica na mídia e na universidade brasileiras.

o imbecil coletivo 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgel
Depois de ler 9. O imbecil coletivo
ainda militei anos na esquerda, mas o pensamento de Olavo permanecia —
desculpem-me o chavão — como uma ilha de lucidez. Fazia com Olavo o que o
diretor do Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, em Jundiaí, fazia com Lênin
nos anos duros da ditadura militar: guardava-o num armário bem fechado,
em algum ponto sombrio da biblioteca. Eu me debatia com meus próprios
pensamentos; repleto de dúvidas, observava a vida e meu trabalho
seguirem destituídos de sentido. Ao mesmo tempo, percebia a tremenda
incompatibilidade que havia entre o discurso dos “companheiros” e sua
prática cínica, aética.


pensadores russos 10 livros que mudaram minha vida rodrigo gurgelO Imbecil coletivo e tantos outros artigos de Olavo somaram-se a Isaiah Berlin
— e então livrei-me do coscorão esquerdista. Olavo e Berlin foram meus
guias no processo de rompimento definitivo não apenas com uma forma de
pensar, mas com uma forma de viver. Ambos são intelectuais completos.
Minha leitura de Berlin começou por seu ensaio “O ouriço e a raposa”, em



10. Pensadores russos, aula de crítica literária e cultural.


Foi um longo processo. Olavo de Carvalho
e Isaiah Berlin ajudaram-me a abraçar aquelas verdades que sempre
estiveram à mão, obscurecidas pelo meu esquerdismo. A primeira delas, a
mais banal, é que justiça e liberdade jamais foram bandeiras exclusivas
da esquerda. Aliás, a esquerda tem se notabilizado na história
exatamente por, chegando ao poder pela via revolucionária, trair esses
ideais.


Mas o que Olavo de Carvalho
e Isaiah Berlin me oferecem não se resume a desacreditar do marxismo.
Seria muito pouco para dois pensadores excepcionais. Eles me fazem
refletir, como os outros livros que mudaram minha vida, sobre a
existência, a literatura, a condição humana — e cada página deles
acrescenta algo à minha Weltanschauung.





Rodrigo Gurgel / 10 livros que mudaram minha vida - Rodrigo Gurgel

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Leo Vieira: O que fazer diante de uma resenha negativa?

Uma polêmica das grandes! O que fazer quando a resenha encomendada sai negativa e ofensiva?
Isso pode acontecer principalmente quando o blogueiro é preconceituoso e decide atacar pela sua ótica pessoal. Infelizmente não se pode agradar a todo mundo.
Antes de tudo, vou ensinar como evitar esse constrangimento. Primeiro, antes de entregar o livro, procure saber qual o gênero literário preferido do blogueiro. Se ele tiver um gênero que odeia, procure saber também.
Depois, peça antes que o blogueiro leia ressaltando a qualidade textual e gramatical. Se o resenhista descer o sarrafo no seu livro de zumbis simplesmente porque ele odeia a temática, saiba que não foi pelo seu livro ter sido ruim, e sim porque foi somente pelo gosto dele.
Se por acaso a resenha correu solta, não alimente a polêmica. Ficar fazendo alardes, com lamúrias públicas só vai servir de lenha na fogueira. Isso é tentar apagar o fogo com querosene.
Críticas públicas vão aumentar o ibope do blogueiro. Além de criar uma situação desconfortável para todos. Existe uma regra para nunca usar o telefone quando se está bêbado. Também não devemos tomar atitudes quando estamos zangados. Isso também se aplica à internet. Relaxe, tome um café, dê uma volta na rua, leia um gibi, pense em coisas boas e depois tome uma atitude com disciplina.
Se você ficou extremamente ofendido, você pode pedir gentilmente que a resenha seja removida do blog. Se o blogueiro também quiser devolver o livro, agradeça.
Caso nem uma nem outra coisa seja feita, não toque mais no assunto. Também não se vingue, para que isso não prejudique o seu lado. Caso o rumo das postagens ofensivas lhe prejudicarem demais, tome medidas judiciais cabíveis.

E a vida virtual literária continua. Todos nós erramos e aprendemos a não repeti-los, nem confiar novamente em certas pessoas.

Leo Vieira


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sexta-feira, 10 de julho de 2015

A História reescrita e a censura da ficção



Se há uma obra de ficção que
indiscutivelmente impactou-me como leitora e escritora de ficção foi o
grandioso épico “E O Vento Levou”, de Margaret Mitchell, que li ano
passado. A escrita magistral brinda-nos com personagens descritos
brilhantemente tanto no aspecto físico como emocional e extremamente bem
construídos, bem como falas inesquecíveis vindas muitas vezes de
personagens secundários (Beatrice Tarleton, a criadora de cavalos, por
exemplo) e um bem construído background histórico da Guerra de Secessão (1861-1865) sob a ótica dos estados Confederados (sul dos EUA).
E é exatamente devido ao momento
histórico retratado tanto pelo livro como pelo filme nele baseado que os
militantes da praga politicamente correta têm cada dia mais fomentado a
celeuma que se ergue contra esse grande clássico da literatura
americana. No artigo “‘Gone With the Wind’ should go away with the Confederate flag”, Lou Lomenick sugere que “E o Vento Levou” deveria ser banido por se tratar, segundo ele, de um obra “racista”.
Uma breve observação. Desde o bárbaro
atentado a uma igreja protestante em Charleston perpetrado por um
psicopata racista no qual 9 pessoas morreram, muitos na esquerda
americana têm insistido com a ideia de que é preciso banir dos olhos do
público a bandeira que representou os então Estados Confederados durante
a Guerra de Secessão, pois ela incentivaria o racismo, uma vez que o
assassino tinha fotos com a dita bandeira. Bem, isso é querer negar a
história. Ainda que sim as grandes plantations do sul dos EUA
utilizassem mão-de-obra escrava e não quisessem abrir mão de tal forma
de produção, a bandeira representa um fato histórico ocorrido e que
exatamente por isso não pode e não deve ser negado. E mais que isso:
deve ser conhecido amplamente para que jamais se repita. Acredito que
ostentar a bandeira Confederada por si só não faz de alguém um racista
assim como o não ostentá-la não quer dizer que o sujeito não seja
racista.
GoneWithTheWindÉ
seguindo esse mesmo raciocínio que Lomenick propõe banir “E O Vento
Levou”. Segundo ele, a história “transmite a ideia de que a Guerra Civil
era uma nobre causa perdida e que os yankees (americanos do
norte do país) e simpatizantes foram grandes vilões tanto na guerra como
na reconstrução”. Bem, “E O Vento Levou” retrata a Guerra de Secessão
sob a ótica dos fazendeiros do sul dos EUA, que faziam uso de
mão-de-obra escrava na lavoura e na pecuária, de modo que a ficção é
verossímil, ou seja, condizente com a realidade daqueles personagens.
Nesse contexto, necessariamente os personagens sulistas sentem-se
violados pelos soldados do norte: eles estupraram suas mulheres,
roubaram suas casas e mantimentos, queimaram suas terras – todos atos
típicos de uma guerra, é claro, mas evidentemente bárbaros. E é óbvio
que para aqueles personagens a guerra era uma causa nobre, pois era o
modo de vida deles que estava em jogo. Hitler também julgava a Segunda
Guerra uma causa nobre, quem entra em uma guerra sempre achará nobre a
sua própria causa, por mais pérfida que ela seja. Assim, ainda que seja
abominável defender a escravidão, os personagens de uma obra ambientada
naquele período e naquele lugar, naturalmente a defenderiam.
Surpreendentemente, no livro ao menos, subentende-se que o protagonista,
Rhett Butler é um abolicionista que se cala para não sofrer retaliações
em meio aos que pensam diferente dele.
Sim, o filme não faz referência à KKK
(Ku-Klux-Klan), mas o livro sim. O livro a retrata como algo bom?
Depende. As mulheres consideravam perigoso envolver-se com aquilo, porém
o envolvimento é, dentro da trama ao menos, justificado diante a
política estabelecida durante a reconstrução segundo a qual autoridades
fariam vista grossa a crimes cometidos por negros recém-libertos. Para
mim, em particular, isso não é uma boa justificativa para se criar uma
organização como a KKK, pois não há justificativa nenhuma aceitável para
isso. A grande questão exposta na narrativa que Lomenick não menciona é
que o livro claramente mostra a Klan como surgida no seio do partido
Democrata, ao qual eram vinculados os grandes produtores rurais do sul.
Sim, o mesmo Partido Democrata que hoje posa de defensor de minorias e
monopolista das virtudes foi contrário à abolição da escravidão e
fundador da KKK, enquanto a abolição foi uma causa abraçada e
ferrenhamente defendida pelos Republicanos desde a fundação do partido,
sempre ligado a causas afins ao Liberalismo Clássico. Racistas não são
os Republicanos, como gostam de pregar os Democratas, mas sim estes, que
fomentam dia após dia a luta de classes em seus discursos inflamados
que estimulam negros a odiar brancos por causa de um passado que na
verdade pertence a toda a humanidade, visto que a escravidão foi
verificada desde o início dos tempos. E mais ainda se considerarmos que
em países socialistas populações inteiras são escravas de seus governos
autoritários.
Sobre o livro, ainda digo mais. Mammy, a
escrava do lar dos O’Hara, que dizia orgulhosa que nasceu na casa
grande dos Robillard e jamais pisou em uma senzala (e que se recusava a
trabalhar no campo mesmo quando as senhoras semearam e colheram algodão
com as próprias mãos), é retratada como uma das personagens mais
brilhantes e queridas pelas demais personagens da história. Mais que
isso, Mammy é astuta, mas também dura com aqueles com quem ela se
preocupava. Nenhum negro no livro é descrito como mera máquina de
trabalho, mas como seres humanos dotados de sentimentos, de
personalidade. Dizer que essa é uma história racista porque eles eram
escravos em uma época que assim infelizmente o era na vida real? A
propósito, a própria Hattie McDaniels, grande atriz que deu vida a Mammy
no cinema, foi frequentemente boicotada por movimentos negros sob a
alegação de que ela “ajudava a manter o estereótipo servil do negro na
sociedade ao aceitar representar domésticas e serviçais”, ao que a atriz
reagia dizendo que preferia ganhar 700 dólares por semana para
interpretar uma criada a ganhar 7 dólares por semana para ser uma
criada. Big Sam, outro dos personagens egressos dos campos de Tara
salvou Scarlett de ser estuprada por negros que eram bandidos. Havia
negros e brancos bons e maus nessa história, tal como na vida real e
negar isso é desconhecê-la.
Banir a história mais épica escrita no
século XX porque ao retratar uma realidade da época que ela descreve
sensibilidades são feridas é levar a novilíngua a um novo nível. É
claramente querer reescrever a história só porque há episódios feios
nela. E isso não é exclusividade do atual momento dos EUA. O que foi a
“Comissão da Verdade” senão uma tentativa de reescrever a história do
Brasil? Desde quando uma comissão que se pretende “da verdade” apura
apenas um lado do conflito? Por que apenas militares que cometeram
crimes durante o Regime Militar foram rotulados como “malvados”, quando é
sabido que os terroristas de esquerda do período não tiveram a morte de
suas mais de 100 vítimas sequer apuradas? Porque construir a narrativa
histórica que será impressa nos livros de história, no caso tratando os
terroristas como democratas que sofreram nas mãos de autoritários
bárbaros e de maneira unilateral, é o que irá determinar o sucesso da
militância no futuro.
Portanto, considerar “E o Vento Levou”
um filme racista devido ao fato de retratar os sulistas democratas (sim,
eram todos democratas, os republicanos que desde o início defenderam o
fim da escravidão e sim, foram os democratas que criaram a KKK)
defendendo a escravidão no período em que historicamente eles de fato
defendiam a escravidão não é só uma excrescência, é doentio. Fazia parte
da realidade daquele período aquelas pessoas terem escravos; fazia
parte da realidade das pessoas daquele período ter saudades de como
levavam a vida antes da guerra (lembrando que os soldados do norte
muitas vezes atearam fazendas inteiras com famílias no interior da casa
grande).
Independentemente do quão condenável
seja o ponto de vista de um personagem, nós que escrevemos ficção
devemos ser livres para criarmos qualquer espécie de personagem e, mais
que isso, não podemos tolerar que limitem nossa liberdade de expressão. E
quando escrevemos algo tendo como pano de fundo algum grande evento
histórico, não podemos ser tolhidos de expressar a visão de nossos
personagens de acordo com a posição que ele ocupa dentro daquele
contexto histórico. Vamos banir filmes que retratem o holocausto só
porque necessariamente haveria personagens nazistas que o defenderiam?
NÃO! JAMAIS! Isso seria falsear a realidade por trás de uma narrativa
ficcional, porém verossímil. E jamais devemos conceder a ninguém a
prerrogativa de reescrever a história, sobretudo tentando esconder o que
nefasto aconteceu.




Thaís Gualberto, bacharel em Ciências Econômicas pelo Instituo Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec-RJ).




A História reescrita e a censura da ficção | Reaçonaria

terça-feira, 7 de julho de 2015

Editores baianos investem em produção artesanal de livros



Eron Rezende




  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    Reinofy Duarte e Suzana Rezende , da Domínio Público - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE


    Reinofy Duarte e Suzana Rezende , da Domínio Público

  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    A ilustradora Flávia Bomfim criou a editora Movimento Contínuo - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE


    A ilustradora Flávia Bomfim criou a editora Movimento Contínuo

  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    Reinofy Duarte e Suzana Rezende , da Domínio Público - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE


    Reinofy Duarte e Suzana Rezende , da Domínio Público

  • Fernando Vivas | Ag. A TARDE
    A ilustradora Flávia Bomfim criou a editora Movimento Contínuo - Foto: Fernando Vivas | Ag. A TARDE


    A ilustradora Flávia Bomfim criou a editora Movimento Contínuo
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Na primeira Feira de Publicação Independente da Bahia, realizada em
abril deste ano, 47 expositores ocuparam o vão central da Biblioteca
Pública, nos Barris, com uma fartura de produções que pareciam simular
um parque de diversões do mercado editorial.



Havia livros que se desdobravam em labirintos, pacotes de pipoca que
escondiam poesia, livretos numerados como são numeradas as joias - a
maior parte das criações, assinadas por pequenos grupos dos quais ainda
pouco se ouve falar no estado. "Foi uma catarse", lembra a ilustradora
Flavia Bonfim, organizadora do evento. "Serviu para escoar uma produção
que há muito tempo vem acontecendo na Bahia".



A produção, no caso, é um sinal do tempo. Hoje, já se sabe que a
internet não levou à extinção dos livros. Pelo contrário, ela parece ter
conduzido a um renascimento das publicações impressas. Nota-se isso na
forma como obras clássicas da literatura, que durante tanto tempo
estiveram disponíveis como folhetos baratos, estão sendo reeditadas com
projeto visual apurado - livros para serem manejados e admirados como
objetos de luxo. O raciocínio é: já que se tem acesso a conteúdo
eletronicamente, os leitores devem desfrutar das inúmeras possibilidades
de um livro.



Para os editores independentes, como os que exibiram seus trabalhos na
Biblioteca Pública, a moeda é a engenhosidade. "Você faz com o que tem:
uma impressora, uma linha para costurar as páginas, um conceito", diz
Flavia, que possui a "editora de uma mulher só", Movimento Contínuo, na
qual imprime as próprias ilustrações e trabalhos de fotógrafos amigos.
"Há muitos artistas que veem na publicação independente uma forma de
divulgar seus trabalhos e de ter controle sobre a edição. Mas não é um
mercado só para artista e designer. Acho que todo mundo pode desenvolver
uma relação íntima com o impresso".



Sem crise



A crescente das edições independentes e autorais está em todo o país.
Num paralelo, há a Feira Plana, de São Paulo, que reuniu, em fevereiro
deste ano, 120 expositores de 12 estados. E há, ainda, as feiras Livre e
Tijuana, também em São Paulo, a Parada Gráfica, que acontece há três
anos em Porto Alegre, a Pão de Forma, no Rio de Janeiro, e a Espanca, em
Belo Horizonte.



Comparecer a qualquer um desses eventos pode gerar impulsos
conflitantes aos apaixonados por livros. O primeiro deles é comprar
tantos quanto se pode. O segundo: lançar o próprio selo independente. E,
então, vem o terceiro: não lançar o próprio selo, porque todas as
fantasias que se poderia ter para um livro talvez já tenham calhado a
alguém e esse livro fora planejado e produzido em detalhes.



"A cada evento que participo me surpreendo mais com o apoio do público,
dos participantes e com a possibilidade de espaço para produção
editorial independente", diz Laura Castro, que, ao lado de Flavio
Oliveiras, fundou a Sociedade da Prensa, ateliê no Santo Antônio Além do
Carmo que vem editando trabalhos de poetas e artistas gráficos baianos.



"Fala-se tanto em crise do mercado editorial, mas em muitas feiras você
encontra gente que já vendeu dois, três mil exemplares. É comum o
pessoal dar soldout", diz Castro. "Em dia de feira, tem gente que às
cinco da tarde está limpando a mesa, colocando plaquinha de que foi
passear porque já esgotou".



O funcionamento da Sociedade da Prensa é uma síntese de como costumam
se movimentar as pequenas editoras. O ateliê cede aos autores uma
impressora caseira e uma máquina de serigrafia; os autores bancam a
impressão; a qualidade da publicação, os tipos de papel e as cores são
decididos em conjunto; o preço de venda, quase sempre, serve apenas para
bancar o custo de produção, o que leva a receita de que não se entra
neste mercado para ganhar dinheiro e todos dividem seus tempos com
outros empregos.



Como as feiras são as principais portas de saída das publicações (há,
ainda, pequenas livrarias, virtuais ou não), Laura e Flavio planejam,
para novembro deste ano, em Salvador, a Feira Taboão, um desdobramento
do evento ocorrido em abril. A Taboão ainda é um plano porque o casal
permanece em busca de apoio, ou seja, um espaço gratuito e que comporte
expositores e público.



Circular



A palavra que mais se ouve no ramo das publicações independentes é
"rede", seja quando o que se publica são apenas livros de artistas, como
faz a editora experimental Tiragem, ligada à Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia, ou textos filosóficos, como faz o selo
editorial Azulejo, que funciona num dos quartos da casa da designer
Isabel Simões.



"Você sempre conta com a colaboração de alguém, seja para ceder um
texto, editar ou mesmo dar uma opinião", diz Isabel, que fundou a
Azulejo após ingressar no curso de filosofia da Ufba e sentir falta da
circulação dos textos produzidos pelos colegas. "Ainda que seja através
de um esquema artesanal, ninguém faz um livro para guardar debaixo da
cama. Há sempre uma vontade de fazer a informação circular. Como a
internet já é uma excelente plataforma para isso, o livro é o canal para
pensarmos o melhor formato para apresentar essa informação".



Em 2014, a Azulejo colocou no mercado cinco livretos com ensaios de
alunos do curso de pós-graduação em filosofia da Ufba. A impressora
usada foi a japonesa Risograph, feita originalmente para impressões mais
simples e que funciona quase como uma copiadora, mas que gera um
acabamento que se aproxima da serigrafia e do estêncil. "Possibilitar um
trabalho bonito e viável é o principal objetivo de um editor
independente", define Isabel Simões.



A ideia de uma "rede" aplica-se, também, ao intenso diálogo travado
entre autores e editores. Como não há contrato e ninguém trabalha por
obrigação, impera a conversa. Ou, como batiza o produtor Reinofy Duarte,
"a prevalência do 'nosso'". "É preciso gostar da jornada, não apenas da
meta. Se não for assim, dificilmente se chegará ao livro", diz.



Duarte, em sociedade com a designer Suzana Rezende, criou os selos
editoriais Esquema 42 (o número é uma referência ao prédio onde mora) e o
Papel Real. O primeiro, dedicado à poesia, publicou Quarenta e uns
sonetos catados (2013), de Alex Simões. O segundo, voltado aos contos,
apresentou O autor do leão (2014), de Saulo Dourado. Os dois livros
saíram com uma tiragem de 220 exemplares e já estão esgotados.



"No caso do livro de Saulo, incentivado por ele próprio, deixamos que
cada um pagasse o que quisesse. Teve gente que deu 20, 50 reais. Apenas
uma pessoa pagou dois reais pelo livro", lembra. "Nós não encaramos o
que fazemos como uma atividade lucrativa. O objetivo é pagar os custos e
ainda repassar 20% do valor arrecado para os autores. Nas duas obras,
conseguimos fazer isso".



O próximo passo, antecipa, será lançar um selo dedicado às crônicas e,
quem sabe, organizar um livro com seus próprios textos, aqueles que
"ficam pegando mofo na gaveta". Como justificativa para a empreitada,
ele recorre a uma crença que funciona como um elo entre os editores
independentes.



"Livros se tornaram não só textos a serem lidos, mas também fonte de
certo prazer hedonista, como caixas de joias", diz. "Mas os livros têm
uma característica peculiar: nunca se esvaziam, repõem a si mesmos de
forma contínua".



Entre em contato



Sociedade da Prensa |  Feira de Publicação Independente | Editora Tiragem



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segunda-feira, 6 de julho de 2015

Exposição de arte Retalhos d’Alma





MARIA CECILIA CAMARGO
Retalhos d’Alma
07 a 21 de julho de 2015




Mostra de pinturas, desenhos, colagens, aquarelas e gravuras de Maria Cecilia Camargo explora a figura feminina



Com realização da Nossa Galeria de Arte (ngarteprodutoracultural.com.br), o Clube de Engenharia abre no dia 07 de julho, das 18 às 20 horas, a exposição “Retalhos d’Alma” da artista plástica Maria Cecilia Camargo. Com entrada gratuita, a mostra permanece aberta à visitação na Galeria de Exposições do Clube de Engenharia até o dia 21 de julho de 2015, de segunda a sexta das 10 às 18 horas.

Segundo Xanda Nascimento, Curadora da Nossa Galeria de Arte, a “exposição traça um recorte temático na produção artística de Maria Cecilia Camargo com obras que colocam em evidência seu fascínio pela figura humana, em especial o universo feminino”. Além de pinturas, desenhos, colagens, aquarelas e gravuras, a exposição também apresenta objetos do atelier da artista. Xanda Nascimento explica que “ao trazer para o ambiente expositivo elementos do seu processo criativo, Maria Cecilia compartilha a intimidade de sua poética plástica, possibilitando ao visitante observar não somente o conjunto das obras expostas, mas também o meio circundante e fértil onde as mesmas foram criadas”.


SOBRE MARIA CECILIA CAMARGO

Desde criança a curitibana Maria Cecilia Camargo demonstrou seu amor pela arte, frequentando a Escola de Arte da Biblioteca Pública de Curitiba. A partir da década de 70 passou a residir no Rio de Janeiro. No Rio, formou-se em Design de Interiores pela Universidade Cândido Mendes, que também contribuiu para sua iniciação artística através dos cursos de “História da Arte” com Cristina Sá e “Desenho Livre” com Marcos Chaves. A formação artística de Maria Cecilia é pontuada por instituições de excelência: Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV-RJ), com orientações de Carli Portella, Gianguido Bonfanti, José Maria Dias da Cruz e Orlando Mollica; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), com orientação de Aluísio Carvão; Museu Alfredo Andersen (Curitiba/PR), sob orientação de Viviane Zeni; e Solar do Rosário (Curitiba/PR), tendo como orientadora Lélia Brown. Especializada na figura humana, a artista passa temporadas dedicadas ao estudo deste tipo de representação em museus e galerias de Londres. Entre individuais e coletivas, Maria Cecilia Camargo expôs nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná.


Local
Clube de Engenharia
Avenida Rio Branco, 124 - 22º andar - Centro
Rio de Janeiro - RJ

+ Info
Nossa Galeria de Arte
(21) 3071-6864
contato@ngarteprodutoracultural.com.br
contato.ngarte@gmail.com