terça-feira, 13 de junho de 2017

12o. Louvor na AVL

Recebi meu 12o. Louvor na AVL (Academia Virtual de Letras António Aleixo). Estou muito contente.  Um por todos e todos pela poesia.


domingo, 11 de junho de 2017

Marcos Paulo Alfa



Marcos Paulo Alfa

Qual o limite da identidade?  A identidade pós-pós-moderna – pós-tudo – que nos arranca dos nossos lugares comuns e nos leva para encararmos nossa própria identidade – ou pseudo-identidade – em camadas e todas falsas – diriam alguns... Marcos Paulo Alfa tem a medida exata disto e tira partido deste fato em seu trabalho de graffiti nos muros da cidade bruta, bruta cidade...
As suas criaturas do graffiti podem ser aparentemente “fofas” e “engraçadas”, “pop” e “ideológicas”, “expressivas” e “frágeis”... Porém, em sua maioria, senão na totalidade, permanecem inclassificáveis.  Desde o elefante azul ciclópico de um olho só – ou são dois olhos? – que parece uma figurinha de desenho animado ou de HQ infantil; nada tem de infantil, e altamente gráfico; até o ursinho de pelúcia skatista e grafiteiro com requintes de 3D em luzes e sombras, misturado ao alto tratamento gráfico elétrico.   Passando pelo garoto azul com a TV na cabeça aberta, com o canal que para a sua programação na bandeira do Brasil – gigante eternamente adormecido – e que mais parece um zumbi... com um inconsciente totalmente colonizado e dependente das ondas midiáticas...  E pelo garoto geek azul de olho azul e óculos brancos e forma de gota, reduzido a esse mínimo de forma em gota espermatozóica com expressão deslumbrada e nervosa...  Sua influência nessa arte dos muros são a “galera antiga de Niterói e São Gonçalo”, “todos do graffiti.”
Alfa também é poeta e tem, entre suas leituras favoritas, Castro Alves.  Mas não para aí.  O seu conceito transgressor se estende ao vídeo, tanto como autor e editor quanto no cenário da atuação... A sua inserção artística transpassa o circuito de grafiteiros, artistas plásticos, poetas e atinge os meandros da criação e prática das artes visuais, realizando trabalhos ainda como designer gráfico e ilustrador.
Alfa é uma artista que impressiona pela jovialidade do estilo; desnudando realidades e desarmando olhares, criando suas críticas sociais sem concessões a A, B ou C, indo fundo com o dedo na ferida... Os valores invertidos da pichação não vêm para agradar, mas para incomodar e o graffiti, por sua vez, se apropria desta contradição para transformar o encantamento e a desconstrução em território do que é a arte, para além da “poluição” e “sujeira”, “mensagem cifrada” e “vandalismo”...
Qual será o limite da identidade contemporânea?  Este e outros questionamentos são embates centrais de Marcos em critérios mutantes na política, no social, no econômico, na cultura e no urbano, de um modo geral, sendo subversivo ao extremo... sempre...

Mauricio Duarte



Contatos com o artista:

terça-feira, 6 de junho de 2017

O conceito de Conan, o bárbaro


O conceito de Conan, o bárbaro

O conceito, a essência, o segredo, a tônica ou a mensagem que está por trás das narrativas de Conan, o bárbaro é algo muito peculiar e muito singular desta história. O que quer que queiramos ver, essa sensação nos toca profundamente porque exige muito de nós, sem no entanto, nos tolher em nada. Assume nossa herança biológica, nossos instintos primitivos, nossa força, nossa alma de um modo completo e total. Conan é um bárbaro, mas também é rei. Conan é mais civilizado do que todos os civilizados, mais honrado do que todos os civilizados, mais justo do que todos os civilizados. Ele não precisa da civilização; a civilização é que precisa dele.
 Na sua inteireza como ser humano prova que o indivíduo pode fazer a diferença quando acredita em si mesmo sem usar um falso verniz dito civilizatório, – que de valor real pouco ou nada possue – mas antes, usa dos instintos da sua força e da sua alma do seu próprio interior.

sábado, 3 de junho de 2017

Alegrias e Dores

Alegrias e Dores




Evitar ou fugir das dores e valorizar ou exaltar as alegrias não é ser hedonista; é natural, é humano.  Desde que não exageremos.  Mas não podemos esquecer que, o contrário, valorizar e exaltar as dores e evitar ou fugir das alegrias é fanatismo e/ou masoquismo.  Os dois extremos são negativos...
Mortificar a carne para a beatificação do espirito foi, durante muito tempo, valorizado pela sociedade que não tinha a laicidade como norte do cotidiano.  Desde meados da Idade Média num ápice, nesse sentido, até mais ou menos a Revolução Industrial quando essa valorização decaiu.  Hoje temos o hedonista como exemplo; as sensações de prazer em todos os lugares são os objetivos maiores de grande parte das pessoas.  O pêndulo foi para o outro lado.  Somos permissivos em excesso segundo muitos religiosos e, segundo alguns iluminados somos também “frágeis em demasia” ou até “patifes”, não aguentamos sequer 5 minutos de silêncio para meditação.  Nossa cabeça começa a coçar, estranhamos a posição do lótus – ou qualquer outra posição – nos lembramos de mil e uma coisas e tarefas que temos que realizar, nossa boca fica seca, enfim, tudo corrobora para que não consigamos meditar.  E comemos carne em profusão, fumamos, bebemos e nos enchemos de violência nas telas da TV e da internet.  Ou ainda, cuidamos de nossos corpos como se fossemos apenas isto, corpos, exaltando formas esculturais em horas de musculação ou práticas excessivas de exercícios que não nos deixam tempo para a oração ou para a meditação.
No entanto, não tem que ser assim...  O correto equilíbrio do cotidiano entre permitir-se e regrar-se é um alvo tão distante quanto próximo, dependendo apenas da nossa concepção de vida. Se tivermos um conceito fora da elevação de mente, fora da consciência de alma, certamente iremos cair em uma dessas armadilhas mais facilmente do que quem possui afinidade com estados elevados e com estados de consciência. Por isto, é uma virtude saber o tempo certo para cada atividade, desde a descontração em frente à TV até o recolhimento para reflexão ou meditação.
Alegrias e dores são ambas necessárias.  Se estiver sofrendo é o que precisa.  Se estiver alegre é o que precisa.  Cada momento precisa de nós em determinado clima, em determinado sentimento, em determinada ação.  Aceitar isto é saber que a existência nos dá tudo o que precisamos a cada momento, nem um instante a mais e nem um instante a menos.
Que saibamos estar em sintonia com essa habilidade dos sábios: reconhecer o momento e aceitá-lo como parte da infinita orquestração cósmica do divino.  Aproveitemos o momento e tiremos dele algo que possa ser positivo para a nossa vida, seja esse momento o que for.  Paz e luz.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)


Leia mais: http://www.divulgaescritor.com/products/alegrias-e-dores-por-mauricio-duarte/

sábado, 13 de maio de 2017

O jardim das aflições







Patrulha de cineastas de esquerda boicota filme “de direita” em festival, em guerra de patotas




RUTH DE AQUINO











Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma
flor do nosso jardim. Boicotam um filme no Festival de Cinema de
Pernambuco. E não dizemos nada. Na segunda noite, já não se escondem:
pisam o cineasta maldito, matam o contraditório, e não dizemos nada. Até
que um dia, o mais frágil deles entra sozinho na sala escura, rouba o
projetor e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E já
não podemos dizer nada.

É uma paródia do poema “No caminho com
Maiakóvski” (1968), de Eduardo Alves da Costa. Ajuda a ilustrar a
pataquada de diretores de sete filmes que retiraram seus curtas do
festival. Começaria no dia 23 de maio para celebrar 21 anos de vida. O
motivo maior do boicote foi um documentário de 81 minutos, O jardim das aflições,
sobre o filósofo de direita Olavo de Carvalho. Os revoltados afirmaram,
em nota, que a escolha “favorece um discurso partidário alinhado a
grupos que compactuaram e financiaram o golpe ao Estado democrático de
direito ocorrido no Brasil em 2016”. O festival foi adiado por causa da
debandada. A seleção era de nove filmes. Não seria isso o que se chama
diversidade?

“Não é possível ter debate, só entre esquerdistas”,
me disse o diretor Josias Teófilo. Ele revelou que sua vida ficou
“insustentável” em Brasília depois de resolver filmar Olavo de Carvalho.
“Grandes festivais disseram que eu não era bem-vindo e que nunca mais
eu conseguiria dirigir nada. Esse documentário foi feito com
crowdfunding porque seria impossível tentar a Lei Rouanet. Vivemos a
tirania da coletividade sobre o indivíduo. Quem está fora desse
establishment de esquerda só encontra má vontade no campo do cinema.”

A
patrulha, de esquerda ou de direita, não é só burra, primária e
insuportável. É perigosa. Favorece o obscurantismo, a ignorância. Na
chamada esquerda brasileira, há grupos numerosos, especialmente no PT,
que fazem distinção entre “a censura do bem” e a “censura do mal”. “As
ditaduras do bem”, como Cuba e Venezuela, e “as do mal”, de direita. É
de uma insensatez frenética e fanática a forma como tantos intelectuais
relativizam prisões, torturas, arbitrariedades, corrupção, censura,
preconceito sexual, força do Estado... desde que o regime seja de
esquerda.

“Esses cineastas que boicotaram o Festival de
Pernambuco conseguem ser piores que Mao e Hitler, que assistiam aos
filmes antes de censurar. Leonid Brejnev proibiu um filme de Tarkovski,
mas assistiu antes. Esse grupo aí não viu e não gostou”, disse o diretor
Josias Teófilo. “O jardim das aflições é muito mais metafísico
que político. Fala de Aristóteles e Platão. O documentário traz uma
mensagem a favor da individualidade. Discorre sobre a morte. Não tem
motivo esse desespero todo. Mandei mensagens simpáticas aos colegas
revoltados, agradecendo pela divulgação. Eu não podia pagar assessoria
de imprensa.”

Olavo de Carvalho tem 70 anos, vive hoje em
Petersburg, uma cidade americana de 30 mil habitantes com 80% deles
negros. Dá curso on-line de filosofia para 3 mil alunos. É apontado como
um dos mentores do conservador Movimento Brasil Livre (MBL), embora
recuse esse título e critique “a direita emergente”. É fervoroso
opositor do PT e de Dilma. E crítico do governo Temer, que considera
ilegítimo. “Como vice, Temer não tem rabo preso, ele é um rabo preso”,
disse ao repórter João Fellet, da BBC Brasil, em sua casa.

Militou
no Partido Comunista durante a ditadura, foi amigo de José Dirceu,
escondeu armas. Já se envolveu com esoterismo e astrologia. Mas se
aproximou da Igreja Católica. Hoje, reza antes de dormir. Mantém uma
espingarda sobre a cama para defesa pessoal e tem 30 rifles de caça.
Olavo de Carvalho é um provocador, um polemista, a favor da “democracia
plebiscitária”.

Uma das diretoras que se retiraram da mostra em Pernambuco, Gabi Saegesser, do curta Iluminadas, disse que “O jardim das aflições
vai contra qualquer possibilidade de diálogo”, ao falar sobre “um dos
maiores representantes do conservadorismo de direita”. Para a cineasta, a
presença do título na programação “é como se o festival desrespeitasse a
visão política e social de outros filmes”. Não é só Olavo o alvo do
boicote. Há outro filme, o longa de Rodrigo Bittencourt sobre as origens
do Plano Real. Entre os diretores rebelados, estão Savio Leite, Cíntia
Domit Bittar, Eva Randolph, Leo Tabosa.

Na arte, como na política
e na vida, o Brasil passa por um momento delicado de torcidas e patotas
que urram a favor e contra, distorcem a realidade e tentam calar o
outro com discurso de ódio ou de vitimização. Tapar os ouvidos e os
olhos a quem discorda de você é um atestado de fraqueza e autoritarismo.
Você pode ou não acreditar que Lula não tem nenhuma influência sobre o
PT. A cabeça é sua ainda. A aflição também.





fonte: ÉPOCA

sábado, 6 de maio de 2017

Rosario Vidal Ferreño na Coluna Visuális do Portal Sinestesia

Rosario Vidal Ferreño

Visite o Portal Sinestesia!
Em Visualis, eu, o colunista Mauricio Duarte, apresento Rosario Vidal, designer de moda como formação e profissão, que incorpora o universo da estética corporal, do fashion e do styling no seu trabalho artístico.
Leia mais!




Rosario Vidal Ferreño

                  Sensibilidade em camadas de artesania poética...  O estilo amplamente usado a serviço do gráfico-pictórico que transpassa em muito a representação... e chega na re(a)presentação do real de modo único, especial...
           Rosario Vidal Ferreño trabalha com fluidez e naturalidade; com suavidade e liberdade...  Sendo designer de moda como formação e profissão, a artista incorpora o universo da estética corporal, do fashion e do styling no seu trabalho artístico.  A persistência do tema dos retratos gráficos de moças de frente e de perfil nos mostra e nos demonstra sua combatividade no terreno incógnito da beleza e no terreno árido do sensível...  A beleza e o sensível são da ordem do efêmero e, ao mesmo tempo, da ordem do que permanece, senão na realidade, ao menos na memória da retina, cristalizada no momento...  A potência do momento é o que Rosario busca e, nessa busca, vale fechar os olhos para ver melhor.  Como, aliás, na sua marca registrada, sua identidade visual: o olho de mulher fechado, que revela por não ver o que há, mas o que está por trás, o que se esconde, o que potencializa o oculto...  Como num movimento interior que nunca cessa.
            O traço das suas peças remetem a Egon Schiele, as cores a Matisse e o tratamento geral da composição, talvez, a Miró.  Mas sua arte é singular, no sentido do sentimento do que se mostra e do que se esconde, num movimento de repercussão amplamente dinâmico do olho que transmite suas impressões da vida interior da mulher.  Sua arte está na mola propulsora do cotidiano feminino.
          A artista valoriza a natureza como aspecto primordial e entende a arte como coisa de nós, seres humanos, do que temos de melhor como seres humanos.  Daí as flores, paisagens e pássaros...  Natural da Galícia, Espanha, Rosi Vidal trabalha com a emoção como matéria-prima. A emoção da arte que se desdobra como vida, como estética, como força e vitalidade naturais.  Transformação do natural que revela o que se esconde... Pura exaltação do olhar...
                  

Contatos com a artista:
E-mail: rosivife@gmx.es

segunda-feira, 1 de maio de 2017

O poder criativo e criador da arte

O poder criativo e criador da arte




O mundo precisa de arte!  O mundo precisa de arte... O mundo precisa de arte?  A sentença pode ser dita destas três formas, a afirmativa, a subjetiva e a interrogativa ao mesmo tempo e, nas suas três formas, suscitar inquietações igualmente válidas e relevantes para o nosso mundo na atualidade.
Por que se dá esse fenômeno?  Porque a modernidade líquida como dizia Bauman, repleta de “massacres e assassinatos recíprocos, do tipo hoje visto entre sunitas e xiitas no Iraque (...)visto ontem mesmo entre sérvios, croatas, bósnios e muçulmanos do Kosovo (...) um ciclo aparentemente interminável de retaliações assassinas, (...)” não quer sensibilidade, não quer poética, não quer suavidade...  À edição original inglesa de 2008 do livro A Arte da Vida do filósofo Zygmunt Bauman podemos acrescentar todos os horrores da guerra da Síria com massacres entre rebeldes e governo ditatorial quase que ininterruptos hoje em dia.  O terror do Estado Islâmico também ataca impiedosamente, sem rosto, em caminhões usados como armas contra a população civil, indiscriminadamente; quando não se utiliza de meios mais sofisticados como bombas e armas de fogo. 
Também por outros motivos.  Porque na contemporaneidade artistas como Robert Rauschenberg, coloca à venda folhas de papel cujo conteúdo são desenhos feitos no passado por De Kooning (famoso artista norte-americano) dos quais ele havia eliminado quase todos os traços à lápis.  As marcas do apagamento eram as marcas artísticas com as quais se dava uma especulação bem-sucedida através de uma... obra de arte...!?!!?
E daí?  Daí que as marcas da modernidade, como assim eram chamadas pelos eruditos críticos de arte do passado, hoje almejam desaparecer, o efêmero transformou-se na aclamação maior, o passageiro, aquilo que não permanece...
Mas há implicações bem concretas desta realidade no nosso dia-a-dia... A ética, a moral, a bondade, a compaixão parecem ter sido realmente apagadas da existência.  Tem-se medo de ser virtuoso em muitos momentos e isto vai além de qualquer moralismo; é um fato. E o que ressurgiu disto não dá conta de transcender, de transformar e nem, muitas vezes, de dialogar com os aspectos concretos do que ocorre hoje.  Muitos afirmarão que o próprio Friedrich Nietzche (1844-1900)já dizia que “Só a música doentia dá dinheiro hoje.” E na época dele não existiam os batidões de funk, por exemplo...  Pelo menos não da forma como conhecemos em nossos tempos...
Nem todo expressionismo abstrato, nem todo método de trabalho colaborativo experimental de pintura, nem toda encenação ou filmagem de evento artístico podem dar conta da nossa real falta de paradigma, referência e/ou modelo atuais... Talvez, e muito provavelmente, seja uma qualidade da nossa época e não um defeito.  Como dizia Krishnamurti, “a verdade é território inexplorado.” Mas se é uma qualidade, devemos ter em mente que a sensibilidade é objetiva e é por ela que se chega a uma verdadeira compaixão, um verdadeiro “pôr-se no lugar do outro”, um importar-se com o outro mais do que apropriar-se do outro como mercadoria, o que vem sendo feito há muito tempo pelo modo de produção capitalista em todas as suas vertentes neo-liberais de várias formas.
As trocas de mercado clássicas perderam muito de seu valor ou de sua objetividade palpável no que se refere à arte nos nossos dias. A própria definição de arte é reformulada e reestruturada várias vezes ao longo da história recente.  O que não pode e não deve se perder é o sensível, o poético, o sublime, a vivência do sentimento, o amor, sem os quais não somos humanos, somos apenas máquinas.  Sem os quais, o poder criativo e criador da arte não se estabelece.  Paz e luz.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)

Referências:
Bauman, Zygmunt . A Arte da Vida . Editora Zahar . Rio de Janeiro, 2009.
Mattick, Paul; Siegel, Katy . Arte & Dinheiro . Editora Zahar . Rio de Janeiro, 2010.



Leia mais: http://www.divulgaescritor.com/products/o-poder-criativo-e-criador-da-arte-por-mauricio-duarte/

domingo, 23 de abril de 2017

Relações de contato da arte-enlevo



Relações de contato da arte-enlevo
A arte visionária pretende lançar mão de visões com experimentos em estados não-ordinários de consciência (ENOC) traduzidas para as artes visuais. A literatura do maravilhoso pretende mostrar o mágico e o místico com a rica realidade numa epifania individual. Qual a relação entre essas diversas tendências – e muitas outras – e a arte-enlevo?
A resposta, seja ela qual for, deve se situar num lugar de meio termo entre o transe meditativo e a imaginação espiritual sem ter tais elementos como definidores de sua poética e sem negá-las ao mesmo tempo. A rigor, a arte-enlevo possui relação direta ou indireta com a espiritualidade. O espiritualismo ou a espiritualidade evoca sensações, devoções e práticas muitas e desemboca, artisticamente, em estados poéticos vários, com n matizes, desde o misticismo xamânico até o pietismo religioso, de modo amplo.

De modo que, a arte-enlevo pode suscitar realidades no terreno da arte visionária e do maravilhoso, sem ser ou tornar-se, propriamente, arte visionária ou literatura do maravilhoso, sendo mais voltada a uma experiência estética que, generalizante ou generalista, por natureza, não se atêm a uma independência ou subjetividade própria, inerentes. Ao contrário, pode se juntar e/ou se plasmar com outras tendências – desde o anti-design, na comunicação visual até o neoísmo na experimentação artística e cultural; desde o expressionismo abstrato até a literatura fantástica – sem deixar de apresentar ou demonstrar sua preocupação maior em elevar mentes, consciências e espíritos. Sendo esta característica presente como a mola propulsora ou a pedra de toque do processo criativo ou ainda, o alvo a ser alcançado no resultado final da sua prática e teoria. Em qualquer desses três momentos a arte-enlevo propõe não o materialismo ou o espiritualismo, mas, em essência, um ponto de contato entre o planejamento (projeto), prática (práxis) e teoria (conceito) no qual a arte possa ser plenamente vivenciada numa apreciação rica e elevada – necessariamente rica em desdobramentos e elevada em apreciação – que possa torna-la próxima do mid-cult, do cult, do erudito e da pop art, sem ser ou tornar-se, totalmente, qualquer uma dessas classificações.
Também não será arte objetiva ou arte sacra, no sentido espiritual do termo e nem arte-terapia ou arte-educação porque não possui compromisso com as agendas terapêuticas, espirituais ou educacionais de modo estrito. No entanto, apresenta um víés de exploração filosófico que, se não é açambarcante, em termos totalizantes, é, ao menos, realizado em primeira instância, a partir desse pensamento: dos “porquês”, dos “comos”, dos “ondes” e dos “quandos” no terreno da apreciação que suscita realidades ou que possa suscitar realidades questionadoras e de impulso ao elevar de apreciações antes ocultas e/ou ausentes do rol de percepções do homem e da mulher contemporâneos.
Por exemplo, porque não buscar compreender, artisticamente:
. O conceito de virgindade como sendo o olhar do ato amoroso (sexual) como a primeira vez e não como a ausência de prática amorosa (sexual).
. O conceito de alma-mundo como experienciar do planeta Terra do qual fazemos parte inextricavelmente.
. O conceito de honra, dignidade e valores como sendo inerentes aos seres humanos e não como “adendos” que nos são negados, muitas vezes, no mundo contemporâneo.
. O conceito de beleza, bondade e verdade como poética da vida e não como ideais que nada significam – ou significam muito pouco – para o cidadão médio e mesmo para muitas elites.
Os exemplos citados são considerações pessoais minhas e podem, logicamente e subjetivamente, variar conforme a individualidade de cada artista.
Tais conhecimentos ou considerações ciclicamente desaparecem ou reaparecem das percepções humanas de tempos em tempos e podem ser mais facilmente ou mais dificilmente acessadas por estéticas artísticas e culturais, por pensamentos filosóficos e morais ao longo das épocas. A arte-enlevo propõe a permanência de temas, estilos ou tendências de atitudes “fora de moda” ou “fora de contexto” no arsenal estético artístico, independente da classificação ou denominação da vertente utilizada, mesmo se tais atitudes e/ou pensamentos não forem diretamente ou claramente identificáveis em determinada obra de arte.
Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)