O site Arca Literária entrevistou nosso associado
Mauricio Duarte
1. Maurício, para nós é um grande prazer entrevista-lo. Conte-nos quem é Mauricio Duarte??
O prazer é meu, Ceiça. Uma iniciativa
como a sua, da Arca Literária, é fundamental para todos, sejam
profissionais do meio literário ou não.
Eu sou um meditador. Medito sempre,
tanto na ampla acepção da palavra que para nós, ocidentais, significa
ficar sentado na posição de lótus entoando AUMMM ou alguma coisa do tipo
no estereótipo do oriental, quanto refletir a respeito de um assunto,
traçando conjecturas como entende-se a palavra no mundo erudito das
nossas terras do Ocidente. Sou um neosanyasin e católico, ao mesmo
tempo, fazendo o caminho do Tratado de São Dionísio segundo o OSHO.
Dedico meu tempo, exclusivamente, a escrever e fazer arte desde 2008
mais ou menos. Já tinha escrito dois mini-romances durante o colégio,
(inclusive tirando o 2o. Lugar num concurso de literatura do Colégio
Alcântara, época em que eu era aficionado das histórias em quadrinhos de
super-heróis) mas depois que entrei na faculdade parei de escrever. Me
formei em desenho industrial, programação visual e passei dez anos
atuando na área como designer e ilustrador. Retomei meus escritos em
2003 mais ou menos. Não estando satisfeito com a minha carreira, embora
eu tivesse realizado bons projetos em design, parti para a carreira
artística e literária. Esporadicamente eu atuo como ilustrador também,
hoje em dia.
2. Qual seu estilo literário?
Meu estilo literário é bastante
eclético. Eu tenho a tendência para uma poesia de desassossego e, às
vezes, mística, como costumo dizer e uma prosa de especulação
psicológica e, até certo ponto, filosófica com pitadas místicas também.
Meus romances e contos seguem essa linha, como por exemplo, o conto
Apartamento 606 . questionamentos e o romance Os Arcanos que ainda está
sendo escrito. Meus poemas passaram por uma fase bastante ácida e
crítica e agora estou retornando a um estilo mais harmonioso, mais
melódico, por assim dizer.
3. Qual seu público alvo?
Meu público-alvo é o mais amplo
possível. Já escrevi para crianças como, por exemplo, O menino xadrez e
Joana, a filha do Universo. Mas escrevo, mais frequentemente, para o
universo adulto mesmo, tanto em prosa quanto em poesia. Quem gosta de
literatura que faça pensar, refletir e questionar o mundo à sua volta é
meu público-alvo. Quem apenas aprecia uma boa história ou gosta de
poesia bem elaborada, também.
4. Quais seus autores e estilo favoritos?
Gosto muito do estilo do Paulo Coelho.
Acho injustas as críticas que atribuem a ele, mas enfim, não se pode
agradar a todos. A questão mística me prende bastante, mas os livros de
F. Scoot Fitzgerald, como O Grande Gatsby e Suave é a noite são muito
bons, até por isso, gostei bastante do livro O vencedor está só, do
Paulo Coelho, que foge um pouco da espiritualidade e adentra as relações
do mundo do show bussiness e universos similares, como dos milionários.
Também adoro Umberto Eco (O nome da rosa e Baudolino, por exemplo)
embora eu mesmo não faça nada parecido com o que ele faz. Em poesia,
gosto de Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles, bem como Maria
Regina Moura, que foi minha professora. Estou descobrindo a poesia de
Carlos Nejar e Paulo Leminski, lindíssimas as duas.
5. O que te motivou a escrever.
Tudo começou para mim com as
histórias-em-quadrinhos de super-heróis. Foi através delas que tomei
gosto pela leitura desde cedo, antes até da alfabetização no colégio.
Depois descobri os livros quando estava na biblioteca do externato ou
quando era passado um livro de literatura para a matéria de literatura.
Machado de Assis foi uma descoberta, bem como Ana Maria Machado e Stella
Carr. Quando já estava no colégio Alcântara li George Orwell em
Revolução dos bichos e aquilo mexeu comigo até os ossos. Hoje, o que
mais me motiva é a esperança de purgar as minhas dores e as minhas
ansiedades (da vida, dos miseráveis, da morte, de tudo que me cerca,
internamente e exteriormente, enfim) num texto literário. Embora eu ore
todo dia e medite quase sempre, não vejo a religião como algo eficiente
para dar sentido à vida nesse século 21. A literatura e as artes estão
tomando esse lugar que foi da religião. O cotidiano das pessoas é
dessacralizado há muito tempo e isso afeta a todos. Apesar de eu ter me
tornado neossanyasin, isso também me afeta. Embora eu, eventualmente,
faça contribuições para associações e rádios católicas, ouça e leia essa
mídia católica, faço isso a título de desencargo de consciência com
minhas origens católicas e não considero mais eficaz nenhuma instituição
religiosa nem organização mística, posição aliás que tomo a partir da
própria atitude de mestres espirituais como Krishnamurti e Osho, por
exemplo. Onde declaram que não possuem nenhuma organização em torno
deles e que a verdade é território inexplorado.
6. Fale-nos um pouco sobre seus livros.
Em Conspiração Literária . antologia de
contos neoístas, os personagens são jogados nas “pequenas conspirações
dos seus próprios cotidianos” nas quais, um dos focos abordados pela
narrativa é a literariedade de certas expressões idiomáticas ou
expressões universais ou, ainda, expressões próprias de um grupo
particular, que é trazido à tona, pelo autor. Nos contos, os personagens
são instados a descobrir conceitos antiquíssimos como o tempo, como o
de Hermes Trimegisto, “O que é acima é como o que é abaixo.” nas suas
jornadas pela identidade individual que são levados a fazer.
Ao final de cada conto, temos a nítida
impressão de que teorias da conspiração não existem, ou que, se existem,
são parte dos nossos fantasmas de todo dia, das nossas conspirações de
todo dia, inclusive a conspiração das letras. Afinal como diz o próprio
Luther Blisset, ou um deles (muitos são o mesmo Luther Blisset):
“Os escravos do século XXI não precisam
ser caçados, transportados e leiloados…através de complexas e
problemáticas redes comerciais de corpos humanos. Existe um monte deles
formando filas e implorando por uma oportunidade de trocar suas vidas
por um salário de miséria. O “desenvolvimento” capitalista alcançou um
tal nível de sofisticação e crueldade que a maioria das pessoas no mundo
tem de competir para serem exploradas, prostituídas ou escravizadas.”
O livro O teu silêncio gritou .
antologia de poesia divide-se em Descobrindo o místico: Descobertas
literárias através de poemas com um lado místico e espiritual.
Descobrindo o inusitado: Uma volta ao mundano para pegar fôlego. Poemas
que tem como fio condutor um mergulho no mundo. E Descobrindo o
infinito: O retorno à transcendência; agora em aceitação tanto do seu
lado material como do espiritual em poemas de cunho universalista.
7. Mauricio o que mais lhe inspira a escrever?
Como eu disse, a literatura tem a
finalidade (se é que tem alguma finalidade) de dar sentido à vida ou de
contar uma boa história. Esse fim pode ser alcançado de muitas maneiras,
dentre elas, estabelecendo contrastes com a realidade ou sendo um
espelho da realidade. Eu adoro fazer as duas coisas, porque percebo que
as pessoas, hoje em dia, buscam mais do que uma simples história nos
livros, elas buscam concatenar suas próprias realidades com uma
realidade universal, se posso dizer, mística, através da literatura.
8.
Fale-nos sobre o atual momento literário do Brasil. quais as principais
dificuldades que você encontra, hoje, para publicação de livros?
Atualmente há muita oportunidade para
publicações de novatos, embora essas oportunidades sejam, em sua
maioria, sendo realizadas com financiamento do próprio bolso do autor.
Isso não é justo, porque escrever é um trabalho, como outro qualquer e
não uma vaidade, como querem alguns. Depois do sucesso dos Harry Potter e
dos Cinquenta tons de cinza, que a meu ver, não são negativos como
conteúdo, mas também não acrescentam nada de positivo – apenas cobrem
uma lacuna, uma necessidade do mercado – as livrarias inundaram-se de
títulos do exterior e isso tira muita oportunidade dos nacionais, mas em
geral, há espaço para todos.
9. Quais são seus projetos literários? teremos novidades para 2014? Quais?
Estou atualmente participando do
Desafios dos escritores, programa do Núcleo de Literatura da Câmara dos
Deputados de Brasília com organização do professor Marco Antunes. O
desafio é escrever um romance que se passa num só dia (Para mim basta um
dia) em alguma cidade do Brasil. A minha cidade é Juazeiro do Norte e o
romance chama-se Os arcanos. A história gira em torno de um romeiro
caminhante de nome Nonato que abandona a família para viver a sua fé em
plenitude e chega a Juazeiro do Norte. O viajante vai viver, nesse dia,
uma experiência mística com Nossa Senhora e vai estar com pessoas que o
levarão a um êxtase espiritual. Encontrar-se-á com um padre atrelado aos
rituais e às aparências mais do que ao verdadeiro sacerdócio. Com uma
prostituta que está devendo ao cafetão uma quantia que não pode pagar.
Com um negro umbandista descendente de escravos. Ao fim do dia estará
frente a frente com a sua própria verdade e na procissão de Nossa
Senhora das Candeias tornar-se-á alguém muito além de um simples devoto.
10. Quais os maiores problemas encontrados pelo autor na publicação de seu livro?
Hoje em dia eu publico através do Clube
de Autores, sob demanda. As dificuldades são muitas, porque o valor do
frete é muito alto. Além disso, as pessoas raramente compra autores
novatos, querem sempre os medalhões, mas vamos trabalhando que, no fim,
tudo dá certo.
11. Dê uma dica para os jovens escritores nacionais que querem ter seus livros publicados.
A minha dica é: Não tenha pressa em
publicar. Não sinto vergonha por nenhum de meus primeiros textos, mas
se, hoje, fosse os reescrever, faria bem diferente do que estão. Enfim,
trabalhe muito, leia muito e quando for a sua vez de publicar por uma
grande editora – sem ter financiar do seu próprio bolso, pequenas
tiragens, por exemplo – agarre a oportunidade.
Mauricio Duarte
fonte: http://www.arcaliteraria.com.br/mauricio-duarte-2/
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