SAL Entrevista
Alexandre Martins, é brasileiro, nascido em São Gonçalo, estado do Rio de Janeiro.
Graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, é, desde 1992, proprietário do Estúdio Alexandre Martins, produzindo desenhos-animados para o Brasil e Exterior.
Animador, escritor, designer, especialista em Arte Sacra, programador visual, consultor de Leis de Incentivo, webdesigner (Joomla), cineclubista e quadrinista.
Membro da ASIFA – Associação Internacional de Cineastas de Animação.
Fundador e presidente da SAL – Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo.
Graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ, é, desde 1992, proprietário do Estúdio Alexandre Martins, produzindo desenhos-animados para o Brasil e Exterior.
Animador, escritor, designer, especialista em Arte Sacra, programador visual, consultor de Leis de Incentivo, webdesigner (Joomla), cineclubista e quadrinista.
Membro da ASIFA – Associação Internacional de Cineastas de Animação.
Fundador e presidente da SAL – Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo.
1- Obrigado pela
oportunidade cedida, Alexandre. Onde você nasceu e onde mora atualmente?
Agradeço a você, Leo, a oportunidade de mostrar um
pouco de minha vida para nossos amigos e fãs de nosso trabalho. Nasci e ainda
moro na mesma casa, em São Gonçalo, RJ. Sou "gonçalense da gema"!
2- Qual sua formação, Alexandre?
Leo, sou bacharel em Artes pela Escola de Belas
Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Meu curso, de Gravura, foi
criado por decreto do Rei D. João VI no século XIX. É o mais antigo curso de
Nível Superior do Brasil, junto com Pintura e Escultura. Além disso, tenho
alguns Cursos de Extensão Acadêmica e participei de vários outros para
aprimorar e atualizar minha formação. Fui ainda frequentador das aulas de
Mestrado em Artes Visuais na minha Escola.
3- Como surgiu o gosto pelo desenho?
Quando nasci (risos). Minha mãe dizia que eu já
rabiscava as paredes de casa quando usava fraldas! Só sei que era o melhor da
minha turma nas aulas de desenho artístico na escola, aos 4 anos de idade...
4- Quem são os seus ídolos (autores) no desenho?
Ih! São vários! Mas posso elencar alguns, como
Frank Frazetta, Alphonse Mucha, John Buscema, Moebius... Nos quadrinhos há Carl
Barks que desenhou o Pato Donald por vários anos (os Anos de Ouro), sou fã de
carteirinha do Super-Pato...
5- Como foi a sua infância? Do que mais gostava de
brincar?
Desenho, claro! Não era uma criança reclusa, mas
preferia desenhar a tarde toda a jogar bola todo o dia (a mesa de mármore
ficava manchada de tinta). Além disso, o conteúdo da televisão da época era
muito melhor do que temos hoje e os filmes eram muitas vezes inspiração para
meus personagens e suas histórias.
6- Quem eram os seus personagens e heróis
preferidos?
O Topo Gigio (famoso nos anos 1960 e 1970) o
Super-Pato (alter-ego do Pato Donald), as séries animadas de Herculóides,
Johnny Quest, Space Ghost... Havia os seriados de ficção científica
"Espaço 1999" (que revi atualmente) e os programas do Capitão Aza,
bem como o programa Clube do Mickey (uma das poucas vezes que viamos os
desenhos clássicos da Disney no Brasil). Até hoje sou fã do Pelezinho, do Maurício
de Souza...
7- Qual fábula infantil mais se identifica?
Para quem, como eu, leu toda a obra do "Sítio
do Picapau Amarelo" de Monteiro Lobato, essa é uma pergunta difícil.
Monteiro Lobato me mostrou um Brasil sertanejo bem de acordo com minha infância
em São Gonçalo. A identificação foi imediata. Não sei para as crianças que
moram em apartamentos, mas para minha infância Lobato falava a nossa língua.
Quando foi transmitida a série pela televisão nos anos 1970 foi ótimo para
todos nós. A partir de Lobato comecei a ler toda a literatura fantástica
brasileira, os contos, lendas, mitos, etc. Sugiro isso para todos: deixem as
telas e procurem os livros.
8- Fale um pouco pra gente sobre o Samuca e também
sobre os coadjuvantes Samuela, Saíra, Guiga e professor Tibaldo.
Mas não é Samuela, é Samira! (risos) É a
amiga-namorada-vizinha do Samuca. Eles vivem em Brejo Alegre e são praticamente
vizinhos de todos. As semelhanças entre os dois são tantas que dizem que
parecem irmãos. O Saíra é um pássaro brasileiro, com vocação de
esportista-marombador-radical. Esporte é com ele. O Guiga é um gorila
tranquilão, pacato, que se torna bom amigo quando precisamos de uma força. o
Professor Tibaldo é outro pássaro (um "papa-mosca real") que é
formado em várias áreas do conhecimento. Dizem que ele coleciona diplomas. Mas
é o cérebro da cidade. Vocação nata para o ensino e pedagogia.
9- Alexandre, você já teve alguma experiência
pessoal com sapos? Em quem se inspirou? Qual o seu personagem sapo preferido?
O Samuca foi inspirado não num sapo real mas num
sapo de pano e areia. Ninguém sabia disso até agora, mas era um sapinho que eu
tinha quando criança que seria utilizado como peso-de-papel mas se tornou meu
mascote. Os personagens-sapos que gosto são os da antiga série animada
"Cobra Azul" dos Estúdios Depatie-Freleng. O Sapo Kako do antigo
programa "Vila Sésamo" ("Sesame Street", nos EUA) era muito
legal também. Dos sapos atuais prefiro o Samuca! (risos)
10- Por que o nome Samuel/Samuca? Há alguma
característica nele em que você se identifica?
Inicialmente chamava-se Samuel, mas por sugestão
de Dona Lourdes (fundadora da Intercontinental Press - representante do
Garfield e do Snoopy no Brasil) ficou Samuca. Até ficou melhor, pois muitos
perguntavam se ele era judeu, pelo nome. Sabe, gosto do seu tino por aventura:
ele topa tudo, não tem medo de nada. Não quer dizer que não se dê mal, mas ele
"dá a volta por cima" e acho isso uma lição para todos.
11- Mesmo existindo outros personagens sapos
(Caco/Kermit [Muppets, de Jim Henson], Froggy (games), Naveen (A Princesa e o
Sapo [Disney]), Sapo Xulé [Tec Toy], além dos casais sapos de pelúcia, também
muito carismáticos, você acha que sempre vai existir repulsa aos sapos pelas
mulheres?
Acho que as mulheres hoje em dia nem sabem o que é
um sapo! (risos) Vejo a sociedade de hoje muito urbana. Se entrar um sapo em
uma casa, acho que elas colocam num vidro e tentam admirá-lo, pois não veem
natureza por perto...(risos) Mas nada disso: a arte é fazer de um animal um
bichinho fofo que possamos te-lo como mascote, como amigo. É fantasia.
12- O que você acha do quadrinho nacional?
Vejo o pessoal de minha idade um tanto atônito com
as novas tecnologias (nem tão novas assim, pois nem se usam mais disquetes) e
ainda procurando um local entre o clássico, o papel-e-lápis e as "nuvens
de informação e dados". Quanto aos novos desenhistas nada sabem do
clássico e querem fazer uma pichação na Internet. É como os pichadores que
sujam os muros porque não sabem grafitar mas querem fazer presença. Se os jovens
aprendessem as técnicas clássicas do desenho e fizessem divulgação na
"nuvem" seria ótimo para todos. Mas há grandes desenhistas que
entenderam isso, "coroas" e "guris", que fazem do quadrinho
nacional uma arte mundial.
13- As tiras do Samuca são publicadas e divulgadas
virtualmente e ele também já estrelou algumas de suas produções autorais. Há
algum novo projeto para inserção dos seus personagens no mercado de quadrinhos?
Pensamos em livros ilustrados com histórias do
Samuca para deleite dos seus fãs. Já houve pedidos nesse sentido. Dependendo da
história será ou uma história com ilustrações ou quadrinhos mesmo. Este ano
ainda teremos novidades do Sapo.
14- Alexandre, sabemos que você também é animador.
Quantos curtas metragens autorais já produziu? Quais os que mais gostou de
participar?
Ih, deixei de contar! Mas nossos fãs merecem uma
retrospectiva. Está em nossos planos para breve um DVD com a produção do
Estúdio Martins nestes últimos anos. Gostei muito de um trabalho que fizemos
para uma campanha do Canal Futura (canal 18, UHF, são Gonçalo e região) que se
entitulava "São Gonçalo Pra Frente". Consistia de animações de curta
duração dando lições de cidadania tendo ao fundo cenários de nossa cidade. Foi
a primeira produção audiovisual da região a usar cenários gonçalenses. Foi bem
divertido.
15- Você faz alguma pesquisa para compor os
movimentos e trejeitos de seus personagens?
Leo, o verdadeiro artista é na verdade um grande
observador. Os atores observam o mundo e as pessoas a sua volta e guardam em
suas memórias. Daí para fazer uma caracterização de personagem é um pulo. O
animador é o mesmo: em todo seu personagem tem algo que ele viu ou vivenciou em
sua vida cotidiana. Não precisa fazer pesquisa: a nossa vida já é um grande
referencial. Quem não viu alguém correndo atrasado para o ônibus e pensou que
fosse uma gazela? (risos)
16- O que você acha do mercado de animação no Brasil?
Você pensa em uma série animada para o Samuca?
O mercado brasileiro é imenso. É do tamanho de
nosso Brasil: continental. Com a transmissão via rede, mais e mais pessoas
buscam conteúdo. Hoje temos uma grande falta de conteúdo. Mas conteúdo
"com conteúdo", perdoe-me a redundância. Sei de muitos humoristas que
"fugiram" para a Internet pois não tinham espaço nas redes de TV. Há
canais populares no Youtube de humoristas brasileiros que tem mais
visualizações que muitos programas da televisão, aberta ou fechada. E tudo ao
alcance até de celulares. O problema está na falta de mão-de-obra qualificada.
Imagine isso: antigamente o problema era falta de dinheiro e excesso de
profissionais e e hoje em dia há dinheiro mas falta gente. Um paradoxo. O
Samuca por enquanto tem somente filmes autorais, mas a diversidade de canais de
mídia em locais de visualização como o Youtube, Vimeo e outros facilita a
produção de pequenos esquetes. Assinem o canal do Estúdio no Youtube e fiquem
antenados!
17- Você pretende ver seus personagens em produtos
licenciados, assim como a Disney e Turma da Mônica?
Licenciar seu personagem é o sonho de todo
animador ou desenhista desde que Walt Disney fez Mickeys de pelúcia nos anos
1930. Maurício de Souza construiu seu império a partir do licenciamento do
elefante Jotalhão para uma massa de tomate. Nossos personagens estão
disponíveis para um licenciamento. Nada há de mal nisso. A arte é feita para
embelezar ainda mais o Mundo.
18- Você tem algum ritual para se inspirar? Segue
alguma disciplina para cumprir seus projetos pessoais artísticos?
Minha inspiração vem até dormindo! (risos) Faz-me
falta um caderno de desenho ao lado todo o tempo. Anoto tudo e desenho tudo que
posso e penso. Já levei para casa toalhas de papel de restaurante com desenhos
de idéias minhas que fiz enquanto jantava. A minha disciplina é a máxima "nem
um dia sem uma linha", frase do escritor romano Plínio, que por sua
vez dizia que era a disciplina do pintor Apeles.
19- Você já teve algum momento de
"vazio"? Como faz para superar?
Já, sim. Foi nos primeiros tempos do Estúdio.
Nenhuma idéia vinha! Nada mesmo! Superei com a ajuda de Deus mesmo. Foi uma
graça divina: de repente voltei a desenhar qualquer coisa, as imagens vinham,
as idéias começaram a brotar de todo o lado e continua até hoje, graças a Deus.
20- Há alguma novidade que possa compartilhar
sobre o Samuca?
Uai! Já falei tantas! (risos) mas recomendo que
acompanhem nosso Twitter, nossas páginas (no Facebook e nossa oficial) e
assinem nosso boletim, o "Casa de Sapo". Assim não tem como não estar
atento à novidades...
21- Alexandre, você também é professor de desenho
e também já discipulou muitos animadores em suas produções animadas. Qual
conselho você daria para um ilustrador que pretende seguir na mesma carreira
artística?
Humildade e trabalho. Humildade para saber que sempre há os que sabem
mais do que ele e outros que tem mais experiência. Devemos sempre aprender,
mesmo com os erros dos outros. Humildade significa saber quem somos e qual
nosso lugar no mundo. Trabalho porque, segundo o inventor Tomas
Edison, "um gênio se faz com 1% de inspiração e 99% de transpiração".
Obrigado, Leo, pela oportunidade de falar com todos os amantes do desenho e da
arte. O Sapo Samuca manda um abraço!
Quer conhecer mais sobre o trabalho artístico de Alexandre Martins? Entre em contato com ele:
Facebook: Estúdio Alexandre Martins
Entrevista por Leo Vieira
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