quarta-feira, 30 de abril de 2014

Coadjuvantes Especiais


Há uma frase muito explorada em exemplos de roteiros que é que "não existe piada ruim e sim, piada mal-contada". Realmente, isso é verdade. Todo o tipo de estereótipo já foi fartamente recontado e para não ocorrer um desgaste literário, o autor precisa ser o mais criativo possível, para não saturar a paciência do leitor.
Toda história tem um início, meio e fim sempre naquele ritmo alternado com clichês e previsibilidades. Há o herói, o vilão, a questão onde a trama irá girar, alguns contratempos necessários, uma dose de drama, romance, um pouco de cenas engraçadas e o final onde o bem vence o mal.
Mas o que poderia tornar a obra com um detalhe mais especial? Tudo. Mergulhe na pesquisa e explore os seus conhecimentos. Procure esquematizar menos os personagens e enriqueça suas biografias e árvores genealógicas.
Mas o detalhe especial do post de hoje são para os coadjuvantes. Se o livro fosse uma receita de bolo, Os componentes seriam os ingredientes essenciais e os coadjuvantes, os temperos especiais. A escolha do tempero certo que fará a iguaria marcante.
Os coadjuvantes tem a importante missão de não deixar o enredo previsível demais. Você pode até se atrever a mostrar uma típica história de amor, suspense ou qualquer outro gênero; mas se os personagens aliados do herói e do vilão forem biograficamente atraentes, sua obra terá um rumo fantástico, tornando todo o conteúdo irresistível.

Leo Vieira

domingo, 27 de abril de 2014

Sessão Anima-São de Abril


No dia 26 de abril, sábado, no Centro Cultural Joaquim Lavoura, houve mais uma edição da Sessão Anima-São, promovida e realizada pelo Estúdio Alexandre Martins e com o apoio da SAL (Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo).
O evento teve a abertura com a apresentação do secretário Leo Vieira sobre o evento e o seu realizador, Alexandre Martins, presidente da SAL e proprietário do estúdio que leva o seu nome, que há 22 anos realiza ilustrações, desenhos animados autorais e outros serviços artísticos.

O evento realizou a exibição de 4 curtas metragens de vários países, proporcionando admiração e comentários engraçados do público. Estiveram presente os integrantes do coral do Centro Cultural e o escritor e poeta gonçalense Carlos Passarelli.
No final da exibição, Alexandre Martins fez o encerramento e respondeu às perguntas da plateia.
Bruna Tavares (conselheira), Alexandre Martins (presidente) e Leo Vieira (secretário).



Leo Vieira


quinta-feira, 24 de abril de 2014

Download de Livros


Ultimamente tenho acompanhado algumas polêmicas envolvendo blogueiros e escritores por conta disso e com o tempo, cada vez mais está merecendo atenção. Muitos blogs não só estão aderindo como também estão incentivando que outros blogs utilizem da mesma política de compartilhar download de obras literárias. Isso não é nada legal...
Todos nós sabemos do trabalho que dá construir uma obra literária. E também sabemos do custo que é investir nos registros, revisão, artes, acabamento, até a sua obra se transformar em um livro impresso de qualidade. Então, imagine depois a frustração desse autor quando descobre que o livro foi pirateado, seja pelo e-book ou até mesmo escaneado? Isso não se faz...
Então, como escritor e também como blogueiro, peço a todos que levem a sério a ideologia literária, custe o que custar. Download de livros somente para obras que estejam em domínio público e/ou publicações acadêmicas sem fins lucrativos.
Não tem sentido, nem lógica, nem cabimento apoiar um escritor copiando o livro dele. Então, não faça uma coisa dessas.
Se você quer muito ler, mas não tem dinheiro ou interesse de gastar, participe de book tour, vá na biblioteca onde o livro está, peça emprestado de algum amigo, mas jamais faça download, nem mesmo incentive isso. Se você tem alternativa de copiar o e-book e/ou escanear, isso não lhe dá o direito de fazer tais atos desonestos.
Escritores e blogueiros que andam juntos no mesmo propósito somente terão a ganhar.


Leo Vieira

terça-feira, 22 de abril de 2014

Cabeça de artista funciona de forma diferente, diz estudo


FREDERICO GOULART E MARIA CLARA SERRA

O artista plástico Alexandre Cavalcanti conta que, conta que desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes.
Foto: / Foto Guito Moreto
O artista plástico Alexandre Cavalcanti conta que, conta que desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes. / Foto Guito Moreto 
 
RIO - Muita gente comum acha difícil entender cabeça de artista. Talvez essa característica seja até um pré-requisito para fazer daquele “espaço” uma fonte de ideias e criações. À luz da ciência, entretanto, a explicação parece ser menos romântica e mais técnica: o cérebro dos “virtuosos” é simplesmente diferente. Foi isso que diz ter provado um novo estudo publicado esta semana na revista científica “NeuroImage”.

O resultado foi alcançado por meio de uma técnica recente de digitalização do órgão chamada morfometria baseada em voxel (MBV). A varredura mostrou que os artistas apresentam maior presença de substância neural em uma área responsável pelo bom desempenho motor e pela comunicação visual, o chamado precuneus, que fica no lobo parietal. Isso reforça a crença de que o talento dessas pessoas pode ser inato.

— O precuneus está relacionado a uma série de funções potencialmente ligadas à criatividade e à capacidade de manipulação de imagens visuais — afirmou à “BBC News” a cientista chefe do trabalho, Rebecca Chamberlain, que disse ter realizado o trabalho para tentar descobrir se os artistas de fato veem o mundo de maneira diferente.

Maior aptidão motora

O participantes também foram estimulados a realizar tarefas de desenho. Por meio dessas atividades, a equipe estudou a relação entre o desempenho e o estado das massas cinza e branca do cérebro. Notou-se que os voluntários que apresentaram mais habilidade tinham essas substâncias em formas aumentadas no cerebelo e na área motora suplementar, duas regiões que estão envolvidas com o bom controle motor e com a realização de ações de rotina.

Os resultado do estudo, porém, não é capaz de cravar que os aspectos que influenciam em um determinado talento artístico são totalmente inatos ou se podem ser adquiridos. Na visão do neurocientista Jorge Moll, presidente do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, exemplos de artistas que estão “fora da curva” apresentam forte relação das duas características.
— Qualquer habilidade de alta ordem, de alta complexidade, não pode ser explicada de modo simplista. Elas envolvem múltiplos sistemas cerebrais e cargas genéticas, mas também são fruto de muito treinamento — pondera.
O especialista também classificou o estudo como inovador, por usar a técnica de morfometria a fim de avaliar quantitativamente certas substâncias presentes no nosso cérebro.
— O trabalho não apresenta uma relação de causa e efeito, mas um aspecto correlacionador entre as características da estrutura cerebral e as habilidades. Os pesquisadores não descobriram, por exemplo, se essas características são fruto de alguma alteração ou se já acompanham as pessoas desde o nascimento.

Artista plástico e professor de arte no Colégio Bahiense, Alexandre Cavalcanti se formou em desenho industrial e fez mestrado em Belas Artes em Nova York. Ele conta que, em sua vida, desde pequeno mostrou particular aptidão para as artes:
— Nem me lembro de quando começou esse meu gosto. Só percebi que queria fazer da arte minha profissão quando, no vestibular, tive que decidir qual curso faria.
Hoje, Alexandre dá aulas de arte para crianças de 10 a 13 anos. Na sala, diz perceber claramente quando os pequenos demonstram talento para alguma habilidade.
— Podemos desenvolver alguma capacidade, mas dá para ver que alguns alunos têm mais aptidão, têm a mão mais solta. Mas também tem o lado criativo. Alguns são piores na habilidade, mas têm criatividade de sobra e podem compensar. Ou até mesmo seguir em outro caminho da arte que não o desenho — pondera.

‘Todos somos arteiros’

A designer e professora de desenho da PUC-Rio Marcela Carvalho acredita que as crianças sofrem uma hiperestimulação, o que pode prejudicar no desenvolvimento de suas habilidades para o futuro:
— Elas precisam da desopressão, do não estimulo, de um espaço de liberdade. A infância é criadora, todos são artistas. Então, o desenvolvimento da habilidade e do cérebro tem muito mais a ver com com o meio, o espaço onde se vai trabalhar aquilo. Não tem aquela expressão “esse menino está fazendo arte, é arteiro”? É isso mesmo. Todos nós somos.







Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/cabeca-de-artista-funciona-de-forma-diferente-diz-estudo-12233387#ixzz2zcuHHDgZ

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Identidade Literária


Quando conhecemos uma história, ficamos fascinados pela forma que foi contada. Isso depende muito do autor, principalmente se ela é original. No caso de uma recontagem, como uma fábula por exemplo, ficamos ainda mais deslumbrados com as características especiais do escritor. Um exemplo notável disso é a Disney, que sempre usa características especiais, como canções e enredos com mascotes e mensagens positivas, sempre apelando para a franquia de brinquedos, revistas e tendenciando as cenas de ação para os modelos de videogame.
No caso de identidades literárias, temos as fábulas, onde ganham várias recontagens, sejam elas no gênero infantil, humor (com paródias), e até mesmo adulto (com mais cenas de ação). Isso torna o autor até mais reconhecido.
Vejam como existem literaturas sobre vampiros, zumbis, anjos e outras figuras
fantásticas, folclóricas ou mitológicas. Cada um usa de seu conhecimento e
imaginação. Quanto mais criativo e menos estereotipado ele for, mais a obra se
tornará verossímil e especial aos seus leitores.
Nunca deixe de pesquisar e fazer diferente quando for apresentar uma nova história.
Sempre há algo que pode ser modificado. Cuidado para não seguir estereótipos já desgastados e muita atenção para algo não parecer plágio.


Leo Vieira

terça-feira, 8 de abril de 2014

A Roda Já Foi Inventada


Conhece essa expressão? Em que exatamente ela se aplica? Em praticamente tudo. A Roda, sem dúvidas, é a maior descoberta da humanidade, até mais do que o fogo. A Roda não é um invento. A Roda já existia há muito tempo. A Roda estava e ainda está em todo lugar. Tudo que desenhamos se inicia com proporções geométricas, mas nas formas circulares que ela ganha padronização. Se tudo o que desenhamos e criamos tem o formato de uma Roda, significa que de certa forma, nada é muito original, pois tem o movimento esférico como modelo.
Literariamente falando, o escritor é um reinventor de Rodas. Toda sinopse, enredo, argumento, personagens e roteiro, até esse conglomerado de textos se transformar em um livro é na verdade uma grande Roda. Mas é uma Roda muito especial. Todo romance tem início, meio e fim; além de personagens bons e maus; tramas que andam em um compasso, mantendo o ritmo até o desfecho, deixando o leitor satisfeito a ponto de querer saber mais sobre o autor e aguardar a próxima Roda. Essa é a Roda que o escritor precisa reinventar e assim como o formato, o seu trabalho precisa rodar e girar em um ciclo contínuo, sempre reinventando e aprimorando.
Não tenha medo de recriar. E não tenha pressa em adaptar as suas ideias. Um trabalho bem feito precisa de tempo e de aprofundamento. Pense, crie, desenvolva e a sua ótica será apreciada como uma grande redescoberta.


Leo Vieira

segunda-feira, 31 de março de 2014

Lições de Chesterton para quem deseja ser escritor

Rodrigo Gurgel


Chesterton é grande e grandioso. Seu texto empolga, contagia. Sua argumentação irônica faz explodir diante de nós os paradoxos do mundo que construímos — quanta loucura somos capazes de aceitar!

Ele pode também ser um bom professor, daqueles raros, cujas lições extrapolam o medíocre livro didático. Conselhos só aproveitáveis, entretanto, aos dispostos a ler e reler.

Acompanhem esta aula para quem deseja ser escritor. Os conselhos servem a todos, ainda que o tema se restrinja a histórias de detetives. Uma das melhores lições, por exemplo, é endereçada aos que “têm a estranha noção de que é tarefa deles confundir o leitor; e de que, contanto que o confundam, não importa se o desapontam” — prática que se tornou um vício na literatura contemporânea brasileira.



 
 
fonte: http://rodrigogurgel.blogspot.com.br/2014/03/licoes-de-chesterton-para-quem-deseja.html

terça-feira, 18 de março de 2014

O Índio do Arsenal




Alexandre Martins*



Não somente Niterói possui uma estátua dedicada a algum indígena, mas também São Gonçalo possui a sua.

Uma misteriosa estátua de um índio existe há décadas no bairro do Arsenal.

Segundo moradores, como Guaíra Xavier - uma caxiense que desde o início ficou intrigada com a estátua - o monumento pertencia a um senhor que era realmente índio. 

Ele construiu a estátua na direção de Niterói. A posição da flecha empunhada mira a terra de Araribóia. Mas tanto o motivo da construção quanto da posição beligerante contra os niteroienses ficou descohecido. Mesmo com seu falecimento, a estátua ficou ainda preservada. 



Mede cerca de 2 metros de altura, feita em granitina (pedaços de granito em massa de cimento) e posicionada em cima de um pedestal de alvenaria.

Muitos que passam na frente dela imaginam várias coisas: lembranças de um terreiro de umbanda, sacrifícios aos seus pés, etc.

A realidade é que poucos sabem do real motivo que levou a essa construção.

A SAL trará mais detalhes sobre mais essa curiosidade de nossa cidade.

Saudações papagoiabas.



P.S.: Em postagem na rede Facebook, o fotógrafo gonçalense Marco Speziali explica que a imagem está localizada dentro de uma propriedade particular que pertenceu ao médico pediatra Mário Sólon. Antes de tomar como sua propriedade, no local existia um Centro de Umbanda muito frequentado. A imagem seria, então, de um "Caboclo de Xangô". [1]
Segundo o fotógrafo, os protestantes locais desejariam retirar a estátua, o que foram impedidos por moradores que afirmaram ser relíquia indígena.

 *    *    *



1 - Caboclo, dentro da Umbanda, corresponde a um espírito desencarnado de um índio, que se manifesta através de uma pessoa capaz de senti-lo, o chamado "médium". Tal espírito responde às perguntas dos frequentadores das sessões de umbanda, procurando passar-lhes sua sabedoria e coragem, na intenção de ajudar-lhes a superar seus problemas.
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(*) empresário cultural, presidente da SAL 

Relíquias de Marc Ferrez

fonte: Blog Semióticas





Boas e más notícias trouxeram de volta à mídia o nome de Marc Ferrez (1843-1923), um dos mais importantes fotógrafos brasileiros de todos os tempos. As boas notícias: uma parte considerável da obra completa de Ferrez foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que lançou no Brasil e na França um catálogo impecável reunindo ensaios escritos por especialistas e uma coleção de 160 imagens primorosas datadas do final do século 19 e do começo do século 20.
Além das fotografias reunidas na edição, há também um acervo de mais de 300 imagens originais de Ferrez, a maioria belas panorâmicas em negativos de grande formato (40cm X 110cm), que permanece em exposição itinerante nas sedes do IMS e em outros espaços no Brasil e no exterior. Parte do acervo também está aberta ao público através do site que o IMS mantém na internet. Tanto o catálogo impresso como a mostra itinerante e as imagens disponíveis no site revelam a arte grandiosa de Ferrez, que criou no Brasil, antes de qualquer outro pioneiro da fotografia, uma linguagem que se tornaria universal e quase obrigatória em livros e reportagens de turismo e no formato de cartões postais.
Também há más notícias: o nome de Marc Ferrez frequentou as páginas policiais por conta de um grande roubo no acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, registrado em 2005, quando desapareceram cerca de 150 de suas fotografias mais raras e celebradas. Um crime perfeito, que não deixou pistas, aparentemente realizado sob orientação de especialistas: além das séries valiosas de Ferrez, também furtaram fotografias e negativos originais de importantes e pioneiros fotógrafos do século 19, entre eles August Stahl (1828-1877), Guilherme Liebenau (1838-1900) e Benjamin Mulock (1829-1863).



Imagens de Marc Ferrez: o fotógrafo em
autorretrato datado de 1876, aos 33 anos. No
alto, registro da primeira locomotiva (Trem de 
Ferro) e o grupo de engenheiros responsáveis 
pelas obras da Estrada de Ferro Rio-Minas,
fotografados por Ferrez no alto da Serra da 
Mantiqueira, no ano de 1888. Acima, Ferrez 
registra a imperatriz Teresa Cristina e Dom 
Pedro 2°  com a princesa Isabel e a família
reunida no Paço Imperial, em 1887
(fonte: IMS e Biblioteca Nacional)



As boas e as más notícias colocaram em evidência o gênio de Marc Ferrez, nome fundamental da fotografia e do cinema brasileiro que, em seus 80 anos de vida, registrou todo o Brasil em belas panorâmicas e em retratos impressionantes, entre ilustres personalidades e anônimos que encontrou em cada região do país. Filho de um casal de escultores e gravadores franceses que vieram para o Brasil em 1816, com a Missão Artística Francesa, Ferrez foi comparado aos grandes pintores pelos intelectuais do Império e da primeira República, o que era a mais nobre das distinções, numa época em que o trabalho de fotografar estava longe de ser considerado uma arte.

Arauto da Modernidade

O livro, na verdade um belo catálogo fotográfico intitulado “O Brasil de Marc Ferrez”, traz detalhada biografia, cronologia de seus principais trabalhos e ensaios de Françoise Reynaud, curadora do Museu Carnavalet, em Paris, e dos pesquisadores Maria Inez Turazzi, Pedro Karp Vasquez, Laurent Gervereau, Frank Stephan Kohl, Sérgio Burgi e Antônio Fernando De Franceschi, superintendente do IMS. Com a publicação e a exposição itinerante do acervo, foi a primeira vez que a obra de Marc Ferrez chegou ao público de forma abrangente.



No alto, visita do imperador Dom Pedro 2° e da
imperatriz Tereza Cristina à inauguração do Túnel
da Mantiqueira na Estrada de Ferro que interligava
o Rio de Janeiro a Minas Gerais (1882); acima,
a princesa Isabel Cristina de Bragança (1887)
Nas fotografias de Ferrez, o que mais surpreende, junto com sua demonstração de domínio da luz, é sua precisão na escolha do ponto de vista para ressaltar no enquadramento a qualidade estética das cenas registradas. São imagens comoventes, mesmo depois de todos os avanços tecnológicos da maquinaria fotográfica. Como destaca De Fraceschi em um dos ensaios do livro, abordando as singularidades da obra de Ferrez e sua influência sobre pintores célebres que se dedicaram às paisagens do Brasil:
O que interessa, cada vez mais, é compreender as relações passadas e presentes entre a fotografia e a pintura, sobretudo agora, quando as vanguardas contemporâneas parecem ter se desinteressado do mundo objetivo, deixando para a fotografia a inteira responsabilidade de se ocupar do real. Diante da obra monumental de Marc Ferrez, fica mais fácil compreender porque se atribui às suas belas imagens, produzidas na segunda metade do Oitocentos e nas primeiras décadas do século 20, os primeiros registros sobre a entrada do Brasil na Modernidade”.




No alto, Igreja de São Francisco de Assis 
em Ouro Preto, Minas Gerais, uma das obras-
primas do mestre Aleijadinho, retratada por 
Marc Ferrez em 1880. Acima, Paul Ferrand
fotografado por Ferrez na Serra do Itacolomy,
em Ouro Preto, no ano de 1886
Além do privilégio da nomeação como primeiro (e único) Fotógrafo da Marinha Imperial, Ferrez pôde percorrer o país como um dos principais nomes da Comissão Geológica do Império, a partir de 1875, fotografando atividades econômicas, a construção das principais estradas de ferro, as construções seculares da arquitetura barroca, as minas de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, as belas paisagens e os cenários desconhecidos das cidades, das florestas e das fazendas, seus costumes e personagens dos salões, das ruas, dos grotões.
Funcionário dos mais destacados nos quadros do Segundo Império, primeiro entre seus pares a visitar os confins do território nacional e registrá-los em fotografias e documentos cartoriais, Marc Ferrez também desenvolveu equipamentos próprios e introduziu experiências técnicas como as fotografias coloridas, por ele batizadas de autocromo, em aperfeiçoamento à invenção dos irmãos Lumière. Observar a evolução temporal de sua arte equivale a uma leitura da história do Brasil e da trajetória da fotografia, dos processos químicos mais primitivos aos avanços da tecnologia das câmeras, lentes e processos de revelação e reprodução.




Cartões postais de Marc Ferrez: no alto, escravos no
garimpo de ouro na região de Diamantina, no interior
de Minas Gerais, em 1888. Acima, paisagem surpreendente
às margens do Rio São Francisco no nordeste, em 1875

Expedições do Império

Filho mais jovem do francês Zéphyrin Ferrez, contando com mais quatro irmãs e um irmão, ficou órfão de pai e mãe no Rio de Janeiro aos sete anos. Mandado para a França, onde estudou até a adolescência, retornou ao Brasil em 1859 e passou a trabalhar na Casa Leuzinger, uma papelaria e tipografia que tinha começado a trabalhar com uma seção dedicada à fotografia. Na Casa Leuzinger, Ferrez aprenderia as técnicas da arte de fotografar com o alemão Franz Keller (1835-1890). Aos 21 anos, em 1865, investiu tudo que tinha para abrir a firma Marc Ferrez & Cia., um estúdio fotográfico que o colocou entre os principais profissionais da corte.
Em 1875, a trajetória de Ferrez mudou radicalmente quando ele recebeu convite para integrar, como fotógrafo, a expedição chefiada pelo geólogo canadense Charles Frederick Hartt (1840-1878) e financiada pela Comissão Geológica do Império. Hartt faria história como autor da primeira obra rigorosamente científica sobre a geografia do Brasil – “Geology and Physical Geography of Brazil” (1870). A Expedição Hartt percorreu várias regiões do país e acendeu em Ferrez o gosto pela aventura de desbravar e registrar os confins.






No alto, índia e seu filho fotografados no
sul da Bahia, em 1875, e índios botocudos 
no interior de Mato Grosso (1876). Acima,
a primeira fotografia no interior de uma mina
de ouro, em Ouro Preto, Minas Gerais (1888)
Depois da experiência com a Expedição Hartt, Ferrez passa a investir esforços nos estudos sobre geologia e geografia e, no ano de 1880, decide encomendar na Europa a confecção de uma máquina fotográfica por ele idealizada, para a execução de imagens panorâmicas em grandes dimensões. Daí aos cargos oficiais de maior importância no Império de Dom Pedro 2°, também entusiasta da fotografia, foi um passo.
O destaque como funcionário a serviço da nação continuaria nos primeiros tempos da República. Reconhecido no Brasil e no exterior como fotógrafo de paisagens, de obras públicas, de cartões postais e de retratos de políticos e personalidades que se tornariam célebres, entre eles os escritores Machado de Assis e Rui Barbosa, Ferrez realizaria a partir de 1903 uma de suas séries mais reproduzidas até a atualidade: a documentação completa das obras no Rio de Janeiro de instalação da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, dos antigos edifícios às construções que foram erguidas no começo do século 20.




Araucárias, no Paraná, em fotografia
datada de 1884 (no alto). Acima, grupo
de escravos e seus filhos reunidos em
fazenda de café na Serra da Mantiqueira,
Sul de Minas Gerais, no ano de 1885
Qualidade formal e documental

Marc Ferrez obteve em sua época as mais importantes condecorações pela excelência de seu trabalho fotográfico, tanto no Brasil como em outros países, em diversas instituições internacionais, entre elas os primeiros grandes prêmios em exposições nos EUA (Philadelfia, 1876) e na França (Paris, 1878), além de ter suas fotografias exibidas com destaque na Exposição Universal de 1900, em Paris. Várias de suas séries e álbuns também foram incorporadas desde o final do século 19 aos acervos da Société Géographique, sediada na França.
Como se não bastasse, o nome de Marc Ferrez ainda está ligado ao nascimento do cinema no Brasil: foi ele quem patrocinou a produção dos primeiros filmes nacionais e instalou em 1907, no Rio de Janeiro, o Cine Pathé, primeira sala de exibição permanente de espetáculos cinematográficos. Ainda nesse ano, a Casa Marc Ferrez & Filhos tomaria para si a distribuição da grande maioria dos filmes exibidos nas diversas salas de cinema que surgiram no Rio de Janeiro. 




O Rio Antigo segundo Marc Ferrez:
no alto, panorâmica da Ilha Fiscal na
Baía da Guanabara, em 1885. Acima, a
Avenida Central no Rio de Janeiro de 1910
 
A extraordinária qualidade formal e documental da obra de Marc Ferrez na produção de retratos de personalidades, além das panorâmicas, tanto as urbanas quanto a paisagem natural que emoldura e envolve seus enquadramentos, foi preservada intacta por seus familiares no último século. Depois da morte do fotógrafo patriarca, o guardião de sua obra completa foi Gilberto Ferrez (1908-2000), neto de Marc e um dos mais destacados historiadores da iconografia brasileira e da obra dos viajantes estrangeiros no decorrer da história do Brasil.
Desde a morte de Gilberto, a guarda e a preservação dos arquivos dos Ferrez estão a cargo de sua filha, Helena Ferrez, que mantém há décadas a catalogação dos documentos da família. Os catálogos preservados contam com um extenso patrimônio em suportes variados, no qual estão incluídos desde as relíquias de Zéphyrin, pai de Marc e tataravô de Helena, às clássicas séries de ensaios em panorâmicas registradas em daguerreótipos e fotografias por Marc Ferrez.




No alto, amostra da experiência de Marc Ferrez
com o autocromo em cores, realizada em 1915 na
Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, seguida de
duas imagens do Rio no ano de 1875: o Pão de Açúcar,
visto do Flamengo, e uma panorâmica da entrada da Baía
da Guanabara. No final da página, mais duas imagens de
1875: orla do Rio de Janeiro, com vista para o Cais Pharoux
e adjacências, e panorâmica que registra os arrecifes e o porto
do Recife, feita por Ferrez no alto do Farol da Barra, tendo
em primeiro plano o Forte do Picão, construído em 1614 e
batizado desde então pelos holandeses como Castelo do Mar
Aos cuidados de Helena Ferrez também estão os acervos reunidos durante décadas por Gilberto Ferrez e todos os arquivos e filmes em negativo do filho de Marc e pai de Gilberto, Júlio Ferrez (1881-1945) – pioneiro que trouxe os primeiros equipamentos de cinema para o Brasil e realizou as primeiras filmagens em território brasileiro. Os catálogos dos Ferrez contam ainda com séries de correspondências, muitos álbuns da intimidade da família, cadernos de anotações das várias gerações, peças de artes plásticas e impressos em geral.
A maior parte deste imenso acervo, entretanto, não faz parte do material reunido no livro e na mostra “O Brasil de Marc Ferrez”. As imagens que constam do livro e da mostra foram selecionadas da coleção adquirida pelo IMS em 1998 – uma coleção que totaliza cerca de 5.500 fotografias diferentes, produzidas no século 19 e começo do século 20, incluindo mais de 4 mil negativos originais em vidro.
Importante como resgate da importância capital do trabalho de Marc Ferrez, o livro, assim como a mostra e a manutenção do acervo pelo IMS, também consolidam e estendem para além do círculo de especialistas um trabalho que é um dos mais importantes legados visuais do Segundo Império e da República Velha. Compreendida no período que vai de 1865 a 1918, a perícia técnica e a grande arte de Marc Ferrez se mantêm, até os dias de hoje, como um dos registros fundamentais da fotografia no Brasil e no mundo.

por José Antônio Orlando.







segunda-feira, 10 de março de 2014

Por Que Toda Leitura é Necessária?

A falta de atenção na carreira literária é grande e frequente. Quem nunca se
distraiu e se perdeu em uma pesquisa ao analisar uma bobagem na internet? Isso acontece com todos. Seja uma piada, ou imagem engraçada, ou curiosidade, ou cultura inútil, entre outras coisas. As redes sociais se tornaram a maior inimiga do leitor virtual e mais ainda do escritor.
Quando for estudar no computador, e tiver a necessidade de fazer eventuais consultas na internet, não deixe as páginas sociais abertas. Senão o seu desempenho pode ficar reduzido absurdamente.
Se você for escrever, também faça o mesmo. Se surgir algum link notável, salve-o para consultar depois. Mas se você não resistir, aprenda a se policiar com pequenas regras e metas para concluir seus objetivos literários.
Mas afinal, essas bobeiras são nocivas? Depende muito, porque tudo em demasia é ruim. Mas posso dizer que para um escritor, uma leitura ruim pode ser boa.
Todo leitor, por mais acadêmico e refinado que seja o seu gosto, vai gostar de ler umas inutilidades e serão exatamente essas palhaçadas que irão dar corda em suas ideias. É igual em uma sopa, onde vamos escolhendo os melhores legumes, removendo as cascas, folhas, sementes e partes ruins. Muitas ideias originais surgiram em momentos ociosos. A mente humana precisa estar entretida para produzir novidades agradáveis.

Nesta mesma linha de raciocínio, não vamos questionar, criticar e/ou oprimir quem compartilha certas bobeiras nas redes sociais. É claro que tudo tem um certo limite, mas vamos ter o bom senso e mensurar as coisas boas de cada um, seja como for.

Leo Vieira

Breve História da cidade de São Gonçalo



Alexandre Martins*


Em 1502 foi descoberta a Baía de Guanabara e, em decorrência, suas regiões. A chamada Banda D'Além tinha uma sesmaria, a de São Gonçalo, parte da Capitania de São Vicente.
Foi o viajante francês Jean Lery quem, em 1557, fez a primeira referência escrita que se conhece, às terras do hoje município de São Gonçalo. Em seu livro “Viagem às terras do Brasil” ele comenta que encontrou aldeias indígenas Tupis em torno da baía que nós hoje chamamos de Guanabara e localizada a Ilha de Itaoca, como o ponto de uma delas. 1
A Sesmaria de São Gonçalo compreendia o espaço o que hoje seria da Praia de Icaraí à Praia da Luz. Seu desbravamento se deu pelos Jesuítas, que construíram portos e fazendas. À época existiam poucos habitantes nativos, como os índios
É, pois, em abril de 1579 que se tem o início da história de São Gonçalo. A paróquia data dee 10 de fevereiro de 1646, bem como a transformação da sesmaria em Frequesia.
Gonçalo Gonçalves, “O Velho” é considerado o primeiro donatário da Sesmaria que deu origem à atual cidade, cuja carta de doação data de 6 de abril de 1579 de terras “com mil braças de largo e 1500 de comprido, em Suassunhã do Porto de Birapitanga”. Fidalgo natural de Amarante, região do Minho, em Portugal, morava no Rio de Janeiro. De posse da terra, erigiu a igreja de São Gonçalo do Amarante, às márgens do Rio Imboaçu, aonde hoje está a igreja matriz. O povoado surge em seguida, onde hoje é o bairro do Zé Garoto.
Revolta da Cachaça é o nome pelo qual passou à História do Brasil o episódio ocorrido entre final de 1660 e começo do ano seguinte, no Rio de Janeiro, motivado pelo aumento de impostos excessivamente cobrados aos fabricantes de aguardente. Também é chamada de Revolta do Barbalho ou Bernarda. Governava o Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, no início de 1660. Produtores da região norte da Baía da Guanabara, então Freguesia de São Gonçalo do Amarante (atuais municípios de São Gonçalo e Niterói) rebelaram-se contra a taxa.
Durante seis meses houve reuniões na fazenda de Jerônimo Barbalho Menezes de Bezerra, na Ponta do Bravo (atual bairro do Gradim, em São Gonçalo).
Na madrugada de 8 de novembro de 1660, liderados pelo fazendeiro, os revoltosos atravessam a baía, convocando o povo da cidade pelo toque de sinos a reunir-se diante do prédio da Câmara. Totalizavam 112 senhores de engenho, 10 de São Gonçalo, que exigiam o fim da cobrança das taxas, bem como a devolução daquilo já arrecadado. Tomé de Sousa Alvarenga, tio do governador e em exercício durante sua ausência. Alvarenga foi enviado para Portugal junto a uma lista de acusações contra sua família, então poderosa. Salvador de Sá organizou uma tropa de paulistas. O Rio de Janeiro foi atacado de surpresa, na madrugada de 6 de abril. As tropas baianas vieram pela praia, enquanto Salvador de Sá invadia com os seus pelo interior. Apanhados de surpresa, os revoltosos não opuseram resistência.
Aprisionados os líderes, foi montada uma corte marcial que condenou os rebeldes à prisão. Jerônimo Barbalho, único condenado à morte, foi decapitado e sua cabeça afixada no pelourinho.
O Conselho Ultramarino, porém, deu razão aos rebelados. Salvador de Sá foi afastado de suas funções e teve de responder em Portugal por seus excessos. A família Sá, descendente do ex-governador-geral Mem de Sá e do fundador da cidade do Rio de Janeiro, Estácio de Sá, perdeu prestígio e a grande influência que até então conseguira manter. Os rebeldes condenados foram libertados.
Em 1749 foi criada a Estrada Real (atual rua Moreira César) ligando Niterói a Alcântara. À época o trajeto era feito por embarcações do Porto de Niterói para os portos de São Gonçalo (Ponte, Luz, Neves, Bandeira e Lira) e a ligação com o Rio de Janeiro se dava tembém por esses portos.
Com a criação, em 21 de junho de 1769, da Freguesia de Paquetá, esta é anexada a São Gonçalo, sendo anexada finalmente pelo Rio de Janeiro somente em 1833.
Em 1779, São Gonçalo contava com 23 engenhos de açúcar, com 952 escravos numa população de mais de seis mil habitantes.
Em 1780 recebeu as primeiras mudas de café, oriundas de Belém, no Pará.De São Gonçalo, expandiu-se para todo o Estado do Rio e para o Vale do Paraíba.
Em 1819 é criada a Vila Real de Praia Grande e São Gonçalo é anexada junto com outras freguesias. Em 1834 é denominada Cidade de Niterói e, em 1835, é elevada a capital do Estado do Rio de Janeiro.
Em 1847, o Imperador D. Pedro II visita São Gonçalo pela primeira vez, hospedando-se na sede da Fazenda do Jacaré (atual bairro do Patronato).
Em 1860, possuía São Gonçalo 30 engenhos de cana e 10 fornos de cerâmica, exportando seus produtos pelos portos de Gradim, da Pedra, Maruí, Neves, Guaxindiba, da Madama, da Ponte, da Luz, do Rosa e Boa Vista.
Em 1890, foi São Gonçalo a sede da primeira Região Policial do Estado do Rio, conseguindo ainda, aos 22 de outubro, seu desmembramento de Niterói. Em 1899 é inaugurado o primeiro prédio da Prefeitura, no mesmo local atual, embora seu primeiro prefeito, Cel. Ernesto Francisco Ribeiro, tenha somente sido nomeado em 1904. Em 1922, São Gonçalo é reconhecida oficialmente como cidade.
Em 1943, o distrito de Itaipú é cedido para o município de Niterói e São Gonçalo deixa de ter sua ligação com a Costa brasileira.
Não somente o Imperador e a Princesa Isabel, mas Presidentes do Brasil visitaram São Gonçalo, como Getúlio Vargas em 1943 e Juscelino Kubitschek em 1956.
Os primeiros bairros de São Gonçalo tiveram origem das fazendas de cana de açúcar que foram loteadas no início do século XX, daí muitos terem seus nomes, como Trindade, Itaúna, Colubandê, etc. Outros, pelos portos que existiam no local, como Porto Novo, Porto da Madama e outros.
Muitos brasileiros importantes nasceram em São Gonçalo, como o Conde Baurepaire Rohan, construtor do primeiro Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro; Orlando Rangel, introdutor da Indústria Farmacêutica no Brasil; dentre outros.


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(*) empresário cultural, Presidente-fundador da SAL.


1- O termo tamoios se refere a uma aliança de povos indígenas do tronco lingüístico tupi que habitavam a costa dos atuais estados de São Paulo (litoral norte) e Rio de Janeiro (Vale do Paraíba fluminense). Esta aliança, liderada pela nação tupinambá, congregava também os guaianazes e aimorés. Portanto "tamoio" não se trata de um etnônimo, ou seja, de uma tribo ou nação indígena específica. O termo "tamoio" vem "tamuya" que em língua tupi significa "os anciãos". A aliança de tribos, conhecida como Confederação dos Tamoios, foi motivada pelos ataques dos portugueses e mestiços que procuravam capturar escravos entre os indígenas para trabalhar nas primeiras plantações de cana-de-açúcar. Por décadas, os Tamoios foram a única resistência organizada contra a colonização portuguesa.