terça-feira, 4 de março de 2014

Compondo

Até onde vai o limite de um escritor? Você poderia responder? Você poderia se
classificar? Será que você poderia se definir até onde pode ir na escrita? Se você ainda está pensando, desista! Um escritor não pode se reter no processo criativo.
Escrever é uma aventura cansativa, porém gratificante. É um momento em que você define um mundo ainda bruto e desconhecido, onde através de suas palavras e criatividade, irá dar forma e transformar o enredo, com beleza e graça. A suavidade e sabedoria na escolha do momento certo de usar as palavras farão que você se torne um bom guia de mais uma esplendorosa experiência literária, seja ela um texto curto ou um romance.
O experimento é o primeiro passo para a construção do enredo e argumento. A partir daí, você passará a tecer o caminho da aventura. Você precisa sentir a obra que irá apresentar.
E o processo criativo para uma música? Será que você se sente capaz para compor?
Não titubeie na resposta! Todo escritor compõe. A música está por toda a parte e tudo é um processo criativo que precisa ser desenvolvido através do treino e da prática.
As músicas, assim como qualquer outro texto precisam de motivo e conteúdo para existirem. Não crie música somente pela rima, ou a mesma poderá ter vida vaga e curta.
É preciso saber algum instrumento musical para compor? Se souber, melhor. Um violão ou piano ajudam bastante. Se souber cifrar (desenhar notas musicais junto à letra), melhor ainda. Mas isso se desenvolve com o tempo e interesse.
Prepare o gravador (do celular ou do PC), o papel, lápis, borracha, o violão (se
preferir) e mãos à obra!

MELODIA:
Se não quiser fazer com nenhum instrumento (o que eu particularmente, até acho mais prático), se concentre nas notas musicais. Escreva os sons no papel e toque com o lápis, fazendo a leitura das notas. Não tenha pressa. A melodia irá começar a nascer disformemente. Daí você vai observando até que o som vai começar a ficar mais "digerível". O trecho que você mais gostar, selecione e grave. A partir dele, você poderá desenvolver o refrão. E nele você esticará a introdução, a harmonia, o ritmo, o andamento, o refrão e o desfecho.
Com a melodia pré-definida, você já tem uma base para inserir a letra.




LETRA:
A composição geralmente é um conto ou crônica. Nem sempre é um poema, porque ele não pode ser muito limado nas estrofes. Compor uma letra musical é o momento de por melodia em uma história com conteúdo e rimas.
Geralmente terá duas estrofes, cada uma com quatro versos (linhas). A primeira estrofe é a introdução, com uma boa apresentação da história. A segunda é um gancho para conduzir a melodia para o refrão, que também pode ser uma estrofe com quatro linhas ou até mesmo três, com a última com um verso mais longo (sugestão).
O refrão é muito importante porque é o momento em que a energia musical será mais potente. É o momento do ápice da apresentação. Também é com a melodia do refrão que se esboça a introdução musical e até mesmo se escolhe os instrumentos mais compatíveis. Depois, é só fazer a segunda parte da letra (que geralmente tem o mesmo refrão).

E não é só isso. Revise, treine, cante, reescreva, grave e ouça o resultado. Depois é só levar a melodia cifrada (se não souber, encomende o serviço a um profissional) para registro. Grave em estúdio também (com banda), se preferir.
Já imaginou compor uma música para cada livro? Ou quem sabe para cada capítulo e/ou personagem? O que acha de lançar o CD oficial do livro?

Tudo é válido para uma mente criativa bem desenvolvida. O processo para aprimoramento é o mesmo de um romancista: muita leitura, pesquisa, treino e amor pela arte.


Leo Vieira

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A família Conceição e a história de uma Ferrovia

A Família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo

Alex Wölbert*

A relação de amor entre o senhor Antenor da Conceição e a Estrada de Ferro Maricá (EFM) começou cedo. Com apenas 22 anos, foi trabalhar como conservador de via permanente, contou com orgulho e nostalgia para nossa reportagem – os olhos marejados de lágrimas – sobre os bons tempos na ferrovia.
Antenor da Conceição nos revela a história do menino que não tinha grandes aspirações de ser um médico ou engenheiro. Porém, seu maior sonho era de ser coveiro no funcionalismo público. A vida do jovem Antenor despontava em Saquarema, no ano de 1936, enquanto a da EFM já estava a pleno vapor: era responsável pelo transporte de grande quantidade de sal vindo da região dos lagos e, principalmente, da grande quantidade de laranja que fez do município de São Gonçalo um dos principais exportadores da fruta. A rede ferroviária também foi responsável pelo crescimento do núcleo urbano de Maricá, pois era o mais eficiente meio de transporte. Como consequência, ruas surgiram em torno da estação, resultando no aparecimento de diversos estabelecimentos comerciais. Eduardo Rodrigues de Figueiredo relata no Anuário Geográfico do Rio de Janeiro, de 1952, a dificuldade demográfica de Maricá: “Não há no Estado do Rio de Janeiro município que, devido ao seu sistema orográfico, esteja mais isolado do restante de seu território do que Maricá”. Financiada em 1888, principalmente por proprietários rurais como José Antônio Soares Ribeiro, o Barão de Inohan, sem nenhum ônus para os cofres públicos, o primeiro trecho da estrada foi iniciado ligando Alcântara a Rio do Ouro, passando por Sacramento e Santa Isabel.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi

Antenor nos recebeu nessa mesma estação de Santa Isabel, sua residência, onde desde 1970 vive com sua esposa, Maria Inês, e seus 3 filhos: Regina, Ronildo e Raquel – todos criados graças ao seu salário de ferroviário. Mesmo acamado devido uma enfermidade, um sorriso jovial ainda enfeita seu rosto e – com a alegria do menino sonhador de Saquarema – nos contou sobre seu trabalho na estrada de ferro. Sempre preocupado em manter a história, preservando as características do lugar, quando questionado do motivo de sua luta para manter a arquitetura da época, explicou: “Esse lugar não é meu e devo mantê-lo. Estou aqui justamente para preservá-lo e  não acabarem com esse patrimônio que guarda muitas memórias de nosso Município”.
O destino sempre amarrou a história de Sr. Antenor à estrada de ferro Maricá. Mesmo noivo e nos preparativos de casamento, os olhos de Antenor cruzaram com os da menina Maria Inês, filha do feitor a quem era subordinado. Essa historia de amor perdura até hoje. Fomos testemunhas do carinho e atenção daquela menina, hoje uma senhora de fala mansa e passos calmos, mas uma guerreira para defender sua família.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi

Quando indagado pela nossa reportagem sobre o que mais o marcou em sua carreira como ferroviário, o Sr. Antenor, sem falsa modéstia, diz que era sua agilidade no serviço. Por causa dessa qualidade, sempre era chamado para trabalhos de emergência. Contou que às vezes, três funcionários não davam conta do serviço e ele era chamado pelo encarregado para dar uma “forcinha”. Ao chegar, os outros funcionários desapareciam e ele desenrolava o serviço com a maior facilidade. Sr. Antenor era, como se diz popularmente, “pau pra toda obra”. Quando a linha enchia de capim alto, dificultando a visibilidade do maquinista, quase sempre resultando no atropelamento de gados pastando, ele era chamado pelo supervisor para capinar.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Sr. Antônio Conceição

Num momento da entrevista notamos uma tristeza no olhar do Sr. Antenor. Foi exatamente quando fala do fim da estrada de ferro pela justificativa de não dar lucro. Ele informa que, além de ter bastante volume de carga e passageiros, muitas pessoas precisavam do trem. O senhor Antenor lamenta o não aproveitamento de nenhum trem que circulava na linha. Todos foram enviados para a siderúrgica em Volta Redonda.
A toda hora vivemos a história. Algumas delas se entrelaçam no meio do caminho, como a da família do Sr. Antenor e a EFM. Preservar as memórias da história de São Gonçalo é valorizar nosso passado e compreender nosso presente para a construção de um futuro melhor.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Por que é Bom Escrever de Madrugada?

É muito comum na vida de um leitor e/ou escritor ocorrer as conhecida insônias por conta do texto que está lendo, revisando ou escrevendo. Um escritor sempre perderá a noção do tempo durante as suas imersões literárias.
Mas por que será que a madrugada é um período tão apreciado? Muito simples: a madrugada é praticamente o ápice para que o cérebro possa trabalhar e desenvolver o senso criativo. É nesse momento que temos os sonhos mais absurdos e inimagináveis.
Mas nem sempre nos lembramos deles quando acordamos, exatamente pelo fato da madrugada ser o momento de relaxamento total das ideias. Outro fator que torna a madrugada especial é o silêncio. Quando estamos sem barulho por perto, temos mais capacidade para raciocinar e também nos distraímos muito menos.
Durante o dia, armazenamos informações, imagens, vozes, fisionomias, momentos notáveis, melodias, entre outras preciosidades sem muita importância no momento. De madrugada, quando o corpo começa a se desligar da realidade para o merecido descanso, a mente começa a se agitar e trazer à tona todas essas informações de forma intensiva e até descontrolada. A situação chega a ser incômoda, como um peso de consciência. O momento especial em que você se torna cúmplice de suas ideias apresentadas no papel. Aprecie esse momento porque a noite será longa, coroando mais um dia que valeu a pena.


Só pra ressaltar; esse texto também foi escrito em uma madrugada.


Leo Vieira

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Jurubaíba é gonçalense?

Alexandre Martins*


Em grande “sacada” editorial, o jornal Extra descobriu o filão do município de São Gonçalo e criou um tablóide anexo a sua edição das quintas-feiras, o Extra São Gonçalo. À guisa da outra boa sacada dos jornais de bairro criados pelo seu irmão rico, o jornal O Globo (o Extra pertence às Organizações Globo) o “jornal das classes D e E” se surpreendeu com o esgote da tiragem inicial que continha o suplemento.
Ponto para o jornalismo do Recôncavo da Guanabara que percebe que “São Gonçalo não é Niterói”. Mas o que poderia ser um golaço, teve pênalti: uma matéria elegia a Ilha de Jurubaíba como pertencente a São Gonçalo.
Vou explicar a confusão.

O nome do arquipélago das Jurubaíbas - contração do tupi yurú (boca, trago, bocado); bá, alt. de mbae (coisa, objeto) e ahyba (má, ruim, que não presta - ibá é "árvore") - seria algo como "boca da coisa má". Na gíria popular, "coisa-má" é o demônio, o capeta. Literalmente, "Boca da Coisa-má", isto é, "Boca do Demônio, do diabo". Por tradução, deu nome à Ponta da Coisa-má, situada ao Sul da ilha do Governador. Suponha-se que este nome é originado pela formação do arquipélago das Jurubaíbas, talvez perigoso para a navegação. Duas são as ilhas deste nome: Jurubaíba de Cima e Jurubaíba de Baixo. Situado no extremo Leste do município do Rio de Janeiro. (1)

Em 2004, em esforço da Secretaria de Turismo de São Gonçalo, foi feito um relatório da oferta turística da cidade, tendo em vista uma possível propaganda perante os órgãos de turismo do Brasil e do exterior. Veja o texto introdutório:


“O presente relatório apresenta o Inventário da Oferta Turística do Município de São Gonçalo, realizado pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Turismo do Município em parceria com o Curso de Turismo das Faculdades Paraíso.

A iniciativa partiu do então secretário, José Antônio Ferreira Machado, visando adquirir informações da oferta turística local, condição necessária para que os membros do Conselho Municipal de Turismo possam definir os aspectos positivos e negativos do turismo local e desenvolver estratégias que proporcionem o desenvolvimento sustentável do turismo municipal.

A metodologia adotada para a realização do trabalho baseou-se na proposta elaborada pelo Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR, com as devidas atualizações e adaptações à realidade da região. O trabalho foi desenvolvido no decorrer de quatro meses (julho a novembro) dividindo-se em duas etapas: a primeira refere-se à pesquisa de gabinete; e a segunda a estudos de campo. Ressaltamos que as informações aqui contidas referem-se ao período corrente e devem ser atualizadas na medida em que a realidade da oferta turística local sofrer alterações. Cabe esclarecer que, em alguns casos, a pesquisa foi prejudicada pela ausência de pessoas responsáveis nos locais, capazes de dar informações completas sobre o item em avaliação.”

A pesquisa foi assinada por Luciana Alves, Shana Daniela e Priscila Morela, do Curso de Turismo das Faculdades Paraíso em novembro de 2004.

O Inventário da ilha é bem coordenado e dá detalhes sobre Jurubaíba: perto da Ilha Redonda, distante 2 milhas náuticas do bairro do Gradim (3,704 Km), é propriedade pública, administrada pelo Ministério da Marinha, visitada por turistas munícipes vizinhos ao Estado do Rio, possui uma área de aproximadamente 20 Km2. A ilha possui uma vegetação de plantas: epidentro, cacto, palmeiras imperiais, bromélia, orelha-de-onça, Maria-mulata, anêmona, carrapatinho, rabo-de-rato e bailarina; e com uma fauna de animais invertebrados: ouriço-do-mar, ostras e sucuri-coral. Não há população insular. (2)

Em lamentável falha da equipe, não foi consultada a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro na qual a Ilha de Jurubaíba - ou melhor, todo o Arquipélago das Jurubaíbas - é parte do território municipal da capital do Estado. (3)

Esta pequena falha deve ter dado origem à grande propaganda deste “ponto turístico gonçalense”. Não se sabe como.

Mas a cidade ainda possui nove ilhas, como Pontal, Carvalho, Flores, Itaoquinha... algumas muito importantes na história local. Por exemplo, Itaóca (a grande) é um local quase inexplorado, com Mata Atlântica original e espécies nativas que conseguiram sobreviver a loteamentos desordenados. Foi nessa ilha que a famosa Maria Graham desembarcou para hospedar-se na Casa Grande da Fazenda da Luz. É nessa ilha que existiam (?) sambaquis – restos de conchas e materiais arqueológicos.

Mas a ilha de Jurubaíba é importante para os cinéfilos, pois foi uma das locações do filme “Onde a terra acaba” (1933), produzido pela Cinédia, dirigido por Octávio Mendes (4).

Pena que a cidade de São Gonçalo não possua documentação adequada a sua história e que seja disponível a interessados no assunto. Sem estas referências, tais equívocos irão sempre se repetir e causando confusão no povo, envolvendo profissionais e instituições.
Cabe a cada um de nós, que possamos ter algo de contribuinte para este mosaico gonçalense, que façamos a nossa parte divulgando aquilo que saibamos. Só então ocorrerá a melhoria do lugar aonde vivemos. Todos sairemos ganhando...

Saudações papagoiabas !








(*) empresário cultural, presidente da SAL. Artigo de 20/9/2010
______________________________________________
(1) – Disponível em http://www.cibg.rj.gov.br/detalhenoticias.asp?codnot=134&codman=28 Acesso em 31/10/2007
(2) – Disponível em http://www.semeltur.com.br/inventarioturistico/html/index.htm acesso em 31/10/2007
(3) – Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro. SEÇÃO I - Dos Limites e da Divisão Administrativa - SUBSEÇÃO I Da Localização e Linhas Divisórias § 1º - Incluem-se no território do Município as ilhas oceânicas, costeiras e lacustres sob seu domínio na data da promulgação desta Lei Orgânica e especialmente as Ilhas (...) de Jurubaíba (...)em frente à Ilha do Mestre Rodrigues; ©2002 - Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Disponível em http://cmrj3.cmrj.gov.br/ofc/mrj/opi/lomrj/tit02.htm acesso em 31/10/2007
(4) – Cinemateca Brasileira. Disponível em http://www.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA?=p&nextAction=lnk&exprSearch=001997.
acesso em 31/10/2007

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Não Deixe Ninguém Decidir Por Você

Todo escritor tem o seu rumo traçado e seu alvo destacado. Não importa para onde e como será isso, isso não o torna diferente dos demais. Muitos apenas querem publicar para um grupo pequeno e para isso, somente precisa de um pequeno e reduzido lote. Outros esperam se aventurar agressivamente, com metas cada vez mais ambiciosas.
Seja como for, o importante é saber exatamente onde quer chegar e como irá chegar, da mesma forma que um capitão traça o seu caminho marítimo. E para isso é essencial a DECISÃO.
Quando decidimos, ficamos mais firmes em nossas ações. É algo como que se abrissem as alas com as palavras. Isso é extremamente importante não só na caminhada literária, como também em qualquer outra etapa e rumo de sua vida.
Se você ficar meio disperso, xoxo ou dando qualquer brecha de indecisão, pode acabar se tornando um marionete nas mãos dos espertos.
Vou explicar como isso acontece. Infelizmente isso não se exemplifica somente no eixo literário, mas em todo o campo profissional.  O nosso mundo comercial é tomado e imperado pelos "espertos" que sobrevivem dos "bobinhos" que se demonstram perdidos em suas decisões. Esses "espertos" procuram os "bobinhos" para darem partidas em seus projetos particulares, sempre com a história de que "será bom para a sua carreira também".
E no fim, o seu projeto fica "engolido" por ele e quando você notar, apenas colaborou para o projeto alheio, sem conquistar nenhum reconhecimento.
Eu tenho visto muito disso por aí, em especial com atores e autores.

Antes de escolher qualquer rumo profissional, tenha decisão e imponha valor (preço mesmo) em sua atividade, que é profissional.


Leo Vieira

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Invasões Britânicas na Educação e Cultura Gonçalenses




Zeca Pinheiro
 
Muito depois do futebol se tornar o esporte mais popular do mundo e a língua inglesa a mais falada no planeta, bem depois das teorias de Newton e Charles Darwin e pouco depois da televisão, do telefone, da penicilina, do motor elétrico, da locomotiva a vapor e do trem invadirem nosso dia a dia, mudando radicalmente nossos hábitos e costumes.
Tornou-se comum a invasão de escolas de origem estrangeiras no final do século XIX e inicio do século XX em todo o território brasileiro Certamente devido à enxurrada de imigrantes de diversas nacionalidades em nosso país, São Gonçalo não podia ficar imune a esta presença, a primeira invasão no bom sentido é claro foi em 1908, na Chácara Paraiso numa área de 150.000 (cento e cinquenta mil metros quadrados) localizado na Venda da Cruz, onde há pouco tempo funcionou o 3º BI, foi instalado uma sucursal do Gymnasio Anglo-Brazileiro ou The Anglo-Brazilian School uma vez que a matriz havia sido criada em 1899 em São Paulo em plena Avenida Paulista. 

 
D.O.U. Com as diretrizes da nova escola


Seu fundador Charles W. Armstrong oriundo de Nottingham - Inglaterra era adepto da celebre citação em Latim do poeta grego Juvenal: Men Sana, incorpore Sano (somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa). Gostava de trabalhar tanto o lado intelectual do aluno, como também o corpo através de exercícios, as belas instalações da Chácara Paraiso proporcionava as condições ideais para tal, amplas acomodações, salas de aula, dormitórios, local para recreação e principalmente muito verde, jardins arborizados, diversos tipos de árvores inclusive frutíferas e espaço para os exercícios da petizada, caminhadas, corridas e recreações diversas.

 
A foto lateral do prédio dava para ver o conforto e toda a arborização do local



Convidou para Vice-Diretor e seu braço direito o Mr. Alfred Robinson Aldridge devido a sua larga experiência na direção de grandes colégios estrangeiros desde 1898 aqui no Brasil, em São Paulo.
O colégio funcionava como internato e semi-internato, sua grade curricular era bem rica e diversificada, havia prova classificatória para entrar para o ginásio, como também cursos preparatório para crianças de 2 a 4 anos, funcionava com regime de internato para crianças a partir tenra idade, a escola era essencialmente masculina, tipo clube do bolinha, menina não entrava. A intenção que os estudantes saíssem dali direto para uma faculdade, mais também tivessem uma educação com moral e civismo.

 
grade curricular do Aldridge


 
Professor fazendo explicação in loco, na sala de aula


O colégio funcionou na Chácara Paraiso até 1911 sendo transferido para Chácara Vidigal no caminho Niemeyer - Rio de Janeiro – numa área deslumbrante, veja a descrição no livro Impressões do Brazil no Século Vinte, editado na Inglaterra em 1913, assim descreve o local: “Magnificamente situado, 300 pés acima do nível do mar, o edifício tem uma soberba vista sobre o oceano. O cenário é grandioso, havendo aos lados a floresta virgem e atrás a majestosa montanha dos Dois Irmãos”. Onde permaneceu ate 1937.

A segunda invasão foi de forma mais tranquila, pois o Vice-Diretor Mr. Alfred Robinson Aldridge, usando toda sua experiência adquirida na direção do Mackenzie College e Hydecroft College, ambos em São Paulo, como também Anglo-Brazileiro aqui em nossa cidade, resolve fundar o seu próprio colégio em 1912, intitulando-o de Aldridge College, aproveitando o nome de família, utilizando seu filho Walter Leonard Aldridge como parceiro de direção e revezando nas salas de aulas com a outra filha Mrs. Doris e a esposa de Walter Leonard e mais alguns professores. Os preceitos continuavam os mesmos, sendo o nível de educação de excelência, muito mais que preparar os alunos apenas para uma vida acadêmica em alguma faculdade qualquer, preparava-os para a vida, ensinando-os preceitos de moralidade, responsabilidade, disciplina, e trabalho, eu lema era: "Labore Et Honore" - Com trabalho e dignidade - A educação no Aldridge era comparada com os melhores colégios do Brasil.




Vista do prédio principal, alunos cumprimentam o corpo docente e Mr. A. R. Aldridge na sacada do segundo andar.
Mr. Alfred Robinson não precisou fazer grandes investimento uma vez que aproveitou toda a estrutura deixada pelo Anglo, como também alguns alunos do semi-internato que ficaram no meio do curso e não foram transferidos para o Rio.
No seu livro, Luiz Simões Lopes que estudou no Aldridge College, na pagina 46 - Primeiros Estudos destaca:
...em 1913, portanto aos 9 para 10 anos, fui matriculado no Aldridge College, com meu irmão Fonsequinha. Era um excelente entro educacional e lá aprendi enormemente, sob todos os pontos de vista, Seu Fundador Alfred Aldridge, trazia grande experiência da Inglaterra. Era homem de boa cultura de elevada moral e espirito de justiça. Enérgico, a ponto de dar vara nos meninos, a moda inglesa, era boníssima e gozava de raro prestigio entre seus alunos.
O Aldridge College - cuja divisa era Labore et Honore - era situado numa bela chácara - a Chácara do Paraiso - Em São Gonçalo, Niteroi¹, com árvores frondosas, algumas frutas tropicais, como mangas, jacas e muitas outras. La vivia nosso diretor Alfred Aldridge com sua bonita filha, Miss Doris - minha primeira professora de primeiras letras em inglês -, e seu filho Leonard, vice-diretor, com sua simpática e excelente senhora para nos Mme Aldridge (Elvira Bertha Duchen)".


Naquela altura o colégio estava indo de vento em polpa os anúncios nas revistas e jornais de circulação nacional surtiam efeito e a escola seguia com sua capacidade máxima de matriculas, ajudado por um sistema de transporte eficiente os alunos e familiares não encontravam dificuldade em chegar a seu destino dispondo de transporte de barcas do Rio a Niterói e de bondes do centro ate a Chácara Paraiso. Os bondes elétricos foram implantados em 1910.


(da esq.) Mr. Alfred Robinson Aldridge, Walter Leonard Aldridge e sua esposa Elvira Bertha Duchen.


Um acidente fatal com as barcas na travessia da Baia de Guanabara muda radicalmente os planos e metas do Mr. Alfred Aldridge, que sofreu um grande impacto com o acontecido, levando-o a transferir o Aldridge College de São Gonçalo para Botafogo no Rio de Janeiro em 1917, já naquela época o bairro de Botafogo era promissor concentrando a maioria da elite educacional carioca, ostentava uma beleza natural e recebia bons investimentos em infra-estrutura da prefeitura, tendo como consequência moradores de ótimo nível cultural e financeiro. A nova edificação pertencera ao barão de Alegre Praia de Botafogo, 374. Era um prédio imponente e muito belo de arquitetura sem igual. A mudança para o Rio trouxe novos ares e a direção resolveu aceitar também meninas em suas acomodações, passando então as turmas a serem mistas.
A Revista Ilustração Brasileira, de 1925, dizia: "muito há do que se ufanar, tais os louros colhidos por seus alunos, (...) se impôs a todos pela retidão, pela disciplina e pela moralidade observada nesta casa de educação, sob a direção dos professores ingleses Alfred R. Aldridge e Walter Leonard Aldridge".


O Aldridge funciona neste endereço ate 1927, porem uma tristeza abate os mestres e alunos, seu fundador Mr. Alfred Aldridge falece em 1925, aos 71 anos de idade, tendo nascido na Inglaterra em 1854 por mais de meio século dedicou-se ao sacerdócio de educador com rara competência, merecia um mínimo de homenagem das autoridades conchalenses, como uma placa singela em uma escola pela sua brilhante trajetória usando seus princípios éticos e morais na educação da juventude brasileira.
O Aldridge College continua sob a direção do filho mais velho Walter Leonard Aldridge, mudando novamente de endereço, mais desta vez para uma sede própria na Praia de Botafogo, 184. Ampliando posteriormente suas instalações com a compra dos terrenos e prédios de nº 186, 188, 190 e 192 - esta área é hoje da Fundação Getúlio Vargas, vendida em 1945, quando o Aldridge College deixou de existir devido a Nacionalização do ensino promovido por Getúlio Vargas.








Vejamos o que diz a dona da foto acima ex-aluna do Aldridge com 84 anos hoje, sobre sua experiência nesta nova instalação:

"- Eu entrei para o Aldridge em 1940, no antigo admissão, que era o preparatório para o ginásio. Fui recebida pelo Sr. Felix, um idoso bedel (era assim que se chamavam os inspetores de disciplina) Meu irmão Luiz Osório de Brito Aghina (que se tornou um importante engenheiro nuclear conhecido mais fora do Brasil do que na sua terra) era 2 anos mais moço que eu, fomos, os dois apavorados, saindo de um coleginho pequeno na Urca para aquele eeennnooorrnnmmee prédio na Praia de Botafogo, onde hoje é a Fundação Getúlio Vargas. Eram 2 prédios, um bem antigo, com escadarias de Ferro, um pátio muito grande onde ficávamos em forma, esperando a subida para as salas de aula. No outro prédio, mais moderno, subíamos em escadas de mármore. O chão era de cerâmica vermelha São Caetano e no último andar um grande salão para o recreio. das meninas. O dos meninos era no térreo. Nós almoçávamos lá e como bom diretor inglês, Mr. Leonard Aldridge, cuja esposa era , Mme. Bertha Duchen, o almoço era todo falado em inglês e francês., Até as orações antes das refeições eram, uma semana em inglês e outra em francês. Eu me lembro que uma das filhas do Mr. Aldridge se chamava Violeta e dava aulas de taquigrafia. Era um dos poucos colégios mistos, por isso  meu pai nos colocou lá, eu e meu irmão". - Depoimento por e-mail de Cely Brito Canetti - Aluna do Aldridge College em Botafogo.


O Aldridge funcionou neste endereço até que um decreto na Lei nacionalista de Getúlio Vargas, proibindo que as instituições de ensino ficassem na mão de estrangeiros, ou seja, que fossem donos ou dirigentes de qualquer escola no Brasil, Walter Leonard Aldridge ficou perplexo com tal atitude inclusive os filhos do Presidente estudara naquela escola, não aceitou as imposições ditatórias do presidente preferiu fechar o colégio em 1945 a repassar para um brasileiro, no mesmo ano vendeu os prédios para a Fundação Getúlio Vargas, para nada mais nada menos do que Luiz Simões Lopes aluno do colégio aqui em São Gonçalo que apos vários cargos no governo federal, dentre eles o de presidente do DASP, foi o idealizador e criador da Fundação Getúlio Vargas. 
 
 
Luiz Simões Lopes e Arthur Bernardes Filho destaques do Aldridge College
Vários alunos do Aldridge College tiveram destaque na vida publica e privada, aqui em São Gonçalo consegui descobrir dois deles o próprio Luiz Simões Lopes e o Arthur Bernardes Filho, Já no Rio de Janeiro foram diversos, vários deles são citados no depoimento da Cely Canetti cujo link se encontra abaixo.
Houve com o decorrer dos anos, novas invasões britânicas que também mudaram hábitos e comportamentos em todo o mundo, novamente não ficamos imunes a tais influências culturais, desde o chá das cinco da tarde, o Horário rígido britânico que é uma marca deste povo, a cabine telefônica única, o ônibus de dois andares, e na música a maior de todas: O surgimento dos meninos de Liverpool, Lennon, Paul, Harrison e Ringo que provocaram uma histeria coletiva sem fim em todo o planeta. Os Beatles foram sem dúvida a maior das invasões que contagiou, encantou e fez dançar multidões mundo afora ao som frenético do rock and. roll, e outros vieram na onde The Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, Sex Pistols, Genesis, Supertramp, Yes, Duran Duran, , Eurythmics, Culture Club, Spandau Balle, Tears for Fears, Pet Shop Boys, The Cure, The Police, Soft Cell, The Pretenders, Oasis. Coldplay, Space Girls, James Blunt, Robbie Williams e McFLY, Adele, Amy Winehouse entre outros, mais para a história da nossa cidade o melhor das invasões britânicas, sem dúvida esta na existência destas duas escolas no meu ponto de vista, Claro!










Leia na integra:
Depoimento emocionante da Aluna: Cely Canetti - Aldridge College Botafogo.Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/depoimento_d._cely_canetti
Luiz Simões Lopes - "Primeiros Estudos" (trecho do livro Fragmentos de Memoria)
Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/capitulo_do_livro_fraguimentos_de_m
Educação à Antiga - Antiga – Reportagem da Revista dos Municípios
Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/educa____o____antiga_-_revista_dos_
Livreto propaganda "Aldridge College - Chácara do Paraíso" publicado pela Leuzinger em 1913 - Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/livreto_propaganda_leuzinger_-_ano_
Galeria de fotos :
https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.687756787934856&type=1


Sobre o Autor
Zeca Pinheiro - Turismólogo, pesquisador amador, responsável pelo Grupo São Gonçalo Memoria Viva - https://www.facebook.com/groups/Saogoncalodasantigas/ - e a pagina Redescobrindo São Gonçalo: https://www.facebook.com/pages/Redescobrindo-S%C3%A3o-Gon%C3%A7alo/136682933104250


BIBLIOGRAFIA
Diário Oficial da União: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/
Acervo da Fundação Getúlio Vargas - http://cpdoc.fgv.br/
Pagina: Foi um Rio que Passou - http://www.rioquepassou.com.br/
Biblioteca Nacional - http://memoria.bn.br/
Acervo particular Cely Brito Canetti - https://www.facebook.com/cely.canetti
Acervo particular da família Aldridge
Revista Municípios do Brasil - Setembro/89- J.E.F. Editora Cultural Ltda.
Livro Fragmentos de Memória – Luiz Simões Lopes (ex-aluno do Aldridge College).




terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Por Que um Livro é Recusado?

Todos nós já tivemos nossos textos recusados por uma editora tradicional. É muito bom saber das alternativas práticas oferecidas por uma editora por demanda, mas é claro que todos nós também queríamos que uma grande editora acolhesse nossas obras para enfim podermos contar com uma ampla estratégia de marketing, publicação e distribuição, mesmo com os direitos autorais tão reduzidos.
Eu mesmo tive muitas cartas de recusa. Algumas nem se preocuparam em me responder. Eu até entendo, pelo fato do escritório receber diariamente dezenas de encadernações por correio, além de uma infinidade de arquivos virtuais.
Vamos listar alguns motivos notáveis da editora recusar uma obra. Talvez você se identifique com alguns desses itens:

1- A Editora não pediu nada
Isso acontece constantemente. Existe uma época em que a editora "abre a porteira" para um número limitado de obras e depois se fecha. É o período de análise e filtragem do que recebeu. Fique esperto no momento em que eles pedirem.

2- A Editora não Publica obras de Autores Iniciantes
Observe a linha editorial da sua futura aliada literária. Existem editoras que publicam mais da metade da lista só de publicações estrangeiras. Cuidado também para não mandar um romance para uma editora que somente publica livros técnicos ou religiosos. Além de gafe, demonstra total desconhecimento.

3- O Autor não Obedeceu as Normas da Editora
Se a Editora pedir impresso, mande-o impresso. Se a Editora pedir em arquivo digital em Word, fonte Arial, tamanho 12, numerado, em letras pretas sem negrito, nem itálico, mande-o dessa forma exigida. É nesse momento que a obra passa pela primeira filtragem. E eles descartam sem dó.

4- O Gênero é Chato
Raramente uma editora irá publicar e distribuir um livro de poesias, ou trovas, ou crônicas, ou qualquer texto de ótica mais pessoal do autor. Não que elas sejam ruins, só que elas não têm apelo comercial e são mais adequadas para um lote limitado em um determinado evento restrito.

5- Péssima Apresentação
É o pouco momento que o autor tem para se apresentar junto com o seu texto. Muitos não são práticos nem claros o suficiente no decorrer das linhas, fazendo o editor nem mesmo terminar de ler a carta.
Seja franco e objetivo na sua apresentação e na sinopse da obra. Se ficar fazendo firula de que "a obra vai revolucionar o mercado literário", a carta será picotada.

6- Erros Ortográficos
Isso é terrível, inadmissível e imperdoável! Um escritor é um profissional que trabalha com as palavras. É claro que erros todos nós podemos cometer, assim como um cantor pode desafinar, um desenhista errar um traço ou um músico errar uma nota. Mas preste atenção: Na medida que lemos e escrevemos, ganhamos intimidade com as palavras e com isso, nossos errinhos são quase nulos com o passar da prática.
Muito cuidado para não errar feio na sua primeira impressão.


É claro que não é só isso. Mas esses são os mais destacados. O resto você vai desenvolvendo e também descobrindo nas demais postagens anteriores. Boa sorte!



Leo Vieira

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os pisos de caquinhos vermelhos

Alexandre Martins

Em São Gonçalo, como na maioria das cidades do Sudeste brasileiro, há ainda vestígios de assoalhos e pisos de lajotas vermelhas em residências, quintais ou áreas de serviço, dispostas aleatóriamente ou formando desenhos geométricos.

Por ter sido nossa cidade um campo de olarias e cerâmicas desde séculos passados, alguns podem pensar que a idéia é natural de nossa região, mas não é bem assim.

A história vêm do estado de São Paulo, influenciando várias cidades do Brasil. Eis o artigo de um engenheiro sobre o assunto.


O mistério do marketing das lajotas quebradas

por Manoel Botelho*

Pode algo quebrado valer mais que a peça inteira? Aparentemente não. Mas no Brasil já aconteceu isto, talvez pela primeira vez na história da humanidade. Vamos contar esse mistério. 
Foi na década de 40 / 50 do século passado. Voltemos a esse tempo. A cidade de São Paulo era servida por duas indústrias cerâmicas principais. Um dos produtos dessas cerâmicas era um tipo de lajota cerâmica quadrada (algo como 20x20cm) composta por quatro quadrados iguais. Essas lajotas eram produzidas nas cores vermelha (a mais comum e mais barata), amarela e preta. Era usada para piso de residências de classe média ou comércio. 
Foto Mika Lins
No processo industrial da época, sem maiores preocupações com qualidade, aconteciam muitas quebras e esse material quebrado sem interesse econômico era juntado e enterrado em grandes buracos. 
Nessa época os chamados "lotes operários" na Grande São Paulo eram de 10x30m ou no mínimo 8x25m, ou seja, eram lotes com área para jardim e quintal, jardins e quintais revestidos até então com cimentado, com sua monótona cor cinza. Mas os operários não tinham dinheiro para comprar lajotas cerâmicas que eles mesmo produziam e com isso cimentar era a regra. 
 Certo dia, um dos empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa não tinha dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou do refugo da fábrica, caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição.

Agora a história começa a mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo. É, a entrada da casa do simples operário ficou bonitinha e gerou comentários dos vizinhos também trabalhadores da fábrica. Ai o assunto pegou fogo e todos começaram a pedir caquinhos o que a cerâmica adorou pois parte, pequena é verdade, do seu refugo começou a ter uso e sua disposição ser menos onerosa.
Mas o belo é contagiante e a solução começou a virar moda em geral e até jornais noticiavam a nova mania paulistana. A classe média adotou a solução do caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura começou a crescer a diretoria comercial de uma das cerâmicas descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender, a preços módicos é claro pois refugo é refugo, os cacos cerâmicos. O preço do metro quadrado do caquinho cerâmico era da ordem de 30% do caco integro (caco de boa família).

Até aqui esta historieta é racional e lógica pois refugo é refugo e material principal é material principal. Mas não contaram isso para os paulistanos e a onda do caquinho cerâmico cresceu e cresceu e cresceu e , acreditem quem quiser, começou a faltar caquinho cerâmico que começou a ser tão valioso como a peça integra e impoluta. Ah o mercado com suas leis ilógicas mas implacáveis.

Aconteceu o inacreditável. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria cerâmica. E é claro que os caquinhos subiram de preço ou seja o metro quadrado do refugo era mais caro que o metro quadrado da peça inteira… A desculpa para o irracional (!) era o custo industrial da operação de quebra, embora ninguém tenha descontado desse custo a perda industrial que gerara o problema ou melhor que gerara a febre do caquinho cerâmico.

De um produto economicamente negativo passou a um produto sem valor comercial a um produto com algum valor comercial até ao refugo valer mais que o produto original de boa família…

A história termina nos anos sessenta com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores (4 x15m) ou foram morar em favelas.

São histórias da vida que precisam ser contadas para no mínimo se dizer:
– A arte cria o belo, e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça inteira…

* Engenheiro Civil e autor da coleção CONCRETO ARMADO EU TE AMO

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Como Agir em uma Palestra Literária

Então a sua escola, faculdade ou livraria preferida irá receber um escritor para uma palestra com a turma? Isso é maravilhoso! São poucos os escritores que se dedicam para pequenos eventos literários e a melhor forma é exatamente conhecer de perto, tanto para o escritor quanto para o leitor.
Felizmente, com o advento dos blogs literários, o autor pode ter a sua biografia, junto com as suas referências editoriais fartamente divulgadas e amplamente acessíveis, bastando apenas a digitação de seu nome no campo de busca virtual. Porém, é muito importante que tanto autor quando escritor saibam sobre como se portarem e tirarem o melhor proveito da preciosa oportunidade. 

Para o escritor:
Ele precisa conhecer o local. Sendo escola, o endereço, a faixa etária dos alunos e o que mais for necessário para não se sentir um "forasteiro" no local. Conheça bem o trajeto e a melhor baldeação, para não se perder, nem se atrasar. Leve cartões, marcadores de livros e outros materiais grátis de referência de seu trabalho. Não se esqueça de deixar um exemplar (com dedicatória) de seu livro para a biblioteca da escola ou faculdade.
No momento da palestra, não foque a visão em apenas uma pessoa. Olhe para o campo todo e divida-o em quatro partes, olhando para cada um como em um compasso (direita e esquerda de cima e direita e esquerda de baixo). Relaxe o corpo e não fique curvado nem estufado. Use um bom tom de voz e cuidado para não falar baixo ou incompreensível demais. Seja atencioso nas respostas e fale olhando para a pessoa, sem se estender no tempo.

Para o leitor:
Nem sempre o escritor é popular no mercado literário, mas algum conteúdo ele deve ter na internet como referência. Pesquise o máximo que puder antes, para evitar desperdiçar o direito de pergunta com algo desnecessário.
Cuidado também com perguntas óbvias demais como "você gosta de escrever?" ou então perguntando a ele se ele já escreveu sobre um assunto que não faz o seu gênero.
Evite também fazer qualquer tipo de comparação com a literatura dele. Nem todo livro de vampiro é inspirado em "Crepúsculo". Certas comparações podem parecer ofensivas, além de demonstrar desconhecimento sobre a obra do palestrante.
Não pergunte nada que seja desconexo com o tema da palestra, tão pouco sobre a vida pessoal do escritor.
Tenha cuidado para não provocar má situação, questionando sobre algum aspecto da obra ou trabalho do autor. Reserve isso para alguma conversa restrita ou por e-mail.

Após a palestra, geralmente os meios de contato do autor ficam disponíveis para todos. Se você quiser convidá-lo para algum serviço profissional, como revisão de obras, leitura crítica ou participação seu blog, tenha bom senso e lembre-se de que um escritor profissional vive disso e nem sempre terá tempo (e interesse) para se dedicar em parcerias e projetos que não sejam remunerados.


Leo Vieira