segunda-feira, 31 de março de 2014

Lições de Chesterton para quem deseja ser escritor

Rodrigo Gurgel


Chesterton é grande e grandioso. Seu texto empolga, contagia. Sua argumentação irônica faz explodir diante de nós os paradoxos do mundo que construímos — quanta loucura somos capazes de aceitar!

Ele pode também ser um bom professor, daqueles raros, cujas lições extrapolam o medíocre livro didático. Conselhos só aproveitáveis, entretanto, aos dispostos a ler e reler.

Acompanhem esta aula para quem deseja ser escritor. Os conselhos servem a todos, ainda que o tema se restrinja a histórias de detetives. Uma das melhores lições, por exemplo, é endereçada aos que “têm a estranha noção de que é tarefa deles confundir o leitor; e de que, contanto que o confundam, não importa se o desapontam” — prática que se tornou um vício na literatura contemporânea brasileira.



 
 
fonte: http://rodrigogurgel.blogspot.com.br/2014/03/licoes-de-chesterton-para-quem-deseja.html

terça-feira, 18 de março de 2014

O Índio do Arsenal




Alexandre Martins*



Não somente Niterói possui uma estátua dedicada a algum indígena, mas também São Gonçalo possui a sua.

Uma misteriosa estátua de um índio existe há décadas no bairro do Arsenal.

Segundo moradores, como Guaíra Xavier - uma caxiense que desde o início ficou intrigada com a estátua - o monumento pertencia a um senhor que era realmente índio. 

Ele construiu a estátua na direção de Niterói. A posição da flecha empunhada mira a terra de Araribóia. Mas tanto o motivo da construção quanto da posição beligerante contra os niteroienses ficou descohecido. Mesmo com seu falecimento, a estátua ficou ainda preservada. 



Mede cerca de 2 metros de altura, feita em granitina (pedaços de granito em massa de cimento) e posicionada em cima de um pedestal de alvenaria.

Muitos que passam na frente dela imaginam várias coisas: lembranças de um terreiro de umbanda, sacrifícios aos seus pés, etc.

A realidade é que poucos sabem do real motivo que levou a essa construção.

A SAL trará mais detalhes sobre mais essa curiosidade de nossa cidade.

Saudações papagoiabas.



P.S.: Em postagem na rede Facebook, o fotógrafo gonçalense Marco Speziali explica que a imagem está localizada dentro de uma propriedade particular que pertenceu ao médico pediatra Mário Sólon. Antes de tomar como sua propriedade, no local existia um Centro de Umbanda muito frequentado. A imagem seria, então, de um "Caboclo de Xangô". [1]
Segundo o fotógrafo, os protestantes locais desejariam retirar a estátua, o que foram impedidos por moradores que afirmaram ser relíquia indígena.

 *    *    *



1 - Caboclo, dentro da Umbanda, corresponde a um espírito desencarnado de um índio, que se manifesta através de uma pessoa capaz de senti-lo, o chamado "médium". Tal espírito responde às perguntas dos frequentadores das sessões de umbanda, procurando passar-lhes sua sabedoria e coragem, na intenção de ajudar-lhes a superar seus problemas.
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(*) empresário cultural, presidente da SAL 

Relíquias de Marc Ferrez

fonte: Blog Semióticas





Boas e más notícias trouxeram de volta à mídia o nome de Marc Ferrez (1843-1923), um dos mais importantes fotógrafos brasileiros de todos os tempos. As boas notícias: uma parte considerável da obra completa de Ferrez foi adquirida pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que lançou no Brasil e na França um catálogo impecável reunindo ensaios escritos por especialistas e uma coleção de 160 imagens primorosas datadas do final do século 19 e do começo do século 20.
Além das fotografias reunidas na edição, há também um acervo de mais de 300 imagens originais de Ferrez, a maioria belas panorâmicas em negativos de grande formato (40cm X 110cm), que permanece em exposição itinerante nas sedes do IMS e em outros espaços no Brasil e no exterior. Parte do acervo também está aberta ao público através do site que o IMS mantém na internet. Tanto o catálogo impresso como a mostra itinerante e as imagens disponíveis no site revelam a arte grandiosa de Ferrez, que criou no Brasil, antes de qualquer outro pioneiro da fotografia, uma linguagem que se tornaria universal e quase obrigatória em livros e reportagens de turismo e no formato de cartões postais.
Também há más notícias: o nome de Marc Ferrez frequentou as páginas policiais por conta de um grande roubo no acervo da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, registrado em 2005, quando desapareceram cerca de 150 de suas fotografias mais raras e celebradas. Um crime perfeito, que não deixou pistas, aparentemente realizado sob orientação de especialistas: além das séries valiosas de Ferrez, também furtaram fotografias e negativos originais de importantes e pioneiros fotógrafos do século 19, entre eles August Stahl (1828-1877), Guilherme Liebenau (1838-1900) e Benjamin Mulock (1829-1863).



Imagens de Marc Ferrez: o fotógrafo em
autorretrato datado de 1876, aos 33 anos. No
alto, registro da primeira locomotiva (Trem de 
Ferro) e o grupo de engenheiros responsáveis 
pelas obras da Estrada de Ferro Rio-Minas,
fotografados por Ferrez no alto da Serra da 
Mantiqueira, no ano de 1888. Acima, Ferrez 
registra a imperatriz Teresa Cristina e Dom 
Pedro 2°  com a princesa Isabel e a família
reunida no Paço Imperial, em 1887
(fonte: IMS e Biblioteca Nacional)



As boas e as más notícias colocaram em evidência o gênio de Marc Ferrez, nome fundamental da fotografia e do cinema brasileiro que, em seus 80 anos de vida, registrou todo o Brasil em belas panorâmicas e em retratos impressionantes, entre ilustres personalidades e anônimos que encontrou em cada região do país. Filho de um casal de escultores e gravadores franceses que vieram para o Brasil em 1816, com a Missão Artística Francesa, Ferrez foi comparado aos grandes pintores pelos intelectuais do Império e da primeira República, o que era a mais nobre das distinções, numa época em que o trabalho de fotografar estava longe de ser considerado uma arte.

Arauto da Modernidade

O livro, na verdade um belo catálogo fotográfico intitulado “O Brasil de Marc Ferrez”, traz detalhada biografia, cronologia de seus principais trabalhos e ensaios de Françoise Reynaud, curadora do Museu Carnavalet, em Paris, e dos pesquisadores Maria Inez Turazzi, Pedro Karp Vasquez, Laurent Gervereau, Frank Stephan Kohl, Sérgio Burgi e Antônio Fernando De Franceschi, superintendente do IMS. Com a publicação e a exposição itinerante do acervo, foi a primeira vez que a obra de Marc Ferrez chegou ao público de forma abrangente.



No alto, visita do imperador Dom Pedro 2° e da
imperatriz Tereza Cristina à inauguração do Túnel
da Mantiqueira na Estrada de Ferro que interligava
o Rio de Janeiro a Minas Gerais (1882); acima,
a princesa Isabel Cristina de Bragança (1887)
Nas fotografias de Ferrez, o que mais surpreende, junto com sua demonstração de domínio da luz, é sua precisão na escolha do ponto de vista para ressaltar no enquadramento a qualidade estética das cenas registradas. São imagens comoventes, mesmo depois de todos os avanços tecnológicos da maquinaria fotográfica. Como destaca De Fraceschi em um dos ensaios do livro, abordando as singularidades da obra de Ferrez e sua influência sobre pintores célebres que se dedicaram às paisagens do Brasil:
O que interessa, cada vez mais, é compreender as relações passadas e presentes entre a fotografia e a pintura, sobretudo agora, quando as vanguardas contemporâneas parecem ter se desinteressado do mundo objetivo, deixando para a fotografia a inteira responsabilidade de se ocupar do real. Diante da obra monumental de Marc Ferrez, fica mais fácil compreender porque se atribui às suas belas imagens, produzidas na segunda metade do Oitocentos e nas primeiras décadas do século 20, os primeiros registros sobre a entrada do Brasil na Modernidade”.




No alto, Igreja de São Francisco de Assis 
em Ouro Preto, Minas Gerais, uma das obras-
primas do mestre Aleijadinho, retratada por 
Marc Ferrez em 1880. Acima, Paul Ferrand
fotografado por Ferrez na Serra do Itacolomy,
em Ouro Preto, no ano de 1886
Além do privilégio da nomeação como primeiro (e único) Fotógrafo da Marinha Imperial, Ferrez pôde percorrer o país como um dos principais nomes da Comissão Geológica do Império, a partir de 1875, fotografando atividades econômicas, a construção das principais estradas de ferro, as construções seculares da arquitetura barroca, as minas de ouro e pedras preciosas em Minas Gerais, as belas paisagens e os cenários desconhecidos das cidades, das florestas e das fazendas, seus costumes e personagens dos salões, das ruas, dos grotões.
Funcionário dos mais destacados nos quadros do Segundo Império, primeiro entre seus pares a visitar os confins do território nacional e registrá-los em fotografias e documentos cartoriais, Marc Ferrez também desenvolveu equipamentos próprios e introduziu experiências técnicas como as fotografias coloridas, por ele batizadas de autocromo, em aperfeiçoamento à invenção dos irmãos Lumière. Observar a evolução temporal de sua arte equivale a uma leitura da história do Brasil e da trajetória da fotografia, dos processos químicos mais primitivos aos avanços da tecnologia das câmeras, lentes e processos de revelação e reprodução.




Cartões postais de Marc Ferrez: no alto, escravos no
garimpo de ouro na região de Diamantina, no interior
de Minas Gerais, em 1888. Acima, paisagem surpreendente
às margens do Rio São Francisco no nordeste, em 1875

Expedições do Império

Filho mais jovem do francês Zéphyrin Ferrez, contando com mais quatro irmãs e um irmão, ficou órfão de pai e mãe no Rio de Janeiro aos sete anos. Mandado para a França, onde estudou até a adolescência, retornou ao Brasil em 1859 e passou a trabalhar na Casa Leuzinger, uma papelaria e tipografia que tinha começado a trabalhar com uma seção dedicada à fotografia. Na Casa Leuzinger, Ferrez aprenderia as técnicas da arte de fotografar com o alemão Franz Keller (1835-1890). Aos 21 anos, em 1865, investiu tudo que tinha para abrir a firma Marc Ferrez & Cia., um estúdio fotográfico que o colocou entre os principais profissionais da corte.
Em 1875, a trajetória de Ferrez mudou radicalmente quando ele recebeu convite para integrar, como fotógrafo, a expedição chefiada pelo geólogo canadense Charles Frederick Hartt (1840-1878) e financiada pela Comissão Geológica do Império. Hartt faria história como autor da primeira obra rigorosamente científica sobre a geografia do Brasil – “Geology and Physical Geography of Brazil” (1870). A Expedição Hartt percorreu várias regiões do país e acendeu em Ferrez o gosto pela aventura de desbravar e registrar os confins.






No alto, índia e seu filho fotografados no
sul da Bahia, em 1875, e índios botocudos 
no interior de Mato Grosso (1876). Acima,
a primeira fotografia no interior de uma mina
de ouro, em Ouro Preto, Minas Gerais (1888)
Depois da experiência com a Expedição Hartt, Ferrez passa a investir esforços nos estudos sobre geologia e geografia e, no ano de 1880, decide encomendar na Europa a confecção de uma máquina fotográfica por ele idealizada, para a execução de imagens panorâmicas em grandes dimensões. Daí aos cargos oficiais de maior importância no Império de Dom Pedro 2°, também entusiasta da fotografia, foi um passo.
O destaque como funcionário a serviço da nação continuaria nos primeiros tempos da República. Reconhecido no Brasil e no exterior como fotógrafo de paisagens, de obras públicas, de cartões postais e de retratos de políticos e personalidades que se tornariam célebres, entre eles os escritores Machado de Assis e Rui Barbosa, Ferrez realizaria a partir de 1903 uma de suas séries mais reproduzidas até a atualidade: a documentação completa das obras no Rio de Janeiro de instalação da Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, dos antigos edifícios às construções que foram erguidas no começo do século 20.




Araucárias, no Paraná, em fotografia
datada de 1884 (no alto). Acima, grupo
de escravos e seus filhos reunidos em
fazenda de café na Serra da Mantiqueira,
Sul de Minas Gerais, no ano de 1885
Qualidade formal e documental

Marc Ferrez obteve em sua época as mais importantes condecorações pela excelência de seu trabalho fotográfico, tanto no Brasil como em outros países, em diversas instituições internacionais, entre elas os primeiros grandes prêmios em exposições nos EUA (Philadelfia, 1876) e na França (Paris, 1878), além de ter suas fotografias exibidas com destaque na Exposição Universal de 1900, em Paris. Várias de suas séries e álbuns também foram incorporadas desde o final do século 19 aos acervos da Société Géographique, sediada na França.
Como se não bastasse, o nome de Marc Ferrez ainda está ligado ao nascimento do cinema no Brasil: foi ele quem patrocinou a produção dos primeiros filmes nacionais e instalou em 1907, no Rio de Janeiro, o Cine Pathé, primeira sala de exibição permanente de espetáculos cinematográficos. Ainda nesse ano, a Casa Marc Ferrez & Filhos tomaria para si a distribuição da grande maioria dos filmes exibidos nas diversas salas de cinema que surgiram no Rio de Janeiro. 




O Rio Antigo segundo Marc Ferrez:
no alto, panorâmica da Ilha Fiscal na
Baía da Guanabara, em 1885. Acima, a
Avenida Central no Rio de Janeiro de 1910
 
A extraordinária qualidade formal e documental da obra de Marc Ferrez na produção de retratos de personalidades, além das panorâmicas, tanto as urbanas quanto a paisagem natural que emoldura e envolve seus enquadramentos, foi preservada intacta por seus familiares no último século. Depois da morte do fotógrafo patriarca, o guardião de sua obra completa foi Gilberto Ferrez (1908-2000), neto de Marc e um dos mais destacados historiadores da iconografia brasileira e da obra dos viajantes estrangeiros no decorrer da história do Brasil.
Desde a morte de Gilberto, a guarda e a preservação dos arquivos dos Ferrez estão a cargo de sua filha, Helena Ferrez, que mantém há décadas a catalogação dos documentos da família. Os catálogos preservados contam com um extenso patrimônio em suportes variados, no qual estão incluídos desde as relíquias de Zéphyrin, pai de Marc e tataravô de Helena, às clássicas séries de ensaios em panorâmicas registradas em daguerreótipos e fotografias por Marc Ferrez.




No alto, amostra da experiência de Marc Ferrez
com o autocromo em cores, realizada em 1915 na
Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, seguida de
duas imagens do Rio no ano de 1875: o Pão de Açúcar,
visto do Flamengo, e uma panorâmica da entrada da Baía
da Guanabara. No final da página, mais duas imagens de
1875: orla do Rio de Janeiro, com vista para o Cais Pharoux
e adjacências, e panorâmica que registra os arrecifes e o porto
do Recife, feita por Ferrez no alto do Farol da Barra, tendo
em primeiro plano o Forte do Picão, construído em 1614 e
batizado desde então pelos holandeses como Castelo do Mar
Aos cuidados de Helena Ferrez também estão os acervos reunidos durante décadas por Gilberto Ferrez e todos os arquivos e filmes em negativo do filho de Marc e pai de Gilberto, Júlio Ferrez (1881-1945) – pioneiro que trouxe os primeiros equipamentos de cinema para o Brasil e realizou as primeiras filmagens em território brasileiro. Os catálogos dos Ferrez contam ainda com séries de correspondências, muitos álbuns da intimidade da família, cadernos de anotações das várias gerações, peças de artes plásticas e impressos em geral.
A maior parte deste imenso acervo, entretanto, não faz parte do material reunido no livro e na mostra “O Brasil de Marc Ferrez”. As imagens que constam do livro e da mostra foram selecionadas da coleção adquirida pelo IMS em 1998 – uma coleção que totaliza cerca de 5.500 fotografias diferentes, produzidas no século 19 e começo do século 20, incluindo mais de 4 mil negativos originais em vidro.
Importante como resgate da importância capital do trabalho de Marc Ferrez, o livro, assim como a mostra e a manutenção do acervo pelo IMS, também consolidam e estendem para além do círculo de especialistas um trabalho que é um dos mais importantes legados visuais do Segundo Império e da República Velha. Compreendida no período que vai de 1865 a 1918, a perícia técnica e a grande arte de Marc Ferrez se mantêm, até os dias de hoje, como um dos registros fundamentais da fotografia no Brasil e no mundo.

por José Antônio Orlando.







segunda-feira, 10 de março de 2014

Por Que Toda Leitura é Necessária?

A falta de atenção na carreira literária é grande e frequente. Quem nunca se
distraiu e se perdeu em uma pesquisa ao analisar uma bobagem na internet? Isso acontece com todos. Seja uma piada, ou imagem engraçada, ou curiosidade, ou cultura inútil, entre outras coisas. As redes sociais se tornaram a maior inimiga do leitor virtual e mais ainda do escritor.
Quando for estudar no computador, e tiver a necessidade de fazer eventuais consultas na internet, não deixe as páginas sociais abertas. Senão o seu desempenho pode ficar reduzido absurdamente.
Se você for escrever, também faça o mesmo. Se surgir algum link notável, salve-o para consultar depois. Mas se você não resistir, aprenda a se policiar com pequenas regras e metas para concluir seus objetivos literários.
Mas afinal, essas bobeiras são nocivas? Depende muito, porque tudo em demasia é ruim. Mas posso dizer que para um escritor, uma leitura ruim pode ser boa.
Todo leitor, por mais acadêmico e refinado que seja o seu gosto, vai gostar de ler umas inutilidades e serão exatamente essas palhaçadas que irão dar corda em suas ideias. É igual em uma sopa, onde vamos escolhendo os melhores legumes, removendo as cascas, folhas, sementes e partes ruins. Muitas ideias originais surgiram em momentos ociosos. A mente humana precisa estar entretida para produzir novidades agradáveis.

Nesta mesma linha de raciocínio, não vamos questionar, criticar e/ou oprimir quem compartilha certas bobeiras nas redes sociais. É claro que tudo tem um certo limite, mas vamos ter o bom senso e mensurar as coisas boas de cada um, seja como for.

Leo Vieira

Breve História da cidade de São Gonçalo



Alexandre Martins*


Em 1502 foi descoberta a Baía de Guanabara e, em decorrência, suas regiões. A chamada Banda D'Além tinha uma sesmaria, a de São Gonçalo, parte da Capitania de São Vicente.
Foi o viajante francês Jean Lery quem, em 1557, fez a primeira referência escrita que se conhece, às terras do hoje município de São Gonçalo. Em seu livro “Viagem às terras do Brasil” ele comenta que encontrou aldeias indígenas Tupis em torno da baía que nós hoje chamamos de Guanabara e localizada a Ilha de Itaoca, como o ponto de uma delas. 1
A Sesmaria de São Gonçalo compreendia o espaço o que hoje seria da Praia de Icaraí à Praia da Luz. Seu desbravamento se deu pelos Jesuítas, que construíram portos e fazendas. À época existiam poucos habitantes nativos, como os índios
É, pois, em abril de 1579 que se tem o início da história de São Gonçalo. A paróquia data dee 10 de fevereiro de 1646, bem como a transformação da sesmaria em Frequesia.
Gonçalo Gonçalves, “O Velho” é considerado o primeiro donatário da Sesmaria que deu origem à atual cidade, cuja carta de doação data de 6 de abril de 1579 de terras “com mil braças de largo e 1500 de comprido, em Suassunhã do Porto de Birapitanga”. Fidalgo natural de Amarante, região do Minho, em Portugal, morava no Rio de Janeiro. De posse da terra, erigiu a igreja de São Gonçalo do Amarante, às márgens do Rio Imboaçu, aonde hoje está a igreja matriz. O povoado surge em seguida, onde hoje é o bairro do Zé Garoto.
Revolta da Cachaça é o nome pelo qual passou à História do Brasil o episódio ocorrido entre final de 1660 e começo do ano seguinte, no Rio de Janeiro, motivado pelo aumento de impostos excessivamente cobrados aos fabricantes de aguardente. Também é chamada de Revolta do Barbalho ou Bernarda. Governava o Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, no início de 1660. Produtores da região norte da Baía da Guanabara, então Freguesia de São Gonçalo do Amarante (atuais municípios de São Gonçalo e Niterói) rebelaram-se contra a taxa.
Durante seis meses houve reuniões na fazenda de Jerônimo Barbalho Menezes de Bezerra, na Ponta do Bravo (atual bairro do Gradim, em São Gonçalo).
Na madrugada de 8 de novembro de 1660, liderados pelo fazendeiro, os revoltosos atravessam a baía, convocando o povo da cidade pelo toque de sinos a reunir-se diante do prédio da Câmara. Totalizavam 112 senhores de engenho, 10 de São Gonçalo, que exigiam o fim da cobrança das taxas, bem como a devolução daquilo já arrecadado. Tomé de Sousa Alvarenga, tio do governador e em exercício durante sua ausência. Alvarenga foi enviado para Portugal junto a uma lista de acusações contra sua família, então poderosa. Salvador de Sá organizou uma tropa de paulistas. O Rio de Janeiro foi atacado de surpresa, na madrugada de 6 de abril. As tropas baianas vieram pela praia, enquanto Salvador de Sá invadia com os seus pelo interior. Apanhados de surpresa, os revoltosos não opuseram resistência.
Aprisionados os líderes, foi montada uma corte marcial que condenou os rebeldes à prisão. Jerônimo Barbalho, único condenado à morte, foi decapitado e sua cabeça afixada no pelourinho.
O Conselho Ultramarino, porém, deu razão aos rebelados. Salvador de Sá foi afastado de suas funções e teve de responder em Portugal por seus excessos. A família Sá, descendente do ex-governador-geral Mem de Sá e do fundador da cidade do Rio de Janeiro, Estácio de Sá, perdeu prestígio e a grande influência que até então conseguira manter. Os rebeldes condenados foram libertados.
Em 1749 foi criada a Estrada Real (atual rua Moreira César) ligando Niterói a Alcântara. À época o trajeto era feito por embarcações do Porto de Niterói para os portos de São Gonçalo (Ponte, Luz, Neves, Bandeira e Lira) e a ligação com o Rio de Janeiro se dava tembém por esses portos.
Com a criação, em 21 de junho de 1769, da Freguesia de Paquetá, esta é anexada a São Gonçalo, sendo anexada finalmente pelo Rio de Janeiro somente em 1833.
Em 1779, São Gonçalo contava com 23 engenhos de açúcar, com 952 escravos numa população de mais de seis mil habitantes.
Em 1780 recebeu as primeiras mudas de café, oriundas de Belém, no Pará.De São Gonçalo, expandiu-se para todo o Estado do Rio e para o Vale do Paraíba.
Em 1819 é criada a Vila Real de Praia Grande e São Gonçalo é anexada junto com outras freguesias. Em 1834 é denominada Cidade de Niterói e, em 1835, é elevada a capital do Estado do Rio de Janeiro.
Em 1847, o Imperador D. Pedro II visita São Gonçalo pela primeira vez, hospedando-se na sede da Fazenda do Jacaré (atual bairro do Patronato).
Em 1860, possuía São Gonçalo 30 engenhos de cana e 10 fornos de cerâmica, exportando seus produtos pelos portos de Gradim, da Pedra, Maruí, Neves, Guaxindiba, da Madama, da Ponte, da Luz, do Rosa e Boa Vista.
Em 1890, foi São Gonçalo a sede da primeira Região Policial do Estado do Rio, conseguindo ainda, aos 22 de outubro, seu desmembramento de Niterói. Em 1899 é inaugurado o primeiro prédio da Prefeitura, no mesmo local atual, embora seu primeiro prefeito, Cel. Ernesto Francisco Ribeiro, tenha somente sido nomeado em 1904. Em 1922, São Gonçalo é reconhecida oficialmente como cidade.
Em 1943, o distrito de Itaipú é cedido para o município de Niterói e São Gonçalo deixa de ter sua ligação com a Costa brasileira.
Não somente o Imperador e a Princesa Isabel, mas Presidentes do Brasil visitaram São Gonçalo, como Getúlio Vargas em 1943 e Juscelino Kubitschek em 1956.
Os primeiros bairros de São Gonçalo tiveram origem das fazendas de cana de açúcar que foram loteadas no início do século XX, daí muitos terem seus nomes, como Trindade, Itaúna, Colubandê, etc. Outros, pelos portos que existiam no local, como Porto Novo, Porto da Madama e outros.
Muitos brasileiros importantes nasceram em São Gonçalo, como o Conde Baurepaire Rohan, construtor do primeiro Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro; Orlando Rangel, introdutor da Indústria Farmacêutica no Brasil; dentre outros.


* * *


(*) empresário cultural, Presidente-fundador da SAL.


1- O termo tamoios se refere a uma aliança de povos indígenas do tronco lingüístico tupi que habitavam a costa dos atuais estados de São Paulo (litoral norte) e Rio de Janeiro (Vale do Paraíba fluminense). Esta aliança, liderada pela nação tupinambá, congregava também os guaianazes e aimorés. Portanto "tamoio" não se trata de um etnônimo, ou seja, de uma tribo ou nação indígena específica. O termo "tamoio" vem "tamuya" que em língua tupi significa "os anciãos". A aliança de tribos, conhecida como Confederação dos Tamoios, foi motivada pelos ataques dos portugueses e mestiços que procuravam capturar escravos entre os indígenas para trabalhar nas primeiras plantações de cana-de-açúcar. Por décadas, os Tamoios foram a única resistência organizada contra a colonização portuguesa.

terça-feira, 4 de março de 2014

Compondo

Até onde vai o limite de um escritor? Você poderia responder? Você poderia se
classificar? Será que você poderia se definir até onde pode ir na escrita? Se você ainda está pensando, desista! Um escritor não pode se reter no processo criativo.
Escrever é uma aventura cansativa, porém gratificante. É um momento em que você define um mundo ainda bruto e desconhecido, onde através de suas palavras e criatividade, irá dar forma e transformar o enredo, com beleza e graça. A suavidade e sabedoria na escolha do momento certo de usar as palavras farão que você se torne um bom guia de mais uma esplendorosa experiência literária, seja ela um texto curto ou um romance.
O experimento é o primeiro passo para a construção do enredo e argumento. A partir daí, você passará a tecer o caminho da aventura. Você precisa sentir a obra que irá apresentar.
E o processo criativo para uma música? Será que você se sente capaz para compor?
Não titubeie na resposta! Todo escritor compõe. A música está por toda a parte e tudo é um processo criativo que precisa ser desenvolvido através do treino e da prática.
As músicas, assim como qualquer outro texto precisam de motivo e conteúdo para existirem. Não crie música somente pela rima, ou a mesma poderá ter vida vaga e curta.
É preciso saber algum instrumento musical para compor? Se souber, melhor. Um violão ou piano ajudam bastante. Se souber cifrar (desenhar notas musicais junto à letra), melhor ainda. Mas isso se desenvolve com o tempo e interesse.
Prepare o gravador (do celular ou do PC), o papel, lápis, borracha, o violão (se
preferir) e mãos à obra!

MELODIA:
Se não quiser fazer com nenhum instrumento (o que eu particularmente, até acho mais prático), se concentre nas notas musicais. Escreva os sons no papel e toque com o lápis, fazendo a leitura das notas. Não tenha pressa. A melodia irá começar a nascer disformemente. Daí você vai observando até que o som vai começar a ficar mais "digerível". O trecho que você mais gostar, selecione e grave. A partir dele, você poderá desenvolver o refrão. E nele você esticará a introdução, a harmonia, o ritmo, o andamento, o refrão e o desfecho.
Com a melodia pré-definida, você já tem uma base para inserir a letra.




LETRA:
A composição geralmente é um conto ou crônica. Nem sempre é um poema, porque ele não pode ser muito limado nas estrofes. Compor uma letra musical é o momento de por melodia em uma história com conteúdo e rimas.
Geralmente terá duas estrofes, cada uma com quatro versos (linhas). A primeira estrofe é a introdução, com uma boa apresentação da história. A segunda é um gancho para conduzir a melodia para o refrão, que também pode ser uma estrofe com quatro linhas ou até mesmo três, com a última com um verso mais longo (sugestão).
O refrão é muito importante porque é o momento em que a energia musical será mais potente. É o momento do ápice da apresentação. Também é com a melodia do refrão que se esboça a introdução musical e até mesmo se escolhe os instrumentos mais compatíveis. Depois, é só fazer a segunda parte da letra (que geralmente tem o mesmo refrão).

E não é só isso. Revise, treine, cante, reescreva, grave e ouça o resultado. Depois é só levar a melodia cifrada (se não souber, encomende o serviço a um profissional) para registro. Grave em estúdio também (com banda), se preferir.
Já imaginou compor uma música para cada livro? Ou quem sabe para cada capítulo e/ou personagem? O que acha de lançar o CD oficial do livro?

Tudo é válido para uma mente criativa bem desenvolvida. O processo para aprimoramento é o mesmo de um romancista: muita leitura, pesquisa, treino e amor pela arte.


Leo Vieira

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A família Conceição e a história de uma Ferrovia

A Família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo

Alex Wölbert*

A relação de amor entre o senhor Antenor da Conceição e a Estrada de Ferro Maricá (EFM) começou cedo. Com apenas 22 anos, foi trabalhar como conservador de via permanente, contou com orgulho e nostalgia para nossa reportagem – os olhos marejados de lágrimas – sobre os bons tempos na ferrovia.
Antenor da Conceição nos revela a história do menino que não tinha grandes aspirações de ser um médico ou engenheiro. Porém, seu maior sonho era de ser coveiro no funcionalismo público. A vida do jovem Antenor despontava em Saquarema, no ano de 1936, enquanto a da EFM já estava a pleno vapor: era responsável pelo transporte de grande quantidade de sal vindo da região dos lagos e, principalmente, da grande quantidade de laranja que fez do município de São Gonçalo um dos principais exportadores da fruta. A rede ferroviária também foi responsável pelo crescimento do núcleo urbano de Maricá, pois era o mais eficiente meio de transporte. Como consequência, ruas surgiram em torno da estação, resultando no aparecimento de diversos estabelecimentos comerciais. Eduardo Rodrigues de Figueiredo relata no Anuário Geográfico do Rio de Janeiro, de 1952, a dificuldade demográfica de Maricá: “Não há no Estado do Rio de Janeiro município que, devido ao seu sistema orográfico, esteja mais isolado do restante de seu território do que Maricá”. Financiada em 1888, principalmente por proprietários rurais como José Antônio Soares Ribeiro, o Barão de Inohan, sem nenhum ônus para os cofres públicos, o primeiro trecho da estrada foi iniciado ligando Alcântara a Rio do Ouro, passando por Sacramento e Santa Isabel.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi

Antenor nos recebeu nessa mesma estação de Santa Isabel, sua residência, onde desde 1970 vive com sua esposa, Maria Inês, e seus 3 filhos: Regina, Ronildo e Raquel – todos criados graças ao seu salário de ferroviário. Mesmo acamado devido uma enfermidade, um sorriso jovial ainda enfeita seu rosto e – com a alegria do menino sonhador de Saquarema – nos contou sobre seu trabalho na estrada de ferro. Sempre preocupado em manter a história, preservando as características do lugar, quando questionado do motivo de sua luta para manter a arquitetura da época, explicou: “Esse lugar não é meu e devo mantê-lo. Estou aqui justamente para preservá-lo e  não acabarem com esse patrimônio que guarda muitas memórias de nosso Município”.
O destino sempre amarrou a história de Sr. Antenor à estrada de ferro Maricá. Mesmo noivo e nos preparativos de casamento, os olhos de Antenor cruzaram com os da menina Maria Inês, filha do feitor a quem era subordinado. Essa historia de amor perdura até hoje. Fomos testemunhas do carinho e atenção daquela menina, hoje uma senhora de fala mansa e passos calmos, mas uma guerreira para defender sua família.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi

Quando indagado pela nossa reportagem sobre o que mais o marcou em sua carreira como ferroviário, o Sr. Antenor, sem falsa modéstia, diz que era sua agilidade no serviço. Por causa dessa qualidade, sempre era chamado para trabalhos de emergência. Contou que às vezes, três funcionários não davam conta do serviço e ele era chamado pelo encarregado para dar uma “forcinha”. Ao chegar, os outros funcionários desapareciam e ele desenrolava o serviço com a maior facilidade. Sr. Antenor era, como se diz popularmente, “pau pra toda obra”. Quando a linha enchia de capim alto, dificultando a visibilidade do maquinista, quase sempre resultando no atropelamento de gados pastando, ele era chamado pelo supervisor para capinar.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Sr. Antônio Conceição

Num momento da entrevista notamos uma tristeza no olhar do Sr. Antenor. Foi exatamente quando fala do fim da estrada de ferro pela justificativa de não dar lucro. Ele informa que, além de ter bastante volume de carga e passageiros, muitas pessoas precisavam do trem. O senhor Antenor lamenta o não aproveitamento de nenhum trem que circulava na linha. Todos foram enviados para a siderúrgica em Volta Redonda.
A toda hora vivemos a história. Algumas delas se entrelaçam no meio do caminho, como a da família do Sr. Antenor e a EFM. Preservar as memórias da história de São Gonçalo é valorizar nosso passado e compreender nosso presente para a construção de um futuro melhor.
A família Conceição e a história de uma Ferrovia – Sim São Gonçalo
Crédito: Sandro Marraschi




quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Por que é Bom Escrever de Madrugada?

É muito comum na vida de um leitor e/ou escritor ocorrer as conhecida insônias por conta do texto que está lendo, revisando ou escrevendo. Um escritor sempre perderá a noção do tempo durante as suas imersões literárias.
Mas por que será que a madrugada é um período tão apreciado? Muito simples: a madrugada é praticamente o ápice para que o cérebro possa trabalhar e desenvolver o senso criativo. É nesse momento que temos os sonhos mais absurdos e inimagináveis.
Mas nem sempre nos lembramos deles quando acordamos, exatamente pelo fato da madrugada ser o momento de relaxamento total das ideias. Outro fator que torna a madrugada especial é o silêncio. Quando estamos sem barulho por perto, temos mais capacidade para raciocinar e também nos distraímos muito menos.
Durante o dia, armazenamos informações, imagens, vozes, fisionomias, momentos notáveis, melodias, entre outras preciosidades sem muita importância no momento. De madrugada, quando o corpo começa a se desligar da realidade para o merecido descanso, a mente começa a se agitar e trazer à tona todas essas informações de forma intensiva e até descontrolada. A situação chega a ser incômoda, como um peso de consciência. O momento especial em que você se torna cúmplice de suas ideias apresentadas no papel. Aprecie esse momento porque a noite será longa, coroando mais um dia que valeu a pena.


Só pra ressaltar; esse texto também foi escrito em uma madrugada.


Leo Vieira

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Jurubaíba é gonçalense?

Alexandre Martins*


Em grande “sacada” editorial, o jornal Extra descobriu o filão do município de São Gonçalo e criou um tablóide anexo a sua edição das quintas-feiras, o Extra São Gonçalo. À guisa da outra boa sacada dos jornais de bairro criados pelo seu irmão rico, o jornal O Globo (o Extra pertence às Organizações Globo) o “jornal das classes D e E” se surpreendeu com o esgote da tiragem inicial que continha o suplemento.
Ponto para o jornalismo do Recôncavo da Guanabara que percebe que “São Gonçalo não é Niterói”. Mas o que poderia ser um golaço, teve pênalti: uma matéria elegia a Ilha de Jurubaíba como pertencente a São Gonçalo.
Vou explicar a confusão.

O nome do arquipélago das Jurubaíbas - contração do tupi yurú (boca, trago, bocado); bá, alt. de mbae (coisa, objeto) e ahyba (má, ruim, que não presta - ibá é "árvore") - seria algo como "boca da coisa má". Na gíria popular, "coisa-má" é o demônio, o capeta. Literalmente, "Boca da Coisa-má", isto é, "Boca do Demônio, do diabo". Por tradução, deu nome à Ponta da Coisa-má, situada ao Sul da ilha do Governador. Suponha-se que este nome é originado pela formação do arquipélago das Jurubaíbas, talvez perigoso para a navegação. Duas são as ilhas deste nome: Jurubaíba de Cima e Jurubaíba de Baixo. Situado no extremo Leste do município do Rio de Janeiro. (1)

Em 2004, em esforço da Secretaria de Turismo de São Gonçalo, foi feito um relatório da oferta turística da cidade, tendo em vista uma possível propaganda perante os órgãos de turismo do Brasil e do exterior. Veja o texto introdutório:


“O presente relatório apresenta o Inventário da Oferta Turística do Município de São Gonçalo, realizado pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Turismo do Município em parceria com o Curso de Turismo das Faculdades Paraíso.

A iniciativa partiu do então secretário, José Antônio Ferreira Machado, visando adquirir informações da oferta turística local, condição necessária para que os membros do Conselho Municipal de Turismo possam definir os aspectos positivos e negativos do turismo local e desenvolver estratégias que proporcionem o desenvolvimento sustentável do turismo municipal.

A metodologia adotada para a realização do trabalho baseou-se na proposta elaborada pelo Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR, com as devidas atualizações e adaptações à realidade da região. O trabalho foi desenvolvido no decorrer de quatro meses (julho a novembro) dividindo-se em duas etapas: a primeira refere-se à pesquisa de gabinete; e a segunda a estudos de campo. Ressaltamos que as informações aqui contidas referem-se ao período corrente e devem ser atualizadas na medida em que a realidade da oferta turística local sofrer alterações. Cabe esclarecer que, em alguns casos, a pesquisa foi prejudicada pela ausência de pessoas responsáveis nos locais, capazes de dar informações completas sobre o item em avaliação.”

A pesquisa foi assinada por Luciana Alves, Shana Daniela e Priscila Morela, do Curso de Turismo das Faculdades Paraíso em novembro de 2004.

O Inventário da ilha é bem coordenado e dá detalhes sobre Jurubaíba: perto da Ilha Redonda, distante 2 milhas náuticas do bairro do Gradim (3,704 Km), é propriedade pública, administrada pelo Ministério da Marinha, visitada por turistas munícipes vizinhos ao Estado do Rio, possui uma área de aproximadamente 20 Km2. A ilha possui uma vegetação de plantas: epidentro, cacto, palmeiras imperiais, bromélia, orelha-de-onça, Maria-mulata, anêmona, carrapatinho, rabo-de-rato e bailarina; e com uma fauna de animais invertebrados: ouriço-do-mar, ostras e sucuri-coral. Não há população insular. (2)

Em lamentável falha da equipe, não foi consultada a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro na qual a Ilha de Jurubaíba - ou melhor, todo o Arquipélago das Jurubaíbas - é parte do território municipal da capital do Estado. (3)

Esta pequena falha deve ter dado origem à grande propaganda deste “ponto turístico gonçalense”. Não se sabe como.

Mas a cidade ainda possui nove ilhas, como Pontal, Carvalho, Flores, Itaoquinha... algumas muito importantes na história local. Por exemplo, Itaóca (a grande) é um local quase inexplorado, com Mata Atlântica original e espécies nativas que conseguiram sobreviver a loteamentos desordenados. Foi nessa ilha que a famosa Maria Graham desembarcou para hospedar-se na Casa Grande da Fazenda da Luz. É nessa ilha que existiam (?) sambaquis – restos de conchas e materiais arqueológicos.

Mas a ilha de Jurubaíba é importante para os cinéfilos, pois foi uma das locações do filme “Onde a terra acaba” (1933), produzido pela Cinédia, dirigido por Octávio Mendes (4).

Pena que a cidade de São Gonçalo não possua documentação adequada a sua história e que seja disponível a interessados no assunto. Sem estas referências, tais equívocos irão sempre se repetir e causando confusão no povo, envolvendo profissionais e instituições.
Cabe a cada um de nós, que possamos ter algo de contribuinte para este mosaico gonçalense, que façamos a nossa parte divulgando aquilo que saibamos. Só então ocorrerá a melhoria do lugar aonde vivemos. Todos sairemos ganhando...

Saudações papagoiabas !








(*) empresário cultural, presidente da SAL. Artigo de 20/9/2010
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(1) – Disponível em http://www.cibg.rj.gov.br/detalhenoticias.asp?codnot=134&codman=28 Acesso em 31/10/2007
(2) – Disponível em http://www.semeltur.com.br/inventarioturistico/html/index.htm acesso em 31/10/2007
(3) – Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro. SEÇÃO I - Dos Limites e da Divisão Administrativa - SUBSEÇÃO I Da Localização e Linhas Divisórias § 1º - Incluem-se no território do Município as ilhas oceânicas, costeiras e lacustres sob seu domínio na data da promulgação desta Lei Orgânica e especialmente as Ilhas (...) de Jurubaíba (...)em frente à Ilha do Mestre Rodrigues; ©2002 - Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Disponível em http://cmrj3.cmrj.gov.br/ofc/mrj/opi/lomrj/tit02.htm acesso em 31/10/2007
(4) – Cinemateca Brasileira. Disponível em http://www.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA?=p&nextAction=lnk&exprSearch=001997.
acesso em 31/10/2007