Frank Miller ironiza a decadência dos quadrinhos







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Frank
Miller estará no Brasil no próximo mês para o evento Comic Con
Experience (CCXP). Ele vem divulgar seu novo trabalho, o terceiro volume
de Cavaleiro das Trevas. Não há muito a se falar sobre a HQ além de que
não é uma continuação natural da história, mas sim um golpe de
marketing, como alguns dizem, para pagar tratamentos de saúde de Miller e
levantar a DC Comics de um suposto colapso financeiro, o prejuízo de
dois milhões de dólares.
Este terceiro volume vai tratar da
libertação dos kriptonianos de Kandor, a cidade engarrafada por
Brainiac, eles vão compor uma “raça superior” a ser confrontada por
Batman e outros heróis do panteão DC. Escrita por Brian Azzarello e
desenhada por vários artistas, a HQ vai ser lançada semana que vem nos
EUA, e um quarto volume já foi anunciado.
Mesmo com uma aparência bem alquebrada,
Frank Miller está viajando o mundo em turnê de divulgação, esteve na
Comic Con de Paris e apresentou algumas artes. Sua nova versão de
Superman foi intensamente criticada.
Os Haters o chamaram de velho acabado. Isso me levou a algumas reflexões: O que está realmente acabado ou em vias de acabar-se?
Acho que são os quadrinhos, pelo menos
grande parte deles, e não são somente os mainstream, mas os alternativos
também e, de certa forma, tudo que envolve o hábito da leitura de
gibis, toda a cultura de quadrinhos. A babaquice se tornou generalizada
entre as pessoas que produzem, publicam, analisam e, infelizmente, entre
muitos leitores de HQs.
Eu venho escrevendo sobre isso já há um
bom tempo. Destaquei no meu post anterior um evento ocorrido no Brasil,
no último fim de semana, em que toda a temática de discussão foi
dominada por ideologias progressistas. A convidada de honra foi Gail
Simone, uma feminista radical, inculta, sem talento e oportunista que
veio doutrinar mocinhas bobas para a estultice da moda, a tal
“representatividade” nos quadrinhos. Durante o evento, o Cosplay de
personagens feito por garotas foi proibido de apresentar sensualidade.
Alguns hipsters apresentaram versões dos personagens sem nenhuma
semelhança com as figuras, o único objetivo era eliminar o apelo
sensual, elemento que compõe a mitologia dos super-heróis desde os seus
primórdios.
Contraditoriamente, foi apresentado, por
outra feminista radical, a personagem chamada “Garota Siririca”, uma
bissexual viciada em masturbação, em um exemplo de vulgaridade, falta de
criatividade e mau gosto. Como alguns dos meus leitores apontaram nas
redes sociais, ao mesmo tempo em que essas pessoas reclamam da
“objetificação” do corpo feminino e dizem que as mulheres devem se
“emponderar” e ter liberdade, elas mostram a figura feminina como se
fosse um animal preso aos seus próprios instintos e se armam de
moralismo, vestindo as personagens dos pés a cabeça.
Eu não estive no FIQ, mas fiquei sabendo
que foram mais de 200 lançamentos de gibis considerados “alternativos”,
todos provavelmente com a mesma temática politicamente correta. Já
chamei a atenção para a falta de qualidade desses trabalhos, a maior
parte feito por pessoas sem a mínima noção de arte; são simplesmente
rabiscos entremeados de palavras soltas, aqui e ali embaralhadas por
conceitos de narrativa visual já mais do que batidos por autores
teóricos de fácil acesso como Scott McCloud; surfam na onda do embuste
que se tornou o quadrinho contemporâneo. A maior parte desses gibis é
bancada pelos próprios artistas ou por amigos e familiares, porque
nenhum leitor em sã consciência vai gastar dinheiro suado com isso, a
não ser que seja um verdadeiro trouxa. Para alguns moderninhos este é o
maior momento dos quadrinhos brasileiros; para mim, é insignificante. É
lógico que há poucas exceções.
Mas esta cena acabada e piegas dos
quadrinhos não atinge apenas os alternativos, os mainstream estão
surfando na mesma onda. Já escrevi diversas vezes sobre isso e não
preciso me repetir muito. Os super-heróis abraçaram definitivamente o
politicamente correto. São propostas de regulação de conteúdo, censura,
perseguição de artistas, reformulações de personagens femininas para
eliminar a sensualidade e inserção de conteúdo ideológico que
descaracterizam completamente os gibis.
Acabada também é a mídia de quadrinhos.
Dominada por um discurso piegas de “representatividade”, cada vez se
descaracteriza mais. Os sites de entretenimento deveriam informar e
divertir, e assim, vender seus produtos e gerar seu dinheiro. Porém não é
isso que eles vem fazendo.  Tornaram-se veículos de ideologias
pérfidas, autoritárias e desumanizantes.
Encontrei em um site chamado Minas Nerds
um artigo absurdamente racista. A autora do disparate
– aparentemente tudo indica ser uma mulher negra – reclama de forma
histérica de personagens indígenas, asiáticos ou negros que teriam sido
transformados em brancos na sua representação em filmes e gibis. A
indignação da autora do texto chega as raias do absurdo e da paranoia,
inventando até uma palavra nova, “whitewashing”, deixando claro que não
deseja que pessoas brancas sejam representadas na mídia. A paranoia é
tanta que ela se esquece da enxurrada de personagens brancos
transformados em negros, asiáticos ou latinos nos últimos dez anos,
inclusive o personagem Heimdall, um deus nórdico! Ela se esquece de
Capitão América, Nick Fury, Homem Aranha, Hulk e muitos outros.
Qualquer pessoa da mídia de quadrinhos
quando deixa claro não desejar que seu personagem preferido branco seja
transformado em outra raça, é chamada de racista. Mas essa paranoica faz
questão de dizer que não quer brancos substituindo negros, indígenas ou
orientais, e é elogiada.
Antigamente diziam que as pessoas ligadas
em cultura pop, principalmente os leitores de quadrinhos, eram
retardados. Quando eu tinha doze anos, ouvi muito essa conversa. Sofri
muito com isso e achava que era preconceito. Hoje eu começo a acreditar
que era um vaticínio. Os leitores de HQ não eram retardados, eles se
tornariam.
E aqui chegamos – finalmente – ao nosso
ponto. Hoje a babaquice é tanta nesse meio dos quadrinhos, a
contaminação ideológica foi tão longe que não consigo ver o cartaz de
Frank Miller, feito especialmente para o evento CCXP, como outra coisa
senão uma crítica irônica aos quadrinhos atuais.
Como disse Oscar Wilde:”There is only one thing in life worse than being talked about, and that is not being talked about“. Há
tempos Miller vem repetindo que ele quer provocar a ira dos críticos e
do público. Se conseguir isso, sua missão terá sido cumprida. Este
cartaz é mais uma peça de provocação.
Sua Mulher-Maravilha não está vestida
como uma islâmica de burca, como desejam as feministas radicais, ela
está em pouca roupa, mas seu corpo não tem nada de sensual. O cabelo
parece maltratado, a pele, marcada, a expressão é triste e quase
submissa, os ombros são tão largos quanto de um homem; toda figura é
masculinizada, ela parece não ter peitos, ou mesmo pescoço; seus braços
são fortes, mas deformados, medonhos.
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Em contradição a isso, ela ainda mantém a
cintura fina, única lembrança de que pode ser uma mulher; o quadril é a
pior parte, parece uma extensão das pernas, ela não tem bunda e aquilo
entre as magras e tortas coxas parece mais um saco. Para completar a
visão grotesca, ela carrega armas que se assemelham a brinquedos,
porém ensanguentados, e no fundo há a bandeira americana toscamente
representada. Os leitores do site Omelete a chamam de travesti, não sem
certa razão.
Toda a decadência da cultura de
quadrinhos da época atual foi representada nesse cartaz: a perseguição
contra o ideal feminino de beleza, sensibilidade e sensualidade, a
masculinização das personagens, a destruição da feminilidade, a
deformação de seu caráter; a intromissão da ideologia de gênero que
destruiu mais de 70 anos de tradição dos super-heróis; o aparecimento de
artistas embusteiros que não sabem desenhar (simbolizados pelo erro
proposital no ombro esquerdo), e a imposição de toda essa escumalha
cultural perante uma América (e um Brasil) inerte e incapaz de reagir.
Por fim, a heroína destruída, submissa e melancólica para mostrar que as
histórias não divertem mais, não alegram nem enlevam mais, por não
terem mais beleza e fantasia.
Frank Miller é gênio, mesmo doente, ele
sabe o que faz. Em apenas uma imagem ele resumiu toda a decadência dos
quadrinhos contemporâneos. Ele quer que vejam o que está acontecendo,
reflitam sobre isso, por essa única razão ele fez esse cartaz dessa
maneira. Os moderninhos vão chama-lo outra vez de velho acabado, mas,
diga ai você, quem é o acabado ou em vias de acabar-se aqui?




fonte:

Frank Miller ironiza a decadência dos quadrinhos | Caixa de Gibis

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