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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O Futebol das Fábricas ou Fábrica do Futebol ?


Esporte Clube Costeira


Mathias Brotero

Além do Esporte Clube Metalúrgico que viveu tempos áureos na década de 1940, existiu em São Gonçalo o Esporte Clube Costeira, fundada a 25 de maio de 1960.

Em 1979, foi o segundo colocado na Divisão de Acesso de times do interior, segunda divisão do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. O campeão e vice foram respectivamente o Friburgo Football Club e o Esporte Clube Costeira. Porém em 1980, o campeão foi o E C Costeira e o vice-campeão foi o Novo Rio FC, de São João de Meriti, que daria origem em 1981 à União Esportiva Coelho da Rocha. Não houve promoção para a Primeira Divisão do ano seguinte.

No começo do século XX o futebol começava a ganhar popularidade no Brasil. O esporte elitista trazido da Inglaterra por Charles William Miller passou a ser jogado por outras classes sociais, e rapidamente se popularizou nas fábricas e indústrias brasileiras.

Os trabalhadores jogavam em seu horário de almoço e os dirigentes das fábricas começaram a perceber que o esporte unia os seus funcionários. Assim, muitos cediam terrenos inutilizados das fábricas para fazer um campo com sede – uma jogada genial, pois além de unir os trabalhadores em torno do espírito corporativo da empresa, o futebol funcionava como propaganda da indústria, tornando as fábricas mais conhecidas.

Na medida em que mais times iam crescendo e se enfrentando, as fábricas ganhavam mais nome e a “indústria do futebol de fábricas” começou a crescer. Durante a contratação de funcionários, algumas indústrias priorizavam aqueles que soubessem jogar futebol. Houve até casos em que algumas fábricas contrataram operários só para jogar, mas no contrato escreviam que eles trabalhavam nas fábricas, pois só podiam participar dos campeonatos, aqueles que trabalhavam naquela indústria.
A popularidade dos jogos chegou ao ponto de servir como propaganda governamental para o Estado Novo, pois as ligas classistas criavam torneios amadores que seguiam as regras do Estatuo do Conselho Nacional de Desportos (CND) do Governo Vargas.

Porém, aquele espírito de união que o futebol dava para os jogadores de fábricas começou a se esvair. A competitividade para jogar pelas empresas criou muitas rixas entre trabalhadores, que queriam desfrutar dos benefícios que um jogador de empresa tinha (como poder ser dispensado para treinar ou trabalhar com uma carga horária mais flexível). Ao mesmo tempo, os bons jogadores assinaram contratos com grandes times nacionais, e passaram a viver só disso, como foi o caso de Mané Garrincha. Os operários que ficaram velhos demais para jogar voltaram para as suas fábricas e os times de futebol de fábricas foram perdendo força.

Eventualmente os presidentes das fábricas perceberam que havia outras formas mais eficientes de propaganda para a sua indústria, e os times de futebol de fábrica foram lentamente se perdendo no tempo.

Revista Placar, 16/09/1977


QUEM SE LEMBRA DO COSTEIRA TREINANDO NA PONTA D'AREIA?


Péris Ribeiro*
 
Clube fundado em 1960, não registra grandes feitos em sua história. Da velha Companhia de Navegação Costeira restam o emblema - uma Cruz de Malta que era pintada nas chaminés dos saudosos Itas -, o nome e alguns abnegados sócios, que descontam as mensalidades em folhas. Eles não deixam o clube morrer — ao contrário, é organizado, com departamento médico que funciona e pagamentos rigorosamente em dia. Também, são apenas 12 profissionais e uma porção de amadores. Salário mínimo, naturalmente — para eles é salário mínimo realmente, pois nenhum tem emprego na companhia, empresa pública que não tem mais navios e foi transformada em estaleiro de reparos navais, na costa de Niterói.

(... )Porém o otimista presidente Sebastião Barbosa de Melo afirma que o Costeira melhorou muito de lá para cá, pois mantém o mesmo time-base há trés anos e reforçou as posições deficientes.

A torcida, pequena porém fiel, confia muito em seus quatro craques, aqueles que faturam 2 mil por mês: o goleiro Tonho, 22 anos; o quarto-zagueiro Getúlio, 23 anos; o ponta-direita Aílson, 24 anos, veloz e de bom chute, e a armador Gutinho, estrela da companhia, que diz ter 23 anos mas aparenta muito mais, cacheiro que já andou em muito clube por ai — o último foi o Volta Redonda — e que sabe de bola sem correr muito atrás dela.

Uma pena não ter a foto do time da Costeira, apenas uma comprovação de um dos jogos. No antigo placar ao fundo o nome Costeira.   Jogo onde o Costeira sagrou-se campeão da Segunda Divisão do Campeonato Estadual do RJ.

Esporte Clube Costeira foi uma agremiação esportiva de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, fundada a 25 de maio de 1960.

Criado na ilha do Viana, na vizinha Niterói, por funcionários do estaleiro da Cia. Costeira de Navegação Marítima, o Costeira disputou diversos campeonatos promovidos pela Liga Desportiva de Niterói.

Se transfere para São Gonçalo, após vencer a Segunda Divisão Estadual (Zona do Interior) em 1980 e posteriormente abandonar o profissionalismo, muito dispendioso para a sua realidade financeira.

Retorna apenas em 2002, na Terceira Divisão de Profissionais. Classifica-se em segundo em seu grupo e chega à fase seguinte, na qual é eliminado ao ficar em terceiro em uma chave que classificou apenas o primeiro colocado Artsul Futebol Clube.

No ano seguinte, foi convidado a disputar a Segunda Divisão, mas não alcançou um bom desempenho. É eliminado precocemente na primeira fase ao ficar em segundo em uma chave com três equipes.

Licenciou-se após essa disputa, culminando numa posterior desfiliação pela FFERJ, devido a seis anos de inatividade. Suas cores são azul e branco.

 

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A Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo agradece a Anselmo Lopes da Silva, administrador do grupo "São Gonçalo Antigo" a permissão de postagem desta matéria.
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Texto: Mathias Brotero, “O Futebol das Fábricas ou a Fábrica do Futebol” - Pesquisa do amigo Antônio Gavina do Facebook: http://www.facebook.com/PontaDAreiaNiteroi

(*)   Revista Placar, 16/09/1977

sábado, 21 de junho de 2014

Corpus Christi em São Gonçalo: uma recente tradição

Robson Alexandrino




Alexandre Martins*


Muito se tem escrito sobre a tradição cristã da Festa do Corpo e Sangue do Senhor, em especial sobre a tradição do enfeite do trajeto da procissão anexa à mesma festa e, como católico gonçalense, não deveria eu me isentar de comentar esta bela tradição de São Gonçalo pela ótica católica, para benefício tanto dos católicos gonçalenses quanto dos que queiram entender a nossa cultura.

 

A Eucaristia

A Igreja Católica sempre entendeu nas palavras proferidas por Nosso Senhor Jesus Cristo, na chamada Última Ceia, que o pão e o vinho consagrados neste momento pelo sacerdote são em real o Seu corpo e o Seu sangue. A Igreja vive da Eucaristia. É com alegria que ela experimenta, de diversas maneiras, a realização incessante desta promessa: “Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo” 1 mas, na sagrada Eucaristia, pela conversão do pão e do vinho no corpo e no sangue do Senhor, goza desta presença com uma intensidade sem par. O Concílio Vaticano II2 justamente afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã”. De fato, “na santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo”. Por isso, o olhar da Igreja volta-se continuamente para o seu Senhor, presente no sacramento do Altar, onde descobre a plena manifestação do seu imenso amor.3
Para o cristão católico, aquele pedaço de pão sem fermento é a real carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aquele vinho tinto o Seu precioso sangue. Inúmeros milagres durante dois mil anos dão ao fiel a comprovação dessa doutrina, como o Milagre de Lanciano, exaustivamente estudado pela Ciência.

 

Uma festa para sanar as dúvidas

A celebração de Corpus Christi (Corpo de Cristo) surgiu na Idade Média e consta de uma missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento. Quarenta dias depois do Domingo de Páscoa é a quinta-feira da Ascensão do Senhor. Dez dias depois temos o Domingo de Pentecostes. O domingo seguinte é o da Santíssima Trindade, e na quinta-feira é a celebração do Corpus Christi. Porque a Eucaristia foi celebrada pela 1ª vez na Quinta-Feira Santa, Corpus Christi se celebra sempre numa quinta-feira após o Domingo da Santíssima Trindade.
No final do século XIII surgiu em Liége, atual Bélgica, um Movimento de revalorização da Eucaristia na Abadia de Cornillon. Foi a origem de vários costumes eucarísticos, como a Exposição e Bênção do Santíssimo Sacramento, o uso dos sinos durante a elevação na Missa e a festa do Corpus Christi.
Santa Juliana de Mont Cornillon (1193-1258), à época priora da Abadia, foi a enviada de Deus para propiciar esta Festa. Ficou órfã muito pequena e foi educada pelas freiras Agostinianas. Quando cresceu, fez sua profissão religiosa e mais tarde foi superiora de sua comunidade.
Desde jovem, Santa Juliana teve uma grande veneração ao Santíssimo Sacramento. E sempre esperava que se tivesse uma festa especial em sua honra. Este desejo se diz ter intensificado por uma visão que teve da Igreja sob a aparência de lua cheia com uma mancha negra, que significada a ausência dessa solenidade. Juliana comunicou estas aparições a Dom Roberto de Thorete, bispo de Liége, também a e Jacques Pantaleón, arquidiácono local, futuro Papa Urbano IV. O bispo Roberto ficou impressionado e, como nesse tempo os bispos tinham o direito de ordenar festas para suas dioceses, invocou um sínodo em 1246 e ordenou que a celebração fosse feita no ano seguinte.4
O Papa Urbano IV, estava em Orvieto, cidade ao norte de Roma. Perto está Bolsena, onde em 1263 (ou 1264) aconteceu o Milagre de Bolsena: um sacerdote que celebrava a Santa Missa teve dúvidas de que a Consagração fosse algo real., no momento de partir a Sagrada Forma, viu sair dela sangue do qual foi se empapando em seguida o corporal. A venerada relíquia foi levada em procissão a Orvieto em 19 junho de 1264. Hoje se conservam os corporais5 em Orvieto, e também se pode ver a pedra do altar em Bolsena, manchada de sangue. O Santo Padre movido pelo prodígio, e a petição de vários bispos, faz com que se estenda a festa do Corpus Christi a toda a Igreja por meio da bula "Transiturus" (de 8/9/1264) fixando-a para a quinta-feira depois da oitava de Pentecostes e outorgando muitas indulgências a todos que asistirem a Santa Missa e o ofício.
O ofício de Corpus Christi foi composto por São Tomás de Aquino, que usou parte de Antífonas, Lições e Responsórios já em uso em algumas igrejas.
Nenhum dos decretos fala da procissão com o Santíssimo como um aspecto da celebração. Porém estas procissões foram dotadas de indulgências pelos Papas Martinho V e Eugênio IV, e se fizeram bastante comuns a partir do século XIV. Na Igreja grega a festa de Corpus Christi é conhecida nos calendários dos sírios, armênios, coptos, melquitas e os rutínios da Galícia, Calábria e Sicília.

 

No Brasil, com tapetes

A confecção de tapetes de rua é uma magnífica manifestação de arte popular que tem como origem a comemoração do Corpus Christi. A tradição de fazer o tapete com folhas e flores vem dos imigrantes açorianos. Essa tradição praticamente desapareceu em Portugal continental, onde teve origem, mas foi mantida nos Açores e nos lugares onde chegaram seus imigrantes, como Florianópolis (SC).
A festa foi trazida para o Brasil pelos portugueses. Numa carta de 9 de agosto de 1549, o Padre Manuel da Nóbrega, da Bahia, informava: “Outra procissão se fez dia de Corpus Christi, mui solene, em que jogou toda a artilharia, que estava na cerca, as ruas muito enramadas, houve danças e invenções à maneira de Portugal”.6
As procissões portuguesas eram esplendorosas: tropas, fidalgos, cavaleiros, andores, danças e cantos. A imagem de São Jorge, padroeiro de Portugal, seguia a procissão montada em um cavalo, rodeada de oficiais de gala.

 

A Liturgia Romana

Para as procissões eucarísticas, a cruz vai à frente ladeada por duas velas. Não se leva incenso junto à cruz. Atrás dela os ministros dois a dois, os acólitos, os diáconos e os concelebrantes. Estes últimos portam o pluvial, mas podem portar também a casula se a procissão foi feita logo após a missa. O celebrante principal, se não levar a sagrada eucaristia vai imediatamente à frente dela. Segue, então, a sagrada Eucaristia carrega por um clérigo vestido com alva, estola, pluvial e véu umeral de cor branca. É coberta pelo pálio ou pela umbela, carregado por quatro ou seis pessoas. À sua frente, vão dois acólitos com turíbulos fumegando. Se for o bispo a levar o Santíssimo, o báculo vai à frente dos turiferários e a mitra, bem como o livro atrás do pálio. Além dos demais acólitos assistentes, vão na parte de trás da procissão, os clérigos em vestes corais. Os de maior dignidade vão mais perto da Sagrada Eucaristia. Durante a Missa o celebrante consagra duas hóstias: uma é consumida e a outra apresentada aos fiéis para adoração.
A procissão lembra a caminhada do povo de Deus, peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com o pão maná, no deserto. Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de Cristo em forma de pão.

 

Em São Gonçalo

A festa passou a integrar o calendário religioso brasileiro em 1961, quando uma pequena procissão saiu da igreja de Santo Antônio e seguiu até a igreja de Nossa Senhora de Fátima em Brasília. A festa de Corpus Christi no município de São Gonçalo começou em 19957.
Em 2010, os tapetes de Corpus Christi em São Gonçalo são patrimônio cultural imaterial do município, conforme a Lei Estadual 3141/10 de autoria do Deputado Altineu Cortes.8 Sua extensão de 2000 metros o caracteriza como o maior em extensão da América Latina.
A cada ano, o Prefeito de São Gonçalo assina um decreto nomeando os componentes da Comissão dos Festejos de Corpus Christi no município, publicado no Diário Oficial da cidade.

 

Uma tradição católica e cultural gonçalenses

A cidade de São Gonçalo foi fundada por portugueses e grande parte de sua arquitetura é de origem ibérica. Não somente as casas, mas o modo de ser das pessoas, do comércio, são típicos de antiguidade portuguesa. A religião católica é um dado característico dessa cultura e tornou-se também uma característica brasileira, desenvolvendo-se em formas próprias em uma chamada “brasilidade católica”.
A festa católica do Corpo de Cristo é assimilada em toda a Cristandade e não poderia deixar de ser em São Gonçalo também praticada. Com orgulho temos o maior tapete artístico de sal com motivos sacros de toda a América Latina. Isso demonstra não só a catolicidade de nossa cultura antiga, mas também a preservação de uma tradição para as gerações futuras, ansiosas de tradição e cultura seculares.





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*Empresário cultural, presidente da SAL – Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo, do Conselho Municipal de Cultura 

1- Evangelho segundo são Mateus, capítulo 28, versículo 20
2- reunião de todos os bispos da Igreja Católica, realizado de 1963 a 1966, em Roma, Itália.
3- Carta Encíclica “Ecclesia de Eucaristia” (A Igreja da Eucaristia) do papa Paulo II, §1
4- O decreto está preservado em Binterim (Denkwürdigkeiten, V.I. 276), junto com algumas partes do ofício.
5- guardanapos de pano branco onde se apóiam o cálice e a patena durante a Missa.
6- Cartas do Brasil, 86, Rio de Janeiro, 1931.
7- sítio oficial da Arquidiocese de Niterói, disponível em http://arqnit.org.br
8- PROJETO DE LEI Nº 3141/2010 - DECLARA PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO OS FESTEJOS RELIGIOSOS DE Corpus Christi E O TAPETE PARA A PROCISSÃO NO MUNICÍPIO DE SÃO GONÇALO/RJ Autor(es): Deputado ALTINEU CORTES - A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO RESOLVE: Art. 1º - Ficam declarados como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio de Janeiro os festejos religiosos de Corpus Christi e o tapete preparado para a procissão católica no município de São Gonçalo. Art. 2º - Esta Lei entra em vigor na data de sua criação. Plenário Barbosa Lima Sobrinho, 9 de junho de 2010.

terça-feira, 18 de março de 2014

O Índio do Arsenal




Alexandre Martins*



Não somente Niterói possui uma estátua dedicada a algum indígena, mas também São Gonçalo possui a sua.

Uma misteriosa estátua de um índio existe há décadas no bairro do Arsenal.

Segundo moradores, como Guaíra Xavier - uma caxiense que desde o início ficou intrigada com a estátua - o monumento pertencia a um senhor que era realmente índio. 

Ele construiu a estátua na direção de Niterói. A posição da flecha empunhada mira a terra de Araribóia. Mas tanto o motivo da construção quanto da posição beligerante contra os niteroienses ficou descohecido. Mesmo com seu falecimento, a estátua ficou ainda preservada. 



Mede cerca de 2 metros de altura, feita em granitina (pedaços de granito em massa de cimento) e posicionada em cima de um pedestal de alvenaria.

Muitos que passam na frente dela imaginam várias coisas: lembranças de um terreiro de umbanda, sacrifícios aos seus pés, etc.

A realidade é que poucos sabem do real motivo que levou a essa construção.

A SAL trará mais detalhes sobre mais essa curiosidade de nossa cidade.

Saudações papagoiabas.



P.S.: Em postagem na rede Facebook, o fotógrafo gonçalense Marco Speziali explica que a imagem está localizada dentro de uma propriedade particular que pertenceu ao médico pediatra Mário Sólon. Antes de tomar como sua propriedade, no local existia um Centro de Umbanda muito frequentado. A imagem seria, então, de um "Caboclo de Xangô". [1]
Segundo o fotógrafo, os protestantes locais desejariam retirar a estátua, o que foram impedidos por moradores que afirmaram ser relíquia indígena.

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1 - Caboclo, dentro da Umbanda, corresponde a um espírito desencarnado de um índio, que se manifesta através de uma pessoa capaz de senti-lo, o chamado "médium". Tal espírito responde às perguntas dos frequentadores das sessões de umbanda, procurando passar-lhes sua sabedoria e coragem, na intenção de ajudar-lhes a superar seus problemas.
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(*) empresário cultural, presidente da SAL 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Breve História da cidade de São Gonçalo



Alexandre Martins*


Em 1502 foi descoberta a Baía de Guanabara e, em decorrência, suas regiões. A chamada Banda D'Além tinha uma sesmaria, a de São Gonçalo, parte da Capitania de São Vicente.
Foi o viajante francês Jean Lery quem, em 1557, fez a primeira referência escrita que se conhece, às terras do hoje município de São Gonçalo. Em seu livro “Viagem às terras do Brasil” ele comenta que encontrou aldeias indígenas Tupis em torno da baía que nós hoje chamamos de Guanabara e localizada a Ilha de Itaoca, como o ponto de uma delas. 1
A Sesmaria de São Gonçalo compreendia o espaço o que hoje seria da Praia de Icaraí à Praia da Luz. Seu desbravamento se deu pelos Jesuítas, que construíram portos e fazendas. À época existiam poucos habitantes nativos, como os índios
É, pois, em abril de 1579 que se tem o início da história de São Gonçalo. A paróquia data dee 10 de fevereiro de 1646, bem como a transformação da sesmaria em Frequesia.
Gonçalo Gonçalves, “O Velho” é considerado o primeiro donatário da Sesmaria que deu origem à atual cidade, cuja carta de doação data de 6 de abril de 1579 de terras “com mil braças de largo e 1500 de comprido, em Suassunhã do Porto de Birapitanga”. Fidalgo natural de Amarante, região do Minho, em Portugal, morava no Rio de Janeiro. De posse da terra, erigiu a igreja de São Gonçalo do Amarante, às márgens do Rio Imboaçu, aonde hoje está a igreja matriz. O povoado surge em seguida, onde hoje é o bairro do Zé Garoto.
Revolta da Cachaça é o nome pelo qual passou à História do Brasil o episódio ocorrido entre final de 1660 e começo do ano seguinte, no Rio de Janeiro, motivado pelo aumento de impostos excessivamente cobrados aos fabricantes de aguardente. Também é chamada de Revolta do Barbalho ou Bernarda. Governava o Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides, no início de 1660. Produtores da região norte da Baía da Guanabara, então Freguesia de São Gonçalo do Amarante (atuais municípios de São Gonçalo e Niterói) rebelaram-se contra a taxa.
Durante seis meses houve reuniões na fazenda de Jerônimo Barbalho Menezes de Bezerra, na Ponta do Bravo (atual bairro do Gradim, em São Gonçalo).
Na madrugada de 8 de novembro de 1660, liderados pelo fazendeiro, os revoltosos atravessam a baía, convocando o povo da cidade pelo toque de sinos a reunir-se diante do prédio da Câmara. Totalizavam 112 senhores de engenho, 10 de São Gonçalo, que exigiam o fim da cobrança das taxas, bem como a devolução daquilo já arrecadado. Tomé de Sousa Alvarenga, tio do governador e em exercício durante sua ausência. Alvarenga foi enviado para Portugal junto a uma lista de acusações contra sua família, então poderosa. Salvador de Sá organizou uma tropa de paulistas. O Rio de Janeiro foi atacado de surpresa, na madrugada de 6 de abril. As tropas baianas vieram pela praia, enquanto Salvador de Sá invadia com os seus pelo interior. Apanhados de surpresa, os revoltosos não opuseram resistência.
Aprisionados os líderes, foi montada uma corte marcial que condenou os rebeldes à prisão. Jerônimo Barbalho, único condenado à morte, foi decapitado e sua cabeça afixada no pelourinho.
O Conselho Ultramarino, porém, deu razão aos rebelados. Salvador de Sá foi afastado de suas funções e teve de responder em Portugal por seus excessos. A família Sá, descendente do ex-governador-geral Mem de Sá e do fundador da cidade do Rio de Janeiro, Estácio de Sá, perdeu prestígio e a grande influência que até então conseguira manter. Os rebeldes condenados foram libertados.
Em 1749 foi criada a Estrada Real (atual rua Moreira César) ligando Niterói a Alcântara. À época o trajeto era feito por embarcações do Porto de Niterói para os portos de São Gonçalo (Ponte, Luz, Neves, Bandeira e Lira) e a ligação com o Rio de Janeiro se dava tembém por esses portos.
Com a criação, em 21 de junho de 1769, da Freguesia de Paquetá, esta é anexada a São Gonçalo, sendo anexada finalmente pelo Rio de Janeiro somente em 1833.
Em 1779, São Gonçalo contava com 23 engenhos de açúcar, com 952 escravos numa população de mais de seis mil habitantes.
Em 1780 recebeu as primeiras mudas de café, oriundas de Belém, no Pará.De São Gonçalo, expandiu-se para todo o Estado do Rio e para o Vale do Paraíba.
Em 1819 é criada a Vila Real de Praia Grande e São Gonçalo é anexada junto com outras freguesias. Em 1834 é denominada Cidade de Niterói e, em 1835, é elevada a capital do Estado do Rio de Janeiro.
Em 1847, o Imperador D. Pedro II visita São Gonçalo pela primeira vez, hospedando-se na sede da Fazenda do Jacaré (atual bairro do Patronato).
Em 1860, possuía São Gonçalo 30 engenhos de cana e 10 fornos de cerâmica, exportando seus produtos pelos portos de Gradim, da Pedra, Maruí, Neves, Guaxindiba, da Madama, da Ponte, da Luz, do Rosa e Boa Vista.
Em 1890, foi São Gonçalo a sede da primeira Região Policial do Estado do Rio, conseguindo ainda, aos 22 de outubro, seu desmembramento de Niterói. Em 1899 é inaugurado o primeiro prédio da Prefeitura, no mesmo local atual, embora seu primeiro prefeito, Cel. Ernesto Francisco Ribeiro, tenha somente sido nomeado em 1904. Em 1922, São Gonçalo é reconhecida oficialmente como cidade.
Em 1943, o distrito de Itaipú é cedido para o município de Niterói e São Gonçalo deixa de ter sua ligação com a Costa brasileira.
Não somente o Imperador e a Princesa Isabel, mas Presidentes do Brasil visitaram São Gonçalo, como Getúlio Vargas em 1943 e Juscelino Kubitschek em 1956.
Os primeiros bairros de São Gonçalo tiveram origem das fazendas de cana de açúcar que foram loteadas no início do século XX, daí muitos terem seus nomes, como Trindade, Itaúna, Colubandê, etc. Outros, pelos portos que existiam no local, como Porto Novo, Porto da Madama e outros.
Muitos brasileiros importantes nasceram em São Gonçalo, como o Conde Baurepaire Rohan, construtor do primeiro Plano Diretor da cidade do Rio de Janeiro; Orlando Rangel, introdutor da Indústria Farmacêutica no Brasil; dentre outros.


* * *


(*) empresário cultural, Presidente-fundador da SAL.


1- O termo tamoios se refere a uma aliança de povos indígenas do tronco lingüístico tupi que habitavam a costa dos atuais estados de São Paulo (litoral norte) e Rio de Janeiro (Vale do Paraíba fluminense). Esta aliança, liderada pela nação tupinambá, congregava também os guaianazes e aimorés. Portanto "tamoio" não se trata de um etnônimo, ou seja, de uma tribo ou nação indígena específica. O termo "tamoio" vem "tamuya" que em língua tupi significa "os anciãos". A aliança de tribos, conhecida como Confederação dos Tamoios, foi motivada pelos ataques dos portugueses e mestiços que procuravam capturar escravos entre os indígenas para trabalhar nas primeiras plantações de cana-de-açúcar. Por décadas, os Tamoios foram a única resistência organizada contra a colonização portuguesa.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Jurubaíba é gonçalense?

Alexandre Martins*


Em grande “sacada” editorial, o jornal Extra descobriu o filão do município de São Gonçalo e criou um tablóide anexo a sua edição das quintas-feiras, o Extra São Gonçalo. À guisa da outra boa sacada dos jornais de bairro criados pelo seu irmão rico, o jornal O Globo (o Extra pertence às Organizações Globo) o “jornal das classes D e E” se surpreendeu com o esgote da tiragem inicial que continha o suplemento.
Ponto para o jornalismo do Recôncavo da Guanabara que percebe que “São Gonçalo não é Niterói”. Mas o que poderia ser um golaço, teve pênalti: uma matéria elegia a Ilha de Jurubaíba como pertencente a São Gonçalo.
Vou explicar a confusão.

O nome do arquipélago das Jurubaíbas - contração do tupi yurú (boca, trago, bocado); bá, alt. de mbae (coisa, objeto) e ahyba (má, ruim, que não presta - ibá é "árvore") - seria algo como "boca da coisa má". Na gíria popular, "coisa-má" é o demônio, o capeta. Literalmente, "Boca da Coisa-má", isto é, "Boca do Demônio, do diabo". Por tradução, deu nome à Ponta da Coisa-má, situada ao Sul da ilha do Governador. Suponha-se que este nome é originado pela formação do arquipélago das Jurubaíbas, talvez perigoso para a navegação. Duas são as ilhas deste nome: Jurubaíba de Cima e Jurubaíba de Baixo. Situado no extremo Leste do município do Rio de Janeiro. (1)

Em 2004, em esforço da Secretaria de Turismo de São Gonçalo, foi feito um relatório da oferta turística da cidade, tendo em vista uma possível propaganda perante os órgãos de turismo do Brasil e do exterior. Veja o texto introdutório:


“O presente relatório apresenta o Inventário da Oferta Turística do Município de São Gonçalo, realizado pela Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Turismo do Município em parceria com o Curso de Turismo das Faculdades Paraíso.

A iniciativa partiu do então secretário, José Antônio Ferreira Machado, visando adquirir informações da oferta turística local, condição necessária para que os membros do Conselho Municipal de Turismo possam definir os aspectos positivos e negativos do turismo local e desenvolver estratégias que proporcionem o desenvolvimento sustentável do turismo municipal.

A metodologia adotada para a realização do trabalho baseou-se na proposta elaborada pelo Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR, com as devidas atualizações e adaptações à realidade da região. O trabalho foi desenvolvido no decorrer de quatro meses (julho a novembro) dividindo-se em duas etapas: a primeira refere-se à pesquisa de gabinete; e a segunda a estudos de campo. Ressaltamos que as informações aqui contidas referem-se ao período corrente e devem ser atualizadas na medida em que a realidade da oferta turística local sofrer alterações. Cabe esclarecer que, em alguns casos, a pesquisa foi prejudicada pela ausência de pessoas responsáveis nos locais, capazes de dar informações completas sobre o item em avaliação.”

A pesquisa foi assinada por Luciana Alves, Shana Daniela e Priscila Morela, do Curso de Turismo das Faculdades Paraíso em novembro de 2004.

O Inventário da ilha é bem coordenado e dá detalhes sobre Jurubaíba: perto da Ilha Redonda, distante 2 milhas náuticas do bairro do Gradim (3,704 Km), é propriedade pública, administrada pelo Ministério da Marinha, visitada por turistas munícipes vizinhos ao Estado do Rio, possui uma área de aproximadamente 20 Km2. A ilha possui uma vegetação de plantas: epidentro, cacto, palmeiras imperiais, bromélia, orelha-de-onça, Maria-mulata, anêmona, carrapatinho, rabo-de-rato e bailarina; e com uma fauna de animais invertebrados: ouriço-do-mar, ostras e sucuri-coral. Não há população insular. (2)

Em lamentável falha da equipe, não foi consultada a Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro na qual a Ilha de Jurubaíba - ou melhor, todo o Arquipélago das Jurubaíbas - é parte do território municipal da capital do Estado. (3)

Esta pequena falha deve ter dado origem à grande propaganda deste “ponto turístico gonçalense”. Não se sabe como.

Mas a cidade ainda possui nove ilhas, como Pontal, Carvalho, Flores, Itaoquinha... algumas muito importantes na história local. Por exemplo, Itaóca (a grande) é um local quase inexplorado, com Mata Atlântica original e espécies nativas que conseguiram sobreviver a loteamentos desordenados. Foi nessa ilha que a famosa Maria Graham desembarcou para hospedar-se na Casa Grande da Fazenda da Luz. É nessa ilha que existiam (?) sambaquis – restos de conchas e materiais arqueológicos.

Mas a ilha de Jurubaíba é importante para os cinéfilos, pois foi uma das locações do filme “Onde a terra acaba” (1933), produzido pela Cinédia, dirigido por Octávio Mendes (4).

Pena que a cidade de São Gonçalo não possua documentação adequada a sua história e que seja disponível a interessados no assunto. Sem estas referências, tais equívocos irão sempre se repetir e causando confusão no povo, envolvendo profissionais e instituições.
Cabe a cada um de nós, que possamos ter algo de contribuinte para este mosaico gonçalense, que façamos a nossa parte divulgando aquilo que saibamos. Só então ocorrerá a melhoria do lugar aonde vivemos. Todos sairemos ganhando...

Saudações papagoiabas !








(*) empresário cultural, presidente da SAL. Artigo de 20/9/2010
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(1) – Disponível em http://www.cibg.rj.gov.br/detalhenoticias.asp?codnot=134&codman=28 Acesso em 31/10/2007
(2) – Disponível em http://www.semeltur.com.br/inventarioturistico/html/index.htm acesso em 31/10/2007
(3) – Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro. SEÇÃO I - Dos Limites e da Divisão Administrativa - SUBSEÇÃO I Da Localização e Linhas Divisórias § 1º - Incluem-se no território do Município as ilhas oceânicas, costeiras e lacustres sob seu domínio na data da promulgação desta Lei Orgânica e especialmente as Ilhas (...) de Jurubaíba (...)em frente à Ilha do Mestre Rodrigues; ©2002 - Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Disponível em http://cmrj3.cmrj.gov.br/ofc/mrj/opi/lomrj/tit02.htm acesso em 31/10/2007
(4) – Cinemateca Brasileira. Disponível em http://www.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA?=p&nextAction=lnk&exprSearch=001997.
acesso em 31/10/2007

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Invasões Britânicas na Educação e Cultura Gonçalenses




Zeca Pinheiro
 
Muito depois do futebol se tornar o esporte mais popular do mundo e a língua inglesa a mais falada no planeta, bem depois das teorias de Newton e Charles Darwin e pouco depois da televisão, do telefone, da penicilina, do motor elétrico, da locomotiva a vapor e do trem invadirem nosso dia a dia, mudando radicalmente nossos hábitos e costumes.
Tornou-se comum a invasão de escolas de origem estrangeiras no final do século XIX e inicio do século XX em todo o território brasileiro Certamente devido à enxurrada de imigrantes de diversas nacionalidades em nosso país, São Gonçalo não podia ficar imune a esta presença, a primeira invasão no bom sentido é claro foi em 1908, na Chácara Paraiso numa área de 150.000 (cento e cinquenta mil metros quadrados) localizado na Venda da Cruz, onde há pouco tempo funcionou o 3º BI, foi instalado uma sucursal do Gymnasio Anglo-Brazileiro ou The Anglo-Brazilian School uma vez que a matriz havia sido criada em 1899 em São Paulo em plena Avenida Paulista. 

 
D.O.U. Com as diretrizes da nova escola


Seu fundador Charles W. Armstrong oriundo de Nottingham - Inglaterra era adepto da celebre citação em Latim do poeta grego Juvenal: Men Sana, incorpore Sano (somente um corpo são pode produzir ou sustentar uma mente sã. Seu uso mais generalizado expressa o conceito de um equilíbrio saudável no modo de vida de uma pessoa). Gostava de trabalhar tanto o lado intelectual do aluno, como também o corpo através de exercícios, as belas instalações da Chácara Paraiso proporcionava as condições ideais para tal, amplas acomodações, salas de aula, dormitórios, local para recreação e principalmente muito verde, jardins arborizados, diversos tipos de árvores inclusive frutíferas e espaço para os exercícios da petizada, caminhadas, corridas e recreações diversas.

 
A foto lateral do prédio dava para ver o conforto e toda a arborização do local



Convidou para Vice-Diretor e seu braço direito o Mr. Alfred Robinson Aldridge devido a sua larga experiência na direção de grandes colégios estrangeiros desde 1898 aqui no Brasil, em São Paulo.
O colégio funcionava como internato e semi-internato, sua grade curricular era bem rica e diversificada, havia prova classificatória para entrar para o ginásio, como também cursos preparatório para crianças de 2 a 4 anos, funcionava com regime de internato para crianças a partir tenra idade, a escola era essencialmente masculina, tipo clube do bolinha, menina não entrava. A intenção que os estudantes saíssem dali direto para uma faculdade, mais também tivessem uma educação com moral e civismo.

 
grade curricular do Aldridge


 
Professor fazendo explicação in loco, na sala de aula


O colégio funcionou na Chácara Paraiso até 1911 sendo transferido para Chácara Vidigal no caminho Niemeyer - Rio de Janeiro – numa área deslumbrante, veja a descrição no livro Impressões do Brazil no Século Vinte, editado na Inglaterra em 1913, assim descreve o local: “Magnificamente situado, 300 pés acima do nível do mar, o edifício tem uma soberba vista sobre o oceano. O cenário é grandioso, havendo aos lados a floresta virgem e atrás a majestosa montanha dos Dois Irmãos”. Onde permaneceu ate 1937.

A segunda invasão foi de forma mais tranquila, pois o Vice-Diretor Mr. Alfred Robinson Aldridge, usando toda sua experiência adquirida na direção do Mackenzie College e Hydecroft College, ambos em São Paulo, como também Anglo-Brazileiro aqui em nossa cidade, resolve fundar o seu próprio colégio em 1912, intitulando-o de Aldridge College, aproveitando o nome de família, utilizando seu filho Walter Leonard Aldridge como parceiro de direção e revezando nas salas de aulas com a outra filha Mrs. Doris e a esposa de Walter Leonard e mais alguns professores. Os preceitos continuavam os mesmos, sendo o nível de educação de excelência, muito mais que preparar os alunos apenas para uma vida acadêmica em alguma faculdade qualquer, preparava-os para a vida, ensinando-os preceitos de moralidade, responsabilidade, disciplina, e trabalho, eu lema era: "Labore Et Honore" - Com trabalho e dignidade - A educação no Aldridge era comparada com os melhores colégios do Brasil.




Vista do prédio principal, alunos cumprimentam o corpo docente e Mr. A. R. Aldridge na sacada do segundo andar.
Mr. Alfred Robinson não precisou fazer grandes investimento uma vez que aproveitou toda a estrutura deixada pelo Anglo, como também alguns alunos do semi-internato que ficaram no meio do curso e não foram transferidos para o Rio.
No seu livro, Luiz Simões Lopes que estudou no Aldridge College, na pagina 46 - Primeiros Estudos destaca:
...em 1913, portanto aos 9 para 10 anos, fui matriculado no Aldridge College, com meu irmão Fonsequinha. Era um excelente entro educacional e lá aprendi enormemente, sob todos os pontos de vista, Seu Fundador Alfred Aldridge, trazia grande experiência da Inglaterra. Era homem de boa cultura de elevada moral e espirito de justiça. Enérgico, a ponto de dar vara nos meninos, a moda inglesa, era boníssima e gozava de raro prestigio entre seus alunos.
O Aldridge College - cuja divisa era Labore et Honore - era situado numa bela chácara - a Chácara do Paraiso - Em São Gonçalo, Niteroi¹, com árvores frondosas, algumas frutas tropicais, como mangas, jacas e muitas outras. La vivia nosso diretor Alfred Aldridge com sua bonita filha, Miss Doris - minha primeira professora de primeiras letras em inglês -, e seu filho Leonard, vice-diretor, com sua simpática e excelente senhora para nos Mme Aldridge (Elvira Bertha Duchen)".


Naquela altura o colégio estava indo de vento em polpa os anúncios nas revistas e jornais de circulação nacional surtiam efeito e a escola seguia com sua capacidade máxima de matriculas, ajudado por um sistema de transporte eficiente os alunos e familiares não encontravam dificuldade em chegar a seu destino dispondo de transporte de barcas do Rio a Niterói e de bondes do centro ate a Chácara Paraiso. Os bondes elétricos foram implantados em 1910.


(da esq.) Mr. Alfred Robinson Aldridge, Walter Leonard Aldridge e sua esposa Elvira Bertha Duchen.


Um acidente fatal com as barcas na travessia da Baia de Guanabara muda radicalmente os planos e metas do Mr. Alfred Aldridge, que sofreu um grande impacto com o acontecido, levando-o a transferir o Aldridge College de São Gonçalo para Botafogo no Rio de Janeiro em 1917, já naquela época o bairro de Botafogo era promissor concentrando a maioria da elite educacional carioca, ostentava uma beleza natural e recebia bons investimentos em infra-estrutura da prefeitura, tendo como consequência moradores de ótimo nível cultural e financeiro. A nova edificação pertencera ao barão de Alegre Praia de Botafogo, 374. Era um prédio imponente e muito belo de arquitetura sem igual. A mudança para o Rio trouxe novos ares e a direção resolveu aceitar também meninas em suas acomodações, passando então as turmas a serem mistas.
A Revista Ilustração Brasileira, de 1925, dizia: "muito há do que se ufanar, tais os louros colhidos por seus alunos, (...) se impôs a todos pela retidão, pela disciplina e pela moralidade observada nesta casa de educação, sob a direção dos professores ingleses Alfred R. Aldridge e Walter Leonard Aldridge".


O Aldridge funciona neste endereço ate 1927, porem uma tristeza abate os mestres e alunos, seu fundador Mr. Alfred Aldridge falece em 1925, aos 71 anos de idade, tendo nascido na Inglaterra em 1854 por mais de meio século dedicou-se ao sacerdócio de educador com rara competência, merecia um mínimo de homenagem das autoridades conchalenses, como uma placa singela em uma escola pela sua brilhante trajetória usando seus princípios éticos e morais na educação da juventude brasileira.
O Aldridge College continua sob a direção do filho mais velho Walter Leonard Aldridge, mudando novamente de endereço, mais desta vez para uma sede própria na Praia de Botafogo, 184. Ampliando posteriormente suas instalações com a compra dos terrenos e prédios de nº 186, 188, 190 e 192 - esta área é hoje da Fundação Getúlio Vargas, vendida em 1945, quando o Aldridge College deixou de existir devido a Nacionalização do ensino promovido por Getúlio Vargas.








Vejamos o que diz a dona da foto acima ex-aluna do Aldridge com 84 anos hoje, sobre sua experiência nesta nova instalação:

"- Eu entrei para o Aldridge em 1940, no antigo admissão, que era o preparatório para o ginásio. Fui recebida pelo Sr. Felix, um idoso bedel (era assim que se chamavam os inspetores de disciplina) Meu irmão Luiz Osório de Brito Aghina (que se tornou um importante engenheiro nuclear conhecido mais fora do Brasil do que na sua terra) era 2 anos mais moço que eu, fomos, os dois apavorados, saindo de um coleginho pequeno na Urca para aquele eeennnooorrnnmmee prédio na Praia de Botafogo, onde hoje é a Fundação Getúlio Vargas. Eram 2 prédios, um bem antigo, com escadarias de Ferro, um pátio muito grande onde ficávamos em forma, esperando a subida para as salas de aula. No outro prédio, mais moderno, subíamos em escadas de mármore. O chão era de cerâmica vermelha São Caetano e no último andar um grande salão para o recreio. das meninas. O dos meninos era no térreo. Nós almoçávamos lá e como bom diretor inglês, Mr. Leonard Aldridge, cuja esposa era , Mme. Bertha Duchen, o almoço era todo falado em inglês e francês., Até as orações antes das refeições eram, uma semana em inglês e outra em francês. Eu me lembro que uma das filhas do Mr. Aldridge se chamava Violeta e dava aulas de taquigrafia. Era um dos poucos colégios mistos, por isso  meu pai nos colocou lá, eu e meu irmão". - Depoimento por e-mail de Cely Brito Canetti - Aluna do Aldridge College em Botafogo.


O Aldridge funcionou neste endereço até que um decreto na Lei nacionalista de Getúlio Vargas, proibindo que as instituições de ensino ficassem na mão de estrangeiros, ou seja, que fossem donos ou dirigentes de qualquer escola no Brasil, Walter Leonard Aldridge ficou perplexo com tal atitude inclusive os filhos do Presidente estudara naquela escola, não aceitou as imposições ditatórias do presidente preferiu fechar o colégio em 1945 a repassar para um brasileiro, no mesmo ano vendeu os prédios para a Fundação Getúlio Vargas, para nada mais nada menos do que Luiz Simões Lopes aluno do colégio aqui em São Gonçalo que apos vários cargos no governo federal, dentre eles o de presidente do DASP, foi o idealizador e criador da Fundação Getúlio Vargas. 
 
 
Luiz Simões Lopes e Arthur Bernardes Filho destaques do Aldridge College
Vários alunos do Aldridge College tiveram destaque na vida publica e privada, aqui em São Gonçalo consegui descobrir dois deles o próprio Luiz Simões Lopes e o Arthur Bernardes Filho, Já no Rio de Janeiro foram diversos, vários deles são citados no depoimento da Cely Canetti cujo link se encontra abaixo.
Houve com o decorrer dos anos, novas invasões britânicas que também mudaram hábitos e comportamentos em todo o mundo, novamente não ficamos imunes a tais influências culturais, desde o chá das cinco da tarde, o Horário rígido britânico que é uma marca deste povo, a cabine telefônica única, o ônibus de dois andares, e na música a maior de todas: O surgimento dos meninos de Liverpool, Lennon, Paul, Harrison e Ringo que provocaram uma histeria coletiva sem fim em todo o planeta. Os Beatles foram sem dúvida a maior das invasões que contagiou, encantou e fez dançar multidões mundo afora ao som frenético do rock and. roll, e outros vieram na onde The Rolling Stones, Led Zeppelin, Pink Floyd, Sex Pistols, Genesis, Supertramp, Yes, Duran Duran, , Eurythmics, Culture Club, Spandau Balle, Tears for Fears, Pet Shop Boys, The Cure, The Police, Soft Cell, The Pretenders, Oasis. Coldplay, Space Girls, James Blunt, Robbie Williams e McFLY, Adele, Amy Winehouse entre outros, mais para a história da nossa cidade o melhor das invasões britânicas, sem dúvida esta na existência destas duas escolas no meu ponto de vista, Claro!










Leia na integra:
Depoimento emocionante da Aluna: Cely Canetti - Aldridge College Botafogo.Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/depoimento_d._cely_canetti
Luiz Simões Lopes - "Primeiros Estudos" (trecho do livro Fragmentos de Memoria)
Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/capitulo_do_livro_fraguimentos_de_m
Educação à Antiga - Antiga – Reportagem da Revista dos Municípios
Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/educa____o____antiga_-_revista_dos_
Livreto propaganda "Aldridge College - Chácara do Paraíso" publicado pela Leuzinger em 1913 - Link: http://issuu.com/zecapinheiro/docs/livreto_propaganda_leuzinger_-_ano_
Galeria de fotos :
https://www.facebook.com/media/set/?set=oa.687756787934856&type=1


Sobre o Autor
Zeca Pinheiro - Turismólogo, pesquisador amador, responsável pelo Grupo São Gonçalo Memoria Viva - https://www.facebook.com/groups/Saogoncalodasantigas/ - e a pagina Redescobrindo São Gonçalo: https://www.facebook.com/pages/Redescobrindo-S%C3%A3o-Gon%C3%A7alo/136682933104250


BIBLIOGRAFIA
Diário Oficial da União: http://www.jusbrasil.com.br/diarios/
Acervo da Fundação Getúlio Vargas - http://cpdoc.fgv.br/
Pagina: Foi um Rio que Passou - http://www.rioquepassou.com.br/
Biblioteca Nacional - http://memoria.bn.br/
Acervo particular Cely Brito Canetti - https://www.facebook.com/cely.canetti
Acervo particular da família Aldridge
Revista Municípios do Brasil - Setembro/89- J.E.F. Editora Cultural Ltda.
Livro Fragmentos de Memória – Luiz Simões Lopes (ex-aluno do Aldridge College).