Com a finalidade de dar a conhecer seus argumentos sobre os porquês da arte contemporânea ser uma “arte falsa“, a crítica de arte Avelina Lésper apresentou a conferência “El Arte Contemporáneo- El dogma incuestionable” na Escuela Nacional de Artes Plásticas (ENAP), sendo ovacionada pelos estudantes na ocasião.
A arte falsa e o vazio criativo
“A
carência de rigor (nas obras) permitiu que o vazio de criação, o acaso e
a falta de inteligência passassem a ser os valores desta arte falsa,
entrando qualquer coisa para ser exposta nos museus “
A crítica explica que os objetos e valores estéticos que se apresentam como arte são aceites em completa submissão aos princípios de uma autoridade impositora. Isto faz com que, a cada dia, formem-se sociedades menos inteligentes e aproximando-nos da barbárie.
O Ready Made
Lésper aborda também o tema do Ready Made, expressando perante esta corrente “artística” uma regressão ao mais elementar e irracional do pensamento humano, um retorno ao pensamento mágico que nega a realidade. A arte foi reduzida a uma crença fantasiosa e sua presença em um mero significado. “Necesitamos de arte e não de crenças”.
Génio artístico
Da mesma maneira, a crítica afirma que a figura do “génio”, artista com obras insubstituíveis, já não tem possibilidade de manifestar-se na atualidade. “Hoje em dia, com a superpopulação de artistas, estes deixam de ser prescindíveis e qualquer obra substitui-se por outra qualquer, uma vez que cada uma delas carece de singularidade“.
O status de artista
A substituição constante de artistas dá-se pela fraca qualidade de seus trabalhos, “tudo aquilo que o artista realiza está predestinado a ser arte, excremento, objetos e fotografias pessoais, imitações, mensagens de internet, brinquedos, etc. Atualmente, fazer arte é um exercício ególatra; as performances, os vídeos, as instalações estão feitas de maneira tão óbvia que subjuga a simplicidade criativa, além de serem peças que, em sua grande maioria, apelam ao mínimo esforço e cuja acessibilidade criativa revela tratar-se de uma realidade que poderia ter sido alcançada por qualquer um“.
Neste sentido, Lésper afirma que, ao conceder o status de artista a qualquer um, todo o mérito é-lhe dissolvido e ocorre uma banalização. “Cada vez que alguém sem qualquer mérito e sem trabalho realmente excepcional expõe, a arte deprecia-se em sua presença e concepção. Quanto mais artistas existirem, piores são as obras. A quantidade não reflete a qualidade“.
Que cada trabalho fale pelo artista
“O artista do ready made atinge a todas as dimensões, mas as atinge com pouco profissionalismo; se faz vídeo, não alcança os padrões requeridos pelo cinema ou pela publicidade; se faz obras eletrónicas, manda-as fazer, sem ser capaz de alcançar os padrões de um técnico mediano; se envolve-se com sons, não chega à experiência proporcionada por um DJ; assume que, por tratar-se de uma obra de arte contemporânea, não tem porquê alcançar um mínimo rigor de qualidade em sua realização.
Os artistas fazem coisas extraordinárias e demonstram em cada trabalho sua condição de criadores. Nem Damien Hirst, nem Gabriel Orozco, nem Teresa Margolles, nem a já imensa e crescente lista de artistas o são de fato. E isto não o digo eu, dizem suas obras por eles“.
Para os Estudantes
Como conselho aos estudantes, Avelina diz que deixem que suas obras falem por eles, não um curador, um sistema ou um dogma. “Sua obra dirá se são ou não artistas e, se produzem esta falsa arte, repito, não são artistas”.
O público ignorante
Lésper assegura que, nos dias que correm,
a arte deixou de ser inclusiva, pelo que voltou-se contra seus próprios
princípios dogmáticos e, caso não agrade ao espectador, acusa-o de “ignorante, estúpido e diz-lhe com grande arrogância que, se não agrada é por que não a percebe“.
“O espectador, para evitar ser chamado ignorante, não pode dizer aquilo que pensa, uma vez que, para esta arte, todo público que não submete-se a ela é imbecil, ignorante e nunca estará a altura da peça exposta ou do artista por trás dela.Desta maneira, o espectador deixa de presenciar obras que demonstrem inteligência”.
Finalizando
Finalmente, Lésper sinaliza que a arte contemporánea é endogámica, elitista; com vocação segregacionista, é realizada para sua própria estrutura burocrática, favorecendo apenas às instituições e seus patrocinadores. “A obsessão pedagógica, a necesidade de explicar cada obra, cada exposição gera a sobre–produção de textos que nada mais é do que uma encenação implícita de critérios, uma negação à experiência estética livre, uma sobre–intelectualização da obra para sobrevalorizá-la e impedir que a sua percepção seja exercida com naturalidade“.
A criação é livre, no entanto a contemplação não é. “Estamos diante da ditadura do mais medíocre”
Erick Jacquin é um chef exigente ao extremo. Um dos mais premiados do
Brasil, ele é uma das estrelas da versão brasileira do reality show
MasterChef, programa de televisão produzido em mais de 40 países. Ao
lado de outros dois cozinheiros renomados, Henrique Fogaça e Paola
Carosella, Jacquin avalia chefs amadores e dispara frases nada amigáveis
– “parece que você fez comida para as galinhas” ou “esse bife parece um
bicho que vai andar”.
As frases divertidas - e sinceras demais – agora lhe rendem audiência,
mas no passado lhe renderam processos trabalhistas. Estima-se que o
cozinheiro tenha dívidas de R$ 1,5 milhão, entre falta de pagamentos a
fornecedores e ações de ex-funcionários na Justiça. Seu restaurante, o
La Brasserie, de alta gastronomia, fechou as portas no final do ano
passado.
A fama de durão e de difícil convivência veio depois de empregados
revelarem xingamentos e até arremessos de pratos pelo francês. À Época NEGÓCIOS,
Jacquin afirmou estar mais calmo hoje em dia e que o seu jeito
explosivo seria, na verdade, uma cobrança interna. “A exigência que eu
tenho com os outros, eu tenho comigo. Ela está dentro de mim. Não é
falta de respeito. Tem muita gente que me agradece”.
Agora, Jacquin tem a oportunidade de se tornar conhecido fora da
cozinha - a sua exigência por qualidade já ganhou fãs pelo Brasil. “Eu
gosto de botar pressão e gosto de trabalhar sob pressão. Um pouquinho de
medo não faz mal”, afirma. Mas ele se recusa a contratar alguém
novamente.
Você nasceu em uma cidade pequena do Vale do Loire, na França, e chegou ao Brasil em 1995. Porque decidiu vir para cá?
Quando eu cheguei ao Brasil, eu já era chef em Paris. Eu fui convidado a
trabalhar aqui por um senhor chamado Vincenzo Ondei, que na época tinha
um restaurante chamado Le Coq Hardy [restaurante no Itaim que fechou em
2008]. Fui convidado para ser o chef do lugar. Eu pensei muito nesse
convite. Em outubro de 1994, vim conhecer o país. Fiquei por aqui uma
semana. Voltei para a França, conversei com a minha esposa na época [a
sommelière Katia Lefriec] e ela concordou. Nós mudamos em fevereiro de
1995. Imaginávamos passar três ou quatro anos, ganhar um dinheiro,
voltar para a França e comprar um restaurante. No fim, estou aqui ainda.
Como você se apaixonou pela gastronomia?
Eu nunca quis fazer outra coisa. Desde moleque, eu sempre dizia que
queria ser cozinheiro. Eu nunca imaginei fazer outra coisa,
infelizmente.
Por que infelizmente?
Porque ser cozinheiro não é ter uma vida normal – é muito mais do que
uma profissão, principalmente quando se quer fazer muito bem. Eu decidi o
que eu queria fazer muito novo e comecei a trabalhar muito novo. Meus
pais se preocupavam muito comigo, porque essa é uma profissão em que se
trabalha enquanto as outras pessoas estão se divertindo. Não é fácil
começar jovem, mas nunca foi um problema para mim, porque eu sempre me
diverti trabalhando. Na realidade, eu nunca trabalhei. Eu trabalhei
muito, mas nunca foi um trabalho, ainda não é um trabalho, é tudo – é a
minha vida. Então, eu não me arrependo. Eu não sei se existe no mundo
uma profissão que me deixaria mais feliz do que cozinheiro.
Você disse que trabalha muito. Quantas horas por dia?
Um cozinheiro que trabalhou 12 horas no dia teve um bom dia de
trabalho. Agora, não é bom trabalhar muito. O chef que trabalha 18
horas, já não cozinha igual, já não consegue fazer coisa boa. No Brasil,
por exemplo, o restaurante fecha muito tarde. Às vezes, até 1h da
manhã. Na Europa, nenhum restaurante muito bom vai te receber nesse
horário. Um bom restaurante na França fecha às 21h30, 22h no máximo.
Você acha que o cozinheiro de um restaurante que abriu cedo tem vontade
de fazer um prato à meia-noite? Impossível.
Quando você decidiu ser chef?
Eu nunca decidi ser chef, eu decidi ser cozinheiro, o que é muito
diferente. Antes de ser chef, precisa querer ser cozinheiro. Mas aqui no
Brasil todo mundo quer ser chef e não quer ser cozinheiro. A ordem é:
primeiro vamos aprender a cozinhar, depois vamos ser chef e depois vamos
aparecer na televisão. Tem muita gente que quer fazer televisão, antes
de ser cozinheiro. E é por isso que aqui existem chefs que são péssimos
cozinheiros. É lógico que eu não vou citar nomes. Mas tem, e muito. Essa
profissão foi muito valorizada por aqui, assim como publicidade e
advocacia. Eu não consigo entender como uma faculdade no Brasil vende
curso de chef de cozinha. Existe curso de presidente da República?
Existe curso de presidente de banco? Não, tem curso de economia. A
escola é importante, mas um bom chef aprende na prática.
Como você começou na profissão?
Depois de escolher ser cozinheiro, meu pai pediu que eu fosse até a
confeitaria da cidade onde eu nasci, um lugar de quatro mil habitantes,
para trabalhar durante o Natal. Eu trabalhei durante o Natal e o Ano
Novo e adorei. Tinha 15 anos. Depois, conheci um cara que tinha um
buffet e fazia festa. Trabalhei lá no verão e adorei também. Eu dizia: é
isso que eu quero fazer. Minha mãe queria que eu estudasse. E eu
estudei, mas não queria. Eu queria mesmo era trabalhar. Depois, minha
mãe me colocou em uma escola de gastronomia com duração de dois anos –
mas em uma verdadeira escola, com 30 alunos. Lá tinha um restaurante
aberto ao público. Nós cozinhávamos todos os dias, não era uma escola
para faturar com dois mil alunos. Depois fui para Paris, onde eu
realmente comecei minha carreira de cozinheiro até virar chef de cozinha
em 1989, aos 25 anos.
Naquela época, quem te inspirava? Tinha algum grande chef conhecido?
Isso não existe. É bobagem. Eu nunca comprei um livro de cozinha, por
exemplo. A minha inspiração vem do cheiro. O cheiro da comida. O cheiro
do produto. A maioria das fotos dos pratos que estão nos livros, nos
jornais ou nas revistas não dá pra comer. A imagem da foto do livro tem
pouco a ver com o prato que é servido nos restaurantes. Tem comida para o
livro, para a revista, para o jornalista e tem comida para o cliente. O
mais importante da comida é o cheiro. Eu não me espelhei em ninguém,
meu foco era só no cliente.
Hoje, você é um dos chefs
franceses mais famosos do Brasil. Como você acredita ter chegado até
aqui? Foi a sua obsessão por qualidade?
Perseverança e coragem – eu nunca desisti diante das dificuldades. Até
porque, às vezes, a felicidade atrapalha mais que a dificuldade. Você
acha que já chegou lá, que virou o chef do ano, que é o melhor da França
no país. E, na verdade, é o contrário. É nesse momento que você tem que
fazer muito mais. Porque não é fácil, muita gente tem inveja, muita
gente quer pegar o seu lugar. Em dois momentos da sua vida você deve
lutar: lutar para continuar em uma posição boa e lutar quando você não
estiver tão bem. Todo mundo tem uma fase ruim, não é?
No MasterChef tem pressão o tempo todo. Pressão no trabalho atrapalha ou ajuda?
Depende do que você faz, depende do que você quer. O elogio atrapalha.
Em alguns casos, se você disser para o cara que a comida dele está
excepcional, ele vai relaxar. Eu não sou uma pessoa que faz muito
elogios. Nunca fiz muitos elogios para as pessoas que trabalhavam
comigo. Se eu fizesse um elogio, as pessoas até ficavam espantadas. Eu
acredito que o elogio atrapalha. Eu também não sou uma pessoa que gosta
de ficar recebendo elogios. Para ajudar alguém, você deve elogiar na
hora certa. Se a pessoa estiver deprimida, você deve elogiar para ela
voltar. Mas se as pessoas estão bem, você não pode elogiar – você vai
diminuir o padrão do trabalho. No MasterChef, eu dei uma dura em vários
candidatos para que eles ficassem. A pressão é importante. Eu gosto de
botar pressão e gosto de trabalhar sob pressão. Um pouquinho de medo não
faz mal.
O que é preciso fazer para ser um bom cozinheiro no Brasil?
Trabalhar. Não existe bom chef no Brasil, um bom chef na França ou um
bom chef na Itália. Precisa trabalhar muito, aprender, mudar várias
vezes de restaurante. Para chegar lá, você também não pode estar com
pressa de ganhar dinheiro. Eu trabalhei muitos anos ganhando pouco.
Demorei a comprar o meu primeiro carro, por exemplo. Ia trabalhar de
trem em Paris. O meu quarto tinha 11 metros quadrados. O chuveiro era no
corredor. Dizem que francês não toma banho, mas nós tomávamos muito,
porque tínhamos o cheiro da comida [risos]. Se eu pudesse dar uma dica
para ser um bom cozinheiro seria: faça uma faculdade de manhã de
administração e trabalhe em um restaurante durante a noite – muito
melhor do que entrar em uma faculdade que tem professores de 24 anos,
que são ex-alunos da escola. É besteira. Se eu pudesse dar uma dica para
ser um bom chef, seria: ouça os seus clientes. Muitas pessoas não
gostam de ouvir os outros, mas os chefs têm obrigação de ouvir os
clientes. Os clientes são as estrelas do restaurante. Não são os
jornalistas que dão as estrelas, são os clientes. Eu pergunto aos meus
clientes sobre a comida. Às vezes, eu não concordo, mas eu pergunto.
O bom chef deve se dedicar só a cozinha, sem se preocupar com a administração?
Eu não sou a melhor pessoa para responder a essa pergunta [risos].
Existem chefs que são bons administradores e outros que são péssimos.
Acho que a administração toma muito tempo de um restaurante e o chef
fica sem tempo de cozinhar. Ele não deve administrar o local, mas deve
no mínimo se interessar pelas contas – ele precisa saber quanto pode
gastar, por exemplo, mas não deve pensar só em números.
Quem é o melhor chef do Brasil para você?
Eu nunca vou falar isso. Nem sei. Não acredito nisso. Não tem um chef
melhor que o outro, cada um tem a sua especialidade e experiência.
Em
novembro do ano passado, o seu restaurante francês La Brasserie fechou
as portas por problemas de administração após nove anos. Onde você
errou? O que faria diferente se pudesse?
Quando eu abri esse restaurante, há dez anos, errei de local. Errei de
bairro. Não tenho nada contra Higienópolis, mas a cidade mudou - e é um
inferno agora. Os meus clientes do Morumbi não iam mais lá, por exemplo.
Os clientes falavam: “Jacquin, me desculpe, mas o seu restaurante é
contramão, é muito longe”. Outro erro foi que eu tive muitos
funcionários. Se um dia eu abrir outro lugar, vai ser um local bem
pequeno. Só para mim, sem sócio. Além disso, iria fechá-lo aos finais de
semana e só ia deixar aberto até 22h30. É muito difícil de administrar e
eu não estou falando só da parte financeira. Fechar o restaurante foi
uma decisão certa, porque hoje as pessoas lembram dele de uma forma
positiva – elas lembram do bom serviço e da boa comida que nós
servíamos. E eu não queimei o meu nome.
Então você pensa em abrir outro restaurante?
Não, eu nunca mais vou assinar uma carteira de trabalho na vida. Até
que o Brasil passe por reformas, nunca mais vou assinar uma carteira de
trabalho. Vai chegar uma época em que ninguém mais vai querer ter
funcionário, só as grandes empresas. A injustiça é o que mais me
incomoda. Eu não sou milionário, sou cozinheiro e trabalhador. Eu não
fui o chef que não trabalhava. Precisa ser muito corajoso para pedir um
alvará de restaurante no Brasil. É documento atrás de documento. Pode
ser que o governo esteja certo, mas eles precisam facilitar o processo.
Todo mundo conhece o seu jeito explosivo. Esse jeito, que antes te atrapalhava na La Brasserie, hoje te favorece no MasterChef?
Pode ser. O MasterChef me deu a oportunidade de mostrar quem eu sou. Eu
não mudei. O meu personagem sou eu. Mas era bem mais duro no meu
restaurante do que no MasterChef. Aliás, nem sou tão duro no MasterChef.
Você ganha dinheiro participando do programa?
Não. Tem uma ajuda de custo. Com o programa, eu espero ganhar dinheiro
no futuro. O MasterChef é a oportunidade de ser conhecido por um público
diferente. Hoje, eu sou conhecido pelas classes A e B – e o programa
irá me fazer muito mais conhecido.
Você tem sido abordado nas ruas pelas pessoas?
Às vezes, sim. As pessoas me chamam de bravo [risos] e eu recebo muitos elogios também.
Estima-se
que você e a La Brasserie possuam dívidas e ações trabalhistas de R$
1,5 milhão. É verdade? Como você pretende pagar essas dívidas?
Como você acha que se paga uma dívida? Em dinheiro [risos]. Se alguém
aceitar uma permuta, precisar fritar um ovo, eu vou. Já paguei alguns
fornecedores trabalhando. Mas tem dívida que vai ser difícil pagar. Eu
sei que não vai ser fácil. Hoje, eu vivo de fazer jantares nas casas das
pessoas. Não é todo dia que tem, mas tem. Com o MasterChef, eu vou ter
mais oportunidade. O meu restaurante era caro, cerca de R$ 300 por
pessoa. O cara que ia lá nem sempre tinha muito dinheiro. Alguns iam só
quando era aniversário de casamento, por exemplo. Eu vendia uma mesa
dentro da cozinha por R$ 1,3 mil para duas pessoas. A qualidade tinha
que ser impecável. Perguntava para as pessoas que trabalhavam comigo:
‘Imagina que esse prato vai custar R$ 120, você pagaria? Não? Então
porque você quer que os outros paguem? Porque os clientes devem pagar
pela merda que você faz?’ Agora, sobre o valor das dívidas: eu não fiz a
conta. É sério, mas deve ser por aí.
Hoje você está mais tranquilo ou continua arremessando pratos nas pessoas? Essa história é real?
Hoje, eu sou muito mais tranquilo. Estou mais velho e, depois que
fechei a La Brasserie, tenho muito menos pressão. Não foi fácil fechar
esse restaurante. Muita gente só olha o meu lado durão, só fala que o
estabelecimento fechou. Eu chorei muito. Os bancos não queriam mais
conversar comigo. Tentei muito, lutei muito. Muitos funcionários me
ajudavam e gostavam de mim. O problema é que as pessoas só gostam de
valorizar o que não deu certo. Teve funcionário que falou mal de mim,
mas que trabalhou só três meses comigo. Esse não sabe quem eu sou. Eles
falam mal, mas quando vão procurar emprego dizem que já trabalharam com o
Jacquin. Pode me odiar, pode falar tudo que eu sou, pode ser que seja
verdade, mas todo mundo fala que trabalhou comigo. Eu nunca prejudiquei
um ex-funcionário. Nunca disse para não contratar alguém quando me
pediam referência. Eu quero ver as pessoas felizes para que elas parem
de falar mal de mim.
Você lida bem com criticas?
O que você acha? Se os clientes forem justos e honestos, eu não tenho
nada contra. A crítica é muito boa. Eu gosto de polêmica, eu sou
polêmico. Mas a crítica me incomoda quando ela é ignorante. A ignorância
me incomoda. Eu sofri muito com uma matéria mal escrita divulgada em
uma revista há dez anos. As pessoas pediam para eu não me importar, mas a
matéria falava mal de tudo, não tinha nada de positivo. A crítica, até
no MasterChef, sempre tem um lado positivo, não existe só o lado
negativo. Tudo na vida tem um lado positivo. Todas as pessoas que
trabalham no mundo merecem um lado positivo.
Em que momento o talento atrapalha?
O talento atrapalha quando os outros ficam com inveja do seu trabalho. O
talento mesmo nunca atrapalha - o que atrapalha são as pessoas que
querem te atrapalhar. A vida é um reality show. Hoje, eu tenho certeza
que a vida é um jogo. Acredito que talento não é nada sem trabalho duro e
perseverança. Músico é assim: tem gente que tem talento para tocar
piano, por exemplo, mas se não se esforça, vai tocar de uma forma média.
Tem gente que não tem talento, mas trabalha todo dia, toda hora – esse
vai conseguir tocar piano muito bem.
Você disse que o que atrapalha é a inveja. Você sofreu muito com isso na sua carreira?
Não. Eu tinha muitos amigos. O que me faz sofrer é que as pessoas só
valorizam as coisas negativas que aconteceram comigo. Tem ex-funcionário
que fala mal de mim e nunca me defende, mas eu acho que nós temos que
respeitar as pessoas que nos ensinaram a trabalhar. O chef francês que
me ensinou a ser um bom cozinheiro, era pior do que eu, mas eu nunca vou
falar mal dele. Ninguém queria trabalhar com ele. No começo, eu o
achava maluco. Mas eu me dei bem com ele, trabalhamos juntos por seis
anos. Eu aprendi muito, muito.
Além do Esporte Clube Metalúrgico que viveu tempos áureos na década de
1940, existiu em São Gonçalo o Esporte Clube Costeira, fundada a 25 de
maio de 1960.
Em 1979, foi o segundo colocado na Divisão de
Acesso de times do interior, segunda divisão do Campeonato Estadual do
Rio de Janeiro. O campeão e vice foram respectivamente o Friburgo
Football Club e o Esporte Clube Costeira. Porém em 1980, o campeão foi o
E C Costeira e o vice-campeão foi o Novo Rio FC, de São João de Meriti,
que daria origem em 1981 à União Esportiva Coelho da Rocha. Não houve
promoção para a Primeira Divisão do ano seguinte.
No começo do
século XX o futebol começava a ganhar popularidade no Brasil. O esporte
elitista trazido da Inglaterra por Charles William Miller passou a ser
jogado por outras classes sociais, e rapidamente se popularizou nas
fábricas e indústrias brasileiras.
Os trabalhadores jogavam em
seu horário de almoço e os dirigentes das fábricas começaram a perceber
que o esporte unia os seus funcionários. Assim, muitos cediam terrenos
inutilizados das fábricas para fazer um campo com sede – uma jogada
genial, pois além de unir os trabalhadores em torno do espírito
corporativo da empresa, o futebol funcionava como propaganda da
indústria, tornando as fábricas mais conhecidas.
Na medida em
que mais times iam crescendo e se enfrentando, as fábricas ganhavam mais
nome e a “indústria do futebol de fábricas” começou a crescer. Durante a
contratação de funcionários, algumas indústrias priorizavam aqueles que
soubessem jogar futebol. Houve até casos em que algumas fábricas
contrataram operários só para jogar, mas no contrato escreviam que eles
trabalhavam nas fábricas, pois só podiam participar dos campeonatos,
aqueles que trabalhavam naquela indústria.
A popularidade dos
jogos chegou ao ponto de servir como propaganda governamental para o
Estado Novo, pois as ligas classistas criavam torneios amadores que
seguiam as regras do Estatuo do Conselho Nacional de Desportos (CND) do
Governo Vargas.
Porém, aquele espírito de união que o futebol
dava para os jogadores de fábricas começou a se esvair. A
competitividade para jogar pelas empresas criou muitas rixas entre
trabalhadores, que queriam desfrutar dos benefícios que um jogador de
empresa tinha (como poder ser dispensado para treinar ou trabalhar com
uma carga horária mais flexível). Ao mesmo tempo, os bons jogadores
assinaram contratos com grandes times nacionais, e passaram a viver só
disso, como foi o caso de Mané Garrincha. Os operários que ficaram
velhos demais para jogar voltaram para as suas fábricas e os times de
futebol de fábricas foram perdendo força.
Eventualmente os
presidentes das fábricas perceberam que havia outras formas mais
eficientes de propaganda para a sua indústria, e os times de futebol de
fábrica foram lentamente se perdendo no tempo.
Revista Placar, 16/09/1977
QUEM SE LEMBRA DO COSTEIRA TREINANDO NA PONTA D'AREIA?
Péris Ribeiro*
Clube fundado em 1960, não registra grandes feitos em sua história. Da
velha Companhia de Navegação Costeira restam o emblema - uma Cruz de
Malta que era pintada nas chaminés dos saudosos Itas -, o nome e alguns
abnegados sócios, que descontam as mensalidades em folhas. Eles não
deixam o clube morrer — ao contrário, é organizado, com departamento
médico que funciona e pagamentos rigorosamente em dia. Também, são
apenas 12 profissionais e uma porção de amadores. Salário mínimo,
naturalmente — para eles é salário mínimo realmente, pois nenhum tem
emprego na companhia, empresa pública que não tem mais navios e foi
transformada em estaleiro de reparos navais, na costa de Niterói.
(... )Porém o otimista presidente Sebastião Barbosa de Melo afirma que o
Costeira melhorou muito de lá para cá, pois mantém o mesmo time-base há
trés anos e reforçou as posições deficientes.
A torcida,
pequena porém fiel, confia muito em seus quatro craques, aqueles que
faturam 2 mil por mês: o goleiro Tonho, 22 anos; o quarto-zagueiro
Getúlio, 23 anos; o ponta-direita Aílson, 24 anos, veloz e de bom chute,
e a armador Gutinho, estrela da companhia, que diz ter 23 anos mas
aparenta muito mais, cacheiro que já andou em muito clube por ai — o
último foi o Volta Redonda — e que sabe de bola sem correr muito atrás
dela.
Uma pena não ter a foto do time da
Costeira, apenas uma comprovação de um dos jogos. No antigo placar ao
fundo o nome Costeira. Jogo onde o Costeira sagrou-se campeão da Segunda Divisão do Campeonato Estadual do RJ.
Esporte Clube Costeira foi uma agremiação esportiva de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, fundada a 25 de maio de 1960.
Criado na ilha do Viana, na vizinha Niterói, por funcionários do
estaleiro da Cia. Costeira de Navegação Marítima, o Costeira disputou
diversos campeonatos promovidos pela Liga Desportiva de Niterói.
Se transfere para São Gonçalo, após vencer a Segunda Divisão Estadual (Zona do Interior) em 1980 e posteriormente abandonar o profissionalismo, muito dispendioso para a sua realidade financeira.
Retorna apenas em 2002, na Terceira Divisão de Profissionais.
Classifica-se em segundo em seu grupo e chega à fase seguinte, na qual é
eliminado ao ficar em terceiro em uma chave que classificou apenas o
primeiro colocado Artsul Futebol Clube.
No ano seguinte, foi
convidado a disputar a Segunda Divisão, mas não alcançou um bom
desempenho. É eliminado precocemente na primeira fase ao ficar em
segundo em uma chave com três equipes.
Licenciou-se após essa
disputa, culminando numa posterior desfiliação pela FFERJ, devido a seis
anos de inatividade. Suas cores são azul e branco.
A Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo agradece a Anselmo Lopes da Silva, administrador do grupo "São Gonçalo Antigo"a permissão de postagem desta matéria.
______________________________________________________ Texto: Mathias Brotero, “O Futebol das Fábricas ou a Fábrica do Futebol” - Pesquisa do amigo Antônio Gavina do Facebook: http://www.facebook.com/PontaDAreiaNiteroi (*)Revista Placar, 16/09/1977
Uma tradição cristã contruída através dos séculos, dentre os principais sinais e símbolos natalinos estão:
a árvore de Natal,
o presépio e seus personagens,
a guirlandas nas portas das casas,
a coroa do Advento com suas quatro velas,
a estrela de Belém,
os enfeites natalinos,
a figura do Papai Noel
as meias e sapatos na janela ou na lareira,
os sinos,
os cânticos,
as velas,
a iluminação da árvores, das casas, e dos locais públicos,
a ceia familiar com seus pratos típicos
a troca de presentes.
Cada um tem seus significados, curiosidades e
história particular, mas a maioria dos símbolos natalinos tenta ajudar
as pessoas a penetrarem um mistério: a encarnação do Verbo Divino. Para
os cristãos, o Deus Único tem um Filho e O enviou ao Mundo. Não foi uma
"aparição" apenas, mas Ele se fez homem, na Judéia, atual Palestina. Nenhum período do ano tem tantos símbolos católicos.
Quem inventou a Árvore de Natal?
O "inventor" da
Árvore de Natal foi São Bonifácio, chamado "o Apóstolos dos Germanos" ou
"o Evangelizador da Alemanha". Nascido na Inglaterra em 672 e faleceu
martirizado em 5 de junho de 754. Seu nome religioso, em latim Bonifacius, quer dizer “aquele que faz o bem” e possui o mesmo significado do seu nome em saxão, Wynfrit.
São Bonifácio, o Apóstolos dos Germanos
Em
718 ele esteve em Roma e o Papa Gregório II enviou-o à Alemanha, com a
missão de reorganizar a Igreja no local. Por cinco anos ele evangelizou
territórios que são hoje os estados alemães de Hessen e Turíngia. Em 732, em Roma, o Papa Gregório II deu a São Bonifácio o pálio de
arcebispo com autoridade sobre a Alemanha. Ele é representado com vestes
episcopais, mitra, um livro atravessado por uma espada e um pé sobre o
tronco do carvalho abatido, símbolo do esmagamento da religião pagã.
Quando surgiu a Árvore de Natal?
Em 723 São Bonifácio derrubou um
enorme carvalho dedicado ao deus pagão Thor, perto da atual cidade de
Frizlar, na Alemanha. Para convencer o povo e os druidas (os sacerdotes
pagãos) de que não era uma árvore sagrada e que não seria castigado pelo
falso deus, ele a derrubou com um machado. Esse acontecimento é considerado o início formal da cristianização da Alemanha. O
carvalho ao cair destruiu tudo ao redor menos um pequeno pinheiro e,
segundo a tradição, Bonifácio interpretou esse fato casual como um
milagre. Como era o período do Advento e como ele pregava sobre o Natal,
declarou: “Doravante, nós chamaremos esta árvore de Árvore do Menino
Jesus”. O costume de plantar pequenos pinheiros para celebrar o
nascimento de Jesus estendeu-se pela Alemanha e de lá para todo o
Mundo..A simbologia da árvore é uma das mais espalhadas em
todas as culturas. A árvore está presente na Bíblia, desde as árvores
do jardim do Éden - em especial a Árvore do Bem e do Mal - até a
“árvore” da Cruz de Jesus. Existem várias explicações
para a origem do costume de cortar a árvore, levá-la para dentro de casa
e enfeita-la, baseada na tradição bíblica. O simbolo da árvore de Natal
é bem anterior ao do presépio e mais universal.
Por que um pinheiro?
Por que essa planta
cresce mais rápido, fica verde mais tempo. Várias comparações do
pinheiro cristão com o carvalho pagão foram destacadas pela Igreja,
desde o inicio dessa tradição. O
pinheiro mantém-se
verde, em pleno inverno, quando todas as
outras árvores, inclusive os carvalhos, amarelam e perdem as folhas. O
pinheiro tornou-se símbolo da Igreja, que mantém a esperança sempre viva
(o verde constante) na vinda de Jesus Cristo apesar de todas as
dificuldades e perseguições que sofre e, como
crescimento do pinheiro é constante, também é constante o crescimento da
Cristandade no Mundo. Sua forma triangular foi vista por São Bonifácio como
um símbolo da Santíssima Trindade.
Por que enfeites na árvore de Natal?
A
tradição cristã assimilou a árvore de Natal como uma Nova Árvore da
Vida, substituindo a árvore do Jardim do Éden (a Árvore do Bem e do Mal
citada em Gn 2,9). Ao
contrário da história do Éden sobre a Serpente e o Fruto Proibido. No
tempo de São Bonifácio, as árvores de Natal eram enfeitadas com maçãs,
evocando a nova frutificação e o antigo pecado original. o (a
“maçã”) a árvores de Natal passaram a evocar "vida e salvação plantadas
nas casas". Como
a árvore também é símbolo da Igreja, os enfeites brilhantes são também
símbolos dos santos que embelezam a vida da Igreja de Cristo. As árvores também eram decoradas com velas,
que simbolizam Jesus, Luz do Mundo. O costume difundiu-se pela Europa. Uma das primeiras referências registradas dos enfeites é do século XVI e
vem da Igreja na Alsácia, Alemanha. As famílias decoravam os pinheiros com papéis
coloridos, enfeites, frutas e doces. Espalhada por toda a Europa, a
tradição de enfeitar a árvore de Natal chegou ao continente americano
por volta de 1800.
Qual o simbolismo das bolas?
É
costume enfeitá-la com bolas coloridas, como se fossem frutos, e com
outros adornos natalinos. Os enfeites simbolizam virtudes, desejos e
sonhos das pessoas e da casa onde está a Árvore de Natal. Desde
o século VI, a tradição da árvore de Natal se desenvolve: trocaram-se
as perecíveis "maçãs da árvore do Éden" por bolas e enfeites, simbolizando os frutos da vida. As tradições familiares variam.
Alguns colocam 12 bolas ou múltiplos de doze para evocar os Doze Apóstolos. Outros, 33 bolas, os anos da vida terrena
de Jesus. Outros adornam progressivamente a árvore de Natal com 24 a 28
bolas, dependendo do número de dias do Advento. Outros
ainda adornam a árvore de uma só vez, as crianças elaboram suas
próprias bolas. em outras famílias, as bolas são colocadas com uma
oração ou um propósito em cada uma, até o nascimento de Jesus. Para
algumas comunidades religiosas, as bolas simbolizam as orações do
período do Advento: as azuis são de orações de arrependimento, as
prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as vermelhas de
prece.
Por que as bengalas, os 3 sinos e os 7 anjinhos?
Os
enfeites da árvore de Natal são um espaço de liberdade, arte e poesia
para a criatividade familiar. Os 3 sininhos simbolizam a Santíssima Trindade e também costumam adornar guirlanda do Natal, na entrada das casas. Os
7 anjinhos representam os espíritos angélicos, os anjos dos pequeninos
diante de Deus, contemplando e intercedendo por todos (Mt 18,10). As bengalinhas evocam a caminhada, o trabalho de cada um e também o pastoreio de Jesus, o cajado do Bom Pastor. Também
colocam-se pequenos e bonitos pacotinhos e presentinhos pendurados na
árvore ou aos seus pés. Eles representam as boas ações e os sacrifícios,
os "presentes" que serão dados a Jesus no Natal.
O que faz uma estrela no topo da árvore de Natal?
Ela
ilumina, orienta e aponta para os céus. Na ponta do pinheiro, no alto
da árvore de Natal, costuma-se colocar uma estrela, luminosa. Na parte
mais elevada, simboliza a Estrela de Belém, a estrela-guia dos magos do
Oriente (Mt 2,2.9.10) Para os católicos, no topo da
árvore de Natal a estrela também representa a Fé que deve iluminar a
guiar as vidas dos cristãos, coroando suas cabeças. Essa estrela-guia,
com jeito de cometa, também é colocada ou representada por luzes desde a
manjedoura de Jesus no presépio até o alto de edifícios nas cidades.
Quem inventou o presépio?
Foi São Francisco de Assis quem armou o primeiro presépio da história, na noite do Natal de 1223, em Greccio, Itália. São
Francisco de Assis quis celebrar o Natal de forma mas realista possível
e, com a permissão do Papa, montou um presépio de palha, com uma imagem
do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José, juntamente com um boi e um
jumento vivos. Nesse cenário foi celebrada a Missa de Natal. O costume
espalhou-se pela Europa e de lá para todo mundo. A Igreja Católica
considera um bom costume cristão armar presépios no período do Natal em
igrejas, casas e até em praças e locais públicos.
Quais os personagens originais do presépio?
Os
personagens originais do presépio representavam, no estábulo em Belém,
as cenas ocorridas após o nascimento de Jesus. Inicialmente, os
presépios limitavam-se ás figuras do Menino Jesus, Maria e S. José. Com o
tempo, os católicos foram enchendo seus presépios com figuras de
pastores, Reis Magos, artesãos, lavradores, pescadores e outras dos
relatos dos livros evangélicos e até dos livros apócrifos. Inicialmente,
a presença no presépio do jumento e do boi resultou de uma
interpretação cruzada de uma passagem do livro de Isaías (1,3) com outra
de Habacuc (3,2) Há presépios célebres, com centenas
de imagens de barro ou de outros materiais. O presépio é, dos símbolos
do Natal, o mais inspirado nos Evangelhos.
Existe um jeito ideal de montar um presépio?
Em família é o melhor modo de se arrumar o presépio. É uma atividade que deve envolver a todos os membros. Em vários lares católicos e em igrejas, a manjedoura fica vazia até o
Natal, quando a imagem do Menino Jesus é colocada solenemente. Nesses
casos, enquanto o Natal não chega, Reis Magos, pastores, José, Maria,
anjos, camelos, asnos ,bois ,galos e cachorros aguardam pacientemente a
vinda do Menino Jesus. Fora do tempo. Contemplando o invisível.
Que são os anjos e anjinhos?
Entre os
personagens do presépio estão os anjos e anjinhos. Um anjo maior costuma
ocupar a parte superior do presépio, é Arcanjo Gabriel, o que anunciou a
vinda de Jesus a Virgem Maria. Mensageiros celestes, os anjos do presépio parecem dizer: "esta Criança é uma Palavra que ainda não fala, mas que já se vê".
O boi e o burro
Segundo a tradição cristã, Jesus veio
ao mundo entre os animais. Nasceu numa gruta que servia para ser
estábulo, aonde se abrigam animais. Além dos pais, os
primeiros a vê-lo e acolhê-lo são o burro e o boi. Pela mesma tradição,
num ambiente castigado pelo frio do inverno, boi e burro prestam
serviços a Maria e José ao soprar sobre o bebê o hálito quente. Até hoje
eles ajudam a aquecer o Divino Infante, naquele rude inverno oriental. Esses
dois animais são também um dos primeiros sinais de que a Lei Mosaica
será ultrapassada. Boi e burro estão juntos, atados, prontos para mover o
arado desse Menino. Até então, a Lei impedia tal junta de animais (Dt
28,10).
Por que o boi é também o simbolo do Evangelista Lucas?
Desde a antiguidade, o Evangelista Lucas é representado pelo boi, enquanto Marcos por um leão e João por uma águia.
Em
Lucas, o boi é o animal dos sacrifícios, como na palavra
"hecatombe" (sacrifício de 100 bois) pois é o evangelista que mais insiste no
sacerdócio e na missão sacrifical de Jesus Cristo. A imagem do boi
também evoca a mansidão e a obediência. São Jerônimo (342-420) descreve
Lucas como aquele que privilegia o tema da mansidão e da misericórdia e o
chama de “escritor da mansidão de Cristo”, Para alguns autores não se
trata de um boi e sim de um touro evaocando força e fertilidade.
O boi do presépio é o mesmo do bumba-meu-boi
O bumba-meu-boi
ou boi-de-reis é um auto teatral e uma dança dramática do Ciclo
Natalino difundida em todo o Brasil cujo seu personagem central é um
boi. Ele morre e ressuscita. A história alegoriza, sem menção explícita,
toda a vida de Jesus: do nascimento á paixão, morte e ressurreição. ele
é particularmente festejado no Nordeste e no Maranhão.
O
boi do presépio foi parar no bumba-meu-boi pelas mãos dos amazonenses e
nordestinos. Vários elementos imaginários e maravilhosos do Tempo do
Natal estão presentes na manifestação do bumba-meu-boi. É como se o boi
do presépio, tivesse decidido ocupar um espaço próprio e dinâmico nas
festividades natalinas, com conteúdos de natureza pascal (morte e
ressurreição, as matracas) e pastoral ( cuidados com o rebanho,
fraternidade ). O bumba-meu-boi tem uma grande diversidade de nomes e
variação artística, conforme a região: boi-de-orquestra,
boi-de-reis,boi-de-zabumba, boi-pintadinho, bumba, cavalo-marinho e
tanto outros. E assim, com essa fuga do boi do presépio para o
bumba-meu-boi, seu tempo ultrapassou de longe o Natal.
As velas do Natal
As
velas reúnem o reino animal ( na cera de abelha ), o reino vegetal ( no
algodão ou linho do pavio ) e o reino mineral (na chama e nas cinzas).
Na tradição católica e também no
Natal, as velas simbolizam Jesus Cristo, Luz do Mundo. As velas acesas
ao redor e até na árvores de Natal são de origem nórdica, mas as velas
nos ritos religiosos são uma tradição de origem judaica, presente até
hoje, inclusive nas celebrações domésticas dos judeus. A
ceia de Natal é quase sempre acompanhada por velas acesas. No início,
as famílias fabricavam suas velas com a cera pura das abelhas, em sua
cor natural.
Qual o significado das luzes de Natal?
Para os
cristãos, as luzes do Natal expressam a iluminação trazida ao mundo pelo
Nascimento de Jesus. Essa iluminação está presente na árvore de Natal,
nas fachadas das casas e lugares públicos (calçadas, árvores, prédios,
lojas etc). Todas essas luzes saúdam o início de uma Nova Era, que é a
Era Cristã. As velas, com o advento da eletricidade e
tecnologia, foram substitutas pelos pisca-piscas. Seu uso ampliou-se.
Elas cintilam de forma variada e com duração inimaginável para as velas.
As luzes natalinas trazem alegria e encantamento.
Qual o simbolismo das cores do Natal?
O verde, o vermelho e o dourado são as cores dominantes no Natal. O verde
é simbolo primaveril de renovação, esperança e regeneração. O verde das
plantas capta a energia solar e pelo processo da fotossíntese a
transforma em energia vital. O vermelho está ligado ao fogo, á redenção a o amor divino. O dourado também é utilizado e está associado ao sol, á luz, á sabedoria e ao Reino vindouro. Para
a tradição católica há uma relação entre essas três cores e os
presentes dos Reis magos: ouro (dourado), incenso (vermelho) e mirra
(verde).
A flor do Natal é um presente tropical
O Brasil e os
trópicos importaram diversos símbolos e costumes natalinos das regiões
temperadas da Europa e do Mediterrâneo: pinheiros, Papai Noel
agasalhado, lareiras. Até neve feita de algodão. Mas os trópicos
exportavam uma planta como simbolo natalino para a Europa. É
a Flor do Natal ou Poinsétia, também conhecida como "bico-de-papagaio",
"rabo-de-arara", "cardeal" ou "estrela-do-natal'. Originária do México,
ela tem base na folhas verdes e acima, coroando a hastes, folhas
semelhantes as pétalas de flores vermelhas. O seu nome científico é Euphorbia pulcherrima e significa “a mais bela das eufóbias”. Tomou conta do Natal dos países temperados e resistentes ao inverno, dentro das casas. Esse
símbolo vegetal não vem dos astecas e sim dos franciscanos. A partir do
século XVII, no México, a flor da poinsétia começou a ter um
significado natalício. Os frades franciscanos a utilizaram em
comemorações natalinas e associaram a forma de suas brácteas vermelhas à
Estrela de Belém. A planta é muito utilizada para afins decorativos na
Europa e América do Norte, especialmente no Natal. Como é uma planta de
dia curto, floresce exatamente no solstício de inverno e coincide com o
Natal no Brasil, a não ser nas regiões Sul e Sudeste, onde cresce como
arbusto nos jardins.
Jesus nasceu em Belém?
O Imperador César Augusto (30 a.C a 14 d.C) realizava o Censo do
Império romano “e todos iam se inscrever, cada um em sua cidade” (Lc
2,3). E a cidade de nascimento de José não era Nazaré e sim Belém, onde
ele apresentou-se para o recenseamento. Jesus nasceu em Belém (Mt 2,1-6; Lc
2,4-15; Jo 7,42) e cumpriu uma profecia messiânica: “E tu, Belém, terra
de Judá, não és de modo nenhum o menor dentre os principais lugares de
Judá. Porque de tinha de sair o Chefe que há de pastorear o meu povo,
Israel” (Mq 5,2). A Belém de Judá fica a 10km ao sul de Jerusalém e foi
fundada pelos cananeus.
Em
1350 a.C, um governador egípcio da região mencionou a cidade, em carta
ao Faraó Amenhotep III, como importante ponto de repouso para viajantes.
seu nome em hebraico (beit-lehém) significa “casa do pão”.
O que tocam os sinos de Natal ?
O
Natal está asscociado ao ressoar dos sinos. Eles emitem sons agradavéis
e podem ser escutados a grandes distâncias. No passado, antes das
existências dos relógios, o povo se orientava no dia de trabalho pelo
repicar dos sinos das igrejas. O sino é como um relógio popular e
tem participação no anúncio das grandes festas cristãs. Seu toque é em
geral
festivo. No Natal, dos campanários das igrejas, os sinos anunciam uma das maiores festas cristãs: o Nascimento
de Jesus. Na noite de Natal, os sinos tocam e anunciam o desejo de paz
na terra aos homens de boa vontade: “Paz na terra, toca o sino, alegre a
cantar. Abençoe Deus Menino esse nosso lar”, diz a antiga canção natalina.
Qual o significado da guirlanda na porta?
Um dos sinais mais visíveis do Natal é a guirlanda, colocada na porta de entrada das casas. Essa
guilanda circular é feita de ramos vegetais entrelaçados e enfeitados
com fitas, sinos e objetos. O entrelaçamento desses dois ramos simboliza
o Mistério da Encarnação do Verbo Divino. Deus se fez carne e habitou
entre nós. Ele tomou corpo humano. Para os cristãos,
Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. As duas naturezas,
divina e humana, se entrelaçam, como dois ramos que se buscavam num
mesmo jardim.
Qual o significado das guirlandas?
A guirlanda, a Coroa do Advento, as coroas de flores, todas significam "Vitória". Antes,
o nome designava a Coroa de Louros, simbolo da vitória de atletas e
guerreiros, ainda entregue nos dias e hoje aos vencedores esportivos,
especialmente nas Olimpíadas.Com o sacrifício do
primeiro mártir do cristianismo, Santo Estêvão, ela passou a significar a
coroa martírio ou testemunho ( At, 7,54-60). Nomes como Estéfano, Estêvão e Stefane, por exemplo, vêm do grego stephanos ("coroa") e evocam uma "vitória", um "coroamento". A guirlanda do Natal representa um coroamento do lar, da família, da sua união e do fim do ano.
A Coroa do Advento
A Coroa do Advento, um outro
simbolo natalino, é feita de ramos verdes entrelaçados. Eles formam um
círculo, no qual são colocadas quatro grandes velas, de preferência da
cor roxa. Elas representam as quatro semanas do Advento, o período de
tempo que antecede o Tempo do Natal. A tradição da Coroa do Advento surgiu no norte da Alemanha a na
Escandinávia, no século XVI, para preparar os cristãos para a Festa de
Natal, quatro semanas depois. Na Suécia, a Coroa do Advento é reservada
para a Festa de Santa Luzia no dia 13 de dezembro. Do norte da Europa, o
costume ganhou o mundo, como uma nova maneira de atualizar o antigo
tema do Natal de Jesus. Nas igrejas, esse
coroa deve ser colocada em um lugar evidente no Presbitério, bem perto
do altar ou do púlpito, sobre uma mesinha, um tronco de árvore ou em
qualquer outro lugar bem visível. Essa colocação é recomendada até pelo
Pontifício Instituto Litúrgico de Santo Anselmo de Roma. Nas casas, a Coroa do Advento costuma ser colocada numa mesa da sala ou num lugar bem central. Um
pequeno e particular rito natalino caseiro acompanha a Coroa do Advento: a
ordem do acendimento das suas velas. A cada Domingo, em geral à noite,
uma vela é acesa. No Primeiro Domingo uma, no Segundo duas, até serem
acesas as quatro velas no Quarto Domingo. Essa luz nascente indica a
proximidade do Natal, quando Cristo, o Salvador e a Luz do Mundo
brilhará para toda a Humanidade. Ao ser colocada na casa, ela recorda também a experiência de escuridão do
Pecado. A primeira vela lembra o perdão concedido a Adão e Eva. A
segunda simboliza a fé de Abraão e de outros patriarcas, a quem foi
anunciada a Terra Prometida. A terceira lembra a alegria do rei Davi que
recebeu de Deus a promessa de uma aliança eterna. A quarta recorda os
profetas que anunciaram a chegada do Salvador. A cor
roxa das velas, a mesma do período da Quaresma, convida a purificar os
corações para colher o Cristo que vem. Ás vezes existem coroas com velas
de cor rosa, evocando alegria: "O Senhor está próximo!". Os detalhes
dourados, como em todos os áures símbolos natalinos, prefiguram a glória
do Reino que virá.
O Papai Noel
O
rechonchudo Papai Noel é amado por crianças e adultos, com suas barbas e
cabelos brancos, óculos redondos e um saco ás costas. O personagem do
Papai Noel foi inspirado em São Nicolau, o Taumaturgo, arcebispo de
Mira, no século IV. Ele nasceu em 280 em Patara, na atual Turquia, e
morreu aos 41 anos. Sua festa litúrgica é comemorada em 6 de dezembro.
O bispo Nicolau
costumava ajudar, anonimamente, quem estivesse com dificuldades
financeiras. Bondoso e generoso, nas várias histórias a seu respeito,
São Nicolau sempre oferecia presentes aos pobres e salvava marinheiros
vítimas de tempestades. Foi declarado Santo após muitos milagres lhe
serem atribuído, sendo padroeiro das crianças e dos
marinheiros. E ao "Papai Noel" as crianças passaram a pedir os presentes
com antecedência, para ganhá-los no Natal. A fama do Papai Noel
de dar presentes ás crianças chegou aos Países Baixos pelos
marinheiros, gente poliglota por ofício e não de profissão. Eles
transmitiram o nome de São Nicolau como puderam. Seu nome
original era Nicolau, mas surgiram vários apelidos. O nome Nicolau cresceu
pela Alemanha e Europa, atravessou séculos, até chegar aos Estados
Unidos, onde é chamado de Santa Claus. O nome Santa Claus vem da evolução paulatina do nome de São Nicolau: St. Nicklauss, St Klaus e Santa Claus. O nosso "Papai Noel" vem do francês Père Noel.
Em Portugal, ele é
chamado de "Pai Natal". Entretanto, a palavra "Noel" é mais poderosa do que muitos
imaginam, pois provem do hebraico imanu'el, que significa "Deus conosco". .Quem
deu força à lenda dum "Papai Noel que presenteia" foi Clement C. Moore, professor de
literatura grega em Nova Iorque (EUA), com o poema “Uma visita de São
Nicolau”, escrito para os seus seis filhos em 1822. Moore divulgou a
versão de que ele viajava num trenó puxado por renas e ajudou a
popularizar outras características, como o de entrar pela chaminé. A
explicação da chaminé vem da Finlândia, uma das fontes de inspiração do
poema. Os antigos lapões viviam em pequenas tendas, como iglus, cobertas
com pele de rena. A entrada era um buraco no telhado. De personagem
real da Turquia, o Papai Noel imaginário passou a vir do Pólo Norte. A
última e mais importante característica incluída na figura de Papai
Noel é sua roupa vermelha e branca. Antigamente, ele vestia-se como
bispo católico ou usava cores próximas do marrom, com uma coroa de
azevinhos na cabeça ou nas mãos. Seu visual foi obra do cartunista
Thomas Nast, na revista Haper's Weeklys, em 1886, numa edição especial de Natal. Em
alguns lugares na Europa e no Canadá ele ainda é representado com os
paramentos eclesiásticos de bispo e, ao invés do famoso gorrinho vermelho, tem
uma mitra episcopal.
Por que meias e sapatos na janela no dia de Natal?
A
Tradição de pendurar meias na lareira ou deixar sapatos na janela
originou-se de uma das muitas histórias sobre São Nicolau, em quem se
inspira a figura do Papai Noel. No passado, para uma moça era
indispensável dispor de um dote para se casar. São Nicolau sobe da
triste situação de uma família, sem recursos para o dote de suas filhas.
secretamente, ele jogou três pequenos sacos com moedas de ouro pela
chaminé da casa da família. Os sacos caíram dentro das meias das moças,
penduradas na lareira para secar. Em outras versões foi pela janela, e
caíram dentro de uns sapatos.
Qual a tradição da "chegada do Papai Noel"?
Antes ou
depois da ceia de Natal, algumas casas representam a chegada do Papai
Noel. As crianças são interrogadas sobre seu comportamento durante o
ano. Os presentes correspondem aos pedidos feito por escrito, ou
oralmente, para o papai Noel. Ele confere a lista e faz sua distribuição
diretamente. Para essa missão, montada em segredo nas
famílias, algum adulto se engaja através de uma fantasia do Bom
Velhinho. Em outras casas, Papai Noel deixa os presentes dos filhos ao
lado de suas camas, junto aos pares de sapatos ou ainda no pé da árvore
de Natal. Eles serão encontrados quando os filhos despertarem.
Qual a história da Ceia de Natal?
No passado, após a
Missa do Galo, celebrada á meia noite do dia 24, era servida nas igrejas
uma refeição frugal aos fiéis presentes. Com o tempo, essa refeição foi
transferida para as casas dos fiéis e tornou-se mais sofisticada.
Muitas famílias reúnem-se para uma ceia mais alegre, com pratos
tradicionais, assados, doces, frutas cristalizadas, bolos e pudins.
Os
lares são enfeitados e iluminados para a Ceia de Natal e são comuns as
velas acesas. Essa celebração estreita os laços familiares e é uma
liturgia doméstica, ao som de música natalina. Os familiares cantam,
fazem leituras bíblicas, representam pequenos autos de Natal em que
crianças menores e idosos representam a chegada do Papai Noel, tocando
sinos e entregando presentes ao mais pequeninos.
Qual a história da tradição da Comida dos 13 Mendigos ?
Algumas
famílias de origem mediterrânea mantêm a tradição dos Treze Mendigos.
São 13 doces e frutos servidos no final da ceia de Natal e deixados à
disposição para consumo sobre uma mesa, durante três dias, até o dia 27 de dezembro. Os 13 mendigos são: nozes, avelãs,
amêndoas, pistaches, castanhas, pinhões, tâmaras, figos secos, uvas
passas, damascos, marmelos (marmelada), maçãs e peras. Eles representam
Jesus (tâmara) e os 12 apóstolos. Podem ser também treze doces
diferentes, depende da tradição familiar. Esses "13 Mendigos" prolongam a
alegria e os sabores da ceia de Natal até pertinho da passagem de ano.
Por que a troca de presentes no Natal ?
O costume de dar e trocar presentes é o resultado de vários aspectos ligados ao nascimento de Jesus. Pelo
Mistério da Encarnação, Deus se faz presente, dar presente é uma forma
de estar presente na vida do outro. Esse gesto evoca a presença dos Reis
Magos junto a Jesus e á Sagrada Família, entregando presentes. O
presente é uma lembrança, é "lembrar-se do outro". A exagerada compra de presentes, a mobilização agressiva do comércio e aos
apelos ao consumo desenfreado infelizmente deram um impulso consumista e até anti-cristão ao Tempo de Natal.
Por que deixar os presentes ao pé da árvore?
Em
muitas casas, os presentes natalinos são colocados aos pés da árvores
de Natal, para serem trocados, depois da ceia, entre amigos e
familiares. Esse costume teria começado durante o
reinado de Elizabeth I, na Inglaterra do século XVI. A rainha promovia
grandes festas natalinas e recebia muitos presentes. Como era
praticamente impossível receber diretamente todos os presentes,
adorou-se o costume de deixá-los sob uma grande árvore natalina, montada
nos jardins do palácio.
Qual a origem dos cartões de boas festas ?
No passado,
os votos de Natal eram expressos através de cartas, algumas decoradas,
enviadas pelo correio. Os cartões de Natal, de origem anglo-saxônica,
começaram já no século XVI e desenvolveram-se muito por volta de 1850,
graças á litografia e às gráficas. Algumas pessoas reproduziram cenas de
quadros famosos sobre a Natividade, para enviarem a seus amigos e
familiares. Alguns solicitaram novas criações sobre temas natalinos para
diversos artistas.
Sir
Henry Cole, diretor do Museu Britânico (Inglaterra) sem tempo para
escrever a mão as felicitações natalinas, mandou fazer um desenho com um
espaço onde escrevia breves palavras. O advento da Internet trouxe toda
uma gama adicional de cartões e mensagens de Natal, escritas, sonoras e
até com pequenos filmes.
E as lapinhas ?
Nas regiões Norte e Nordeste, o Tempo
do Natal é marcado lapinhas, realizadas ao som de maracás, flautas,
pandeiros, violões e cavaquinhos. As lapinhas são apresentadas na frente
dos presépios ou lapinhas das igrejas na noite de Natal e em seus adros
e escadarias, antes da Missa da Meia-Noite. Seus integrantes vestem-se
de pastores, cantam e louvam o nascimento de Jesus.
A
apresentação da lapinha constitui-se de duas alas: a do cordão
encarnado, da mestra e a do cordão azul, da contramestra e de vários
personagens ( Linda Rosa, lindo Cravo, Borboleta, Ciganas... ) Religiosas
e até litúrgicas na sua origem portuguesa, as lapinhas foram sendo
substituídas em muitos lugares pastoris, sem toda a religiosidade das
primeiras.
Quem são os Reis Magos?
Um antigo documento conservado nos Arquivos Vaticanos conhecido como “A Revelação dos Magos” - provavelmente seja
algum “apócrifo”, nome dado aos livros não incluídos pela Igreja
Católica na Bíblia - nos informa sobre eles. A narração de São Mateus (Mt 2) contém tudo o que é necessário para a Fé. Mas
com o beneplácito e a aprovação da Igreja a piedade popular acrescentou
muitos outros pormenores, que foram transmitidos por tradição oral e que
são aceitos sem contestação.
São Beda - importante por ser uma das máximas autoridades dos primeiros tempos da Idade Média pelo
fato de ter recolhido relatos transmitidos oralmente pelos Apóstolos aos
seus sucessores, e destes aos seguintes.- nos diz que “Melquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo
partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos,
robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar
Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos,
partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”. São Beda quem por primeira vez escreveu o nome dos três.
Nomes com significados precisos que nos ajudam a compreender suas
personalidades. Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior
quer dizer: “Meu Rei é Luz”, e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o
Rei”. São Beda, o Venerável (673-735), Doutor da Igreja e monge beneditino nas
abadias da Inglaterra, os via como Representantes dos Povos da Europa, Ásia e África, os três
continentes conhecidos naquela época. Joseph Ratzinger (o futuro papa.Bento XVI) comenta que “a promessa contida nestes
textos (o Salmo 72,10) estende a proveniência destes homens até ao
extremo Ocidente (Tarsis, Tartessos em Espanha), mas a tradição
desenvolveu posteriormente este anúncio da universalidade aos reinos de
que eram soberanos, como reis dos três continentes então conhecidos:
África, Ásia e Europa”
Também seus presentes têm um significado simbólico. Melquior deu ao
Menino Jesus ouro, o que na Antiguidade queria dizer reconhecimento da
realeza, pois era presente reservado aos reis.
Gaspar ofereceu-Lhe incenso (ou olíbano), em reconhecimento da divindade. Este presente era reservado aos sacerdotes.
Por fim, Baltasar fez um tributo de mirra, em reconhecimento da
humanidade. Mas como a mirra é símbolo de sofrimento, vêem-se nela
preanunciadas as dores da Paixão redentora. A mirra era presente para um
profeta, usada para embalsamar corpos e representava simbolicamente
a imortalidade.
Desta maneira, temos o Menino Jesus reconhecido como Rei, Deus e Profeta pelas figuras que encarnavam toda a humanidade.
Relicário dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha.
De
acordo com uma tradição acolhida por São João Crisóstomo (347-407), os
três Reis Magos foram posteriormente batizados pelo Apóstolo
São Tomé e trabalharam muito pela expansão da Fé (Patrologia Grega, LVI, 644). O nome “mago” provinha do fato de os sacerdotes da Caldeia serem muito
voltados para o estudo dos astros. A eles devemos o início da
ciência astronômica. Com a decadência moral, os “magos” caldeus viraram uma espécie de bruxos.
Os Três Reis Magos teriam sido os últimos sacerdotes honrados daquele
mundo pagão que aspiravam sinceramente conhecer o Salvador (Mt 2,5-7). Discute-se
também em que sentido podem ser chamados de “Reis”. Porém, na
Antiguidade, os patriarcas, ou chefes de grandes clãs, governavam com
poderes próprios de um rei, sem
terem esse título ou equivalente. E seu reinado se concentrava sobre sua
hoste, por vezes nômade.
Quantas são as missas do Natal ?
O Natal tem mais do que a famosa Missa do Galo. O
Natal é um dos maiores dias festivos do calendário católico. Nesse dia,
seguindo uma tradição de mais de 1600 anos, a Igreja celebra (com
intenção livre ) três missas: a da Aurora (desde o século VI) e a do Dia
(instituída no século IV). Com o tempo, foi acrescentada mais uma para a celebração vespertina do dia 24, a chamada "Missa do Galo".
Por que uma "Missa do Galo"?
O nome oficial é "Missa da Véspera do Natal". A Missa do Galo começou a ser celebrada em meados do ano 300. Com o passar
dos anos, as missas eram sempre celebradas à
meia-noite. Hoje, em muitas Igrejas do Brasil este horário ainda é mantido. A expressão “Missa do Galo” é específica dos países latinos e deriva da
lenda que à meia-noite do dia 24 de dezembro um
galo teria cantado fortemente, como nunca ouvido de outro animal
semelhante, anunciando a vinda do Messias, filho de Deus vivo, Jesus
Cristo. Uma outra lenda, de origem espanhola, conta que antes de baterem as
12 badaladas da meia noite de 24 de Dezembro, cada lavrador da província
de Toledo, em Espanha, matava um galo, em memória daquele que cantou
três vezes quando Pedro negou Jesus. A ave era
depois levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres, que viam
assim, o seu Natal melhorado. Era costume em algumas aldeias espanholas
e portuguesas, levar o galo para a Igreja para este cantar durante a
missa, significando isto um prenúncio de boas colheitas. Algumas literaturas relatam que no século IV a comunidade cristã de
Jerusalém seguia em peregrinação até Belém para celebrar a Missa do
Natal na hora do primeiro canto do galo, mencionado por Jesus na traição
de Pedro, descrito nos Evangelhos (Mt 26,
34 e Mc 14, 68-72). Em Roma a celebração acontece desde o século V, na Basílica de Santa
Maria Maior. O galo passou a simbolizar vigilância, fidelidade e
testemunho cristão. Por isto, no século IX a ave foi parar no campanário
das igrejas.
Qual a diferença entre Tempo de Advento e do Natal?
Para
a Igreja existem dois tempos: o do Advento e o do Natal. O calendário
litúrgico da Igreja Católica, equivalente ao ano civil, começa com o
Advento, em novembro. O tempo do Advento inicia-se
quatro domingos antes do Natal e termina no dia 24 de dezembro com a
comemoração do nascimento de Cristo. O Tempo do Natal
inicia-se na véspera do Natal até o primeiro domingo depois da Festa da
Epifania. No ciclo do Natal são celebradas as festas da Sagrada Família
(30 de dezembro), da Circuncisão do Senhor (1º de janeiro), de Santa
Maria Mãe de Deus (1º de janeiro), dos Santos Reis ou Reis Magos (6 de
janeiro) e do Batismo de Jesus (primeiro domingo após a Epifania). Todas as festividades de Natal acabam na Epifania. Na Amazônia e no Nordeste é tradição queimarem as palhinhas do presépio. "A Epifania leva embora todas as festas", como dizem os italianos.
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. (*) - Presidente da Sociedade de Artes e Letras de São Gonçalo, Presidente do Conselho Municipal de Cultura de São Gonçalo (RJ) gestão 2014-2018.